in Além-Mar
Para ouvir algumas das faixas do CD: aqui.
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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João [Jo 20, 19-23]
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo:«A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes:«Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados;e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».
Em tempo oportuno as coisas foram-se preparando, buscou-se o pão e a manteiga, quem escrutinasse o trajecto, não esquecesse as velas, do passa-palavra, das lanternas, carro de apoio, faixas, recordações, guiões, cartazes, slides para o blog e um sem número de coisas mais que sempre faltam…
A Vigília da Luz, preparatória da clarminhada, começou com um pontual atraso de trinta minutos. Presidiu o Pe Vasco Nuno, que nos foi convidando a reacender a luz da fé na Luz de Jesus.
Ao terminar a Vigília todos puderam dizer que acenderam a sua vela na Luz de Cristo, porque só Ele é a Luz; porque de noite ou de dia Ele é a Luz;
porque jamais alguém pode dar a Luz como Ele; porque Ele nunca falha; porque… A seguir à Vigília havia uma prova de chá.
Os bolos vieram de Viana e da Figueira da Foz, da Gafanha e de Rosém, de Oiã e Avessadas. O chá foi obra da mãe Orquídea. Enquanto o degustávamos havia juras de pés rijos e vontades inquebrantáveis.
Também havia muitos abraços: afinal já não nos víamos desde a Peregrifáti, no início do mês… E por fim, feitas as contas, depois duma fotografia de grupo junto à estátua de São João da Cruz, lá partimos os 69 clarminheiros [Vindos de Alhadas (Figueira da Foz); Aveiro; Avessadas (Marco de Canaveses); Braga; Caíde de Rei (Lousada); Coimbra; Esgueira (Aveiro); Gafanha da Encarnação (Ílhavo); Gafanha da Nazaré (Ílhavo); Moinhos da Gândara (Figueira da Foz); Rosém (Marco de Canaveses); Viana do Castelo]!
Começa a Missa. Preside o Frei João, concelebra o P. Vasco Nuno e todos nós. Há apenas oito cadeiras para os seniores e um chão confortável para todos. A Missa começa cantando que já se ouvem os nossos passos e depois pára: havia que ouvir aquele coro de passarinhos que ensaiara um belo concerto para nós. E ouvimos. Que belo! Que bom é Deus que nos dá caminhos e passarinhos, estrelas e santuários, frescura e verdura, pedrinhas, água fresca e chá, oração, guias (que belos guias!), amigos sem igual, carro de apoio (não conhecemos melhor nem damos o telemóvel dele, podem estar certos!), noite e luz, boa disposição, poder de convocatória e de resposta, pão e vinho, oração e louvor. Que bom e que belo é Deus! Na Missa tudo é surpresa. Tinham-me perguntado se seria uma Missa normal e respondi que sim, porque não havia anormais entre nós. Mas não o seria de todo, pois haveria de ser uma Missa ao contrário: ali todos nos conhecíamos, todos nos ajudáramos, todos estávamos sujos, suados e cansados, com vontade de rezar, pedir perdão e agradecer, ouvir, pedir, comer e partir. Duas coisas ficaram da curta — enfim, uma curta! — homilia do Presidente: 1) Nem todos sabem, se é que alguém saberia, por que tantos nos encontrávamos ali. Porque sofremos tanto, enfrentando a noite, o susto e o medo, o imprevisto e o desconforto. Sim, se nos pedissem para nos justificarmos não se sabe bem o que diríamos se algo disséssemos. É muito difícil dizer porque preferimos a odisseia dos caminhos à odisseia dos sofás! É muito difícil até justificarmo-nos a nós mesmos. No entanto, estávamos ali, sob o olhar atento do Pai. Sim, Ele tudo vê e tudo conhece com verdade e profundidade. Ele recolhe cada gota de suor, casa respingo de dor muscular, cada surpresa e medo que nos assalta, a generosidade e os anseios de superação, a vontade, o desejo, a graça, e depois, tudo nos devolve em valor acrescentado; 2) A nossa clarminhada foi concretizada na véspera da celebração litúrgica da Solenidade da Ascensão. Cumpríramos simbolicamente o mandamento do Senhor: Ide por todo o mundo. Que melhor maneira de celebrar a Ascensão: O Senhor deixa de caminhar entre nós, e manda que os seus amigos caminhem até ao fim do mundo! E ali estávamos nós, não no fim do mundo mas no fim da clarminhada, dizendo-Lhe com os pés doridos e o corpo suado que lhe oferecíamos tudo o que temos e somos para que no mundo se ouça a sua Voz, se conheça a sua Boa Nova, se anuncie a sua Salvação. Terminada a Missa, terminou a festa. Havia ainda uma bela lembrança, tão bela quanto simples: ainda ninguém materializara a Gotinha, o nosso símbolo, e hei-la ali, castanha, bem recortada e bordada. Parabéns pela ideia e pela oferta! Chegou por fim o tempo dos abraços e beijos rápidos, que não impediram o rápido e sereno fim de festa. Às sete horas e cinco minutos trinta e seis pés correm ágeis, como filhos de gazela, pela gare dos Caminhos de Ferro de Aveiro. Ninguém diria que não tinham dormido, que os corpos estavam doridos da clarminhada de 20 quilómetros e que tinham rezado a Missa, apesar do desconforto e das dores.
Por fim ouviu-se um priuuuuuuuuuuuuuuu! E lá foram. Às nove e meia choviam no telélé do escriba mensagens de bom regresso, mas ele dormia profundamente e a velas despregadas numa cela conventual à beira-ria plantada. O regresso a casa foi calmo. A missão estava cumprida. Levemente vai reborbulhando em mim um desejo: abandonamos as carminhadas e passamos a fazer só clarminhadas? Que dizem? Quem levanta a mão?
Eu levanto!
Al Berto (1948-1997)
Foto: Rarindra Prakarsa
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João [Jo 15, 9-17]
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos.Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi a meu Pai. Não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi e destinei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça. E assim, tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá.O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».
Ao final de uma quinta-feira, último dia do mês de Abril, véspera do feriado do dia do trabalhador e de um apetecível fim-de-semana prolongado, era muita a azáfama e movimento em torno das grandes metrópoles do país com muita gente a querer sair do buliço das cidades dirigindo-se para locais mais pacatos e sossegados, aproveitando mais um dia de descanso que o calendário proporcionara. Porém, em alguns pontos do país, mais de duas dezenas de jovens ultimavam preparativos e partiam de suas casas, atravessando a mesma mundana confusão, tendo como destino a cidade de Coimbra, onde no dia seguinte, partiriam para uma longa carminhada até Fátima. Assim começou a III Peregrinação a Pé a Fátima do Carmo Jovem. Começou à porta de cada uma das nossas casas, pois a peregrinação de cada um começa dentro do seu próprio coração, no momento em que deixa o conforto e aconchego do lar e enfrenta o mundo.
Depois de algumas horas de viagem seja de comboio, metro ou automóvel, eis-nos, enfim, chegados à cidade dos estudantes que por aqueles dias vivia as suas festas académicas. Junto ao Carmelo de Coimbra, num local chamado Penedo da Saudade e sítio combinado para o ponto de encontro entre todos os peregrinos, esperavam-nos três irmãs do Carmelo Secular, entre as quais a Presidente Nacional, Maria Emília André, que amavelmente nos deram as boas vindas e logo de seguida nos guiaram até ao local onde iríamos passar aquela noite: a Casa do Noviciado das Irmãs Doroteias. À nossa espera tínhamos uma pequena ceia preparada por estas senhoras irmãs do Carmelo Secular e que foi sendo composta e recheada por mais algumas migalhas que trouxeramos de nossas casas; a saber, o bolo das Alhadas, trazido pelas irmãs Teresa e Carla Romeiro e o bolo de chocolate trazido pela Célia directamente de Moinhos da Gândara.
Em seguida e já numa sala anexa iniciou-se o acolhimento propriamente dito, no qual foi apresentada a própria peregrinação e cada participante individualmente. Era-mos mais de duas dezenas de peregrinos, alguns estreantes, outros já repetentes pela segunda e pela terceira vez, um grupo que à primeira vista bastante heterogéneo pelas diferentes faixas etárias representadas e pelas responsabilidades que lhe andam associadas, mas que posteriormente se viria a revelar bastante coeso e unido.
Foi um momento bastante divertido e ao mesmo tempo bastante interessante, onde podemos conhecer um pouco mais de cada um e desde logo pusemos em prática o que o Apóstolo nos pedira para os próximos dias: sermos e andarmos alegres!
A hora já ia adiantada quando nos deitamos com a certeza, porém, que poucas horas depois iniciaríamos, bem cedinho, no Carmelo de Santa. Teresa a III peregrinação a pé a Fátima do Carmo Jovem.