terça-feira, 29 de maio de 2007

Artigo publicado no "Mensageiro do Menino Jesus"

Artigo publicado pelo jornal Mensageiro do Menino Jesus na edição n.º 146 – Maio/Junho 2007


domingo, 20 de maio de 2007

Uma jovem, um centenário

Publicamos reconhecidos a pagela que as Irmãs do Carmelo de Santa Teresinha, de Viana do Castelo, nos ofereceram. Um singelo pormenor que fala da fraternidade e reforça os nossos laços carmelitas.

sábado, 19 de maio de 2007

Notas finais - Carminhada - Viana do Castelo - 19 Maio 2007

E no entanto ele move-se. Assim é. Sobre o Movimento Carmo Jovem passou uma nuvem negra. Os jovens começaram a ficar velhos. E quase claudicamos só porque a vida impôs a sua lei! Agora estamos de novo em franco movimento. Sabe-se que quanto maior é a nau, maior é a tormenta. Foi isso o que nos sucedeu. Porém, em boa hora agarramos os remos, consertamos as velas, tapamos os buracos. E pusemos o Movimento em movimento.
Hoje, dia 19 de Maio, em Viana do Castelo, concluímos a IV Carminhada. A quarta de quatro.
As nossas carminhadas começaram em Caíde de Rei, continuaram em Braga e Aveiro e terminaram nas areias de Viana do Castelo.
Cumpriu-se o prometido e quem cumpre o que promete nada mais se lhe deve pedir.
Pelas 9h45 concentrámo-nos na Capela do Centro de Pastoral de Espiritualidade do Convento do Carmo de Viana. Éramos 74 jovens bem contados. O cenário cuidado animava-nos ainda mais a Lançar as Redes ao Mar. Proveniências? As habituais, umas mais reforçadas outras corajosas, todas convictas. Aveiro, Avessadas, Braga, Caíde de Rei, Ílhavo, Mangualde e Viana do Castelo responderam à chamada.
Logo a abrir uma apresentação em PowerPoint espevitava-nos a carminhar, a Lançar as Redes ao Mar. Saímos. Logo de saída apresentou-se-nos diante a Ponte Eiffel. As pontes têm sempre um quê de surpreendente; são como que uma proposta para a novidade, um reforço de ânimo para vencermos as dificuldades. (Quem vai pela ponte não tem de nadar, não é?) Atacamos a ponte com um sol suave a dar-nos pela cara e um vento ameno a beijar-nos os cabelos.
Às 11h00 em ponto estávamos no Cais Novo, a outra margem. Nós íamos para lá, e para cá, ao nosso encontro, vinha o Frei João Costa. Ah!, claro, faltava ele. Somos agora 75! A marcha não se interrompe só por que temos de dar uns beijinhos e abraços. Seguimos em frente e virámos à direita. Vamos para o areal da foz do Rio Lima. Daqui a cidade é ainda mais bonita, embora com um prédio a mais!
Há ali naquela planura de areias que beijam o rio algo que nos prende a atenção: a capela de S. Lourenço. Curiosa capela à beira-água! É como se o rio viesse ali despedir-se e pedir licença ao Mártir para entrar no oceano. Subimos para o terreiro, mas as ervas são tantas e tão altas que temos de regressar ao muro. É dali que escutámos um pequeno poema de S. Teresinha. Segue-se uma dinâmica: construir um barco de papel. Há neste gesto lúdico algo de regresso à infância: uma curta viagem para uns, um pouco maior para outros. Olha-se, vê-se e são os mais velhos que mais gozam com a situação. Há, porém, entre os novos alguns tão aselhas que em vez de um barco sai uma rã! No fim a Betinha, Almirante da marinha de Braga, recolhe a frota na mochila e é ela quem a levará no resto do carminho. Até ao fim. Até nos serem devolvidos com uma frase carinhosa, depois da Eucaristia.
Lançámos um último olhar à paisagem para beber daquele sossego que nos prende por dentro. Sim, não há ali um sequer que não tenha calado a mensagem: é preciso que sejas pescador... de homens. Mais outro olhar e... ala que se faz tarde. O Caló, qual Moisés de Mangualde, pega no cajado e enfrenta de novo as areias. Em breve, indiferentes à nortada, carminhamos pela Praia do Cabedelo. Era uma excelente nortada para uns enormes pássaros de plástico que parece que atraem o vento enquanto puxam um homem (ou mulher) para cima. Este, por sua vez, esforça-se por cavalgar a espuma e quebrar ondas. À medida que nos aproximamos do Atlântico assistimos a esse espectáculo inesperado. Olhamos e em nós cresce a coragem como crescem as ondas daquele mar frio. Só de olhar para aquele enxame de aves plásticas saímos animados: afinal há forças adversas que se podem tornar benéficas. Só de contemplar como os gladiadores enfrentam incansavelmente as ondas inesgotáveis, saímos encorajados a lançar e a lançar as redes da esperança. Uma e outra vez. Lemos então um texto sobre a amizade, que é como a areia na mão: nem se deve apertar muito, nem desprezar muito expondo-a ao vento agreste. E depois cantamos o Pai Nosso, junto ao mar e cantamos o Põe a mão na mão do meu Senhor. E há quem chore...
O Tiago, rapaz sensível e com veia de artista, desenha a Gotinha na praia. E ninguém resiste, vamos todos ver: é uma Gotinha a falar com o Oceano! Depois, seguimos. Embrenhámo-nos no Pinhal do Cabedelo e fomos retemperar forças. No post prandium, uns jogam e outros dormem a sesta. Há amigos que trocam contactos e pernas ágeis que saltam a Macaca. Ali joga-se às cartas, além as miúdas devolvem uma bola azul umas às outras. (Mas quase nunca acertam porque o vento também quer brincar e brinca desde mais alto!) O sol continua quente; e o vento suave faz bailar a copa dos pinheiros. Quase apetecia ficar ali.
A meio da tarde fazemos a travessia do rio numa velha trotinete aquática que serviu de baptismo de navegação para a maioria de nós. Seguidamente, enfrentamos os paralelos da Avenida da República, ultrapassamos a Estação dos Caminhos de Ferro e batemos às portas do Carmelo de S. Teresinha. Gentis e alegres as Irmãs Carmelitas saem a saudar-nos. Somos muitos num locutório muito pequenino. Mas deu para conversar, rezar e cantar.
Ah! Já agora, e porque as Irmãs nos estimularam, a conversa foi assim: Do que vivem as Irmãs? Como é estar sempre “presas”, sem poder ir ao shopping, ao cinema e às carminhadas? Elas, por sua vez, mais experientes que nós, perguntaram-nos se as grades existentes entre nós e elas nos fazia confusão? (As respostas coincidiram no não, mas eu gostaria de ouvir as conversas posteriores...). Também nos perguntaram se alguma rapariga queria ficar com elas. Por agora ninguém quis, mas a verdade é que têm de nos receber mais vezes e dar-nos mais pagelas para lá deixarmos uma de nós.
Eis-nos de novo a carminho: do Carmelo para o Carmo. Ali e depois dum descanso tivemos oportunidade de fazer um breve balanço do dia e das quatro carminhadas realizadas ao longo do último ano pastoral. Gera-se consenso: todos gostam, o balanço é francamente positivo. A vontade dos Jovens Carmelitas é continuar a carminhar. Diga-se de passagem, que ainda estamos a aprender e que nem sempre é fácil carminhar em conjunto. Porém, a vontade de carminhar e descobrir juntos anima-nos a seguir. Seguiremos.
Às 18h00 o Superior da Comunidade, Pe. Fernando Reis presidiu Eucaristia Vespertina. Foi um belo momento. Ao ver tanta juventude diante de si o Padre Fernando soltou o jovem carminheiro que há em si e anima-nos a carminhar sempre ao jeito de Santa Teresa de Jesus, Santa Teresinha, S. João da Cruz ou da Beata Isabel da Trindade. Gostamos, sinceramente. (Da próxima vez esperamos por si, Padre Fernando. São conhecidas as suas qualidades de trota-caminhos, por isso não nos desiluda!) Depois, e porque o vocábulo já pegou, interpretou para a assembleia habitual o verbo carminhar, que tem a ver com o sentido físico e muito mais com o espiritual.
As carminhadas páram aqui. Amanhã caminharemos num lugar perto de si. Se quiser pode vir connosco. Se não puder, reze. «Tendes medo de dizer que sois cristãos?», perguntou-nos na homilia o Padre Fernando. Não. Não temos de dizer que somos cristãos. Não temos medo de dizer que somos Carmelitas. Não temos medo de carminhar. Não temos medo da chuva, do sol ou do vento, das rectas ou das subidas. Não temos medo: seja na escola, no trabalho ou na universidade. Nós não temos medo de nos fazermos ao mar e de lançar as redes. Mas... Se me acompanhares mais forte serei, se vens a meu lado a quem temerei?
Sim. Amén. Aleluia. Vivam as carminhadas, este jeito jovem de sermos Carmelitas!














quinta-feira, 10 de maio de 2007

Testemunhos jovens - A nossa Irmã Lúcia - III

Há algum tempo atrás lemos em casal um livrinho um textinho, que passamos a transcrever:
«O coração do homem modela o seu rosto, tanto para o bem como para o mal. Um rosto alegre é o vestígio de um coração satisfeito.» (Livro do Eclesiástico)
Parece-nos bem citar esta frase ao registarmos o nosso pequeno testemunho sobre a Irmã Lúcia, pastorinha de Fátima. Quem a não conheceu? Quem não ouviu falar dela? Nós conhecêmo-la, embora de muito longe. Sabíamos que era nossa, que era carmelita. Estamos encantados por pertencer à mesma família que ela, e por saber que desde o Céu ela reza por nós junto de Nossa Senhora de Fátima. O que mais nos seduz nela? O seu rosto! Olhando o rosto sereno da nossa irmã carmelita Lúcia de Jesus, nós víamos que ele (e o seu coração!) transbordava simplicidade, humildade e alegria. Como nos atraía aquele rosto sempre alegre! Um rosto assim espelha a leveza do coração e a felicidade por ter escolhido uma vida de completa dedicação a Deus e a nós, seus irmãos! Obrigado por tudo o que ela foi para nós, Irmã Lúcia. Obrigado por ser nossa irmã!
Casal Susana Branco e Pedro Pereira Ílhavo 30 anos

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Fotos da Peregrinação a Pé - FÁTIMA - Aproximemo-nos de Maria - Parte II













Testemunhos jovens - A nossa Irmã Lúcia - II

Memória (s) Na adolescência, junto com os meus companheiros de seminário, trocava algumas opiniões acerca da opção de vida religiosa em clausura. Na época, vivia em nós um sentimento, segundo o qual nos parecia que todos eram poucos para ajudar na causa do Evangelho, “lutando” para mudar o mundo. Fazia-nos sentido que se fosse para as missões, que se ajudasse os mais necessitados nas ruas… não compreendíamos o silêncio… A irmã Lúcia é, na verdade, a prova de que o silêncio é um grande sinal de amor. Isto vai ao encontro da sua missão, como a própria refere nos seus manuscritos, Nossa Senhora disse-lhe: “Jesus quer servir-se de ti para Me fazer conhecer e amar. Ele quer estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração.” A vida da irmã Lúcia foi toda ela uma vida de serviço e de amor a Deus e a todos nós, a quem, certamente, não esquecia nas suas orações no Carmelo em Coimbra. O silêncio é, sem dúvida, um dom de Deus muito bonito e temos muito que agradecer por esta mulher que tanto nos ensinou e ensina sobre o silêncio. “A vocação dos homens silenciosos/ é, ao longe, serem aves.” [Sandra Costa, A Vocação dos Homens Silenciosos, Cosmorama] Jorge Fernando Lousada
26 Anos

Testemunhos jovens - A nossa Irmã Lúcia - I

A Irmã Lúcia...enfim! É impossível para qualquer católico não se deixar tocar pela história e pela própria Irmã Lúcia! Imaginar que aquelas três crianças tocaram com o olhar a Nossa Mãe do Céu... não existem palavras! E como pertecente da família Carmelita, a nossa Irmã Lúcia toca-me ainda mais! Para mim, esta mulher nunca pertenceu a este mundo, e viveu sempre num estado de contemplação e amor ao Pai que se sentia tão forte e tão presente! O seu olhar emanava uma tranquilidade, humildade que me faz pensar que a santidade está muito perto, é actual e é alcançável! Sim, uma santa! Uma santa dos nossos dias! Muito mais podia dizer... mas prefiro ao jeito dela: com poucas e simples palavras! Eulália Pinto Marco de Canavezes 22 anos

Notas Finais - Peregrinação a Pé - Parte II

[Terceiro dia] À hora prevista acordamos para o terceiro dia da peregrinação. Durante a noite chovera torrencialmente. Mas tal não impeceu sono algum, porque o caminho ao Senhor pertence. Nós apenas temos de percorrê-lo. Depois da oração matutina eis-nos de novo a caminho. Foi uma etapa linda. Chegam as primeiras colinas que nos animam a correr. Inesperadamente quase não temos dores. O tempo está fresco. Parece que voamos. Nas primeiras horas fazemos muitos quilómetros. A cantar… Por fim paramos num planalto para nos refrescarmos. Eis que então, só então, reparamos numa nuvem escura que cavalga feroz ao nosso encontro. Arrancamos de novo, porque Fátima é já ali. Mas ainda não percorreramos meio quilómetro e a nuvem desagua sobre nós. Não houve como fugir. Quando os carros de apoio nos recolhem estavamos como pintos. Recolhemo-nos no adro duma igreja (Marinha das Ondas), trocamos de roupa, descansamos os corpos, e ficámos à espera que a chuva passasse. Quando nos lançamos de novo ao caminho fazemo-lo com tanta gana que não paramos na meta prevista: fizemos mais dez quilómetros! Não é que não tivéssemos dores, a vontade de chegar a Fátima é que era maior. Quando chegamos ao Barracão voltamos para trás, para o Centro Paroquial da Ilha. O Rev. Pároco Pe. António Nogueira não pôde receber-nos mas delegara na Dª Adelina que o faz carinhosa e maternalmente. O Centro está impecável, lindo, perfeito. Depois da refeição da noite acompanhámo-la numa visita que nos deliciou, quer pelo cuidado quer pelo acerto de tudo. Ali nada está a mais, nada está de menos. Rezamos a oração da noite descansadamente. No fim o João Pestana reclama o que é seu, mas todos lhe resistem. Há quem queira falar, há quem queira lavar a alma. Os primeiros reclamam alguns acertos, outros desfazem-se em elogios. Os segundos falam de retorno, de regresso, de alegria e de lágrimas. Sim, houve também tempo para lágrimas e evocações. Só depois é que fomos dormir. Faltava ainda a SMS mistério, e ele veio. Dizia: «Quem anda em amor não cansa nem se cansa». Deus e nós vimos ao longo do dia que tudo fora bom. [Quarto dia] Dizem que ao quarto dia se voa. Talvez venha a ser verdade. Também é verdade que acordamos espontaneamente. Ninguém bate à porta de ninguém. Hoje a Vânia e a Orquídea, da Gafanha da Nazaré, peregrinarão connosco. Quando, por fim, pomos pés ao caminho cruzamo-nos com mais e mais peregrinos, uns daqui outros de além. Todos vamos para Fátima, para Maria, e com Ela para Jesus. Será engraçado ver que ao longo do dia nos ultrapassaremos uma e outra vez, recuando uns por causa da chuva e outros por causa das subidas. Ou das descidas, que são muito mais terríveis. Chegados a Nossa Senhora de Fátima da Caranguejeira, fizemos uma pausa para recuperar energias, curativos de última hora, deixar uma faixa assinada por todos e rezar especialmente pelos militares do Batalhão em que o Senhor Branco se integrava a data da construção da imagem e que deveria ter ido para Cahora-Bassa (Moçambique), localidade que o Senhor Branco se encontrava na altura. É bonito subir e descer. Hoje tudo é bonito e tudo é ligeiro. Há quem se lembre de voar, mas ainda não é tempo de voar. Porém, aqui a crónica dá um salto e abrevia-se na escrita. Basta dizer que a longa subida de Santa Catarina (chama-se assim, mas vem de muito mais longe) foi feita com aquela ânsia de chegar que verdadeiramente faz voar. E foi isso que sucedeu. Quando começou a chover já estavamos recolhidos na Capelinha das Aparições. FIM Finalmente depusemos as nossas rosas junto de Nossa Senhora. Uma a uma foram poisadas no parapeito que limita a Capelinha. Pude reparar: de todas as flores as nossas eram as mais feias, as mais murchas, as mais inapresentáveis. Tanto deveria ser assim, que o Servita demorou a recolhê-las. Se é que as recolheu, pois saímos dali e elas ficaram por recolher! Terá pensado que umas flores assim não se levam a Nossa Senhora. Eram feias, mas nós estávamos mais lindos. Depois do almoço tardio, o Padre Provincial, Frei Pedro Ferreira, recebeu-nos na Capela do Convento de Nossa Senhora do Carmo. Ali quase tudo parece desactivado, e a Capela já nem Santíssimo tem. Mas foi ali que com uma tarja do Carmo Jovem aos ombros ele nos falou e nos abençoou. Animou-nos a continuar a caminhar, a percorrer os caminhos da vida. Animou-nos a não pararmos em Fátima, a jamais nos determos nas bermas dos caminhos, mas a continuar caminhando fiéis e felizes pela vida fora, percorrendo os caminhos de Deus. Qualquer que seja o caminho a que Ele nos chame. E tudo poderia terminar aqui. Mas não. Falta dizer que se a Peregrinação a Pé do Carmo Jovem a Fátima correu bem, isso se deve e muito a Santa Teresinha e a Nossa Senhora do Carmo. A nossa Irmã inspirou a Susana e o Pedro, jovem casal do Paris Carmeli de Aveiro, a ajudar-nos. Delicadamente puseram os seus automóveis ao nosso serviço. E deram-nos um pouco de tudo: água, descanso, ânimo, carinho, bolos, fruta, palavras de conforto, sorrisos, curativos. A nossa Mãe inspirou a Dª Orquídea e o Sr. António Branco a acompanhar-nos e a cuidar cada um de nós com desvelos de mãe e de pai. Não lhes faltou paciência, humor, sensibilidade, disponibilidade, e mais, e muito mais, e um olho clínico que sabia ler os nossos estados d’alma, sobretudo quando era preciso empurrar-nos para a frente, para a meta. Sem eles a peregrinação teria sido ainda mais dolorosa. Muito mais dolorosa. Muito mais peregrinação. Afinal, ouçam bem, afinal os anjos existem mesmo. Alguns encontram-se no caminho para Fátima. É possível que existam outros, mas estes eu vi-os e testemunho que Deus os enviou para nos tornar o caminho mais seguro. Louvado seja, pois, o Senhor por causa dos seus anjos! A noite ia alta quando todos chegamos bem a casa. Caiu então nos nossos telemóveis o último SMS, “O peregrino não muda a sua vida só no regresso; a mudança já começou no caminho.”

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Notas Finais - Peregrinação a Pé - Parte I

INÍCIO Tudo tem um início, um meio e um fim. Comecemos pelo início. Embora ninguém saiba bem dizer qual ele seja. De há tempos a esta parte o Movimento do Carmo Jovem adoptou uma máxima: Jovens Leigos em Movimento. Deve ter sido aí o início. Ou antes, quem sabe. Preparamos a peregrinação a pé a Fátima com os cuidados devidos, conscientes das incertezas e de que nunca há nem previsão nem solução para tudo. Peregrinar tem muito de inesperado e de perigoso. Não há porém como ir. Foi assim que no dia 27 de Abril fomos acolhidos e nos acoitamos no Convento do Carmo de Aveiro. Deitamo-nos convencidos de que o bom sono seria um bem escasso nos dias seguintes. De manhãzinha levantamo-nos cedo. Uma mão foi batendo às portas e mandando erguer os corpos aninhados no chão das celas. Acordamos bem dispostos como quem se lança a um grande empreendimento. Sorvemos o pequeno almoço incertos do caminho e do tempo que haveríamos de percorrer e das dores que faltava sofrer. Depois, na Capela de São João da Cruz, celebramos a Missa do Peregrino e do envio. À saída, no Altar de Santa Teresa, recolhemos uma pequena rosa que haveríamos de entregar a Nossa Senhora de Fátima. (Como chegariam aquelas rosas a Fátima? E como chegaríamos nós? Não sabíamos. E quem poderia saber?) Faltava ainda tirar a fotografia de grupo, que tirámos junto da imagem do Santo de Aveiro. Somos treze: seis rapazes e seis raparigas, e o Frei João Costa. Há quem tenha vindo despedir-se e animar-nos a caminhar. Lamentam não peregrinar connosco, mas penhoram a sua oração por nós. [Primeiro dia] Partimos. Os primeiros metros atravessaram velozmente a cidade deserta e adormecida e o Campus Universitário. Quando paramos pela primeira vez para retemperar as forças e refrescar a cara tínhamos percorrido mais de 10km. Surpreendentemente parecia que ir a Fátima a pé não custava nada, que iríamos e voltaríamos no mesmo dia, que engoliríamos o caminho como um incansável e monstruoso papa-léguas. Ao lançarmos de novo o corpo ao caminho já nos doía tudo. O corpo arrefecido e os músculos tensos, preanunciavam as primeiras tempestades de dor que brevemente cairiam sobre nós. Seguimos. Afinal, Fátima é já ali. O sol ia quente e alto. Paramos por volta das 13h00, porque não há motor que ande sem ter que queimar. MEIO Pouco depois de nos sentarmos naquela simpática tasca pensei que alguns de nós já não nos levantaríamos. Os músculos pareciam colados, rígidos, presos. Comemos. Levantámo-nos. Quando estávamos prontos para o caminho alguém lembrou que comeramos sem abençoar nem agradecer os alimentos. E logo ali, num profundo silêncio, agradecemos ao Senhor os alimentos para o caminho. Jamais voltaremos a comer sem rezar. Seja em casa, seja na tasca ou no monte. A tarde está quente. Por sua vez, os camiões parece que querem comer-nos; vêem directos a nós e só no último minuto se arrependem e se desviam. É assim que avançamos. Sem medo. Já não caminhamos tão unidos assim. Os risos estão para trás. Caminha-se em pequeninos grupos ou isoladamente, numa fila bastante longa. Chegadas as três horas da tarde rezamos o terço. Improvisa-se uma solução: fazemos pares. Os rapazes do lado do trânsito, as raparigas do outro lado. E avançamos. E rezamos. Quando nos apercebemos tínhamos vencido uma longa recta. Alguém opina que quando se reza se caminha melhor e o caminho não custa tanto. Mas ficamo-nos por aqui. Seguiremos em silêncio até à merenda. A merenda revela humores diferentes, atrasos no grupo, bolhas em formação e aumento, suores quentes, e nuvens a anunciar chuva. (será?). Estávamos em Portomar, a uns 10 quilómetros do fim da etapa. Há quem queira fazer ali a tenda, mas o senhor Branco traz-nos uns morangos frescos e manda-nos comer «só um». Ninguém obedece: comemos dois e três, e aí vamos nós. Os morangos animaram-nos. Como de costume não sabemos o que nos espera. E espera-nos apenas o teste mais difícil do dia: uma recta enorme de largo e de comprido que custa muito a comer e que cada um faz como pode, ou de rastos ou arrastando-se. Quando nos acolhem na Casa da Sagrada Família (Praia de Mira) é como se fosse a nossa. Há, porém, umas terríveis escadas para vencer, levando malas e sacas. O banho foi tão bom, a sopa foi tão boa, a oração foi tão boa, os curativos foram tão bons que ao cairmos na cama adormeceu uma pedra em nós. Bem, não dormimos todos, porque, ao lado, um grupo de adolescentes infernizou os ouvidos que ficaram no extremo da casa. Paciência. Toca por último o telemóvel, é uma SMS que diz: «Chegaste. Procura ir de bem em melhor». Ao acordar repararei que todos receberam a mesma mensagem, mas ninguém sabe quem a enviara. Este foi o primeiro dia. A primeira etapa. Deus viu que era bom. Nós vimos que era doloroso. [Segundo dia] Às cinco em ponto uma mão invisível pelo lado de dentro percorre as portas dos nossos quartos e toc-toc, toc-toc, acorda-nos um a um. Depois, como podem, os corpos arrastam-se até à capela e da capela ao refeitório. Digo bem, arrastam-se. Alguém acha que somos a Tribo dos Pés Arrastados. Acha e bem: não há um de nós que caminhe direito. Quando reiniciamos o caminho já há luz e muitos passarinhos a cantar. E frio. Avistamos também os primeiros peregrinos. Avistamo-los. Aproximamo-nos. Saudámo-los. Ultrapassamo-los. E seguimos. Pela frente estão as rectas da Tocha. Diz a tradição que o segundo dia é o pior. Talvez seja por o corpo acusar o embate com o sacrifício, talvez seja por causa daquelas duas intermináveis rectas. Oh! Aí vamos, pela frescura da manhã, procurando convencer o corpo a andar. O dia não aquecerá nunca demasiado, nem cederemos demasiado aos resmungos das dores. Mas quando, pelas 9h00 chegamos à Tocha, paramos para tomar um cafezito. Um cafezito ou um cafezão, pois ninguém parece querer fazer-se ao caminho. Tomamos então uma decisão acertada: vamos cantar, caminhar a cantar. E lá fomos. Passamos a feira semanal da Tocha e agora uns e depois outros batem-nos palmas. «Assim sim. Assim é que deve ser. Sacrifício, mas a cantar!» As palmas e os incentivos animaram-nos até meio da longuísssssima recta da Tocha. Quando nos trazem um bolo de iogurte preferimos antes olhar para as bolhas. Depois, cada um queixa-se como pode. Por fim, repomos os pés ao caminho porque sentados não vamos longe. A freguesia de Alhadas, Figueira da Foz, aproxima-se e isso anima-nos. Um carro passa por nós e pergunta se somos «Os jovens Carmelitas». Somos, claro. E claro, que está tudo bem. E estava tudo bem, menos as naturalíssimas queixas. Depois do almoço conhecemos a nossa anfitriã de Alhadas, a Carmelita Secular Alice Montargil, da fraternidade da Figueira da Foz. Vem ao nosso encontro com um enorme sorriso e muita disponibilidade, traz também um bordão de peregrino e nós oferecemos-lhe uma faixa do Movimento. Afinal, vai caminhar os últimos oito quilómetros connosco. Aos primeiros metros do caminho formamos para o Terço. E será assim que cruzaremos pinhais, linha do comboio, montes e ribeiras sem darmos conta. É a cantar que entraremos na Capela de Santo Amaro da Amoreira (Aquela comunidade sabedora da passagem dos peregrinos requerera a nossa presença. Querem que ali rezemos. Querem que comamos a sua merenda). Ali entramos, ali rezamos, ali cantamos. E rezamos novamente. Entretanto, o sino toca insistentemente. Indistintamente, ora toca um ora toca outro. É tanto assim que quando saímos da Capela a comida é mais que suficiente para treze batalhões de peregrinos. Com a melhor das boas vontades honramos a benfeitoria que nos fazem. Fomos tão delicados quanto o possível, mas, é claro, quem poderia comer tanto! Cantaram-nos o cântico da Senhora do Carmo e abalamos. Abalamos dali, cansados e reconfortados, ansiando um banho, uma massagem e uma cama. Era Domingo do Bom Pastor e ainda haveríamos de preparar a Eucaristia na Paróquia de S. Pedro de Alhadas. Partimos tão lenta e desajeitadamente que uma encurvada anciã de 92 anos, que vem ao nosso encontro se desmancha a rir do nosso mau andar. «Vão com Deus», diz ela. E nós lá vamos sem chegar a ver a pancarta que a comunidade de Santo Amaro da Amoreira mandara fazer, mas não chegara a erguer pelo muito que nos antecipáramos na passagem. Ao que sei, a tarja dizia: «Benvindos, jovens peregrinos carmelitas. A comunidade de S. Amaro da Amoreira saúda-vos!». E lá fomos agradecendo aquela benfeitoria, aquela carinhosa atenção ao peregrino, aquele mimo que o bom Deus nos enviava a nós, ruins peregrinos. Ao chegarmos ao Centro Paroquial de S. Pedro de Alhadas estava a receber-nos o Rev. Pároco Pe. Pedro Hoka. Com a sua amabilidade abriu-nos as portas do Centro e da sua Igreja, para aconchegarmos o corpo e a alma. Esperavam-nos algumas famílias que nos levaram a suas casas para tomarmos banho. Mais simpatias e delicadezas do nosso Deus não poderia haver! Ó que bom Deus temos nós, e quão bem paga Nossa Senhora os nossos sacrifícios. Às sete da tarde o Frei João celebrou a eucaristia numa capela muito inacabada, mas suficientemente protegida para a assembleia se congregar e rezar. A Igreja nunca está acabada, dizem-nos. E é verdade. Era domingo do Bom Pastor e o Bom Pastor curou as nossas feridas, chamou-nos pelo nome, falou-nos, alimentou-nos e confirmou o nosso envio. À Eucaristia seguiu-se um digníssimo jantar que não merecemos, mas que agradecemos pedindo ao Senhor que cumule de dons e graças a comunidade de S. Pedro de Alhadas. Depois do jantar a Dª Alice Montargil leva para sua casa as raparigas e metade dos rapazes. Acolhe-os como sobrinhos. Acarinha-os. Reconforta-os. Aquece-os. Protege-os. Amanhã, quando acordarmos vem ao nosso encontro, reza connosco e traz-nos vinte saquinhos com o almoço. Olhamos incrédulos uns para os outros. Como se pagará tudo isto? Não sabemos. Deus saberá. Foi o segundo dia. Deus viu que era bom e nós também. Estava quase a adormecer quando soa nova SMS, que diz: «É mais importante (começar a) ir que ter chegado». Sim, talvez seja. Ainda não sabemos quem manda as mensagens. Boa noite, vamos dormir.

Fotos da Peregrinação a Pé - FÁTIMA - Aproximemo-nos de Maria