Se dissermos que Deus é Amor, ninguém se espanta. A afirmação tornou-se até um pouco banal à força da repetição. Mas se dissermos que Deus é Humor, ficamos em estado de alerta, porque nos parece que alguém está a tentar entrar, no território de Deus, “pela entrada dos fundos” e não pela “porta principal”. A verdade é que o Amor não dispensa o Humor.
O cristianismo não é propriamente conhecido por ser a religião da alegria, e é uma pena. «O cristianismo seria muito mais credível se os cristãos vivessem em alegria», escreveu Nietzsche, e não podemos dizer que sem razão. O nosso testemunho fica muitas vezes refém de umagravitas insonsa, de uma seriedade que facilmente se torna em peso. Esquecemo-nos demasiadas vezes do Evangelho da alegria. Tratamo-la com parcimónia. Nas liturgias, pregações, catequeses, pastorais, a alegria, o humor ou o riso são abordados com muita descrição. A alegria tornou-se uma espécie de tópico marginal, ornamento ou sub-tema.
José Tolentino Mendonça
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