sábado, 25 de agosto de 2012

450 anos são muitos anos, 18 são as páginas da introdução!

Os inícios da nova família do Carmo foram difíceis. E o restante também. Aquando da primeira fundação o P. Julián de Ávila testemunhou que existiram «imensas diligências para apagar o fogo que estava abrasando a cidade»:
As monjas do carmelo da Encarnação sentiram a nova fundação como uma afronta e acrescentam que se a Irmã Teresa quer ser santa pode sê-lo ali. E obrigam-na a regressar;
A sociedade civil rejeitava a fundação de mais um convento, porque o teria de manter com as suas ajudas e esmolas;
A Câmara Municipal combateu a fundação declarando que os muros do convento projectavam sombra sobre as fontes públicas;
Por fim, as autoridades religiosas temem que o novo convento seja um refúgio de mulheres heréticas – as iluminadas.
Avisadamente, alguns amigos da Irmã Teresa de Jesus avisam-na da existência de um complot para acabar com o seu projecto: «Vieram-me dizer, muito assustados, que, por aqueles dias tão difíceis, se poderia levantar algum falso testemunho e se me acusasse à Inquisição. Eu não pude senão soltar uma gargalhada, pois jamais tive medo da Inquisição. Eu sabia muito bem que em coisas de fé, de sacramentos da Igreja ou por qualquer verdade da Sagrada Escritura eu me dispunha a morrer mil mortes. Por isso lhes respondi que por aí nada temessem» (Livro da Vida 33,5).
Os poucos amigos que ficaram do seu lado permaneceram fiéis durante aqueles dias tão terríveis:
Francisco de Salcedo aguentou pacientemente todas perseguições e escárnios, pois continuava a ajudar e a visitar as Carmelitas.
O P. Domingo Báñez foi o único que defendeu Santa Teresa quando o conselho da cidade de Ávila se reuniu para tratar do caso. Ao gerar-se consenso para queimar e derrubar o convento, foi ele que advertiu para tal impossibilidade, sob pena de excomunhão, pois o convento fora fundado com as licenças do Bispo e do Papa!
O P. Gaspar Daza celebrou ali a primeira missa e deu o hábito às primeiras quatro noviças. Quando houve de se deslocar a Madrid ali se deslocou, pagando a viagem e estadia do seu bolso durante todo o tempo necessário para defender as Carmelitas perante do Conselho Real, para onde a cidade de Ávila havia recorrido.
Meio ano depois, o P. Pedro Ibáñez deslocou-se de Ávila ao encontro do Provincial dos Carmelitas para alcançar dele as licenças necessárias para que a Irmã Teresa de Jesus e um punhado de monjas saíssem do convento da Encarnação e entrassem no de São José.
Quando teve de falar dos seus trabalhos, Teresa confirma que o primeiro que fez foi ensinar as noviças a rezar a Liturgia das Horas. E diz que elas eram «quatro pobres órfãs», o que leva a supor que antes teve de as ensinar a ler, coisa que, aliás, posteriormente aconteceu mais que uma vez.
Por fim pôde iniciar o seu tão desejado estilo de vida. Nessas alturas tão difíceis o Senhor consolou-a, fazendo-a ouvir na oração que «esta casa é um cantinho de Deus, o paraíso do seu deleite» (Livro da Vida 35,12).
Quando as pessoas foram conhecendo a maneira de viver de Teresa e das suas freiras, venceram-se todos os preconceitos e muitos se afeiçoaram a elas a ponto de se tornarem seus benfeitores; «Muita era a devoção que as pessoas começaram a ter a esta casa» (Livro da Vida 36:32).
Entretanto, no conventico de São José florescem os princípios fundamentais da tradição carmelitana e fundem-se a ela novas intuições que iluminarão o futuro com uma das mais fecundas correntes de espiritualidade que alimentam a Igreja.
As freiras do carmelo de São José serão um pequeno «colégio de Cristo» que agrupa no máximo 13 mulheres (12 como os apóstolos à volta do Senhor; mais tarde o número subirá para 21!). Era uma comunidade pequena, mas empenhada e vocacionada. Eram mulheres que encontraram em Cristo o seu amigo, companheiro e esposo. Com Ele se querem alegrar, a Ele estão dispostas a consolar e por Ele não lhes preocupa morrer. A sua austeridade de vida tinha um objectivo: centrar-se no essencial; a sua alegria contagiante e a sua constante oração pelos defensores da Igreja convertê-las-ão em sal, luz e levedura de que o mundo tanto precisa. O de ontem e o de hoje.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A fundação do Carmelo de São José de Ávila (Dedicado a todos os jovens Carmelitas)

Cumprem-se hoje, dia 24 de Agosto, os 450 anos da fundação do convento de São José de Ávila pela mão de Santa Teresa de Jesus. Assim se passaram as coisas:
Numa tarde de Setembro de 1560, encontravam-se reunidas na cela de Dª Teresa de Cepeda y Ahumada, no convento da Encarnação, duas suas sobrinhas que ali se criavam com ela e dez outras religiosas amigas. Comentavam naquele momento uma carta circular que o Rei Filipe II fizera chegar a todos os conventos do reino e na qual expunha os prejuízos provocados pelos protestantes em França, e pedia orações pela unidade da Igreja. A conversa das intervenientes logo derivou para o bem que faz a oração dos bons religiosos, dos antigos eremitas do Monte Carmelo, de Frei Pedro de Alcântara e das Irmãs Descalças Reais que ele havia reformado, e da beleza que seria viver numa comunidade assim. Logo de seguida a sobrinha Maria de Ocampo assegurou que, caso se evoluísse para uma comunidade assim, ela ofereceria mil ducados do seu dote; e Dª Guiomar de Ulloa, senhora nobre que se havia ajuntado ao grupo, prometeu a sua ajuda. Teresa não estava muito convencida, mas poucos dias depois, ao comungar, sentiu que Cristo «me mandou muito que fundasse, fazendo-me grandes promessas de que não se deixaria de fazer o convento» (Livro da Vida 32,11).
Começaram aqui dois anos de lutas permanentes. Os seus conhecidos dizem que é uma autêntica loucura. Por sua vez, ela requer pareceres autorizados, pelo que escreve aos padres Pedro de Alcântara, Francisco de Borgia e Luis Bertrán – cada um a seu tempo será canonizado! –, que lhe responderão apoiando-a incondicionalmente. O provincial dos Carmelitas, P. Ángel Salazar, também aprova a fundação, e em virtude disso decide-se pedir um Breve Papal para a concretizar. Quando a notícia se conheceu no convento da Encarnação e na cidade de Ávila, a maioria pôs-se contra, pelo que o provincial retirou o seu apoio (Livro da Vida 32,15).
Acusaram-na de iluminada e de endemoninhada, em virtude do qual se decidiu pedir parecer ao teólogo de maior nomeada residente em Ávila – o dominicano P. Pedro Ibáñez. Teresa escreveu uma longa declaração de 40 parágrafos declarando-lhe a situação do seu espírito: esta é a primeira Conta de Consciência que conservamos. Apesar da oposição da cidade e das pressões que recebe, o parecer do padre dominicano foi positivo a que ajuntou uma declaração laudatória escrita em 33 pontos. Reconfortada Teresa decide pedir novo Breve Papal, com o pormenor de colocar o mosteiro sob a obediência do bispo, visto que o anterior permitia a fundação sob a obediência do provincial dos Carmelitas, que agora, como vimos, não está de acordo.
Apesar de crescerem as oposições externas, Teresa chamou de Alba de Tormes a sua irmã Joana e o seu cunhado, a fim de se encarregarem das obras de adaptação de uma casinha situada fora das muralhas de Ávila (Livro da Vida 33,4ss). Entretanto, as obras atrasaram-se porque, inesperadamente, caíram umas paredes, uma das quais sobre um dos sobrinhos de Teresa, que foi dado como morto. Quando a Santa se apercebeu logo correu para a obra e recolheu o corpinho do menino, acariciando-o e abraçando-se a ele. Entretanto, o menino despertou e Teresa entregou-o à mãe: não houve operário que não cantasse o milagre! A resposta de Teresa foi das boas: milagre, disse ela, era como se mantinha de pé um muro tão mal construído que obrigava agora a ser levantado de novo. A obra andou e logo faltou o dinheiro, mas inesperadamente o seu irmão Lourenzo mandou da América um punhado de moedas de ouro que ajudaram a prosseguir os trabalhos (Carta 2,1-2).
Quando tudo ficou em maiores apertos e complicações, Teresa recebeu ordem do provincial para se deslocar a Toledo, ao palácio de Dª Luisa de la Cerda: «esta senhora estava muito aflita e em grave risco de perder o juízo por causa da perda do seu marido (…) muito boa gente a tentara consolar chegando mesmo a trazer-lhe pessoas santas, mas ninguém conseguira nada» (Livro da Vida 34). Teresa permaneceu em Toledo os seis primeiros meses de 1562, o tempo suficiente para ganhar a amizade de Dª Luisa e das gentes da sua casa. Ao mesmo tempo teve a sorte de entrar em contacto com as mais altas individualidades da sociedade civil e eclesiástica de Espanha.
Foi também nesta altura que se encontrou com a Irmã Maria de Yepes, carmelita de Granada e futura Irmã Maria de Jesus na fundação de Alcalá de Henares. Esta religiosa caminhara a pé desde Roma trazendo consigo o Breve que autorizava a fundação de um convento reformado do Carmo onde se vivesse em absoluta pobreza, segundo a Regra primitiva. Teresa desconhecia este ponto da Regra. Decide então, sob conselho de São Pedro de Alcántara e a oposição dos letrados do momento, que as Irmãs que queiram entrar com ela no conventinho vivam do trabalho das suas mãos e de esmolas, sem rendas nem outras seguranças. E foi assim que Teresa decidiu pedir um terceiro Breve Pontifício, que a autorize a fundar nessas condições. O Breve chegará, porém, quando a fundação de São José já se encontrar realizada (Livro da Vida 39,14)
Isto foi uma das coisas que mais a fez sofrer no seu regresso a Ávila. De facto, nos finais de Junho, Teresa regressou a Ávila. Entretanto, frei Pedro de Alcântara, consegue que o bispo D. Álvaro Mendoza, assuma o projecto da fundação sob a sua obediência. Ultrapassam-se assim as últimas dificuldades e no dia 24 de Agosto de 1562 inaugura-se o conventinho de São José (Livro da Vida 36,5). Teresa tinha 47 anos. Começam agora para ela «os cinco anos mais descansados de toda a minha vida (Livro das Fundações 1,1).

terça-feira, 21 de agosto de 2012

II Jornada Mundial da Juventude OCD




O Rio de Janeiro acolherá a 22 de Julho de 2013, a II Jornada Mundial da Juventude Carmelita, com o tema "Quero percorrer a Terra e anunciar Teu nome" de Santa Teresinha do Menino Jesus, organizado pelos Carmelitas Descalços das províncias do sul e sudeste do Brasil, por ocasião da JMJ Rio 2013.

Para promover este grande evento internacional, quando falta menos de um ano para a sua realização, a comissão organizadora lançou o site www.carmelo.com.br/jmj2013 onde se pode obter notícias, informações e inscrições.

sábado, 18 de agosto de 2012

João Sequeira, um novo acampaKi, muito entusiasmado!


Este é o meu primeiro testemunho dum Acampaki, o relato do meu primeiro Acampaki, e minha primeira atividade do Carmo Jovem. Ainda há muito que não sei sobre o Carmo Jovem e que gostaria de descobrir, mas para isso há tempo. Agora é tempo de falar do VI Acampaki visto dos olhos de um novato.
Quando a Maria me convidou para isto, aceitei imediatamente, primeiro porque sempre quis acampar, e nunca tivera oportunidade de o fazer, em segundo porque estaria lá a minha namorada, com quem nunca tive oportunidade de estar tanto tempo, e em terceiro porque era uma atividade religiosa, que me permitiria ter um contacto mais próximo de Deus como nunca tive oportunidade de experimentar. Assim, sendo algo tão oportuno, não tinha grande alternativa senão aceitar. E lá fui.
O Acampaki não esteve abaixo das espectativas. Ainda que eu não soubesse com que contar, esperava no mínimo estar bons tempos com boa gente e divertir-me com o que o Carmo tivesse ali para oferecer. Foi muito mais que isso. Logo do início percebi que ali era diferente. Se não fosse pelo facto de ter uma piscina a céu aberto com uma vista magnífica, ou haver um guião que anunciava uma vida de oração mais intensiva do que esperava, a hospitalidade instantânea com que me receberam todos os meus colegas acampakianos e a naturalidade com que se faziam certas coisas que no mundo exterior seriam vistas como absurdas provava que a vivência naquele acampamento ia mudar-me. E assim foi.
Desde o “Amigo secreto” até aos saraus, o acampaki tinha tudo para fornecer um ambiente de forte e agradável convivência entre os participantes. Atividades que exigiam poucos meios, mas grande imaginação e esforço, os quais creio terem vindo principalmente das magníficas coordenadoras, a Ana e a João, e do singular Frei João.
Mas a parte religiosa também não podia ser descorada, e não foi. Desde as orações até à hora do silêncio, com uma importante escala pelas confissões, nunca me senti chamado à missão cristã como na Quinta do Menino Jesus de Praga. Uma vez mais, calorosos parabéns a quem tenha tido a energia de organizar tais eventos.
Assim, não hesito em dizer, o Acampaki foi uma experiência que mudou a minha vida como nenhuma outra, e se hoje uso o meu escapulário carmelita enquanto escrevo isto, é porque fiquei verdadeiramente tocado por uma experiência à qual poucos se atrevem a ir, mas onde não falta boa disposição, trabalho e religião. Parabéns a todos os meus colegas acampakianos, às coordenadoras, ao Frei João e à Maria, sem a qual não teria usufruído de tal experiência.

Dum entusiasmado acampakiano
João Sequeira


quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Maria Babo, a AcampaKi monitora


Olá a todos!
Mais um acampáki passou, o meu terceiro acampáki passou.
Os sentimentos e emoções que me ocupam antes e depois de cada acampáki são, ao mesmo tempo, iguais e diferentes todos os anos. Antes do acampaki começar, o sentimento de dúvida pois não sei como será, se vou gostar, se vou sentir a necessidade de mudança dentro de mim como sentia nos anos anteriores. Depois do acampaki terminar chega o período de verdadeira reflexão, em que voltamos a tomar contacto com a sociedade e a perceber o que mudou em nós durante aquela semana que passamos algures no meio da natureza.
No meu caso, ao voltar a casa, volto à minha rotina normal onde tenho acesso aos bens que não estavam comigo em Deão e, estranhamente, estando tudo tão organizado, sinto algo diferente dentro de mim; uma vontade de mudar, de fazer, de ser, de pensar de forma diferente. Para mim isto é viver em acampaki, é parar a minha vida durante uma semana, ir para a Quinta do menino Jesus de Praga com jovens carmelitas como eu e olhar como um estranho a minha vida. Tudo o que fiz, o que não fiz, o que fiz bem e o que fiz mal, e tomar decisões sobre o que tenho de mudar em mim para que possa ser melhor não só para mim mas também para os outros.
Este ano conheci gente nova: o Zé, o Carlos, a Paula e a Jéssica, e com eles cresci mais um bocado. É disto que se trata o Acampaki e o Carmo jovem, é estarmos juntos, rezarmos juntos, divertimo-nos juntos e no fim de cada atividade estarmos mais próximos uns dos outros e do nosso grande Amigo, sempre com Santa Teresa de Jesus (a quem temos dado especial atenção) e São João da Cruz a encaminhar-nos até ele.
Toda a gente faz um caminho durante a sua vida e eu escolhi orgulhosamente fazer um carminho. Porquê? Perguntam vocês. Isso nem eu sei responder, digo-vos apenas que levo o Carmo bem pertinho do meu coração e por isso mesmo continuo com esta cruz ao pescoço que não tenho a mínima vontade de tirar.
Não sei como o meu carminho será no próximo ano, só sei que será muito diferente daquele que fiz ate agora, também não sei se conseguirei participar em tantas atividades do Carmo jovem como participava até agora, mas sei que o Acampaki estará sempre na minha agenda e o Carmo jovem no meu coração.
Assim me despeço, com saudações de quem leva o Carmo no coração para quem, certamente, também o leva no seu,
                                                                              Maria Babo 



domingo, 12 de agosto de 2012

Jornal de Parede On Line

12 de Agosto de 2012, o AcamapKi terminou à sete dias. Melhor dizendo, o cardume afastou-se no Domingo mas o AcampaKi renova-se em cada dia que nasce. À minha frente, no jardim da minha casa, duas tendas devidamente equipadas com duas pequenas acampaKis são a prova viva da forma como esta atividade marca o meu cardume familiar. Também nós mudamos nestes dias. Renovaram-se os laços de amizade, crescemos como pessoas, abrimos o coração a novos Amigos. É assim o meu cardume familiar. Aprendemos no Carmo Jovem, aprendemos no Carmo que é pequeno oásis de Amor onde a partilha é a palavra mãe. Lá no alto, entre o amarelo do sol e o azul do céu, sinto o sorriso rasgado da Santa, igual ao que nos acompanhou, tanto no Júnior como no VI AcampaKi, liderando a mesa das refeições. Agora, é tempo de dividir com todos os outros as nossas experiências por isso aguardamos os vossos testemunhos!
Com determinada determinação iniciamos hoje o ciberAcampaKi.