sábado, 19 de dezembro de 2015

DOMINGO IV DO ADVENTO



Evangelho segundo São Lucas

Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direcção a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino exultou-lhe no seio. Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? Na verdade, logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor».



QUAL É O TEU RUMO?




quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Entrada de 4 novos postulantes




No dia 14 de Dezembro, Solenidade de S. João da Cruz, 4 jovens aspirantes ao Carmelo Teresiano, presentes na comunidade formativa do Porto, pediram para entrar na etapa do postulantado e a comunidade acolheu-os com alegria e gratidão ao Senhor da Messe. São eles o João Pedro Soares, de Avessadas; o William Widiastara, de Timor; o Francisco Braguês, de Viseu; e o André Morais, de Mafra. Com idades compreendidas entre os 18 e os 24 anos, encontram-se todos a frequentar o primeiro ano do mestrado de teologia na Faculdade de Teologia da UCP, enquanto recebem na comunidade dos carmelitas descalços a formação própria desta primeira fase da vida religiosa que é o postulantado. Que a decisão destes jovens seja estímulo para muitos outros despertarem para a escuta do Senhor que chama. Desejamos-lhes as maiores felicidades na caminhada sob a protecção maternal da Virgem Nossa Senhora do Carmo. (www.carmelitas.pt)

domingo, 6 de dezembro de 2015

Carminho fala sobre Deus




DOMINGO II DO ADVENTO




Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás, foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um baptismo de penitência para a remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’».

sábado, 5 de dezembro de 2015

JOHNCACHING + VIGÍLIA DE S. JOÃO DA CRUZ


No próximo dia 13 de Dezembro, véspera de S. João da Cruz, viveremos uma tarde/noite espectacular e original, no nosso Convento de Avessadas. O encontro está marcado para as 15h00. A seguir embarcaremos numa aventura que não quererás perder: o JOHNCACHING!!! Surpresa... E depois do lanche partilhado vamos preparar uma bela Vigília de S. João da Cruz para todos aqueles que se quiserem juntar a nós, no Claustro e na Igreja do Convento. A Vigília terá início às 18h30. Terminaremos o dia em festa e convívio com um jantar partilhado. Não te esqueças de trazer muita alegria e a comida para partilhar. Cá te esperamos!




domingo, 22 de novembro de 2015

CRISTO REI - SOLENIDADE





Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos Judeus?». Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?». Disse-Lhe Pilatos: «Porventura eu sou judeu? O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?». Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?». Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».

domingo, 1 de novembro de 2015

TODOS OS SANTOS




Evangelho segundo São Mateus

Naquele tempo, ao ver as multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-Se. Rodearam-n’O os discípulos
e Ele começou a ensiná-los, dizendo:
«Bem-aventurados os pobres em espírito,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os humildes,
porque possuirão a terra.
Bem-aventurados os que choram,
porque serão consolados.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque serão saciados.
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração,
porque verão a Deus.
Bem-aventurados os que promovem a paz,
porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça,
porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa,
vos insultarem, vos perseguirem
e, mentindo, disserem todo o mal contra vós.
Alegrai-vos e exultai,
porque é grande nos Céus a vossa recompensa».

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

RUMOS

A Família dos Carmelitas Descalços pensa em ti, jovem dos 16 aos 30 anos, e oferece-te oportunidades de clarificação e decisão vocacional mediante os encontros com RUMOS.



domingo, 25 de outubro de 2015

Entrevista ao encenador Jorge Silva Melo


Domingo XXX do Tempo Comum



Evangelho segundo São Marcos

Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego, chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus per¬guntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?». O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.

domingo, 18 de outubro de 2015

Papa canonizou pais de Santa Teresinha


O Papa Francisco canonizou hoje no Vaticano os pais de Santa Teresinha, primeiro casal a ser canonizado em conjunto, com exceção dos casos de martírio.

São Louis Martin (1823-1894) e Santa Zélie Guérin Martin (1831-1877) foram proclamados santos durante uma cerimónia que reúne milhares de pessoas na Praça de São Pedro.

Francisco disse que os novos santos "viveram o serviço cristão na família, construindo dia após dia um ambiente cheio de fé e amor; e, neste clima, germinaram as vocações das filhas, nomeadamente a de Santa Teresinha do Menino Jesus".

Na sua homilia, o Papa sustentou que há "incompatibilidade entre ambições e carreirismo e o seguimento de Cristo; incompatibilidade entre honras, sucesso, fama, triunfos terrenos e a lógica de Cristo crucificado".

Simbolicamente, a canonização aconteceu durante o Sínodo dos Bispos sobre a família, que decorre até ao próximo dia 25, e no Dia Mundial das Missões, de que Santa Teresa do Menino Jesus é padroeira.

Os pais de Santa Teresinha foram declarados beatos pelo Papa emérito Bento XVI, a 19 de outubro de 2008, numa cerimónia presidida em Lisieux (França) pelo cardeal português D. José Saraiva Martins.

Louis, relojoeiro, e Zélie Martin, bordadeira, casaram-se em 1858 e tiveram nove filhos: quatro faleceram ainda na infância e cinco filhas seguiram a vida religiosa.

Para a canonização foram reconhecidas duas curas tidas como milagrosas: Pietro, criança italiana nascida em 2002, com uma malformação pulmonar, e Carmen, nascida em Espanha no ano de 2008, prematura e com uma grave hemorragia familiar.

As relíquias dos novos santos foram levadas pelas duas crianças durante a Missa. (Fonte: Agência Ecclesia)

DOMINGO XXIX DO TEMPO COMUM




Evangelho segundo São Marcos

Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir». Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda». Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos». Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado». Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos».

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

PARA VÓS NASCI

15 de Outubro | Santa Teresa de Jesus

Teresa de Ahumada nasceu no dia 28 de Março de 1515. De entre os seus 11 irmãos, Teresa evidenciou ser a mais inteligente e agradável no trato, daí a mais querida de seus pais. 

Desde criança se imprimiu no seu espírito um forte desejo do Céu e da eternidade. Com apenas 13 anos perdeu a mãe. A partir daí foi junto de uma imagem de Nossa Senhora, na sua igreja paroquial, pedindo-lhe que fosse a sua mãe. Ao entrar na adolescência e juventude, órfã de mãe, Teresa sente-se um pouco desorientada e, com os seus primos, perde-se em futilidades e vaidades próprias da idade, inspiradas pelos romances que adorava ler. 


O seu pai viu-se obrigado a interná-la no Colégio de Irmãs de Nossa Senhora da Graça. Uma jovem freira da comunidade, de quem Teresa se tornou amiga, foi a sua então educadora e ajudou-a a redescobrir os grandes valores humanos e cristãos. Começou a pensar na possibilidade de vir a ser também ela religiosa, e decidiu entrar no convento de Nossa Senhora da Encarnação, das carmelitas, onde já se encontrava uma das sumas amigas, Joana Soares. O seu pai não esteve de acordo, mas Teresa insistiu e ingressou neste convento de clausura, embora lhe custasse muito separar-se da casa paterna. 


Depois da Profissão Religiosa, foi atingida por uma estranha e grave doença que a levou às portas da morte, ao ponto de se ter preparado a sepultura no cemitério do convento. O seu pai não desiste e acredita na recuperação de Teresa, encomenda-a a S. José e, passados quatro dias, sai dum coma profundo. Desde então, tornou-se grande devota de S. José, devoção que depois legou a todo o carmelo reformado. 


Teresa conheceu os segredos de Deus que lhe eram transmitidos pela oração. Recorreu aos melhores teólogos do seu tempo para que a ajudassem no seu itinerário orante e contemplativo. Entre os quais encontra-se S. João da Cruz, S. Francisco de Borja, S. Pedro de Alcântara, S. João de Ávila e outros de grande fama no seu tempo. Um dia ouviu a voz do Senhor que lhe dizia: «Já não quero que tenhas conversas com homens, mas com anjos». Deus revelou-lhe verdades e incutiu-lhe grandes desejos de santidade e de serviço à Igreja. 


Quando a Igreja, por causa dos protestantes, proibiu as edições da Bíblia em língua que não fosse o latim, Teresa sentiu muita pena e ouviu Cristo que lhe disse: «Não te preocupes. Eu serei o teu livro vivo». Por esta altura, sentiu o impulso que a inspirava a renovar a Ordem do Carmo. Assim, passando por muitos sofrimentos e sempre com a ajuda de Deus, fundou o primeiro convento, o de S. José de Ávila, da nova família das carmelitas descalças. Nas obras do seu primeiro convento, muito a ajudaram amigos e familiares. Foi inaugurado a 24 de Agosto de 1562, dia em que Teresa se descalçou, mudou de hábito e começou a chamar-se Teresa de Jesus. 

A cidade de Ávila quis destruir o convento por não concordar com a reforma por ela iniciada e por já existirem muitos nesta cidade abulense. Mas quando Deus quer e o homem colabora, nenhuma oposição faz parar uma boa obra. A sua segunda fundação foi em Medina del Campo, onde conheceu S. João da Cruz, ficando encantada com ele e pedindo-lhe que fosse o primeiro carmelita descalço. 

Em 1571, foi nomeada pelos superiores, prioresa da comunidade onde havia estado, a do Convento da Encarnação. Começou o seu mandato colocando as chaves do convento nas mãos duma imagem de Nossa Senhora do Carmo, a quem colocou na cadeira priorial, e Teresa a seus pés. Assim conquistou a simpatia da comunidade de quase 200 freiras, até então enfurecida com as suas aventuras. É aqui, neste mesmo lugar, que um dia ouviu o Senhor dizer-lhe: «Teresa, se não tivesse criado o Céu, para ti e por tua causa o criaria agora». 

Durante o seu priorato na Encarnação, chamou para Ávila S. João da Cruz, reconhecendo-o como o único capaz de a ajudar naquela difícil empresa, fazendo dele o confessor do convento. Quando o apresentou à comunidade disse: «Irmãs, trago-vos por confessor um Santo!». 

Ao todo, fundou dezassete conventos. O último foi o de Burgos. O Inverno estava áspero e a saúde de Teresa muito débil. Mas no meio das maiores dificuldades, erigiu o último convento. Regressada a Ávila, mandaram-na para Alba de Tormes onde caiu de cama dizendo: «Não me lembro de me ter deitado tão cedo desde há muitos, muitos anos». Não se levantou mais. Nas suas últimas palavras de despedida disse: «Perdoem-me os maus exemplos que viram em mim, que sou má freira. Guardem a Regra e as Constituições, e não é preciso mais para as canonizar». 


Perguntaram-lhe se, morrendo queria ser enterrada em Ávila, ao que respondeu perguntando: «Mas aqui não terão um pouco de terra que me emprestem até ao dia do Juízo?». E morreu, exclamando: «Por fim, Senhor, morro filha da Igreja!». Eram nove horas da noite do dia 4 de Outubro de 1582. Nesse ano, o calendário foi actualizado pelo que o dia seguinte seria o 15 de Outubro. 


Teresa de Jesus foi uma mulher extremamente alegre, humilde e agradecida. A frei João da Miséria que a pintou num quadro, respondeu: «Deus te perdoe, Frei João, que me pintaste feia e enrugada!». Era de grande simpatia e afabilidade no trato com todos. Relacionava-se com Deus como com Amigo. Pela sua experiência, vida e escritos tornou-se Mestra e Doutora da Igreja sobretudo pelos ensinamentos em matéria de oração. 

Um dia disseram-lhe: «Madre, dizem que sois bonita, inteligente e santa. Que dizeis de vós mesma?». Teresa respondeu: «Bonita, vê-se bem. Inteligente, penso que nunca fui tonta. E santa, a veremos, assim Deus o queira!». 

Deixou-nos preciosos livros espirituais, tais como: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Moradas ou Castelo Interior, Livro das Fundações, Poesias, Exclamações, e mais de 500 cartas. O seu conteúdo espiritual e intuições teológicas são de tal maneira profundos que a Igreja a declarou Doutora da Igreja. (www.carmelitas.pt)

sábado, 3 de outubro de 2015

DOMINGO XXVII DO TEMPO COMUM





Evangelho segundo São Marcos

Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O ELEVADOR DIVINO

1 de Outubro | Santa Teresinha

Teresinha nasceu no seio de uma família profundamente cristã. Os seus pais foram um casal ideal: o pai relojoeiro, a mãe bordadeira do famoso ponto de Alençon. As suas quatro irmãs abraçaram a Vida Religiosa. Três foram carmelitas no mesmo Carmelo de Lisieux, onde viveu Teresinha os seus jovens anos. Teresinha era a irmã mais nova (1873-1897). As suas quatro irmãs tiveram a sorte de a ver nos altares canonizada por Pio XI em 1925. Alguma delas terá também a sorte de ver como se inicia a causa da canonização dos seus pais. 

Da vida de Teresinha conhecemos quase tudo: a sua vida em família, porque ela a contou deliciosamente na primeira parte do livro «História de uma Alma». A sua vida no Carmelo, desde os 16 aos 24 anos, porque foi meticulosamente investigada e testemunhada nos processos da beatificação e canonização, hoje publicados. Conhecemos também a sua constante “presença” entre os homens depois da morte, porque Teresinha prometeu «passar o Céu a fazer o bem sobre a terra» e tem cumprido sua palavra em proporções fabulosas. 

Os factos mais destacados da sua vida em família são: o seu despertar precoce: «desde a idade de três anos, comecei a não negar nada a Deus de tudo o que me pedia»; a morte de sua mãe, quando Teresinha tinha apenas quatro anos (recordada e contada por ela em pormenor); a mudança da família de Alençon para Lisieux (aos quatro anos); o grande acontecimento da sua primeira comunhão (aos onze anos); a doença de Teresinha (aos dez anos) curada prodigiosamente pelo sorriso da Virgem Maria e o drama da sua vocação para o Carmelo, que a fará recorrer pessoalmente ao Papa Leão XIII para vencer os últimos obstáculos e entrar no Carmelo aos quinze anos. Por esta altura já ela tinha vivido a graça de uma profunda conversão pessoal, e descoberto o poder da oração e sua profunda vocação orante, que coincide com o julgamento do criminoso Pranzini. 

No Carmelo, Teresinha era feliz. Porém com a bem-aventurança dos que sofrem. Na clausura assiste de coração destroçado à doença de seu pai que tem de ser internado num hospital psiquiátrico. Ela propõe a si mesma fidelidade absoluta à vida carmelita e fá-lo desde o primeiro momento. Alimenta-se espiritualmente com os escritos de S.João da Cruz. Faz a sua Profissão Religiosa depois de longa espera e muitos atrasos, quando completou dezassete anos. Para além dos votos religiosos, e de forma muito secreta, faz a sua entrega total; é uma oração delicada e atrevida, escrita num simples bocado de papel, mas que chegou até nós. Ao fim de pouco tempo passa a ser ajudante da mestra de noviças. Sem título. Mas rapidamente se torna uma verdadeira mestra espiritual. Cuida das almas como se fossem autênticas jóias. Alterna os trabalhos mais humildes com a tarefa espontânea de escrever poemas. Pinta quadros. Redige com a maior intimidade a primeira parte da Historia de uma Alma, como um pequeno ramalhete de recordações familiares para a sua irmã Paulina. 

Inesperadamente, chega-lhe a oferta de um irmão sacerdote. E logo outro. Dois jovens que depois das ordenações partem para as missões. E que durante a sua vida se apoiaram nas orações da Teresinha. 
«Orar pelos sacerdotes missionários» será uma segunda missão da sua vida de carmelita. Na noite de Quinta-Feira para Sexta-Feira Santa de 1896, Teresinha tem a sua primeira hemoptise, triste porta de entrada para a sua doença. Pouco depois, entra na noite da fé, terrível prova purificadora que a acompanhará até à morte. Gravemente doente, escreve as duas últimas partes de Historia de uma Alma, cujas páginas finais têm de ser escritas a lápis por já não segurar a caneta. 

Pouco antes de entrar na «noite», Teresinha escreveu para si uma oração com sentido sacrificial, como se fosse ofertório da sua vida: é o «Acto de oferta ao amor misericordioso de Deus». 
Os longos meses de enfermidade foram de um enorme exemplo e riqueza espiritual. O seu quarto converteu-se pouco a pouco numa sala de aulas de teologia espiritual e de santidade. Por fim, as irmãs que a assistem mais de perto decidem apontar em vários cadernos as diferentes etapas da sua doença, palavras e reacções, tais como «a paixão e morte de Teresinha» (será sob este título que, meio século depois, um teólogo analisará aquelas vivências). Essas pérolas possuimo-las hoje num precioso livro com o título Ultimas Conversações. 

Teresinha morreu a 30 de Setembro de 1897, aos 24 anos de idade. Só um ano depois se publicou timidamente História de um Alma, que rapidamente se difundiu no mundo inteiro em milhões e milhões de exemplares, e em tantas línguas como nunca acontecera com livro algum, quer de literatura, quer de espiritualidade. Comparável unicamente à difusão da Bíblia. O grande contributo e o grande acontecimento de Teresinha foi o seu caminho de infância espiritual: versão viva e límpida do Evangelho de Jesus, vivido com toda a sensibilidade e radicalidade. Nele reafirma o valor e a fecundidade do amor. O valor das pequenas acções. A confiança sem limites. A fé na acção e na graça de Deus. Para ela,«tudo é graça». As suas parábolas predilectas, semelhantes às de Jesus, são: o elevador, a bola-brinquedo, a florzinha desprendida do muro... (Fonte: www.carmelitas.pt)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA A XXXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE 2016





MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA A XXXI JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
2016



«Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7)


Queridos jovens!

Chegamos à última etapa da nossa peregrinação para Cracóvia, onde juntos, no mês de Julho do próximo ano, celebraremos a XXXI Jornada Mundial da Juventude. No nosso longo e exigente caminho, temos sido guiados pelas palavras de Jesus tiradas do «Sermão da Montanha». Iniciámos este percurso em 2014, meditando juntos sobre a primeira Bem-aventurança: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu»(Mt 5, 3). O ano de 2015 teve como tema «felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8). No ano que temos pela frente, queremos deixar-nos inspirar pelas palavras: «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia»(Mt 5, 7).

1. O Jubileu da Misericórdia

Com este tema, a JMJ de Cracóvia 2016 insere-se no Ano Santo da Misericórdia, tornando-se um verdadeiro e próprio Jubileu dos Jovens a nível mundial. Não é a primeira vez que um encontro internacional dos jovens coincide com um Ano Jubilar. De facto, foi durante o Ano Santo da Redenção (1983/1984) que São João Paulo II convocou pela primeira vez os jovens de todo o mundo para o Domingo de Ramos. Depois durante o Grande Jubileu do ano 2000, mais de dois milhões de jovens, provenientes de cerca 165 países, reuniram-se em Roma para a XV Jornada Mundial da Juventude. Como aconteceu nestes dois casos anteriores, tenho certeza de que o Jubileu dos Jovens em Cracóvia será um dos momentos fortes deste Ano Santo.

Talvez algum de vós se interrogue: Que é este Ano Jubilar celebrado na Igreja? O texto bíblico de Levítico 25 ajuda-nos a compreender o significado que tinha um «jubileu» para o povo de Israel: de cinquenta em cinquenta anos, os judeus ouviam ressoar a trombeta (jobel) que os convocava (jobil) para celebrarem um ano santo como tempo de reconciliação (jobal) para todos. Neste período, devia-se recuperar uma relação boa com Deus, com o próximo e com a criação, baseada na gratuidade. Por isso, entre outras coisas, promovia-se o perdão das dívidas, uma particular ajuda a quem caíra na miséria, a melhoria das relações entre as pessoas e a libertação dos escravos.

Jesus Cristo veio anunciar e realizar o tempo perene da graça do Senhor, levando a boa nova aos pobres, a liberdade aos prisioneiros, a vista aos cegos e a libertação aos oprimidos (cf. Lc 4, 18-19). N’Ele, especialmente no seu Mistério Pascal, realiza-se plenamente o sentido mais profundo do jubileu. Quando, em nome de Cristo, a Igreja convoca um jubileu, somos todos convidados a viver um tempo extraordinário de graça. A própria Igreja é chamada a oferecer, com abundância, sinais da presença e proximidade de Deus, a despertar nos corações a capacidade de olhar para o essencial. Nomeadamente este Ano Santo da Misericórdia «é o tempo para a Igreja reencontrar o sentido da missão que o Senhor lhe confiou no dia de Páscoa: ser instrumento da misericórdia do Pai» (Homilia nas Primeiras Vésperas do Domingo da Misericórdia Divina, 11 de Abril de 2015).

2. Misericordiosos como o Pai

Este Jubileu extraordinário tem como lema «misericordiosos como o Pai» (cf. Misericordiae Vultus, 13), aparecendo associado com ele o tema da próxima JMJ. Procuremos então compreender melhor que significa a misericórdia divina.

Para falar de misericórdia, o Antigo Testamento usa vários termos, sendo os mais significativos hesed e rahamim. O primeiro, aplicado a Deus, expressa a sua fidelidade indefectível à Aliança com o seu povo, que Ele ama e perdoa para sempre. O segundo,rahamim, pode ser traduzido por «entranhas», evocando de modo especial o ventre materno e fazendo-nos compreender o amor de Deus pelo seu povo como o duma mãe pelo seu filho. Assim no-lo apresenta o profeta Isaías: «Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria»(Is 49,15). Um amor assim implica criar dentro de mim espaço para o outro, sentir, sofrer e alegrar-me com o próximo.

No conceito bíblico de misericórdia, está incluída também a valência concreta dum amor que é fiel, gratuito e sabe perdoar. Neste texto de Oseias, temos um belíssimo exemplo do amor de Deus, comparado ao dum pai pelo seu filho: «Quando Israel era ainda menino, Eu amei-o, e chamei do Egipto o meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais se afastaram (...). Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer» (Os 11, 1-4). Apesar do comportamento errado do filho, que mereceria uma punição, o amor do pai é fiel e perdoa sempre um filho arrependido. Como vemos, na misericórdia está sempre incluído o perdão; a misericórdia divina «não é uma ideia abstracta mas uma realidade concreta, pela qual Ele revela o seu amor como o de um pai e de uma mãe que se comovem pelo próprio filho. (...) Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão» (Misericordiae Vultus, 6).

O Novo Testamento fala-nos da misericórdia divina (eleos) como síntese da obra que Jesus veio realizar no mundo em nome do Pai (cf. Mt 9, 13). A misericórdia de Nosso Senhor manifesta-se sobretudo quando Se debruça sobre a miséria humana e demonstra a sua compaixão por quem precisa de compreensão, cura e perdão. Em Jesus, tudo fala de misericórdia. Mais ainda, Ele mesmo é a misericórdia.

No capítulo 15 do Evangelho de Lucas, podemos encontrar as três parábolas da misericórdia: a ovelha tresmalhada, a moeda perdida e a conhecida por «filho pródigo». Nestas três parábolas, impressiona a alegria de Deus, a alegria que Ele sente quando reencontra um pecador e o perdoa. Sim, a alegria de Deus é perdoar! Aqui está a síntese de todo o Evangelho. «Cada um de nós é aquela ovelha tresmalhada, a moeda perdida; cada um de nós é aquele filho que esbanjou a própria liberdade, seguindo ídolos falsos, miragens de felicidade, e perdeu tudo. Mas Deus não Se esquece de nós, o Pai nunca nos abandona. É um pai paciente, espera-nos sempre! Respeita a nossa liberdade, mas permanece sempre fiel. E, quando voltamos para Ele, acolhe-nos como filhos na sua casa, porque nunca, nem sequer por um momento, deixa de esperar por nós com amor. E o seu coração fica em festa por cada filho que volta para Ele. Fica em festa, porque Deus é alegria. Vive esta alegria, cada vez que um de nós, pecadores, vai ter com Ele e pede o seu perdão» (Angelus, 15 de Setembro de 2013).

A misericórdia de Deus é muito concreta, e todos somos chamados a fazer experiência dela pessoalmente. Quando tinha dezassete anos, num dia em que devia sair com os meus amigos, decidi passar antes pela igreja. Ali encontrei um sacerdote que me inspirou particular confiança e senti o desejo de abrir o meu coração na Confissão. Aquele encontro mudou a minha vida. Descobri que, quando abrimos o coração com humildade e transparência, podemos contemplar de forma muito concreta a misericórdia de Deus. Tive a certeza de que Deus, na pessoa daquele sacerdote, já estava à minha espera, ainda antes que desse o primeiro passo para ir à igreja. Nós procuramo-Lo, mas Ele antecipa-Se-nos sempre, desde sempre nos procura e encontra-nos primeiro. Talvez algum de vós sinta um peso no coração e pense: Fiz isto, fiz aquilo… Não temais! Ele espera-vos. É pai; sempre nos espera. Como é belo encontrar no sacramento da Reconciliação o abraço misericordioso do Pai, descobrir o confessionário como o lugar da Misericórdia, deixar-nos tocar por este amor misericordioso do Senhor que nos perdoa sempre!

E tu, caro jovem, cara jovem, já alguma vez sentiste pousar sobre ti este olhar de amor infinito que, para além de todos os teus pecados, limitações e fracassos, continua a confiar em ti e a olhar com esperança para a tua vida? Estás consciente do valor que tens diante de um Deus que, por amor, te deu tudo? Como nos ensina São Paulo, assim «Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós»(Rm 5, 8). Mas compreendemos verdadeiramente a força destas palavras?

Sei como todos vós amais a cruz das JMJ’s – dom de São João Paulo II – que, desde 1984, acompanha todos os vossos Encontros Mundiais. Na vida de inúmeros jovens, quantas mudanças – verdadeiras e próprias conversões – brotaram do encontro com esta cruz singela! Talvez vos tenhais posto a questão: donde vem esta força extraordinária da cruz? Aqui tendes a resposta: a cruz é o sinal mais eloquente da misericórdia de Deus. Atesta-nos que a medida do amor de Deus pela humanidade é amar sem medida. Na cruz, podemos tocar a misericórdia de Deus e deixar-nos tocar pela sua própria misericórdia. Gostaria aqui de lembrar o episódio dos dois malfeitores crucificados ao lado de Jesus: um deles é presunçoso, não se reconhece pecador, insulta o Senhor. O outro, ao contrário, reconhece ter errado, volta-se para o Senhor e diz-Lhe: «Jesus, lembra-Te de mim, quando estiveres no teu Reino». Jesus fixa-o com infinita misericórdia e responde-lhe: «Hoje estarás comigo no Paraíso»(cf. Lc 23, 32.39-43). Com qual dos dois nos identificamos? Com aquele que é presunçoso e não reconhece os próprios erros? Ou com o outro, que se reconhece necessitado da misericórdia divina e implora-a de todo o coração? No Senhor, que deu a sua vida por nós na cruz, encontraremos sempre o amor incondicional que reconhece a nossa vida como um bem e sempre nos dá a possibilidade de recomeçar.

3. A alegria extraordinária de sermos instrumentos da misericórdia de Deus

A Palavra de Deus ensina-nos que «a felicidade está mais em dar do que em receber»(Act 20, 35). É precisamente por este motivo que a quinta Bem-aventurança declara felizes os misericordiosos. Sabemos que o Senhor nos amou primeiro. Mas só seremos verdadeiramente bem-aventurados, felizes, se entrarmos na lógica divina do dom, do amor gratuito, se descobrirmos que Deus nos amou infinitamente para nos tornar capazes de amar como Ele, sem medida. Como diz São João: «Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. (…) É nisto que está o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros» (1 Jo 4, 7-11).

Depois de vos ter explicado muito resumidamente como o Senhor exerce a sua misericórdia para connosco, quereria sugerir-vos em concreto como podemos ser instrumentos desta mesma misericórdia para com o nosso próximo.

Aqui vem-me ao pensamento o exemplo do bem-aventurado Piergiorgio Frassati. Dizia ele: «Jesus faz-me visita cada manhã na Comunhão, eu restituo-a no mísero modo que posso, ou seja, visitando os pobres». Piergiorgio era um jovem que compreendera o que significa ter um coração misericordioso, sensível aos mais necessitados. Dava-lhes muito mais do que meras coisas materiais; dava-se a si mesmo, disponibilizava tempo, palavras, capacidade de escuta. Servia os pobres com grande discrição, não se pondo jamais em evidência. Vivia realmente o Evangelho, que diz: «Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo»(Mt 6, 3-4). Imaginai vós que, no dia anterior ao da sua morte, gravemente doente, ainda se pôs a dar orientações sobre o modo como ajudar os seus amigos necessitados. No seu funeral, os familiares e amigos ficaram estupefactos com a presença de tantos pobres, a eles desconhecidos, que tinham sido acompanhados e ajudados pelo jovem Piergiorgio.

Sempre me apraz associar as Bem-aventuranças evangélicas com o capítulo 25 de Mateus, quando Jesus nos apresenta as obras de misericórdia e diz que seremos julgados com base nelas. Por isso, convido-vos a redescobrir as obras de misericórdia corporal: dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos, enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: dar bons conselhos, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo, rezar a Deus por vivos e defuntos. Como vedes, a misericórdia não é bonomia, nem mero sentimentalismo. Aqui está o critério de autenticidade do nosso ser discípulos de Jesus, da nossa credibilidade como cristãos no mundo de hoje.

Dado que vós, jovens, sois muito concretos, quereria propor-vos a escolha de uma obra de misericórdia corporal e outra de misericórdia espiritual para pôr em prática cada mês nos primeiros sete meses de 2016. Deixai-vos inspirar pela oração de Santa Faustina, apóstola humilde da Misericórdia Divina nos nossos tempos:

«Ajuda-me, Senhor, para que (…)

os meus olhos sejam misericordiosos, de modo que eu jamais suspeite nem julgue as pessoas pela aparência externa, mas perceba a beleza interior dos outros e possa ajudá-los (…);

o meu ouvido seja misericordioso, de modo que eu esteja atenta às necessidades do próximo e não me permitais permanecer indiferente diante de suas dores e lágrimas (…);

a minha língua seja misericordiosa, de modo que eu nunca fale mal do próximo; que eu tenha para cada um deles uma palavra de conforto e de perdão (…);

as minhas mãos sejam misericordiosas e transbordantes de boas obras (…);

os meus pés sejam misericordiosos, levem sem descanso ajuda aos meus irmãos, vencendo a fadiga e o cansaço (…);

o meu coração seja misericordioso, para que eu seja sensível a todos os sofrimentos do próximo» (Diário, 163).

Assim, a mensagem da Misericórdia Divina constitui um programa de vida muito concreto e exigente, porque implica obras. E uma das obras de misericórdia mais evidentes, embora talvez das mais difíceis de praticar, é perdoar a quem nos ofendeu, a quem nos fez mal, àqueles que consideramos como inimigos. «Tantas vezes, como parece difícil perdoar! E, no entanto, o perdão é o instrumento colocado nas nossas frágeis mãos para alcançar a serenidade do coração. Deixar de lado o ressentimento, a raiva, a violência e a vingança são condições necessárias para se viver feliz» (Misericordiae Vultus, 9).

Encontro muitos jovens que se dizem cansados deste mundo tão dividido, no qual se digladiam partidários de diferentes facções, existem muitas guerras e há até quem use a própria religião como justificação da violência. Temos de suplicar ao Senhor que nos dê a graça de ser misericordiosos com quem nos faz mal; como Jesus que, na cruz, assim rezava por aqueles que O crucificaram: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23, 34). O único caminho para vencer o mal é a misericórdia. A justiça é necessária, e muito! Mas, sozinha, não basta. Justiça e misericórdia devem caminhar juntas. Quanto desejaria que nos uníssemos todos numa oração coral, saída do mais fundo dos nossos corações, implorando que o Senhor tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro!

4. Cracóvia espera-nos!

Faltam poucos meses para o nosso encontro na Polónia. Cracóvia, a cidade de São João Paulo II e de Santa Faustina Kowalska, espera-nos com os braços e o coração abertos. Creio que a Providência Divina nos tenha guiado para celebrarmos o Jubileu dos Jovens precisamente no lugar onde viveram estes dois grandes apóstolos da misericórdia dos nossos tempos. João Paulo II intuiu que este era o tempo da misericórdia. No início do seu pontificado, escreveu a encíclica Dives in misericordia. No Ano Santo de 2000, canonizou a Irmã Faustina, instituindo também a Festa da Misericórdia Divina, no segundo Domingo de Páscoa. E, no ano 2002, inaugurou pessoalmente, em Cracóvia, o Santuário de Jesus Misericordioso, consagrando o mundo à Misericórdia Divina e manifestando o desejo de que esta mensagem chegasse a todos os habitantes da terra e cumulasse os seus corações de esperança: «É preciso acender esta centelha da graça de Deus. É necessário transmitir ao mundo este fogo da misericórdia. Na misericórdia de Deus o mundo encontrará a paz, e o homem a felicidade!» (Homilia na Dedicação do Santuário da Misericórdia Divina em Cracóvia, 17 de Agosto de 2002).

Queridos jovens, Jesus misericordioso, representado na imagem venerada pelo povo de Deus no santuário de Cracóvia a Ele dedicado, espera-vos. Fia-Se de vós e conta convosco. Tem muitas coisas importantes a dizer a cada um e a cada uma de vós… Não tenhais medo de fixar os seus olhos cheios de amor infinito por vós e deixai-vos alcançar pelo seu olhar misericordioso, pronto a perdoar todos os vossos pecados, um olhar capaz de mudar a vossa vida e curar as feridas da vossa alma, um olhar que sacia a sede profunda que habita nos vossos corações jovens: sede de amor, de paz, de alegria e de verdadeira felicidade. Vinde a Ele e não tenhais medo! Vinde dizer-Lhe do mais fundo dos vossos corações: «Jesus, confio em Vós!» Deixai-vos tocar pela sua misericórdia sem limites, a fim de, por vossa vez, vos tornardes apóstolos da misericórdia, através das obras, das palavras e da oração, neste nosso mundo ferido pelo egoísmo, o ódio e tanto desespero.

Levai a chama do amor misericordioso de Cristo – de que falava São João Paulo II – aos ambientes da vossa vida diária e até aos confins da terra. Nesta missão, acompanho-vos com os meus votos de todo o bem e as minhas orações, entrego-vos todos à Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, nesta última etapa do caminho de preparação espiritual para a próxima JMJ de Cracóvia, e de coração a todos vos abençoo.

Vaticano, 15 de Agosto – Solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria – de 2015.


FRANCISCO

Fé, Esperança e Amor


sábado, 26 de setembro de 2015

ONU: Papa diz que crise ecológica ameaça sobrevivência da humanidade


Nova Iorque, Estados Unidos da América, 25 set 2015 (Ecclesia)
O Papa Francisco alertou hoje na sede da ONU para as consequências de uma “crise ecológica” que coloca em causa a sobrevivência da humanidade.
“A crise ecológica, juntamente com a destruição de grande parte da biodiversidade, pode pôr em perigo a própria existência da espécie humana”, alertou, na sua primeira visita à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Estados Unidos da América.
Francisco defendeu um “direito do ambiente”, com “limites éticos que a ação humana deve reconhecer e respeitar”.
“Qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade”, acrescentou.
Na linha do que escreveu na sua recente encíclica ‘Laudato si’, o Papa afirmou que cada ser vivo possui “um valor de existência”.
“Nós cristãos, juntamente com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo provém duma decisão de amor do Criador, que permite ao homem servir-se respeitosamente da criação para o bem dos seus semelhantes e para a glória do Criador”, prosseguiu.
O pontífice argentino associou o abuso e a destruição do meio ambiente a um processo “ininterrupto” de exclusão, fruto da “ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material”.
“A exclusão económica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente”, alertou.
Segundo o Papa, os mais pobres são aqueles que mais sofrem, por serem “descartados pela sociedade”, “obrigados a viver de desperdícios” e por carregarem “injustamente as consequências do abuso do ambiente”.
“O carácter dramático de toda esta situação de exclusão e desigualdade, com as suas consequências claras, leva-me, juntamente com todo o povo cristão e muitos outros, a tomar consciência também da minha grave responsabilidade a este respeito, pelo que levanto a minha voz, em conjunto com a de todos aqueles que aspiram por soluções urgentes e eficazes”, assumiu o Papa.
A este respeito, realçou que a adoção da ‘Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável’, durante a Cimeira Mundial que hoje mesmo começa, é “um sinal importante de esperança”.
Francisco deixou ainda votos de que Conferência de Paris sobre as alterações climáticas, em dezembro, alcance “acordos fundamentais e efetivos”.
“O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efetiva, prática, constante, feita de passos concretos e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o mais rapidamente possível o fenómeno da exclusão social e económica”, exigiu.
O Papa alertou para problemas como o tráfico de seres humanos, a exploração sexual, o trabalho escravo, “incluindo a prostituição”, o tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada.

DOMINGO XXVI DO TEMPO COMUM




Evangelho segundo S. Marcos

Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga».

domingo, 20 de setembro de 2015

DOMINGO XXV DO TEMPO COMUM




Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos


Naquele tempo, Jesus e os seus discípulos caminhavam através da Galileia. Jesus não queria que ninguém o soubesse, porque ensinava os discípulos, dizendo-lhes: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará». Os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de O interrogar. Quando chegaram a Cafarnaum e já estavam em casa, Jesus perguntou-lhes: «Que discutíeis no caminho?». Eles ficaram calados, porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior. Então, Jesus sentou-Se, chamou os Doze e disse-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». E, tomando uma criança, colocou-a no meio deles, abraçou-a e disse-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou».

Entrevista ao Papa Francisco



"Tenho confiança nos políticos jovens. Há um problema mundial que é a corrupção"

14 Set, 2015 - 09:00 • Aura Miguel , no Vaticano
Em entrevista exclusiva à Renascença, o Papa diz que as pessoas estão desiludidas com a "corrupção a todos os níveis". Acredita que o "grande desafio da Europa é voltar a ser a mãe Europa" e apela ao acolhimento dos refugiados. Pede que a catequese "não seja teórica" e que a Igreja saia de si mesma. Acredita que Fátima faz de Portugal um país "privilegiado" e faz uma revelação: "Nunca conheci um português mau." Leia e ouça a entrevista na íntegra.
Para um Papa que vem do “fim do mundo”, como olha para Portugal e para os portugueses?
Em Portugal, só estive uma vez no aeroporto, há anos, quando vinha para Roma, num avião da Varig que fazia escala em Lisboa, por isso, só conheço o aeroporto. Mas conheço muitos portugueses. E, no Seminário de Buenos Aires, havia muitos empregados, emigrantes portugueses, gente boa, que tinha muita familiaridade com os seminaristas. E o meu pai tinha um colega de trabalho português. Lembro-me do seu nome, Adelino, bom homem. E uma vez conheci uma senhora portuguesa, com mais de 80 anos, que me deixou boa impressão. Quer dizer, nunca conheci um português mau.
No seu discurso aos bispos portugueses, além de elogiar o povo português e olhar para a Igreja com serenidade, o Santo Padre manifesta duas preocupações: uma em relação aos jovens e outra em relação à catequese. O Santo Padre usa uma imagem, dizendo que “os vestidos da primeira comunhão já não servem aos jovens”, mas que há “certas comunidades que insistem em vestir-lhos”. Qual é o problema?
É uma maneira de dizer. Os jovens são mais informais e têm o seu próprio ritmo. Temos de deixar que o jovem cresça, temos de o acompanhar, não o deixar sozinho, mas acompanhá-lo. E saber acompanhá-lo com prudência, saber falar no momento oportuno, saber escutar muito. Um jovem é inquieto. Não quer que o incomodem e, nesse sentido, pode-se dizer que “o vestido da primeira comunhão não lhes serve”. As crianças, pelo contrário, quando vão comungar, gostam do vestido da primeira comunhão. É uma ilusão. Os jovens têm outras ilusões que, muitas vezes, são muito boas, mas há que respeitar, porque eles mesmos não se entendem, porque estão a mudar, estão a crescer, estão à procura, não é? Por isso, é preciso deixar o jovem crescer, há que o acompanhar, respeitar e falar-lhe muito paternalmente.
Porque, ao mesmo tempo, há uma exigência a propor, mas essa exigência, muitas vezes, não é atractiva!
Por isso, há que procurar aquilo que atrai um jovem e exigir-lho. Por exemplo, um caso concreto: se você propõe a um jovem – e vemos isto por todo o lado – fazer uma caminhada, um acampamento ou fazer missão para outro sítio, ou por vezes ir a um “cotolengo” [obra fundada por sacerdote italiano de acolhimento de doentes com grave deficiência múltiplas, abandonadas pelas famílias e em situação de risco] para cuidar dos doentes, durante uma semana ou quinze dias, entusiasma-se porque quer fazer algo pelos outros. Está envolvido.
“Involucrado”?
Sim, fica por dentro, compromete-se. Não olha a partir de fora. Envolve-se, ou seja, compromete-se.
Então, porque é que não fica?
Porque está a caminhar.
E qual é o desafio que a Igreja, então, deve enfrentar? O Santo Padre também falou de uma catequese, que muitas vezes permanece teórica e onde falta esta capacidade de propor o encontro…
Pois é importante que a catequese não seja puramente teórica. Isso não serve. A catequese é dar-lhes doutrina para a vida e, portanto, tem de incluir três linguagens, três idiomas: o idioma da cabeça, o idioma do coração e o idioma das mãos. E a catequese deve entrar nesses três idiomas: que o jovem pense e saiba qual é a fé, mas que, por sua vez, sinta com o seu coração o que é a fé e, por sua vez, faça coisas. Se falta à catequese uma destas três línguas, destes três idiomas, não avança. Três linguagens: pensar o que se sente e o que se faz, sentir o que se pensa e o que se faz, fazer o que se sente e o que se pensa.
Escutando vossa Santidade, isto parece óbvio, mas, olhando à volta – sobretudo na velha Europa, na velha cristandade – não é assim. O que é que falta? Mudar a mentalidade? Como se faz?
Mudar a mentalidade, não sei, porque não conheço tudo, não é? Mas é verdade que, a metodologia catequética, às vezes, não é completa. Há que procurar uma metodologia da catequese que junte as três coisas: as verdades que se devem crer, o que se deve sentir e o que se faz, o que se deve fazer, tudo junto.
Santidade, para o centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, nós esperamos por si em Portugal. Três Papas já nos visitaram (João Paulo II por três vezes). O Senhor, que ama muito a Virgem, o que espera da sua visita em 2017?
Bom, vamos lá esclarecer as coisas. Eu tenho vontade de ir a Portugal para o centenário. Em 2017 também se cumprem 300 anos do encontro da Imagem da Virgem de Aparecida.
…. uma data estereofónica, em dois lados! (risos)
... por isso, também estou com vontade de lá ir e já prometi lá ir. Quanto a Portugal, disse que tenho vontade de ir e gostaria de ir. É mais fácil ir a Portugal, porque podemos ir e voltar num só dia, um dia inteiro, ou, quanto muito, ir um dia e meio ou dois dias. Ir ter com a Virgem. A Virgem é mãe, é muito mãe, e a sua presença acompanha o povo de Deus. Por isso, gostaria de ir a Portugal, que é privilegiado.
E o que espera de nós, portugueses? Como podemos preparar-nos para o receber e também para seguir os pedidos de Nossa Senhora?
O que a Virgem pede sempre é que rezemos, que cuidemos da família e dos mandamentos. Não pede coisas estranhas. Pede que rezemos pelos que andam desorientados, pelos que se dizem pecadores – todos o somos, eu sou o primeiro. Mas a Virgem pede e há que se preparar através desses pedidos da Virgem, através dessas mensagens tão maternais, tão maternais... e manifestando-se às crianças. É curioso, Ela procura sempre almas muito simples, não é? Muito simples.
Esta entrevista acontece em plena crise dos refugiados. Santo Padre, como está a viver esta situação?
É a ponta de um icebergue. Vemos estes refugiados, esta pobre gente que escapa da guerra, que escapa da fome, mas essa é a ponta do icebergue. Porque debaixo dele, está a causa. E a causa é um sistema socioeconómico mau e injusto, porque dentro de um sistema económico (dentro do mundo, falando do problema ecológico, da sociedade socioeconómica, da política) o centro tem de ser sempre a pessoa. E o sistema económico dominante, hoje em dia, descentrou a pessoa, colocando no centro o deus dinheiro, que é o ídolo da moda. Ou seja, há estatísticas, não me recordo bem (isto não é exacto e posso equivocar-me), mas 17% da população mundial detém 80% das riquezas.
E esta exploração das riquezas dos países mais pobres, a médio prazo traz esta consequência: a de estes todos que agora querem vir para a Europa…
E o mesmo acontece nas grandes cidades. Por que surgem as favelas nas grandes cidades?
O critério é o mesmo…
É o mesmo; é gente que vem do campo, porque o desflorestaram, porque fizeram monocultivo, não têm trabalho e vão para as grandes cidades.
Em África, também é igual…
Em África... ou seja, é o mesmo fenómeno. Então, esta gente emigrada que vem para a Europa – é a mesma coisa – à procura de um sítio. E, claro, para a Europa neste momento, é uma surpresa, porque até custa a crer que isto esteja a acontecer, não é? Mas acontece.
Mas o Santo Padre, quando foi a Estrasburgo, disse que era “necessário actuar sobre as causas e não apenas sobre os efeitos”. Mas parece que ninguém ouviu e, agora, os efeitos estão à vista…
Temos de ir às causas.
E ninguém o ouviu, muito provavelmente…
Onde as causas são a fome, há que criar fontes de trabalho, investimentos. Onde a causa é a guerra, procurar a paz, trabalhar pela paz. Hoje em dia, o mundo está em guerra contra si mesmo, ou seja, o mundo está em guerra, como digo, uma guerra em folhetins, aos pedaços, mas também está em guerra contra a Terra, porque está a destruir a Terra, ou seja, a nossa casa comum, o ambiente. Os glaciares estão a derreter-se, no Árctico, o urso branco vai cada vez mais para o norte para poder sobreviver.
E a preocupação pelo homem e pelo seu destino, parece ignorada. Como vê a reacção da Europa à vaga de refugiados? Uns constroem muros, outros escolhem os refugiados consoante a sua religião, outros aproveitam esta situação para fazer discursos populistas.
Cada um faz uma interpretação da sua cultura. E, por vezes, a interpretação ideológica, ou das ideias, é mais fácil do que fazer as coisas, que é a realidade. Mais longe da Europa, há um outro fenómeno que também me doeu muito: os “rohingya” [grupo étnico muçulmano, provavelmente, com origem na antiga Birmânia. Marginalizados por razões étnicas e religiosas, foram apontados pela ONU como uma das minorias mais perseguidas do mundo], que foram expulsos do seu país e que entram num barco e partem. Chegam a um porto ou a uma praia, dão-lhes água, dão-lhes de comer e depois, mandam-nos outra vez para o mar e não os acolhem. Ou seja, falta a capacidade de acolhimento da humanidade.
Porque não é tolerar; é mais do que tolerância: é acolhimento.
Acolher, acolher as pessoas, e acolher tal como vêm. Eu sou filho de emigrantes e pertenço à onda migrante do ano 1929. Mas na Argentina, desde o ano 1884, começaram a chegar italianos, espanhóis... portugueses, não sei quando chegou a primeira onda portuguesa; vinham sobretudo destes três países. E quando chegavam lá, alguns tinham dinheiro, outros iam para o hotel de emigrantes e daí eram enviados para as cidades. Iam trabalhar ou procurar trabalho. É verdade que, naquela época, havia trabalho, mas, os da minha família – que tinham trabalho quando chegaram, em 29 –, no ano 32, com a crise económica de 30, ficaram na rua, sem nada. O meu avô comprou um armazém com dois mil pesos que lhe emprestaram e o meu pai, que era contabilista, andava a fazer distribuição com a canasta; ou seja, tinham vontade de lutar, de vencer... Eu sei o que é a migração! E depois, vieram as migrações da Segunda Guerra, sobretudo do centro da Europa, muitos polacos, eslovacos, croatas, eslovenos e também da Síria e do Líbano. E sempre nos demos bem por lá. Na Argentina, não houve xenofobia. E agora, há migração interna na América, vêm de outros países da América para a Argentina, apesar de ter diminuído nos últimos anos, por falta de trabalho na Argentina.
E também do México para os Estados Unidos. Há todo um fenómeno…
O fenómeno migratório é uma realidade. Mas eu queria abordar o tema, sem censurar ninguém. Quando há um espaço vazio, a gente procura preenchê-lo. Se um país não tem filhos, vêm os emigrantes ocupar o lugar. Penso no nível dos nascimentos de Itália, Portugal e Espanha. Creio que é quase 0%. Então, se não há filhos, há espaços vazios. Ou seja, o não querer ter filhos, em parte, – e isto é uma interpretação minha, não sei se está correcta – é um pouco o resultado da cultura do bem-estar, não é? Eu ouvi, dentro da minha própria família, cá, há uns anos, por parte dos meus primos italianos dizer: “Não, crianças, não; preferimos viajar nas férias, ou comprar uma ‘villa’, ou isto ou aquilo”... e os idosos vão ficando sozinhos. Creio que o grande desafio da Europa é voltar a ser a mãe Europa...
E não a…
... a avó Europa. Perdão, há países da Europa que são jovens, por exemplo, a Albânia. A Albânia impressionou-me, gente com 40 anos, 45 anos... e a Bósnia-Herzegovina, ou seja, países que se refizeram depois de uma guerra, não é?
Por isso, o Santo Padre os visitou…
Ah sim, claro. É um sinal para a Europa.
Mas este desafio do acolhimento a estes refugiados que estão a entrar, na sua perspectiva, pode ser muito positivo para a Europa? É um benefício, uma provocação? Finalmente, de algum modo, a Europa pode despertar, mudar de rumo?
Pode ser. É verdade e reconheço que, hoje em dia, as condições de segurança territorial não são as mesmas de outra época porque, na verdade, temos, a 400 quilómetros da Sicília, uma guerrilha terrorista sumamente cruel, não é? Então, existe o perigo da infiltração, isso é verdade.
E que pode chegar até Roma.
Ah sim, ninguém assegurou que Roma seja imune a isto, não é? Mas podem-se tomar precauções e pôr toda a gente que vem a trabalhar. Mas também há outro problema, é que a Europa atravessa uma crise laboral muito grande. Há um país, melhor, vou falar de três países, mas que não vou nomear, dos mais importantes da Europa, em que o desemprego juvenil dos jovens com menos de 25 anos, num país é de 40%, noutro país é de 47% e noutro é de 50%. Há uma crise laboral, o jovem não encontra trabalho. Ou seja, misturam-se muitas coisas. Nisto, não podemos ser simplistas. Evidentemente, se chega um refugiado, com as medidas de segurança de todo o tipo, há que recebê-lo, porque é um mandamento da Bíblia. Moisés disse ao seu povo: “Recebei o forasteiro porque não esqueçais que vós fostes forasteiros no Egipto”.
Mas o ideal era que eles não tivessem fugido, que ficassem nas suas terras, não?
Isso, sim.
No Angelus de 6 de Setembro, lançou o desafio às paróquias para que acolham refugiados. Já houve reacções? O que espera em concreto?
O que eu pedi foi isto: que cada paróquia, cada instituto religioso, cada mosteiro, acolha uma família. Uma família, não uma pessoa. Uma família dá mais segurança de contenção, um pouco para evitar que haja infiltrações de outro tipo. Quando digo que uma paróquia deve acolher uma família, não digo que tenham de ir viver para a casa do padre, para a casa paroquial, mas que toda a comunidade paroquial veja se há um lugar, um canto num colégio para aí se fazer um pequeno apartamento ou, na pior das hipóteses, que arrendem um modesto apartamento para essa família; mas que tenham um tecto, que sejam acolhidos e que se integrem na comunidade. Já tive muitas reacções, muitas, muitas. Há conventos que estão quase vazios.
Há dois anos, o Santo Padre já fez esse apelo e que resultados é que houve?
Só quatro. Um deles, dos jesuítas (risos); muito bem, os jesuítas! Mas o assunto é sério, porque aí também há a tentação do deus dinheiro. Algumas congregações dizem “Não, agora que o convento está vazio, vamos fazer um hotel e podemos receber pessoas e, com isso, sustentamo-nos ou ganhamos dinheiro”. Pois bem, se quereis fazer isso, pagai os impostos! Um colégio religioso, por ser religioso está isento de impostos, mas se funciona como hotel, então, que pague os impostos como qualquer vizinho do lado. Senão, o negócio não é limpo.
E o Santo Padre já disse que, aqui no Vaticano, acolhe duas famílias.
Sim, duas famílias. Já me disseram ontem que as famílias já estavam localizadas e as duas paróquias do Vaticano encarregaram-se de as procurar.
Já estão identificadas?
Sim, sim, sim, já estão. Quem o fez foi o cardeal Comastri, que é o meu vigário-geral para o Vaticano, juntamente com o encarregado da Esmolaria Apostólica, monsenhor Konrad Krajewski, que trabalha com os sem-abrigo e foi quem fez os duches debaixo da colunata, o serviço de barbearia – realmente, uma maravilha – é o que leva os que vivem na rua a ver os museus e a Capela Sistina.
E estas famílias ficam até quando?
Até quando o Senhor quiser. Não se sabe como isto vai acabar, não é? De todas as maneiras, quero dizer que a Europa tomou consciência, e eu agradeço-lhe. Agradeço aos países da Europa que tomaram consciência disto.
A Renascença aderiu em Portugal a uma iniciativa, que reúne instituições cristãs e também de outras religiões, para acolher e movimentar-se a favor dos refugiados. Pode dizer algumas palavras a quem participa nesta plataforma?
Felicito-vos e agradeço-vos pelo que estão a fazer e dou-vos um conselho: no dia do Juízo Final, já sabemos sobre o que vamos ser julgados, está escrito no capítulo 25 de São Mateus. Quando Jesus vos disser “Estive com fome, deste-me de comer?”, vocês vão dizer “Sim. “E quando estive sem refúgio, como refugiado, ajudaste-me?”, “Sim”. Pois, felicito-vos: vão passar no exame! E também queria dizer uma coisa sobre o trabalho com jovens desocupados. Creio que aqui é urgente, sobretudo para as congregações religiosas que têm como carisma a educação, mas também os leigos, os educadores leigos, que inventem cursos, pequenas escolas de emergência. Então, para um jovem que está desocupado, se estudar, durante seis meses, para ser cozinheiro ou canalizador, para fazer pequenas reparações – há sempre um tecto para arranjar - ou para pintor, com esse ofício, terá mais possibilidade de encontrar um trabalho, ainda que parcial ou temporário. Fazer o que nós chamamos de “biscate”, um trabalho ocasional e com isso não está totalmente desocupado. Mas hoje é o tempo da educação de emergência. Foi o que fez Dom Bosco. Dom Bosco, quando viu a quantidade de crianças que havia na rua, disse “tem de haver educação”, mas não mandou as crianças para a escola média ou secundária, sim aprender ofícios. Então, preparou carpinteiros, canalizadores, que os ensinavam a trabalhar e, assim, já tinham com que ganhar o pão. Dom Bosco fez isso. E agora gostava de contar um episódio sobre Dom Bosco. Aqui em Roma, perto do Trastevere, onde...
Era uma zona pobre.
Sim, era uma zona muito pobre, mas que agora é zona da moda para os jovens, para a “movida”, não é? Pois Dom Bosco passou por ali, ia de carruagem – ou de carro, não sei – e atiraram-lhe uma pedrada que partiu o vidro. Ele mandou parar e disse: “Este é o lugar que onde vamos ficar!”. Ou seja, perante uma agressão, não a viveu como agressão, viveu-a como um desafio para ajudar aquela gente, as crianças, os jovens que só sabiam agredir. E hoje, existe ali uma paróquia salesiana que forma jovens e crianças, com as suas escolas e as suas coisas. Assim, volto ao tema dos jovens: o importante é que hoje se dê, aos jovens que não têm trabalho, uma educação de emergência sobre algum ofício que lhes permita ganhar a vida.
É muito crítico também sobre o estilo de vida ocidental e da Europa, o chamado primeiro mundo, muito centrado no bem-estar. O que é que o incomoda mais?
Bem, quer dizer, também nas grandes cidades americanas, quer da América do Norte, quer da América do Sul, existe este mesmo problema, não é só na Europa...
...é o chamado primeiro mundo.
Sim, nas grandes cidades... Em Buenos Aires há um grande sector da cultura do bem-estar e, por isso, também há esses cordões à volta das cidades, as favelas e todas essas coisas, não é? Eu, em relação à Europa, hoje, não lhe atiraria à cara este tipo de coisas. Há que reconhecer que a Europa tem uma cultura excepcional. Realmente, são séculos de cultura e isso também dá um bem-estar intelectual. Em todo o caso, o que eu diria da Europa, é a sua capacidade de retomar uma liderança no concerto das nações. Ou seja, que volte a ser a Europa que define rumos, pois tem cultura para o fazer.
Mas mantém a identidade, hoje em dia, a Europa? Está em condições de afirmar a sua identidade?
O que eu disse em Estrasburgo, pensei muito antes de o dizer. Ou seja, volto a repetir um pouco isso: a Europa ainda não morreu. Está meia-avozinha [risos], mas pode voltar a ser mãe. E eu tenho confiança nos políticos jovens. Os políticos jovens tocam outra música. Há um problema mundial, que afecta não só a Europa, mas o mundo inteiro, que é o problema da corrupção. A corrupção a todos os níveis... e isso também revela um baixo nível moral, não é?
O Santo Padre fala disso na sua última encíclica e pede para as populações estarem mais conscientes. No entanto, verifica-se muita abstenção. Se vemos os resultados das eleições, a abstenção é quase maior do que um partido…
Porque a gente está desiludida. Em parte, por causa da corrupção, em parte pela ineficácia, em parte pelos compromissos assumidos anteriormente. E, no entanto, a Europa – volto a dizer o que disse em Estrasburgo – tem que desempenhar o seu papel, ou seja, recuperar a sua identidade. É verdade que a Europa se enganou – não estou a criticar, mas só a recordar –, quando quis falar da sua identidade sem querer reconhecer o mais profundo da sua identidade, que é a sua raiz cristã, não foi? Aí enganou-se. Bom, mas todos nos enganamos na vida... está a tempo de recuperar a sua fé.
O que é que pode tocar a liberdade de alguém que “faz o que quer” e que foi educado desde pequeno com um conceito de felicidade para quem “a felicidade é não ter problemas”? Em geral, educam-se as crianças com este desejo de que a felicidade é “não ter problemas e fazer o que se quer”.
Uma vida sem problemas é aborrecida. É um tédio. O homem tem, dentro de si, a necessidade de enfrentar e de resolver conflitos e problemas. Evidentemente, uma educação para não ter problemas, é uma educação asséptica. Faça você mesma a experiência: pegue num copo de água mineral, de água comum, da torneira, e depois pegue num copo com água destilada. Mete nojo, mas a água destilada não tem problemas... (risos) é como educar as crianças no laboratório, não é? Por favor!
Arriscar é importante?
Correr o risco, propor sempre metas! Para educar, faz falta usar os pés. Para educar bem, há que ter um pé bem apoiado no chão e o outro pé levantado mais à frente e ver onde o posso apoiar. E quando tenho apoiado o outro, levanto este [faz o gesto com os pés] e... isso é educar: apoiar-se sobre algo seguro, mas tentar dar um passo em frente até que o tenha firme e, depois, dar outro passo.
Dá mais trabalho educar assim…
É arriscar! Porquê? Porque talvez piso mal e caio... pois bem, levantas-te e segues em frente!
Na onda individualista em que vivemos – falou nisso em Estrasburgo – parece um capricho exigir direitos, sempre mais direitos separados da busca da verdade. Crê que isto é também um problema na maneira de viver a fé?
Pode ser... sempre com mais exigências, sem a generosidade de dar. Ou seja, é exigir só os meus direitos e não os meus deveres perante a sociedade, não é? Eu creio que direitos e deveres caminham juntos. Senão, isso, cria a educação do espelho; porque a educação do espelho é o narcisismo e hoje estamos numa civilização narcisista.
E como é que se a vence, como se combate?
Com a educação, por exemplo, com direitos e deveres, com a educação dos riscos razoáveis, procurando metas, avançando e não ficando quieto ou a olhar ao espelho... não vá acontecer-nos como aconteceu ao Narciso que, de tanto se olhar espelhado na água e se achar tão lindo, tão lindo, “blup”, afogou-se. [risos]
Diz que prefere uma igreja acidentada a uma igreja estagnada. O que entende por “igreja acidentada”?
Sim, eu explico: é uma imagem de vida. Se uma pessoa tem em sua casa uma divisão, um quarto, fechado durante muito tempo, surge a humidade, o mofo e o mau cheiro. Se uma igreja, uma paróquia, uma diocese, um instituto, vive fechada em si mesmo, adoece (acontece o mesmo com o quarto fechado) e ficamos com uma Igreja raquítica, com normas rígidas, sem criatividade, segura, mais que segura, assegurada por uma companhia de seguros, mas não segura! Pelo contrário, se sai – se uma igreja, uma paróquia saem – lá para fora, a evangelizar, pode acontecer-lhe o mesmo que acontece a qualquer pessoa que sai para a rua: ter um acidente. Então, entre uma igreja doente e uma Igreja acidentada, prefiro uma acidentada porque, pelo menos, saiu para a rua.
E aqui, quero repetir uma coisa que já disse noutra ocasião: na Bíblia, no Apocalipse, há uma coisa linda de Jesus, creio que no segundo capítulo (no final do primeiro ou no segundo), em que está a falar a uma Igreja e diz: “Estou à porta e chamo” - Jesus está a bater – “Se me abres a porta, entro e vou comer contigo”. Mas eu pergunto: quantas vezes, na Igreja, Jesus bate à porta do lado de dentro para que O deixemos sair, a anunciar o reino? Por vezes, apropriamo-nos de Jesus só para nós, e esquecemo-nos que uma Igreja que não está em saída, uma Igreja que não sai, mantém Jesus preso, aprisionado.
Foi por causa disso que foi eleito Papa?
Isso pergunte ao Espírito Santo! [risos]
Desde que é Papa, considera que a Igreja está mais acidentada?
Não sei. Sei que, pelo que me dizem, Deus está a abençoar muito a sua Igreja. É um momento que não depende da minha pessoa, mas da bênção que Deus quis dar à sua Igreja, neste momento. E agora, com este Jubileu da Misericórdia, espero que muita gente sinta a Igreja como mãe. Porque pode acontecer à Igreja o mesmo que aconteceu à Europa, não é? Ficar demasiadamente avó, em vez de mãe, incapaz de gerar vida.
É este é o motivo do Jubileu da Misericórdia?
Que venham todos! Que venham e sintam o amor e o perdão de Deus. Conheci, em Buenos Aires, um frade capuchinho, um pouco mais novo do que eu, que é um grande confessor. Tem sempre uma grande fila, com muita gente, está todo o dia a confessar. Ele é um grande “perdoador”, perdoa muito. E, às vezes, tem escrúpulos por ter perdoado muito. Então, uma vez, em conversa, disse-me: “Às vezes, tenho escrúpulos”. E eu perguntei-lhe: “E o que fazes, quando tens esses escrúpulos?”. “Vou diante do sacrário, olho para o Senhor e digo-lhe: Senhor, perdoai-me, hoje perdoei muito, mas que fique bem claro que a culpa é toda vossa, porque fostes Vós a dar-me o mau exemplo!"
Por isso o Santo Padre, neste sentido, também decidiu, nesta carta [a monsenhor Rino Fisichella sobre o Jubileu da Misericórdia] propor o perdão às situações mais difíceis e agora mesmo publicou estas cartas [de “motu proprio”, iniciativas do Papa que têm normalmente a forma de decreto] que aceleram os processos de nulidade. Isto também tem a ver com o Jubileu?
Sim, simplificar... Facilitar a fé às pessoas. E que a Igreja seja mãe...
A razão destas cartas “motu proprio” para a nulidade qual é, exactamente, é agilizar?
Agilizar, agilizar os processos nas mãos do bispo. Um juiz, um defensor do vínculo, só uma sentença, porque até agora havia duas sentenças. Não, agora, é só uma. Se não houver apelo, já está. Se houver apelo, vai para o metropolita, mas agilizar. E também a gratuidade dos processos.
O Santo Padre fez isto a pensar também no Sínodo e no Jubileu?
Está tudo relacionado.
Já sei que não quer falar do Sínodo, mas, no seu coração de pastor universal, o que pede?
Peço que rezem muito. Sobre o Sínodo, vocês os jornalistas, já conhecem o “Instrumentum Laboris”. Vai-se falar disso, do que lá está. São três semanas, um tema, um capítulo, para cada semana. E esperam-se muitas coisas, porque, evidentemente, a família está em crise. Os jovens não se casam. Não se casam. Ou então, com esta cultura do provisório, dizem “ou vivo junto ou me caso, mas só enquanto dura o amor, depois, tchau...”
E que diz a quem vive uma moral contrária à indicação da Igreja e que tem esta ansiedade de perdão?
Lá no Sínodo vai-se falar de todas as possibilidades de ajudar estas famílias. Que uma coisa fique clara – e que o Papa Bento o deixou bem esclarecido: as pessoas que vivem uma segunda união não estão excomungadas e têm de ser integradas na vida da Igreja. Isso ficou claríssimo. E eu, no outro dia na catequese, também o disse claramente: aproximar-se da missa, da catequese, na educação dos filhos, nas obras de caridade... há mil coisas, não é?
Santidade, gostaria de terminar com perguntas sobre a sua vocação. No início de Março de 2013, preparava-se para ir para a “reforma”. Já tinha decidido onde ia ficar a viver, etc.. No entanto, tornou-se um dos homens mais famosos a nível mundial. Como vive esta circunstância?
Não perdi a paz. É um dom... a paz é um dom de Deus. É um dom que Deus me deu, algo que eu não imaginava, pela idade que tenho e por tudo isso. E, mais ainda, eu até já tinha previsto o meu regresso, pensando que nenhum Papa seria escolhido na Semana Santa. Então, se demorássemos a elegê-lo, teríamos de nos despachar até sábado, antes do Domingo de Ramos. E comprei um bilhete de regresso, para poder celebrar Missa no Domingo de Ramos e até deixei preparada, na minha escrivaninha, a homilia. Foi uma coisa que eu não esperava e, em Dezembro, deixaria o cargo para o qual ia ser nomeado um sucessor. Assim...
…há toda uma aventura, agora, à sua frente.
Tudo... mas não perdi a paz. Não perdi a paz.
O Papa Francisco é amado em todo o mundo, a sua popularidade cresce, como revelam as sondagens, e tantos querem vê-lo candidato ao prémio Nobel. Mas Jesus avisou os seus: ”Sereis odiados por causa do meu nome”. Como é que se sente, Santidade?
Muitas vezes me pergunto como será a minha cruz, como é a minha cruz... As cruzes existem. Não se vêem, mas estão lá. E também Jesus, num certo momento, foi muito popular e, depois, acabou como acabou. Ou seja, ninguém tem garantida a felicidade mundana. A única coisa que eu peço, é que me conserve a paz do coração e que me conserve na sua Graça, porque, até ao último momento, somos pecadores e podemos renegar a sua Graça. Consola-me uma coisa: que São Pedro cometeu um pecado muito grave – renegar Jesus – e, depois, fizeram-no Papa... Se com este pecado o fizeram Papa, com todos os que eu tenho, consolo-me, pois o Senhor cuidará de mim como cuidou de Pedro. Mas Pedro morreu crucificado, enquanto eu não sei como vou terminar. Que Ele decida, desde que me dê a paz, que Ele faça o que quiser.
Como é que vive a sua liberdade sendo Papa? Apareceu de surpresa numa missa em S. Pedro, de manhã cedo, foi ao oculista arranjar os óculos… Precisa do contacto com as pessoas?
Sim, tenho necessidade de sair, mas ainda não chegou a altura certa... mas, pouco a pouco, vou tendo contacto com as pessoas às quartas-feiras e isso ajuda-me muito. Sim, a única coisa que estranho em relação a Buenos Aires é sair a “callejear”, andar na rua.
E terminamos com umas perguntas rápidas: o que lhe tira o sono?
Posso dizer-lhe a verdade? Durmo como uma pedra! [risos]
E o que o faz correr?
Sempre que há muito trabalho.
O que nunca é urgente, que pode esperar?
O que não é urgente? As pequenas coisas que podem esperar até amanhã ou depois. Há coisas que são muito urgentes e outras que não são urgentes... mas não saberei dizer-lhe, em concreto, que isto é mais urgente do que aquilo.
Com que frequência se confessa?
Todos os 15 dias, 20 dias. Confesso-me a um padre franciscano, o padre Blanco, que tem a bondade de vir cá confessar-me. E nunca tive de chamar uma ambulância para o levar de regresso, assustado com os meus pecados! [risos]
Como e onde gostaria de morrer?
Onde Deus quiser. A sério... onde Deus quiser...
A última: como imagina a eternidade?
Quando era mais novo, imaginava-a muito aborrecida [risos]. Agora, penso que é um Mistério de encontro. É quase inimaginável, mas deve ser algo muito bonito e maravilhoso encontrar-se com o Senhor.
Obrigada, Santo Padre.
Obrigado eu, e uma grande saudação a todos os ouvintes desta rádio. E, por favor, peço-vos que rezem por mim. Que Deus vos abençoe e que a Virgem de Fátima vos proteja.