domingo, 30 de novembro de 2008

A oferenda

Visto que, uma vez mais, Senhor, já não nas florestas do Aisne, mas nas estepes da Ásia, não tenho nem pão, nem vinho, nem altar, elevar-me-ei acima dos símbolos até à pura majestade do real, e oferer-Vos-ei, eu, vosso sacerdote, no altar da terra inteira, o trabalho e a dor do mundo. O sol acaba de iluminar, ao longe, a franja extrema do primeiro Oriente. Uma vez mais, sob o pano movente dos seus lumes, a superfície viva da terra desperta, estremece, e recomeça o seu labor tremendo. Colocarei na minha patena, ó meu Deus, a colheita esperada deste novo esforço. Derramarei no meu cálice e seiva de todos os frutos que serão hoje esmagados. O meu cálice e a minha patena são as funduras de uma alma largamente aberta a todas as forças que, dentro de um instante, se elevarão de todos os pontos do Globo e convergirão a caminho do Espírito. – Venham, pois, a mim a recordação e a presença mística daqueles que a luz desperta para uma nova jornada! Um a um, Senhor, que eu os veja e os ame, aqueles que me destes como arrimo e encanto naturais da minha existência. Um a um, também, quero contá-lo, aos membros dessa outra e tão querida família que, pouco a pouco, à minha volta, foram reunidos a partir dos elementos mais díspares pelas afinidades do coração, da investigação científica e do pensamento. Mais confusamente, mas todos sem excepção, evoco ainda aqueles cuja concentração anónima forma a massa inumerável dos seres vivos: os que me rodeiam e me apoiam sem que eu na verdade ou através doo erro, à sua mesa de trabalho, no seu laboratório ou na fábrica, acreditam no progressos das coisas, e hoje apaixonadamente correrão atrás da luz. Esta multiplicidade agitada, toldada ou distinta, cuja imensidão nos assombra, este Oceano Humano cujas oscilações lentas e monótonas lançam a perturbação nos corações mais crentes - quero que neste momento o meu ser ressoe do seu murmúrio profundo. Tudo o que aumentará no Mundo, ao longo deste dia, tudo o que diminuirá – tudo o que morrerá, igualmente -, eis, Senhor, o que me esforço para acolher em mim para Vo-lo estender; eis a matéria do meu sacrifício, o único de que tenhais vontade. Outrora, eram traduzidas ao vosso templo as premissas das colheitas e a flor dos rebanhos. A oferenda que verdadeiramente esperais, aquela de que misteriosamente necessitais a cada dia para apaziguar a vossa fome, para estancar a vossa sede, é nada menos do que o crescimento do Mundo arrebatado pelo devir universal. Recebei, Senhor, esta Hóstia total que a Criação, movida pelo vosso apelo, Vos apresenta na nova aurora. Este pão do nosso esforço não é, por si próprio, bem o sei, mais do que uma imensa desagregação. Este vinho da nossa dor não é ainda por desgraça, mais do que uma bebida dissolvente. Mas, no fundo desta massa informe, Vós pusestes – tenho a certeza, porque o sinto – um desejo irresistível e santificador que nos faz gritar a todos, do ímpio ao fiel: “ Senhor, fazei-nos um!” Porque, à falta do zelo espiritual e da sublime pureza dos vossos santos, Vós me destes, ó meu Deus, uma simpatia irresistível por tudo o que se move na matéria obscura – porque, irremediavelmente reconheço em mim, bem mais do que um filho do Céu, um filho da terra -, subirei, hoje, em pensamento, aos altos lugares, carregado com as esperanças e as misérias da minha mãe; e daí – com a força de um sacerdócio que só Vós, como creio, me destes - , sobre tudo o que, na Carne Humana, se prepara para nascer ou perecer sob o Sol que se ergue, invocarei o Fogo. [Teilhard de Chardin]

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Retiro de silêncio - Indo contigo!

Retiro de silêncio - Estaremos unidos!

«Unamo-nos para fazer dos nossos dias uma comunhão contínua: pela manhã, acordamos no Amor e, durante todo o dia, entreguemo-nos ao Amor, isto é, fazendo a vontade de Deus, sob o seu olhar, com Ele, n’Ele e só por Ele. Entreguemo-nos o tempo todo da maneira que Ele quiser. E depois, ao chegar a noite, depois de um diálogo de amor que nunca termina no nosso coração, adormeçamos ainda no Amor» [Isabel da Trindade].

AMIGOS, como sabeis estaremos em retiro de silêncio junto do Menino Jesus em Avessadas Marco de Canaveses nos próximos dias 29 e 30 de Novembro. O retiro de silêncio é um momento privilegiado de oração, de encontro com Deus, nosso Pai, connosco mesmos e com os outros. Pedimos-vos a vossa oração para que seja um tempo de graça, de glória para todos nós. Porque nos encontraremos no silêncio, estaremos em comunhão. Lembrar-nos-emos de todos vós nas nossas orações, nos momentos de silêncio, de acção de graças e louvor. Estaremos unidos: vós na luta, nós no silêncio e na oração.

Dia da Fundação da Ordem do Carmo Descalço

«Nas coisas que faço por DEUS, não quero recompensa de ninguém. Só d´Ele!» [São João da Cruz]
Decorria o ano de 1568, quando nascia o primeiro convento do Carmo Descalço, a primeira comunidade da família carmelita.
Leitura do Livro das fundações escrito por Santa Teresa de Jesus «Saímos de manhã para Duruelo, mas como não sabíamos o caminho perdemo-nos. E, sendo o lugar pouco conhecido, ninguém sabia dar indicações precisas. Quando entrámos na casa, estava de tal maneira que não nos atrevemos a ficar ali naquela noite. Tinha um portal razoável, uma sala, um sótão e uma pequena cozinha. Pensei que do portal se podia fazer uma igreja, o sótão servir bem para o coro e a sala para dormir. As minhas companheiras diziam-me: «Madre, não há com certeza, homem, por santo que seja, que resista a viver nesta casa». Mas Frei João da Cruz concordava com a pobreza da casa para convento. Combinámos, pois, que o padre Frei João da Cruz fosse acomodar a casa para poderem entrar. Tardou pouco o arranjo da casa, porque ainda que se quisesse fazer muito, não havia dinheiro. No primeiro Domingo do Advento deste ano de 1568 celebrou-se a primeira Missa naquele pequeno portal de Belém. Chamo-lhe assim, porque não creio que fosse melhor do que o presépio. Os quartos tinham feno por cama, porque o lugar era muito frio, e, pedras por cabeceira. Muitas vezes depois de rezarem levavam muita neve nos hábitos que neles caíam pelos buracos do telhado. Iam pregar a muitos lugares próximos dali, o que me deixou muito contente. Iam descalços e com muita neve e frio; porque no princípio, não usavam calçado, como mais tarde lhes mandaram. Em tão pouco tempo, alcançaram tanta estima das pessoas, nunca lhes faltava alimentos, pois traziam-lhes mais do que o necessário. Isto foi para mim grande consolo, quando o soube. Praza ao Senhor fazê-los perseverar no caminho que agora começaram».
Oração
Senhor, nosso Deus,
que chamastes S. João da Cruz ao Carmo
para o fazerdes experimentar a doçura do vosso amor
e o constituístes pai espiritual duma multidão de filhos e filhas,
fazei que, seguindo o seu exemplo e doutrina na Subida do Monte Carmelo,
pela senda da fé, da esperança e do amor,
iluminados na Noite Escura pela Chama Viva do vosso amor,
alcancemos a perfeita liberdade dos vossos filhos,
para entoarmos um dia o Cântico Espiritual
que para sempre ressoa nas moradas eternas.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A Ajuda do silêncio

«Optaram radicalmente pelo silêncio e vivem plenamente felizes. Abandonaram tudo por uma coisa maior e mais atractiva do que aquilo que já tinham. O dia de hoje é dedicado pela Igreja aos mosteiros de clausura. No frenesim em que andamos, a vida contemplativa é uma espécie de oxigénio: centra-nos no essencial. A este propósito posso contar a história verdadeira de duas amigas minhas, ambas com carreiras profissionais brilhantes, que deixaram tudo, abandonaram o mundo em que viviam e foram para freiras de clausura rigorosa. Uma delas é francesa e a outra é portuguesa. A francesa era jornalista de sucesso numa rádio de Paris e, habituada a viajar pelo mundo. Apesar de uma vida preenchida, deixou tudo e vive hoje no meio dos Alpes, como eremita num mosteiro de rigoroso silêncio, inspirado na experiência da Cartuxa. A outra amiga portuguesa, com uma vida social intensa e uma carreira promissora no campo das relações internacionais, foi para carmelita há mais de dez anos e vive para sempre atrás das grades da clausura. Ambas optaram radicalmente pelo silêncio e vivem plenamente felizes. Abandonaram tudo por uma coisa maior e mais atractiva do que aquilo que já tinham. Algo — garantem elas e muitos outros contemplativos espalhados pelo mundo — que só é possível alcançar no meio do silêncio. Que bom que é para todos nós a vida dos contemplativos!» [Aura Miguel]

domingo, 23 de novembro de 2008

Retiro de silêncio - Laurinda Alves

«Preciso de um silêncio diário, para juntar o que em mim anda disperso; por isso vou à missa todos os dias, desde há três anos. Preciso daquelas frases que dão sentido ao dia. Sou eu que quero. Ninguém me impôs. É um compromisso comigo própria, que abre outras portas de fidelidade: ao que amamos, àqueles com quem trabalhamos. Estas fidelidades contagiam-se. O silêncio é regenerador, provocador. Quanto mais a vida profissional é agitada, mais necessidade há de silêncio, para poder responder a todas as solicitações. O silêncio é vital. Daí que eu sinta a necessidade, por exemplo, de fazer retiros de silêncio. Ajuda-me a viver, a recuperar, a enfrentar dificuldades familiares, a fazer caminho. O silêncio é de introspecção, mas é muito mais de relação. Se há quinze anos me dissessem que eu precisava de silêncio, eu pensava que estavam doidos. A vida vai-se desenhando e leva-nos por caminhos que não sonhámos. (…)» [Laurinda Alves]

JESUS CRISTO, Rei e Senhor do Universo!

Neste Domingo, celebramos a Solenidade de JESUS CRISTO, Rei e Senhor do Universo. Neste Domingo tudo e todos, leituras e pessoas nos falam do amor, do cuidado, do carinho d´Ele por cada um de nós num hoje e num amanhã… Jovem carmelita, sabias que fomos e somos em cada novo dia chamados ao Amor? Chamados tal como foram os discípulos de Jesus. Chamados a edificar, a semear na história das nossas vidas a semente do amor! Admirável. Deixemos que esta semente enraíze em terra fértil, cresça forte no mundo que há-de vir… Num agora em que a noite cai, o dia declina e a luz da ponte que vejo da minha janela transforma o meu olhar, tudo muda neste entardecer. Tudo muda e parece ficar refulgente. Vivamos toda a nossa vida pautados pela máxima legada por São João da Cruz e que de uma forma peculiar a ouvi neste fim-de-semana: «No entardecer da vida seremos examinados pelo amor!» É no silêncio que encontramos as palavras que irrompem d´Ele. Palavras que são sementes! Que as possamos colher no entardecer da nossa vida, onde o encontro, o tempo breve em que todas as coisas simples em que meditamos nos falam d´Ele. Neste olhar o silêncio das palavras germina num já… E é no silêncio que as encontraremos. OBRIGADA!

sábado, 22 de novembro de 2008

Etty Hillesum - importância do silêncio

Agora, preciso de me ajoelhar, às vezes de repente, até mesmo numa noite fria de inverno, em frente à minha cama. E o «escutar-se». O deixar-me guiar, não mais por aquilo que me atinge exteriormente, mas por aquilo que emana de dentro de mim. Ainda é só um começo. Eu sei. Mas não um começo desequilibrado, já tem alicerces.
Etty Hillesum, Diário, Assírio & Alvim.

Já não ia tão só.

Um jovem pôs-se a caminho. Como não é fácil o caminho cansou-se. Cansado de tanto caminhar, encontra um espaço para tranquilizar. Encontra um banco do jardim a seu lado uma árvore. A frescura e o lugar ameno convidam ao descanso. Senta-se na ânsia de retemperar forças. A natureza chilreava ao seu redor… O caminho fora longo, nem sempre recto e por vezes muito estreito. Sentia-se desprotegido na aventura começada. Pensava em desistir quando um Amigo de nome Jesus se faz encontrado.
Jesus: Olha para mim e tudo te parecerá mais fácil. Diz-me quem és!… Porque estás cansado? Será que sentes que caminhas só?
Rapaz: Ando preocupado, Jesus. Pergunto-me: devo abandonar todas as coisas para Te seguir?
Jesus: Sabes, o caminho é o abandono e a confiança. Abandona-te nas mãos do Pai. Nesse abandono não te enchas de muitas coisas. O que levas nessa mochila?
Rapaz: Tudo o que preciso para ser feliz, tudo o que faz de mim aquilo que sou, toda a minha história, toda a minha vida, família, amigos, trabalho... tudo!
Jesus: Eh!!!!! Não caminhes com muita coisa. O melhor de tudo é nada possuir. Carregas menos e caminhas melhor. No nada encontrarás o Tudo. No caminho encontrarás a paz e o conforto… Não te percas em recordações. Silencia diante do Pai.
Rapaz: Mas, como é possível. Neste caminho estou tão solitário! O silêncio perturba-me, inquieta-me, desassossega! Obriga-me a desinstalar-me!
Jesus: Sê forte. Já te disse que tens de confiar, e que chegarás mais longe quanto menos carregares. Deves agir por amor a Deus. Elimina os desejos da tua própria vontade. «Que não se faça a tua vontade mas a vontade do Pai». Aí te encontrarás e serás ditoso!
Rapaz: Mas isso supõe muito desconforto e até sofrimento. Queres que sofra. Que me aconselhas? Como devo continuar o caminho?
Jesus: Crê em mim. Quando sentes que a tua alma sofre crê que estou mais junto de ti. Quando estás mais fraco, a minha presença torna-se mais forte. O Amor está mais contigo. Em segredo Ele te ensinará a amar. A Sua missão é fazer-te forte na debilidade. Entrega-te totalmente nas asas do espírito e a mansidão regressará ao teu coração!
Rapaz: Vejo que tenho de travar uma longa batalha… não sei se serei capaz!
Jesus: Não estás só! Mas estás muitas vezes fazendo-te guerra a ti mesmo. Busca-te em Mim e em Mim alcançaras a glória! Enraíza-te. Ama o silêncio! O recolhimento tudo te ensinará. Encontra-te n´Ele, acolhe-O em ti. E o teu caminho será de paz.
Rapaz: Sabes, Jesus, não quero ir para a presença de Deus, nosso Pai, como alguém que ainda não começou a servi-l’O. Por isso o meu coração abraça a Noite e faz dela certeza do caminho.
Jesus: Tem calma. Não sabes como eu acalmei as tempestades e alisei os caminhos para os meus amigos. No fim todos me abandonaram, mas eu não deixei de os amar! Aproveita a pobreza, o sofrimento, a discrição do amor porque aí habita Deus. Não temas. Já reparaste que os campos também têm beleza no Inverno? Só Deus sabe o que é bom para ti. Ama a oração solitária porque aí estou mais em Ti.
Rapaz: É tão difícil. Aprendi demasiado a andar com os outros e agora não vejo ninguém como eu! Como devo fazer?
Jesus: Ama o amor que te leguei. Ama a Cruz. Age com transparência na presença de Deus e o teu coração estará seguro. Esse é o caminho …
Rapaz: Jesus, na escuridão da Noite dobro os meus joelhos ante ti, e entrego-me inteiramente à vontade do Pai!
E o rapaz prosseguiu o seu caminho. Já não ia tão só.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Não tenhas medo de Viver!

Não tenhas medo de viver! O primeiro a saltar o muro foi Deus. Foi Ele que lançou a pedra da liberdade contra as vitrinas do futuro. Portanto, não tenhas medo de viver. A partir de hoje, o primeiro homem é o próprio Deus. Não tenhas, pois medo de viver! Não tenhas medo! Foi Deus o primeiro a passar a noite, esteve de vigia à claridade quando o túnel saía do seu poço. Não tenhas medo de viver! A partir de hoje, o primeiro homem é o próprio Deus. Não tenhas, pois medo de viver! Não tenhas medo! Foi Deus o primeiro a vencer a morte. Não tenhas, pois, medo de viver! A partir de hoje, o primeiro homem é o próprio Deus. Não tenhas, pois, medo de viver! Não tenhas medo! Deus já matou o medo. Chegou a altura em que as portas da cárcere Se abrem de manhã como as flores. Não tenhas medo. Que, a partir de hoje, O primeiro home é o próprio Deus. Não tenhas, pois, medo de viver! J. Debruynne

Retiro de silêncio - Laurinda Alves

«Conhecendo-me como conheço sei que tenho a tentação de escapar a tudo o que me querem impor e, daí, a minha gratidão comovida a quem um dia se lembrou de me desafiar a ter estas conversas no silêncio. E é disso mesmo que se trata: de uma longa conversa, viva e desafiadora, sobre o essencial, no sentido de pôr a vida em perspectiva, de arrumar melhor as ideias, de ler o passado recente e projectar o futuro próximo. Uma longa conversa no sentido metafórico, de quem sabe que é possível manter um diálogo interior que interpela e leva mais longe, mas também no sentido literal porque falamos todos os dias com quem nos orienta e ouvimos este mesmo orientador falar várias vezes por dia, nas pequenas conferências que antecedem os tempos de meditação. O silêncio, neste enquadramento e com esta exigência de profundidade, faz todo o sentido e não é nenhuma provação. Muito menos uma penitência. O objectivo é desligar da confusão, reduzir os excessos, diluir os barulhos, eliminar os ruídos na comunicação, depurar as conversas e limpar o olhar. Só isto. Para quem está de fora, o silêncio pode parecer um teste ou uma prova olímpica de endurance mas, para quem está dentro, o silêncio sai sem esforço». [Laurinda Alves]

RETIRO EM SILÊNCIO [29 e 30 de Novembro – Avessadas]

Jovem Carmelita, um lema para ti:

Anima-te e vem silenciar… É no silêncio que te tornas mais autonomo, educado no pensar… mais livre para poderes agir!

O Mestre espera por ti…

Entrega-lhe: Os teus dias e projectos, trabalho e descanso, provações e fadigas, tristezas e alegrias, lutas e fracassos, TUDO… Dá-lhe tudo, absolutamente tudo. Nada conserves tudo só para ti! Torna-te numa alma com DEUS!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Etty Hillesum

Dentro de mim há um poço muito fundo. E lá dentro está Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas acontece mais frequentemente haver pedras e cascalho no poço, e aí Deus está soterrado. Então é preciso desenterrá-lo. Imagino que há pessoas que rezam com os olhos apontados ao céu. Esses procuram Deus fora de si. Há igualmente pessoas que curvam profundamente a cabeça e a escondem nas mãos, penso que essas procuram Deus dentro de si.
Etty Hillesum, Diário, Assírio & Alvim.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Bento XVI fala aos jovens

«Queridos jovens, colocai Jesus no centro da vossa vida e recebereis d’Ele luz e valentia»
[Bento XVI]
Em preparação para a Solenidade de Cristo Rei (próximo Domingo, último do Tempo Comum) o Papa Bento XVI deixou nesta quarta-feira, dia 19 de Novembro, um conselho aos jovens presentes na Praça de São Pedro. Esta exortação é para nós também…

São Rafael Kalinowski

«Amava tanto sua Pátria que por ela sacrificou a sua vida» [João Paulo II, na homilia de canonização de 1991]

«Naquelas velhas imagens, uma chama-me particularmente a atenção: o Menino Jesus espera docemente, porque quer encontrar uma digna morada no coração humano. Para começar, é o nosso próprio Salvador que arruma o nosso coração, purifica-o, fortalece-o e adorna-o com a sua graça; por fim, o Divino Menino entra nele e encontra uma morada agradável… Menino Jesus perdoa os pecados do homem, e dá-lhe força para que se possa revestir de virtudes; concedei-lhe as vossas bênçãos». [São Rafael Kalinowski]

http://carmojovem.blogspot.com/2007/11/so-rafael-kalinowski.html

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Escuta-O, repousa n´Ele!

«Um jovem sonha que entra numa grande loja. Atrás do balcão encontra-se um anjo. O jovem pergunta: - Que vendes aqui? - Tudo o que quiseres – responde sorridente o anjo. Então o jovem começa a dizer coisas, umas atrás das outras... - Se vendes tudo o que eu quiser, então eu quero que terminem todas as guerras no mundo, que se elimine todo o tipo de pobreza, que todos os marginalizados se possam integrar na sociedade, que a Igreja seja realmente fraterna e servidora, que… - Um momento! – O anjo corta-lhe a palavra. – Talvez não tenhas compreendido bem, ou eu não me expliquei bem. Aqui não vendemos frutos, somente vendemos sementes». Colher os frutos depende de cada um de nós. Depende de mim, de ti. Anima-te a semear as sementes que recebes em cada novo dia, e espera o recolher da colheita. Silencia diante de Deus. Escuta-O, repousa n´Ele e encontrarás o silêncio da eternidade. Torna-te uma jovem alma carmelita presente em Deus e encontrarás a dom da paz!

domingo, 16 de novembro de 2008

ORAÇÃO DA SEMANA DOS SEMINÁRIOS

Deus santo, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Vós criastes o mundo pela vossa primeira e última palavra E pela primeira e última o salvastes; Lançai no coração dos nossos jovens sementes de amor, capazes de crescer e de fazer deles agentes do vosso desígnio de salvação. Vós chamastes profetas para dizer palavras de verdade, justiça e caridade ao povo que, por amor, escolhestes e reunistes. Colocai as vossas palavras santas na boca dos nossos jovens para que não sejam espectadores passivos mas actores atentos ao mundo que os rodeia e, dando-se sem reservas, disponíveis para amar, encontrem um sentido para a sua vida e deixem a semente germinar. Vós enviastes a Sabedoria do santo céu, do trono da vossa glória, e com a vossa voz derrubastes os cedros e abalastes o deserto. Atendei às inquietações dos nossos jovens, aos seus gritos e sussurros, e despertai neles um amor pela Igreja, vosso templo e corpo do vosso Filho, para que, sem complexos nem angústias, tenham coragem e discernimento para responder com um sim entusiasmado à ternura do vosso abraço. Senhor Jesus Cristo, Filho de Maria, a serva da Palavra, Vós semeastes a Palavra com abundância para que frutificasse e pelo sangue que derramastes, sangue que não tinge mas branqueia, fostes digno de tomar o Livro escrito por dentro e por fora e de abrir as suas páginas seladas; Derramai o vosso Espírito sobre os nossos seminários e fazei com que, acolhendo as vossas palavras de vida eterna, sejam centelhas de esperança e sementes de futuro para a Igreja, no seguimento fiel e generoso da vossa vontade. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo. Ámen.

Retiro em silêncio

«Não vos lembreis do passado, não penseis nas coisas antigas; eis que vou fazer uma obra nova: ela está a começar agora, e vós não a vedes? Abrirei um caminho no deserto, rios em lugar seco». [Is 43, 18-19]

sábado, 15 de novembro de 2008

15 de Novembro | Comemoração de todos os defuntos da ordem do Carmo

Quer na vida quer na morte não
nos cansemos de procurar a face de Deus!
Rezemos por todos os carmelitas que em silêncio e na solidão serviram o Mundo.
ORAÇÃO
Senhor Deus,
criador e redentor nosso,
glória dos vossos fiéis,
concedei aos nossos irmãos defuntos,
a quem nos une o mesmo Baptismo e o mesmo chamamento
e vocação à família do Carmo,
graça de Vos comtemplarem eternamente
como prémio das suas vidas consagradas
ao serviço de Cristo e da Virgem Maria.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Retiro em silêncio

Retiro em silêncio

Não seria necessário falar tanto Se as nossas obras dessem testemunho verdadeiro (S. João Crisóstomo)

O voo espacial de Santa Teresinha

No dia 17 de Agosto as Carmelitas Descalças de New Caney (USA) tiveram uma prometida e muito esperada visita do seu amigo astronauta, Coronel Ron Garan. Garan fez parte da tripulação da mais recente viagem da nave Discovery, que ocorreu de 31 de Maio a 14 de Junho passados, com o objectivo de acoplar o módulo do laboratório japonês Kibo (Esperança) à Estação Espacial Internacional. A missão do astronauta consistiu em sair para o espaço preso por uma correia a um pé a fim de colocar o módulo na posição correcta e efectuar algumas reparações no exterior da Estação Espacial. A NASA preparou um vídeo da missão, pelo que a comunidade das Carmelitas pode escutar e ver alguma das coisas que se passa na Discovery e na Estação Espacial. Foi certamente uma apaixonante e muito esclarecedora tarde para a comunidade carmelitana. Com razão as monjas estão muito agradecidas ao comandante Garan pela partilha desta experiência aventureira. Aliás, na passada Primavera passada o Comandante tinha telefonado à comunidade pedindo-lhe orações pela sua viagem no espaço e oferecendo-se para levar algum objecto sagrado que as Irmãs lhe entregassem. Que haveria de ser? Por fim a comunidade lembrou-se das palavras de Santa Teresinha: «Sinto em mim uma vocação de Apóstolo… Quereria percorrer a Terra, pregar o teu nome e plantar sobre solo infiel a tua Cruz gloriosa. Mas, ó meu Amado, uma só missão não me bastaria! Quereria anunciar ao mesmo tempo o Evangelho nas cinco partes do mundo, até às ilhas mais remotas…». Com esta evocação as Carmelitas entregaram ao astronauta uma relíquia de Santa Teresinha. Durante 14 dias este restinho teresiano percorreu 9.177.030 quilómetros do espaço em torno da Terra, a uma velocidade de 27.291 km/hora. Durante todo esse tempo, com uma oração intensa, a comunidade pediu a Santa Teresinha a sua chuva de rosas desde o espaço sobre o mundo. De facto, a sua vocação universal chegou até aos confins do espaço!

FESTA DE TODOS OS SANTOS CARMELITAS

http://www.carmelitas.pt/site/santos/santos_ver.php?cod_santo=36

Senhor, que ateastes a «Chama de amor viva» à familia carmelita para que viva santamente para Vós fazei que, a exemplo de todos os Santos da família deste harmonioso jardim, abracemos fielmente os seus exemplos e sirvamos a Vossa Igreja no amor que nos move.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

terça-feira, 11 de novembro de 2008

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

NOTAS FINAIS - Carminhada - Viana do Castelo - 8NOV'08

E se de repente quatro vacas e depois uma quinta passarem um pouco ao lado dum grupo de jovens e mansamente se puserem a pastar, isso o que é? É uma carminhada do Carmo Jovem! E se uma égua e o seu potro se afastarem ligeiramente (e o potro se proteger entre a vegetação) e nós passarmos ao lado e os fotografarmos ao longe, isso o que é? É a IX Carminhada, em Viana do Castelo, pelo trilho dos Canos d’Água, num dia friorento de Inverno a ameaçar choviscos mas muito animado e aquecido por 90 corações dispostos a incendiar o verde forte e viçoso do Alto Minho! No Sábado, dia 8 de Novembro, foi assim que nos reunimos no Seminário Missionário Carmelita, em Viana do Castelo. Fomos chegando às pinguinhas. Os lugares de partida eram os habituais. A surpresa foi o Virgílio, de Matosinhos. O Dinis também foi surpresa por nunca ter feito uma carminhada connosco, mas não era surpresa porque foi ele quem nos fez descobrir o caminho de Santa Luzia pelos Canos d’Água. Fomos chegando às pinguinhas e pinguinhas ou pingonas eram as ameaças do céu. Entretanto, fomos visitando a bela e inesperada Exposição Missionária preparada pelos Jovens Kanimambos, os anfitriões. Quem chegava queria partir; cheios dos assentos dos carros queriam caminhar pelo verde e saciar o olhar com o azul do mar e do céu e o verde dos caminhos. Mas não. O tempo incerto amarrava-nos às paredes, como barcos famintos amarrados ao cais. Os que vinham vinham do sol e da luz, mas aqui havia nuvens e uma quase chuva miudinha. Entretanto, deu para dar uns toques na bola: o Frei João era o guarda-redes!

Estávamos no vamos não-vamos quando fomos. Arriscamos tudo, pois o monte não tem um único abrigo. Se chovesse beberíamos água fresca da chuva; seria uma espécie de baptismo, sei lá! Na escadaria do templo do Sagrado Coração de Jesus fizemos uma breve oração. Depois, ala que se faz tarda! Cá em baixo a cidade aconselhava-nos a subir, a ir com segurança. O tempo era pior na cidade que na montanha! Fomos. O cajado ia na mão do Dinis, que nunca mais parou. Primeiro houve uma paragem técnica nos Arcos do Fincão. Depois, a partir dali, ó meus amigos!, a partir dali foi uma bela carminhada! Uma das mais belas. Durante 3 km caminhámos sobre um cano d’água em pedra granítica, com 500 anos de idade! É uma bela obra! Bela e surpreendente! Vem de lá detrás dos montes, trazendo ainda hoje a água que abastece as fontes públicas da cidade de Viana do Castelo.

O caminho é todo ele uma imensa surpresa. Aqui sobe, ali desce. Aqui passa por entre austrálias, ali por entre tojos. Aqui alimenta ternas violetas (mas seriam mesmo violetas?), acolá pequenas flores selvagens. Aqui está uma mina e acolá um depósito que protege a convergência de duas nascentes. Aqui são os cavalos que nos surpreendem, ali são as vacas. Aqui cantam passarinhos miúdos a fugir, ali gaios ou pegas. Aqui cruzamos uma calçada romana, ali um pequeno carreiro. Ó diversidade! Ó beleza! Aqui há um campo onde se rega e se colhe erva fresca, ali de certeza é um de sequeiro! Fantástico, tudo canta e grita de alegria! Aqui pode-se correr, ali caminha-se lentamente. Aqui salta-se, ali dão-se passinhos curtos. Entretanto, alguém tem de preocupar-se com o Filipe, que não se ajuda como nós.

Por fim, já a hora ia adiantada e a barriga remoendo quando chegamos ao lugar de pousar. E pousamos. No largo da capela de S. Mamede pousamos os merendeiros que a Verónica nos trouxe. E foi ali sob o olhar do jovem mártir de Cesareia da Capadócia — S. Mamede —, que almoçamos mais com ganas de quem quer continuar a carminhar do que quem quer comer por comer. Foi também aí que as vacas entraram no recinto, e se nós comíamos também elas começaram a comer retouçando na erva fresca.

A verdade é que não apetecia recomeçar a carminhada. A ameaça da chuva era certa, faltava apenas que caísse. E a cair, que caísse enquanto estamos em casa do Santo, pensaram alguns senão todos. Mas caminhamos. Alguém ouviu o que há muitos anos ouviu o jovem mártir Mamede. A nossa carminhada tinha por título: «mandei pedir notícias da vossa fé»; e ali estava quem ouvira uma voz interior dizendo: «Tem coragem, ó jovem Mamede! Guarda a fé e mostra o teu ânimo varonil, pois bem-aventurado será quem sofrer perseguição por Cristo!» Eu sei quem isto ouviu e nos animou a carminhar. E sei também que logo depois de começar a carminhar começou a chover. Abriram-se os guarda-chuvas: 3!, e meteram-se os carapuços na cabeça. Mas isso foi só por segurança, por nós estava S. Mamede e não choveu mais que aquela chuva necessária para os passarinhos não passarem sede nesse dia! Junto à Carreira do Tiro parámos e batemos palmas a ciclistas e a outros passantes com o mesmo bom gosto que nós. Lemos ainda um texto de São Paulo, da primeira Carta aos Tessalonicenses. Todos os excertos foram preparados e lidos pelos Jovens Missionários Kanimambos, do Carmo de Viana. Mas que bela maneira arranjaram eles de nos meter a Palavra de Deus pelos ouvidos dentro! Uma maneira bela e inesperada que nos fazia ouvir pequenos excertos, lidos com bom gosto e muita suavidade! No templo de Santa luzia, que é do Coração de Jesus, e bem junto a Ele, tirámos a foto de família.

Uma foto muito animada, cheia de gente jovem cansada mas de coração carmelita muito animado. Vencêramos a tarde, a chuva, os obstáculos, o tempo frio e as horas sem rede de telemóvel. Lá em baixo o Lima abraçava-se ao mar, perdia-se, ia-se com os navios para outros lugares, levava água fresca e húmus e trazia sal que nos salgava o olhar e a esperança de algo novo! Estávamos neste enleio quando, depois de lermos mais um texto de São Paulo, o Frei João nos desafiou a descer o Escadório. Disse-nos que iria de carro — privilégios de velho! —, mas que nós deveríamos fazer a experiência de descer 999 escadas! Não seriam tantas, que nos acertos finais as contagens não coincidiram, mas ainda assim passaram de duzentas! Ainda assim não foram demasiadas, porque mal chegámos ao campo de futebol a bola desafiou-nos para uns chutos e nós, incluindo as raparigas, fomos correr atrás dela. Nós, não. Todos, não. Uns foram ensaiar os cânticos e outros preparar leituras e o ofertório solene. Às seis rezámos a Missa, com o Frei João a presidir. Entrámos como ele gosta, com uma bela procissão. Entrámos e rodeámos o altar, ouvimos a Palavra de Deus e a dele também. E comemos do Pão Eucarístico que fortalece os fracos e anima os fortes.

E ouvimo-lo dizer que a fé é como uma planta que se cuida, uma vela que não se deixa apagar. E ouvimo-lo dizer que a fé tem de ser defendida, questionada, aperfeiçoada, testemunhada, entregue. Não pode viver sozinha, mirrada, sem se cuidar e regar, sem carminhar com outros, sem ouvir os corações do lado a bater. E ouvimo-lo dizer que os nossos chefes têm de perguntar-nos pela nossa fé, como São Paulo mandou pedir notícias da fé dos Tessalonicenses. Que a Igreja que dá a fé é a Igreja que alimenta a fé. Que a Igreja que acarinha a fé é a Igreja onde se aperfeiçoa e se testemunha a fé.

E ouvimo-lo dizer que deveríamos rezar pelos nossos catequistas e líderes dos nossos grupos, porque eles aconchegaram-nos a fé em nome da Igreja e em nome da Igreja a regam e a fortalecem. E ouvimo-lo dizer que o Ricardo Luis, a Verónica e o Jorge Fernando lhe davam notícias da nossa fé e que se não tem notícias nossas as manda pedir urgentemente. E ouvimo-lo dizer tantas coisas, que um dia alguém que muito estimamos também nos perguntaria sobre a nossa fé e que nós haveríamos de ter gosto em responder-lhe sobre ela. E ouvimo-lo dizer… Depois entregaram-se as recordações da carminhada, pois sempre há uma recordação para recordar.

E por fim fizemos festa, porque o Jorge Fernando já podia falar connosco e disse-nos duas palavras parvas, isto é, pequeninas. Ele é o nosso chefe, o chefe do Carmo Jovem que agora vai connosco à pesca, uma pesca à rede na esperança que renda muito e tudo para todos. Por fim, partimos. Mas custou partir. Era noite, mas não dentro de nós. As nossas almas agora regadas davam boa conta de si e a fé fortalecida está mais pronta para os meses de invernia. Tudo estava terminado, porque

Tudo gira à Tua volta, em função de Ti: não importa quando, onde e o porquê.
Fomos 90 jovens vindos de Aveiro, Avessadas (Marco de Canavezes), Caíde de Rei (Lousada), Gafanha da Nazaré (Ílhavo), Mangualde, Matosinhos, Moinhos da Gândara (Figueira da Foz) e Viana do Castelo.
E foi em Viana do Castelo. No dia 21 de Fevereiro estaremos algures noutra Carminhada.