domingo, 31 de agosto de 2008

«Tu seduziste-me» [Jr 20, 7-9]

« Tu, Senhor, Tu me seduziste e eu deixei, Tu forçaste-me e foste mais forte, mais forte do que eu. Mas vê, Senhor, agora sou motivo de troça, todo o dia se riem de mim porque eu me apaixonei por Ti. Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir, tu forçaste-me e foste mais forte do que eu, agora sou só para Ti. Já vês, Senhor, tua palavra foi humilhação e sacrifícios, por isso resolvi não falar mais no teu nome, nem voltar-Te a mencionar. Mas havia em mim como que um fogo ardente No meu coração prendido nas entranhas, e ainda que eu quisesse apagar não conseguia contê-lo. Tu me fascinaste, Jesus, e eu me deixei apaixonar. Eu lutei contra Ti, contra tudo o que sinto, mas foste Tu quem venceu, mas foste Tu quem venceu.»

«E porque, hoje é Domingo»… Fomos convidados a ouvir e a deixarmo-nos seduzir pelas leituras do 22º Domingo do Tempo Comum. Ouvia-mos em [Jer 20, 7-9], «Tu me seduziste, Senhor, e eu deixei-me seduzir!». Estando a Igreja Católica a celebrar os 2000 anos do nascimento de São Paulo, um fariseu convertido, o grande Apóstolo do evangelho e das gentes, olhemos para ele para a sua própria justiça para que esta nos entusiasme a descobrir o carminho da cruz. Caminho de amor, dom da vida!... De certo que São Paulo, nos momentos em que a voz do coração silenciou no mais profundo da sua alma foi capaz de retorquir: «Tu me seduziste, Senhor, e eu deixei-me seduzir!». Esta «loucura da Cruz» pela qual São Paulo se sentiu seduzido, combateu e se ofereceu pobre e pecador, deixou que toda a sua força se manifestasse na fraqueza… As suas palavras os seus actos de vitória nunca foram ciência dos Homens mas manifestação do Espírito e da força de um Deus amor que continua a silenciar nos nadas em que vivemos. Que esta sedução, este oferecimento encontre eco e ressonância nos nossos áridos corações de jovens carmelitas a carminho. Continuemos a defrontar a nossa existência, com alegrias e com sofrimentos, amparados por estes sentimentos que São Paulo nos presenteia.

domingo, 24 de agosto de 2008

Ponto de partida: O AMOR!

A ver se amanhã... E eu te encontrei A chama brilhou E o Seu fogo entrou em mim Mesmo se distantes Para nós o longe é perto O nosso horizonte É o céu unido ao mar

Amar é a partida E o sonho sem chegada Voar nas asas do vento E subir ao infinito Não há fronteiras que separem Nossa amizade é sermos um só

Só o Amor …. Faz renascer A vida em nós, a vida em nós… Em nós!

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Solenidade | Virgem Santa Maria, Rainha

"Para que um filho consiga sua mãe sempre amar sentir deve que a mãe suas dores compartilha. Meu amor Tu quiseste, ó Maria, ganhar E por isso em Teus olhos o pranto rebrilha!... No evangelho ao estudar tua tão santa vida, Abaordar-Te eu ousei e acercar-me de Ti. Foi-me fácil sentir que sou filha e a ti querida, Pois, como eu, sofredora e mortal eu Te vi… [Santa Teresinha]

Enaltecemos hoje aquela que é a Mãe de Jesus, cabeça da Igreja, e nossa adorada Mãe. Que como Santa Teresinha nos deparemos com o profundo e filial amor para com a Virgem Santíssima. Que esse amor nos aproxime em cada dia de seu amado filho Jesus, da Santíssima Trindade e... concludentemente de todos aqueles que fazem carminho connosco.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Louvor à Assunção de Nossa Senhora

Louva, minha alma, o Deus altíssimo porque se dignou elevar ao céu em corpo e alma a humilde donzela de Nazaré. Louvem todas as criaturas ao Pai Porque escolheu uma mulher da nossa raça A fim de nela manifestar a vitória sobre a morte e a corrupção, fazendo de Maria, juntamente com Cristo, a primícia do nosso destino. Louvem todos os redimidos a Nosso Senhor Jesus Cristo, porque faz brilhar em Maria, sua Mãe, assunta ao céu, todos os matizes da salvação. Louvemos o Espírito Santo que incendiou no ser de Maria de Nazaré o Fogo que não se consome e a luz que nunca se apaga. Que todas as criaturas, Em união com Maria, louvem a Deus!

Testemunho X

Mais uma vez, é ao olhar através de uma janela que me recordo do único acampamento no qual me sinto a transformar em alguém melhor e diferente. Nunca poderei pôr em palavras aquilo que senti durante todo o AAcampaki, que, para mim, foi o segundo acampamento dinamizado pelo Carmo Jovem que vivi intensamente. No ano que precedeu o AAcampaki, Cristo acampou entre nós, e, no meu entender, todos “acampamos” com Ele. Terminada essa gloriosa semana, o desejo de muitos, inclusive o meu, era de partir logo para o próximo Acampaki, mas, como a vida não é um mar de rosas, tivemos de esperar um ano para poder desfrutar de mais uma semana em Deão. Será correcto afirmar que essa espera foi parcialmente dizimada pelas carminhadas. Eventualmente, mal as bem merecidas e bem ditas férias começaram, o que mais ansiava era poder voltar a Deão para mais um Acampaki. Como era de esperar, fomos bem recebido pelos velhos amigos e ajudamos a que os novos recrutas se sentissem em casa, tarefa que se demonstrou ser de um nível de dificuldade muito reduzido pois, senti que eram os novos “Acampakis” que nos faziam sentir mais confortáveis, visto terem sido uma mais-valia no desenrolar do acampamento e uma óptima expansão da nossa família. Sem deixar uma única possível margem de crítica negativa, as actividades realizadas no AAcampaki foram extremamente enriquecedoras e fantásticas. Refiro-me não só às interessantes palestras como também à Clarminhada, que foi pessoalmente uma experiência nova, embora só tenha prestado auxílio aos “clarminhantes” durante o percurso pedonal, tendo sido um dos membros do “carro-vassoura”. Mesmo assim, adorei a experiência e espero que o nível de originalidade das actividades se mantenha constante. Jamais poderei comparar o AAcampaki com o Acampaki, visto que ambos foram magníficos e abordaram temas diferentes e extremamente interessantes e enriquecedores, ajudando-nos a crescer em sabedoria na presença de Deus, a formar novas amizades e a fortalecer outras, e, no meu caso, aprender a trabalhar em grupo. Talvez o termo grupo não seja o mais apropriado, visto que o conceito que advém do mesmo não é tão forte e capaz de justificar aquilo que nós realmente somos e juntos formamos e sempre seremos: uma família. Deste AAcampaki, guardo a mensagem “Alarga a tua tenda” e trabalharei para que tal aconteça, devagar, devagarinho, sempre com o espírito caracol.
Francisco Martins, 17 anos
Aldeia de S. João da Cruz (Caíde de Rei)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Testemunho IX

Olá a todos…
Mais um AAcampaki passou, para mim foi o segundo, pois já tive a oportunidade de poder estar presente no primeiro e ambos foram extremamente importantes para mim em todos os aspectos. Falando mais deste AAcampaki, posso dizer que mais uma vez adorei a experiencia de poder ter estado presente e que para mim tanto ou mais do que o ano passado foi bastante enriquecedor, tudo o que passamos e vivemos nesta semana que para mim foi das mais espectaculares que vivi onde pude aprender de tudo um pouco e aprender também a ver e a viver a vida de forma diferente. Tudo foi algo de magnífico, desde as palestras (que pelos temas abordados foram bastante enriquecedoras), desde a clarminhada (que para mim foi algo novo e que espero um dia talvez voltar a participar em algo parecido), via lucis, horas de silêncio… e até mesmo os saraus, os mergulhos na piscina, o karaoke, o jogo de futebol, a noite de cinema e tudo, tudo o que vivemos foi algo que adorei e que nunca mais irei esquecer. Para finalizar este testemunho resta-me a saudade que ficou de tudo o que aconteceu e a saudade das pessoas magnificas que comigo passaram aquela semana espectacular.
Desde os nossos, mais do que tudo, grandes amigos Frei João, Ricardo e Verónica (que sem eles o acampaki não existia e por isso lhes agradeço por tudo), até aos grandes amigos que lá deixei que sem dúvida são amigos para ficar guardados no nosso coração.
MUITO OBRIGADO POR TUDO!
E não se esqueçam caros AAcampakis, de alargarem sempre a vossa tenda. Espero por vocês todos no próximo Acampaki. Cumprimentos do vosso sempre amigo.
David Peixoto, 17 anos
Aldeia de S. João da Cruz (Caíde de Rei)

Carmo Jovem com o Pe. Luigi Gaetani

Este domingo, 10 de Agosto, chegou a Portugal o Padre Luigi Gaetani, Pró-Vigário Geral da nossa Ordem. O Pe Luigi vem acompanhado de cinco jovens italianos e juntos vão peregrinar a pé a Santiago de Compostela.

O Carmo Jovem foi ao Porto dar as boas vindas e desejar que tudo corra da melhor forma na Peregrinação a Pé.

Como se devem recordar, em Fevereiro passado por ocasião da Carminhada de Alhadas (Figueira da Foz), o Pe. Luigi escreveu-nos uma carta. De forma pessoal, fomos agradecer o acompanhamento e o carinho como tem tratado o Carmo Jovem em Portugal.

Os contemplativos no Bairro

Formadoras: Irmã Palmira Lourenço (AC) e Irmã Conceição Rodrigues (AC)
Secretária: Maria João Brito (Aldeia de S. Paulo)
Começámos o dia com o acolhimento de alguns acampaki’s que se juntaram a nós para povoar a aldeia dos Martin: a Susana, o Pedro e o Marco; bem como de duas irmãs que vieram partilhar connosco a sua experiência de vida num bairro de Aveiro, a irmã Palmira e a irmã Conceição. Celebrada a oração da manhã, o Ricardo apresentou-nos as irmãs Auxiliadoras da Caridade, explicando um pouco sobre a sua congregação e missão. A irmã Palmira é Carteira e a irmã Conceição Educadora de Infância, ambas, tal como é comum na sua congregação, exercem as suas profissões e o tempo restante dedicam-no numa missão no bairro de Santiago, onde vivem em comunidade com mais duas irmãs. O tema da sua partilha era “A contemplação no bairro” e iniciaram por uma apresentação em Power Point, a qual nos fazia reflectir sobre uma canção de Maria Amélia, irmã franciscana, “Vim para te contemplar”. A música entrou de tal forma no ouvido que no final repetimos o ppt cantando: “Olhei, deixei-me olhar, calei para escutar Em vez de contemplar, fui contemplado.” A canção traduzia o seu dia-a-dia: logo pela manhã têm um momento de oração pessoal no oratório do apartamento onde vivem, onde contemplam Jesus e saem para os seus trabalhos com a vontade de levá-Lo às pessoas com quem se relacionam. É contemplar a presença de Deus nas famílias do bairro, no seu sofrimento, e tentar lutar contra a maré, mostrando-lhes que são amadas por Ele. Ao final do dia, dizia a irmã Palmira, chega-se a casa com algum cansaço físico, mas espiritualmente sente-se recompensada. A irmã Conceição leu-nos um poema que traduzia como contempla Cristo no dia-a-dia e a importância que a oração assume na sua vida. Partilhava connosco que é ao mesmo tempo rezar a vida e rezar com a vida das pessoas com quem se cruza. Falou-nos como é importante acolher as crianças com necessidade de afecto, saber escutá-las, a elas e aos pais; e a partir destas situações de vida fazer a oração. “Senhor, através destas pessoas e das suas vidas mais uma vez Tu me falaste!”. No fundo, tentam seguir os passos do seu fundador a quem admiram muito: “Temos que levar a Igreja aonde ela não está”. À partilha das irmãs sucederam-se perguntas suscitadas no interior dos acampaki’s, como por exemplo, como se sentiram chamadas à vocação religiosa. De duas irmãs, dois testemunhos diferentes! A irmã Palmira disse que não pensava ir para a vida religiosa, mas no meio em que vivia as pessoas questionavam muito sobre Deus, o que a fazia quase sentir que O tinha que defender com muitos argumentos, levando-a a procurar cada vez mais o seu amor. Um dia, sentiu-se atraída para ir para missionária e encontrou na congregação das Auxiliadoras da Caridade uma forma de dar resposta a esse chamamento. Encontrou, tal como o seu fundador, como conciliar o amor pelo povo e por Deus. A irmã São, nasceu no seio de uma família operária, e trabalhava na área da confecção. Como qualquer jovem, perguntava-se frequentemente sobre o que Jesus desejaria da sua vida. Quando sentiu a força do apelo, não teve dúvida que era chamada a uma congregação onde houvesse uma proximidade com o dia-a-dia das pessoas: poder viver a vida religiosa onde as condições de vida e de trabalho fossem as da maioria das pessoas. Também lhes foi lançada a questão sobre os casos que as tinham marcado mais, cuja resposta era muito difícil de seleccionar. Assim, acabaram por narrar uma ou outra experiência em que as pessoas a quem lhes estenderam a mão e o coração, conseguiram retomar as suas vidas agradecendo o facto de terem essencialmente acreditado nelas e mostrado um outro lado de Deus, o lado Amor. Outra vivência gratificante que mencionaram foi a construção da capela no bairro que inicialmente parecia ser demasiado espaçosa, mas que agora acaba por estar sempre cheiinha. No final, terminámos com um Power Point que nos dizia “Não tenhas medo!”, “Tem confiança e parte!”. E foi assim que, lendo as vidas destas duas irmãs, Aquele que sabemos que nos ama nos deu mais uma pista como alargar o espaço da nossa tenda. Às duas, irmã Palmira e Conceição, o nosso muito obrigada!

Porto by night

Formadora: D. Teresa Olazabal Secratária: Joana Pinto (Aldeia de S. Teresa de Jesus)
Neste dia bastante chuvoso tivemos uma visita bastante interessante. Trata-se da D. Teresa Olazabal e da sua amiga, Mónica Claro. O tema da conferência é: “Porto by night” devido ao trabalho desenvolvido pela nossa convidada na noite do Porto. Teresa Olazabal formou um grupo que presta auxílio das mais variadas formas aos sem abrigos da noite do Porto. Com eles reza, ama e distribui mantimentos num saquinho o qual denominou “saco de ternura” uma vez que é conseguido com a boa vontade de muita gente. Começamos por fazer um breve resumo da sua vida e de como começou o seu trabalho. Teresa é uma pessoa que cresceu num meio acomodado, que vivia no seio de uma religião acomodada. Gostava muito de pintar mas seu pai proibiu-a de seguir Belas- artes, começando então a trabalhar. Teve, até determinada altura, uma vida com as suas futilidades, algo ordinário nos dias que correm. Não fazia mal a ninguém mas será que esse não fazer mal é significado de fazer o bem? Aos 47 anos foi confrontada com a possibilidade de padecer de um cancro. Teriam que proceder a uma cirurgia, a ocorrer no dia 13 de Maio, dia que, embora sendo religiosa, não tinha um significado especial para si. Começou então a questionar-se acerca de até que ponto ela tinha capacidade para conduzir a sua vida. Conclui-se, após a operação que a sua saúde estava boa. Nessa hora, em Fátima, rezava-se a missa dos doentes. Foi então que Deus mudou a sua vida. No ano seguinte fez. Pela primeira vez, a peregrinação a Fátima, algo que fez sempre a partir daí. A sua primeira peregrinação foi: “6 dias de caminhada, 6 dias de choro”. Após abandonar Fátima decidiu que tinha que conhecer aquele homem tão bom que se chama Jesus Cristo. Percebeu então que Deus a pôs no mundo para servir e não para se dedicar ás futilidades próprias da sociedade. Optou por deixar de trabalhar e começou a dedicar-se à prestação de cuidados a doentes em fase terminal. Um dos episódios marcantes da sua vida foi o tempo que conviveu com um doente terminal, abandonado pelos pais, que lhe “abriu os olhos” para a dinâmica complexa do amor. Após assistir à sua morte percebeu que Deus é o Senhor da vida e da morte. O seu trabalho nas ruas do Porto começou quando, uma tarde, aconchegada de sua casa, viu na televisão que a temperatura, essa noite, iria descer muito até aos -2. C. Recolheu então alguns mantimentos, pegou nuns cobertores, dos que se tem a mais em casa e começou assim a prestar auxilio aos necessitados. Não foi fácil deparar-se com uma realidade cruel de pessoas que se encontravam na rua com histórias surpreendentes e simultaneamente arrepiantes para contar. Há 5 anos atrás fez então um voto de pobreza, algo que começou a pôr em prática numa peregrinação a Fátima. Disse-nos que muitas vezes julgamos as pessoas sem conhecer a sua história algo que tem uma enorme quota de verdade. De facto, quantas não são as vezes que julgamos, as atitudes das pessoas sem perceber ou conhecer o porque daquela atitude? Após a exposição da sua “biografia” resumida chegou a altura de colocar questões próprias de Acampaki’s. Dessas questões podemos perceber que o trabalho que faz é feito em grupo, não se tratando de uma associação pois, como disse Teresa, o amor não tem estatuto. Os donativos são conseguidos através da sensibilização de pessoas que lhe são conhecidas, próximas, amigos, para a sua causa. Constitui-se assim um fundo de maneio que lhes permite realizar o seu trabalho. Retirar alguém da rua não é tarefa fácil. Teresa bem o sabe. Em 1.º Lugar tenta-se recuperar a pessoa enquanto pessoa, por assim dizer… falar com ela, dar-lhe atenção, amá-la, mostrar-lhe alternativas… passa um pouco por aí. Não é fácil conseguir retirar alguém da rua e colocá-la a trabalhar, ao contrário do que muitos possam pensar. As pessoas que moram na rua estão tanto fisicamente como psicologicamente abaladas pelo que, para retomar a sua vida, é necessário conseguir primeiro alguns cuidados médicos. Foi questionado o facto da separação entre o seu trabalho na rua e a sua família. Teresa disse-nos que a família é a sua primeira missão e as vicissitudes da vida já a levaram a abdicar dum pouco da sua caridade em prol da sua família. Considera que no início não foi fácil ajustar as duas realidades mas algo que se resolveu com uma boa gestão do tempo. Aliás, considera que a família também beneficia com as suas obras de caridade pois, este seu trabalho leva-a a abrir o seu coração, começando a dedicar-se à família com mais amor. Além dos já referidos “sacos de ternura”, Teresa e o seu grupo rezam com as pessoas da rua, amam-nos criando um ciclo de partilha de vida, amor e comida. O seu percurso nunca é o mesmo de forma a conseguir servir o maior número de pessoas. Um ponto que ainda falta referir e que é uma realidade cada vez mais presente é o caso de pessoas pobres, necessitadas, que não têm coragem ou, melhor dizendo, têm vergonha de pedir ajuda. Face a isto, Teresa criou o grupo PE [Pobreza Envergonhada]. A essas pessoas, o PE oferece mantimentos e ajuda nas despesas da casa, normalmente por intermédio de um familiar tendo em conta o tipo de pessoas que são. Ao longo deste trabalho surgem pessoas que rejeitam a ajuda, casos de retrocesso (embora não tenha presenciado nenhum Teresa teme que venham a acontecer) algo que a leve por vezes a desanimar; no entanto, há sempre a força de Deus que impele para que Teresa prossiga considerando-se ela uma pessoa que raramente desiste. Algo que provavelmente é da curiosidade de todos nós, jovens carmelitas, é se Teresa conta com o apoio de gente jovem. A resposta é sim. È uma verdade. Teresa conta com a ajuda de gente jovem que actua essencialmente no campo psicológico espiritual prestando-se a conversar com os sem-abrigo. Foi assim a nossa formação que penso ter tocado nos corações de todos e quem sabe, despertou em alguns de nós para uma realidade que considerava inexistente. Quem sabe um dia, alguns Acampaki's não farão companhia a Teresa e ao seu grupo na prestação de cuidados e na entrega de amor a quem mais precisa.

Ser jovem mãe cristã

Formadora: Prof. Márcia Santos
Secretária: Cristiane Macedo (Aldeia de S. Teresinha)
Nesta terça-feira, tivemos a oportunidade de conhecer o testemunho de vida da Márcia Santos, que contou a sua experiencia de jovem esposa e mão cristã. E uma jovem de 32 anos, de Aveiro, licenciada em Matemática, em Coimbra, casada e com uma filha de 2 aninhos, a Maria. A primeira coisa que a Márcia nos disse foi que não se sentia exemplo para ninguém, mas iria tentar passar uma mensagem ao contar a sua experiência. A Márcia começou a contar o que era ser mãe para ela, sempre tivera o desejo de ter muitos filhos; algo que ela receava pelas suas colegas que tinham tantos problemas de fertilidade. Ela fala-nos que tinha a ideia que sabia ser mãe, a nível dos sentimentos, ou seja, que imaginava o quanto se gosta de um filho. No entanto, depois de ter a Maria, diz que é muito maior o amor que sente por ela, e assim sendo, é necessário algo muito forte, esse amor para aguentar dias e noites sem dormir, tentando conciliar com a vida profissional, como contará a seguir. Como uma mãe aparece sempre associada a uma família, para Márcia “não faz sentido haver um filho sem existir previamente um matrimónio”. Deste modo, deixou à sociedade uma crítica: “a falta da prática assídua da eucaristia dos casais que se casam pela Igreja, pois muitos casam porque fica mais bonito e não pelo significado que tem”. No casamento há muitos princípios que se cruzam e chocam. As pessoas não são iguais e os problemas no casamento também aparecem. Muitos destes problemas provêm de questões económicas, por isso, Márcia e Miguel, optaram por uma vida simples, sem grandes exibições para os amigos, preferindo construir passo a passo a sua vida, com bases sólidas. Assim, a Márcia conta-nos que não consegue adormecer sem que as coisas estejam resolvidas. E revela que para um casamento sólido é necessário respeitarem-se e entregarem-se um ao outro! Então, para nos tentar explicar melhor o que é uma mão ela entregou-nos este poema tão engraçado: O que é uma mãe? Uma mãe pode ser de quase todos os tamanhos ou idades, Mas nunca admitirá ter mais de trinta anos. Uma mãe tem mãos suaves e cheira bem. Gosta de vestidos novos, mesmo com bocadinhos de bolacha no bordado, de música, de ter a casa arrumada, dos beijos dos filhos, de uma máquina de lavar e do papá. Não gosta de ter os filhos doentes, de pés enlameados, de birras ou más notas. Uma mãe sabe ler o termómetro e arranja tempo para um beijo que cura os dói-dóis. Pode dar beijinhos até magoar. Sabe fazer bons bolos e doces, mas gosta que os filhos comam legumes. Uma mãe tem dez pares de braços. Tem de os ter. E a senhora que sabe dizer tolices que não se sabe como, ajudam a melhorar as coisas. Uma mãe consegue vestir um bebé gordinho num instante e sabe dar beijinhos em caras tristes e fazê-las sorrir. Contudo Márcia conta que é difícil ser mãe cristã hoje! Se ser mãe é complicado então ser mãe cristã dá muito mais trabalho. Quando teve a Maria, deixou de ir à missa, pois não tinha tempo. E isto fê-la pensar que o problema era dela própria. Nesta reflexão que fazia perguntava-se: “quando voltarei a ser aquela plena cristã?”. Ao ir à missa com a Maria não estava concentrada na missa mas na sua filha, que não parava quieta. Assim prefere ir à missa de 15 em 15 dias, pois sente que está realmente presente. Mas o que enfrenta uma mãe cristã? Márcia confessa que para ter filhos, tem de ter o apoio dos seus pais, porque a sua profissão cada vez mais instável e incerta. Quando soube que estava grávida (momento em que para ela já começa a ser mãe), e comunicou à escola onde trabalhava à 5 anos, esta ao saber que a menina nasceria por volta de Setembro, despediram-na! Enquanto que se Maria nascesse em Fevereiro, a escola tinha chamado um professor substituto. Podemos perceber que ser mãe não é fácil…e ser mãe cristã? A Mãe Cristã “ser mãe, hoje em dia é missão dificílima. A época, carregada de materialismo, de falta de amor, de egoísmo e de menosprezo pela condição humana, não favorece a maternidade, não valoriza o papel de mãe. E, tratando-se de mãe cristã, o ambiente à sua volta torna-se menos acolhedor e mais hostil. Isso porque a mãe cristã deve ser acima de tudo uma defensora da Fé em Cristo num mundo em que há lugar para tudo e para todos, mas onde para quase não há lugar para Deus. Ela é ao mesmo tempo, mãe e filha tanto no sentido humano, natural, quanto no sentido espiritual. Contemplada pelo Criador como receptora da semente da vida, a mãe torna-se continuadora do plano divino para a procriação da espécie humana. Se olharmos com olhos pacientes e com reflexão, veremos que não há, no mundo, missão mais nobre e dignificadora do que ser mãe. Cristo valorizou tanto a maternidade que encarnou no ventre de uma jovem, tornando-a mãe do Salvador do Mundo. A mãe cristã é aquela que, além de receber a vida em seu ventre, tem a missão de preservá-la com o sentido de honrar e glorificar o Senhor. Quando soube que era mãe, a Virgem Maria exclamou: “minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. É dentro dessa visão que a mãe cristã se deve procurar enquadrar num mundo que por vezes tende a desvalorizar a maternidade. “ensina a criança no caminho em que deve andar e quando ficar velho, não de se esquecerá dele”. A mãe cristã é guardiã da fé em seu lar, contrapondo-se aos ensinamentos materialistas e ateístas dessa época de falta de fé, esperança e medo do futuro. A mãe cristã é aquela que, com o amor de Deus no coração, envolve os filhos no manto do verdadeiro amor”. (P. Lima)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Testemunho VIII

Cheguei!!! No portão estava um painel com a palavra AAcampáki e eu pensei: Já cheguei! Estou no local que durante uma semana ouvi falar tão bem. A missa já decorria mas mesmo assim ainda cheguei a tempo de ouvir as sábias palavras do Frei João. Uma homilia com belas palavras que nos entravam diretamente no coração, mas para as entendermos não precisamos de duas décadas. Sei que temos de ter o espirito caracol e ir sorvendo as palavras lentamente. Agradeço de coração todo o carinho que nos deram desde que chegamos - eu, o meu marido e os meus filhos. Falo como mãe de uma Acampáki e como visitante. Adorei a paz que se fazia sentir e a boa disposição de todos era contagiante. Agradeço ao meu compadre (Ricardo), à querida Verónica e ao mestre Frei João. Não esquecendo a D. Fernanda - ou Nandinha - que fez com que todos tivessem refeições saudáveis. Pelo pouco que convivi com todos, deu para notar que são todos de coração puro e amizade sincera. Obrigada a todos! Abreijos Ana Maria, mãe da Ana Lúcia Aldeia de S.João da Cruz (Caíde de Rei)

Os 800 anos da Regra do Carmo

Formador: Frei Joaquim Teixeira
Secretário: Luís Peixoto (Aldeia de S. João da Cruz)
Eis o primeiro dia no AACampaki. Novamente mais uma aventura para nós, jovens leigos do Carmo. E como é à Ordem do Carmo que pertencemos e a quem dedicaremos durante estes dias parte do nosso tempo, convém-nos saber alguma da sua história. Foi então que, por intermédio do caríssimo Frei Joaquim Teixeira, padre carmelita, homem voltado para as missões e actualmente residente no convento da Foz no Porto, que foi abordado um grande tema: A Regra do Carmo, um conjunto de normas históricas da Ordem, com cerca de 800 anos e com pequenos excertos da bíblia, principalmente do novo testamento. Iniciada a conferência, o Frei Joaquim Teixeira começou por referir que, por ele a Regra iria ser abordada através do núcleo, dispensando, deste modo, a invocação de datas e factos históricos, de modo a cativar mais facilmente a nossa atenção e interpretação. Começou, então, por distinguir as três constituições da Ordem: os padres, os irmãos e os carmelitas seculares. Questionava-nos: “ Que sentido tem falar-se em Regra?” Foi a questão colocada. Alguns responderam que talvez fosse uma orientação, princípios, ideais, normas ou leis… No entanto, antes de existir a regra, propriamente dita, existia uma vida. Uma vida de experiências no Monte Carmelo, que funcionava como uma regra ao relembrar-se a vida da Virgem Maria e do profeta Elias. Tal era a devoção dos homens ao carmelo, que estes aumentaram, sentindo-se assim a necessidade da criação de uma Regra, que viria a ser representada e aceite pelo Bispo de Jerusalém. Para a criação desta Regra foi dada um grande contributo de santo Alberto, sendo dado o último toque pelo Papa Inocêncio IV, que evidenciou os valores principais da mesma: - o desejo forte de seguimento de Jesus; a interioridade da vida, que era uma grande característica da Virgem Maria; oração, que era a grande privilegiada pelos carmelitas, levando-os a ter uma vida de total de espiritualidade, sacrifício, mortificação, que apesar de serem valores estranhos era exigida a sua vivência visto que a vida em comum exige muitas renúncias; silencio, que era a grande característica do Monte carmelo. O silêncio diz muito de nós e se nos soubermos calar, também sabemos ouvir. Outros valores são: o trabalho, necessário para o pão de cada dia, o diálogo a amizade e a confraternização, aspectos muito humanos vivenciados por todos e por cada um. A Regra tem vindo a ser vivida e interpretada por diferentes pessoas, em diferentes culturas. Outro dos aspectos mencionados pelo Frei Joaquim foi o facto de a Igreja ser o coração do convento, o elo de ligação da comunidade, pois era neste local que eram realizadas os actos comuns. Um outro assunto abordado foi o estudo aprofundado da Regra realizada por um padre carmelita francês do qual se extraíram três ilações: a centralidade de Cristo; a experiência da fraternidade amizade e o valor da itinerância que se deve ao facto de a regra ter persistido até aos dias de hoje. Quando temos uma regra como esta, estamos a ler-nos a nós próprios, pelo facto de esta regra ter sido importante durante todos estes séculos e isso diz-nos que também nós precisamos dela para os dias de hoje. De toda esta conferência eis as grandes conclusões: a regra é um texto de vida interior, um texto mítico, uma vivência em obséquio de Jesus Cristo… A regra foi lida por cada um de nós e concluímos toda esta bela conferência com um pequeno trabalho de grupo, através do qual se acrescentou a regra 22 às já existentes 21 regras.

Notas finais VI - É quase o fim ou nem isso!

O Sábado é quase o fim. Já todos sabemos disso. Há até quem fale em levantar já a tenda, mas esse é um dos interditos do AAcampáki: os pais que vêm para a Eucaristia de Encerramento devem assistir ou participar no levantamento da tenda e das aldeias. E assim será. O dia é francamente bom. Como é bom o calor de Verão! Ciciam-me que para a semana o tempo poderá de novo ficar mau. Não faz mal, para a semana não há AAcampáki. Por isso, toca a aproveitar, sorver, respirar, saltar, bombar. A manhã foi mais uma vez ocupada em formação. As Irmãs Conceição Rodrigues e Palmira Manuela, religiosas Auxiliadoras da Caridade, de Aveiro, são pontuais na chegada e na palavra. E é com gosto que subimos para a Sala de Aulas. Vivem como um lar mais no Bairro de Santiago e foi-lhes proposto dissertar sobre ser contemplativo no bairro. E elas não se fazem rogadas. Contam-nos a vida da comunidade, do bairro, de muitas famílias do bairro, da paróquia e até como desabrochou a própria vocação. Contam-nos como as quatro Irmãs, cada manhã, manhãzinha muito cedo, antes de partirem para os respectivos trabalhos — e se algumas trabalham longe! —, se reúnem num pequeno oratório para consagrar o dia a Jesus. Contam-nos como de olhos fixos no Sacrário Lhe entregam as peripécias do dia que, inevitavelmente, as hão-de surpreender: famílias que não são famílias, famílias famílias, famílias bem onde estoira o mal, famílias rotas e problemáticas, velhos abandonados, jovens deprimidos, lixo que não devia ser lixo mas amado e recuperado. Contam-nos como oferecem o mundo por onde hão-de passar a Jesus e como sentem que os seus passos vão passando e vão sendo levados — e elas com os passos — por Jesus ao Pai! Contam-nos… Contam-nos, mas teríamos de ouvi-las um século para ouvir a voz toda dos pobres seguindo o Pobre. Contam-nos… e eu espero que o secretário de turno nos conte mais coisas que a crónica não pode aqui conter ou contar. E de tanto nos contarem, gostosamente perdemos a piscina. O almoço foi partilhado com as Irmãs e com o nosso Provincial, Frei Pedro Ferreira, que abandonou Fátima durante um breve périplo para nos vir saudar. A longa saudação já se encontra postada: não se perdeu palavra, desafio, projectos, passado ou futuro. Foi com gosto que o recebemos, o abraçamos e ouvimos. Também nos abençoou, visitou as aldeias e mandou que o Carmo Jovem seja sempre jovem. Seja, pois! Mas tem de vir confirmá-lo! Por fim também ele teve de ir-se embora, mas por nós ficava mais tempo. Mas… pronto. Foi muito agradável que tivesse tempo para nós, Carmo Jovem, os membros mais novos da família do Carmo. A tarde deveria ter sido entretida na Caça ao Tesouro. Não foi. Avisadamente não foi. O tempo tinha sido tão pouco e tão frio, que foi melhor saltar para a piscina. Saltar, sofregamente, melhor dito. Impelidamente, compelidamente, compulsivamente, desvairadamente. (E é pouco dizer!) Prescindimos duma das actividades mais interessantes e apetecíveis (e formativa!) só para petiscar o último sabor da água fresca na pele quente! Quando a noite caiu foi hora de subir ao palco. E subiram ao palco do sarau Caricadura & Caricamole do AAcampáki todos os nossos actores e actrizes, oscarizados e não, saltimbancos e trapalhões, bobos e adivinhos, stand up e fica-aí-no-saco-cama, pregoeiros e sogras, polícias, meninos de boa vontade e até um peluche! (Mas a Betinha tem de cantar no AAAcampáki! E o Tony Correia também! E o Borat não escapa, pois estava mal preparado este ano — Incrível, Borat!, nem parece teu!) Foi contudo um belo sarau, não por causa do nome mas porque os acampákis já perceberam o espírito da coisa e corresponderam belamente! Parabéns! Obrigados! Obrigados! Obrigados! E o dia acabou num belo e distendido momento de oração, favorecido pelo distendimento provocado por aquela bela página de humor que foi o Caricadura & Caricamole! Quando o Domingo amanheceu estava já tudo acordado. Estanho, men! Muito estranho! Fosse eu brasileiro e diria: — Pô, minino, que cena é essa? Mas como não sou, só posso entender que ou era pressa de regressar a casa (o que não acredito!) ou vontade de ter tudo lindo e belo (incluindo a Eucaristia) para a chegada dos pais. Isso aí, men, eu acredito! Mas ainda assim, foi tudo tão estranho! Almoçamos mais um famoso menu da Dª Fernanda Simões sem sal! Aliás, convém aqui recordar que se este ano nos esquecemos, para o ano terá um skecth só para ela: afinal de contas ela é um figurão! E haja quem se atreva ou há aqui artista, e até padeço de queda de cabelo como ela. Tenho é de arranjar uma banda! (Os Gato Fedorento que se cuidem!) Depois do almoço, que foi compartilhado pelos familiares do Elmano — Elmano, mereceste, pá! — chegaram os pais e foram muitos. Com a Eucaristia preparada foi só entrar no Santuário e celebrá-la com Deus e os amigos. A Eucaristia de Encerramento — Tem este nome, apesar de não ter havido outra! — foi um momento belamente vivido com serenidade e gosto, com Deus, os amigos e a família. E que mais podíamos pedir? Foi muito variada, muito participada e com alguns momentos surpreendentes. Foi desvelado o Espírito Caracol, que afinal estava no guião. Mas como todo o acampáki ocupou todo o tempo de leitura a ler o livro de Santa Teresa, não admira que não tenha tido tempo para ler o guião todo… Fica-me o consolo de que releiam (e rezem) muitas vezes o guião, orações e interpelações e pratiquem muito o Espírito Caracol. Quem ainda não saiba o que é — e eu sei que são muitos — , pode enviar um mail para carmojovem@gmail.com e perguntar ou inscrever-se para o AAAcampáki. Entretanto, vá treinando que os grandes resultados e conquistas são 90% de transpiração e 10% imaginação! Antes de encerrarmos a Eucaristia houve entrega de prémios. A Dª Fernanda Simões recebeu um que a levou à comoção sentida e às lágrimas sinceras— Não era preciso tanto, Nandinha! Ela prometeu partilhá-lo com a mãe e se é certo que é ela a inspiradora da filha, merece-o! Enfim, todos fomos vencedores e nem todos estávamos ali! Vivam os prémios! (Há fotos?) Houve depois a bênção! Que belo e sentido momento! ( !) No fim tragámos as delícias da Dª Fernanda para honrarmos tudo o que nos cozinhou. E… E chegou a hora amarga, a das lágrimas, aquele em que o sol se escurece e a vida parece perder sentido, aquela em que se deslaçam laços que laçam almas gémeas! As lágrimas umas foram contidas e outras não. Mas, meus meninos, para que saibam as que mais se vêem são as que mais se ocultam e reprimem! É por isso que eu digo que para o ano há AAAcampáki. Assim queira Deus! Ámen. E aqui termina o meu sempre doloroso ofício de juntar (ou separar?) letras que espelhem as emoções e gostos, sentimentos e saberes, viveres, olhares e sentires do AAcampáki. Este ruim ofício de escrevinhador, termina, é certo, e ainda bem, por pudor e respeito para com aqueles que viram, rezaram, sentiram e viveram diferente de mim. Porém, é isso mesmo o AAcampáki e Espírito Caracol. Até para o ano. Bom deserto! Obrigado pelo Amor!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Album de fotos do AAcampaki

Podes visualizar algumas das fotos do AAcampaki que realizou em Deão, Viana do Castelo entre os dias 27 de Julho e 3 de Agosto. Em actualização...

Testemunho VII - Memórias boas

Passada uma semana, trago na memória bons momentos que vivi, e trago no coração a gotinha do Carmo e todos os meus amigos AAcampáki’s. Aperta forte o peito sempre que penso nessa semana e na garganta persiste o nó que ficou desde a despedida. Se fecho os olhos consigo ver mais vivamente a face de cada membro da família com quem partilhei sorrisos incessantes, olhares penetrantes, doces palavras, gestos de conforto e de companheirismo, silêncios portadores de uma paz impossível de explicar. Consigo ouvir as palavras do mestre, e o vento que serenamente embala as folhas das árvores que se abraçam no topo do nosso santuário. Essa música de fundo é a marca da presença de Deus connosco. Ele coube na nossa tenda! Naquele momento, só Ele importa. Na escuridão da noite, Ele é a luz que quer penetrar nos nossos coraçõezinhos intimidados. Foi o meu primeiro ano no Acampáki. Tinha ouvido os testemunhos do ano anterior. Soube que era uma experiência maravilhosa, em que todos os segundos eram especiais e onde a fé se tornava mais forte. Mais do que tudo isso, descobri que foi mágico. Senti-me fascinada com tudo o que me rodeava. Esse fascínio invadiu os meus sentidos e a minha alma. Foram as diferentes emoções que tive ao longo dos dias que deram vida à saudade que me tenta vencer, porém, sei que a saudade é como uma garantia para o regresso. Deste modo, espero poder voltar novamente para o próximo ano. Já fui convocada pelo nosso amigo Noddy. Cresci e aprendi com os excelentes formadores que tão bem descreveram o seu tema, deixando um rasto de luz, com um cheirinho das suas experiências de vida e ideais para uma plena estabilidade, no nosso relacionamento, baseados no amor que o nosso Pai manifesta por nós. Adorei mergulhar depois dos saltos para a piscina, mesmo os menos esperados. Até ajudar a Nandinha na cozinha e a rotineira limpeza dos balneários foi tarefa fácil, até porque tínhamos a nossa mascote Elmano, sempre disposto a ajudar. Os saraus foram impecáveis, e o Aka? Bem, foi o culpado pelas gargalhadas descontroladas, difíceis de conter. O Karaoke foi uma bela comédia. After hours… Pura diversão! Mas os horários não podiam ser esquecidos. Tínhamos que cumprir as ordens do Sr. Lei que, com razão, sugeriu que nos deitássemos, é que no dia seguinte tínhamos connosco o provincial Frei Pedro. Ele adorou a nossa boa disposição. Somos estranhos, men! Como disse, tudo o que vivi está bem marcado no meu ser, recordar-me-ei de cada pormenor. Contudo, o que mais me marcou foi a clarminhada. É, no meu entender, o ponto mais alto deste AAcampáki. Ali, ninguém caminhava sozinho! Havia um elo de ligação que nos unia num só. Quando o cansaço tomou conta do meu corpo, a minha alma fraquejou e fiquei com medo que o elo se rompesse. A dado momento houve uma terceira mão que me amparou e que me guiou. Esse calor amigo sarou as feridas que o cansaço provocara, e fez-me acreditar que sem a força de um, não podemos continuar a caminhada. Coragem! Consegui avançar. Senti que me pegaram ao colo, agora eram outros pés que pisavam o solo. Pai, és Tu que caminhas connosco? Eu sabia que eras Tu. Agora as estrelas estavam cada vez mais perto de nós. Rezemos. Com o cajado nas mãos e com o Santo Escapulário ao peito, vi o Santuário da Mãe do Minho. Consegui! Estávamos a, sensivelmente, 800m de altitude, e tão cansados! Deitamo-nos e aconchegamo-nos nos saco-cama a contemplar o lindo céu estrelado que nos envolvia. As estrelas acompanharam-nos durante toda a longa clarminhada. Conseguimos! Noutra noite, depois de construirmos as nossas cruzes, iniciamos a Via Lucis. Rezamos e interiorizamos textos reconfortantes e rezamos o terço, enquanto caminhávamos. Entre mistérios fazia-se sentir um perfeito silêncio, ideal para rezarmos pala ordem do Carmo, pelas nossas famílias, pelos pobres e excluídos, pelas vocações, pelos defuntos, pelos jovens e pela Igreja. Sentia-me em maior harmonia com Deus, visto que, na parte da tarde celebramos a festa do perdão. Se estamos bem o tempo passa a correr. Foi o caso. Por momentos, enquanto arrumava as minhas coisas, desejei ficar mais uma semana. Viver novamente junto dos amigos e sentir a mão calorosa da ursa Teresa que sempre nos deu o maior carinho. Mas agora percebo que se assim fosse, ia ser mais dolorosa a adaptação ao "mundo exterior". Aqui fica o meu testemunho, muito mais podia ser dito, mas há certas emoções que não se explicam, apenas descobrimo-las depois de as vivermos. Obrigada meu Deus pela felicidade que tenho vivido como jovem carmelita. Obrigada caracóis, pela forte amizade e união. "Somos UM"
Ana Lúcia, 17 anos Aldeia de S. João da Cruz (Caíde de Rei)

Testemunho VI - Carta deixada aos Acampakis

Olá a todos!
Nunca tive jeito para escrever cartas, mas neste momento o que vos posso dizer é: Obrigada! Obrigada por estes dias bem passados, pelos momentos de oração e partilha, pelo silêncio, pelo apoio incondicional na difícil e aceite clarminhada. Irei lembrar-me sempre deste AAcampaki, quero voltar, quero repetir. Irei ter saudades das gafes, das brincadeiras do Diogo, das preocupações da Betinha, dos atrasos da Ana Lúcia, do trabalho de equipa do Frei João, da Verónica e do Ricardo, a todos e a cada um: mil vezes obrigada!... Lembrem-se: Alarguem o espaço da vossa tenda! Obrigada e desculpem qualquer coisa da minha parte.
Joana Borges, 16 anos
Aldeia S. João da Cruz (Caíde de Rei)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Testemunho V - AAcampaki!!!! Dois “A”s iguais mas diferentes…

AAcampaki!!!! Dois “A”s iguais mas diferentes… Um “A” de alegria, pois foi o que tentamos transmitir uns aos outros ao longo daquela semana, alegria de viver, alegria de estar com esta família, alegria de acampar, alegria da piscina e brincadeiras. O outro “A” é de aulas, aulas estas que nos enriqueceram interiormente, fizeram com que nós pensássemos mais nos outros e menos em nós, com que não julgássemos quem é inferior a nós socialmente, porque por dentro somos todos iguais, aulas que fizeram os sentimentos verem a superfície da pele. Os temas foram fortes, mas foram bons, pois ajudaram-nos a crescer, a aumentar o nosso coração para amarmos quem mais precisa de nos que por vezes são os que amamos menos. Somos uma família por isso nos ajudamos mutuamente em todas as tarefas, brincamos juntos, rimos juntos e até choramos juntos. Durante esta semana também nos libertamos interiormente, esquecendo todo o Mundo e seus problemas e concentrando-nos numa só coisa, na oração. Palavras que entraram no coração e nos mudaram. Clarminhada, Clarminhada!!! Que grande desafio… Psicologicamente enriqueceu e muito. Pois como aquela estrada assim é a nossa vida, um caminho escuro que não sabemos o que vamos encontrar daqui a 5 minutos ou a 10 minutos ou a 1 hora. Sempre com a certeza de que não faremos sozinhos o caminho da vida mas com Jesus a dar-nos a mão, a ajudar-nos a ultrapassar as dificuldades. Fisicamente foi muito cansativa pois o esforço foi muito e a preparação física era pouca. Mas com dores e gemidos lá fomos nós avançando no meio da escuridão, dos cavalos e talvez alguns lobos. Também naquela noite Jesus nos deu a mão, ajudando-nos a superar as dores com algumas massagens, confortando-nos com a oração e até que conseguimos chegar á “meta”, que era a Sua e nossa Mãe. Apesar das dores exteriores havia um “cheirinho” a vitória, pois juntos conseguimos lá chegar e mais importante ainda, cultivamos uma vez mais o sentido de inter-ajuda. Aprendemos que afinal a vida não é assim tão colorida como pensamos mas sem nunca desistir e com a ajuda dos amigos conseguimos perfurar essa escuridão e chegar a algum lado. Não paramos, foi uma semana sempre preenchida, no meio de brincadeiras, actividades, jogos, festas, chuva e algum sol, não tivemos tempo de pensar nos que estavam fora daquela vedação só nos que estavam connosco e nos ajudaram a alargar o espaço da nossa tenda. Mas com todas estas coisas também tínhamos que carregar baterias e ninguém melhor para o fazer senão a Nandinha, sempre alegre e sorridente que nos foi “abastecendo” ao longo dos dias. E como começamos a semana da melhor maneira, acolhidos pelo nosso Reizinho, acabamos igualmente bem, com as palavras do Frei João que finalmente nos esclareceu acerca do Espírito Caracol, ficando no ar a promessa de que iríamos levar esse Espírito ao longo da nossa vida. Depois do convívio entre as nossas duas famílias chegou a hora da despedida. Como todas as despedidas são difíceis, esta não fugiu á regra. Houve lágrimas que queriam sair mas não saíram, outras que saíram mas foram disfarçadas. Mas connosco e após uma semana vivida em conjunto, ficou a riqueza, a experiência, a amizade. AAcampaki positivo!!!
Stéphanie Coelho Monteiro, 16 anos
Aldeia de S. Teresinha (Avessadas)

Testemunho IV - Agradecimento

Agradeço-vos a todos, por serem meus amigos/amigas, pela vossa paciência durante esta longa semana que tive convosco. Vou estar com muitas saudades de vocês, do AACAMPAKI, dos cozinhados da D. Fernanda, de tudo. Obrigada pela vossa gentil atenção, um grande abraço do vosso amigo.
Elmano Emanuel Ramos, 15 anos
Aldeia de S. Teresinha (Aveiro)

Testemunho III - Uma semana estranha, men!

AAcampaki? Como hei-de eu explicar o que foi? É impossível escrever algo que descreva tudo aquilo que se viveu naquela semana! É impossível descrever os sentimentos que nos sobrevoavam! É impossível citar toda a alegria, entusiasmo, amizade, felicidade e gratidão que cada um de nós sentia e vivia! É obvio que só aqueles que lá estiveram, saberão dizer o que foi verdadeiramente aquela semana, apesar de ficar sempre algo por dizer e se calhar, por vezes, o mais importante... Como esperava, o AAcampaki foi do melhor, quer dizer, nunca é aquilo que nós esperamos, pois as nossas expectativas são sempre superadas, pois nunca sabemos verdadeiramente o que nos espera lá! Eu já tinha a ideia do que aquilo seria, mais ou menos, pois já era o segundo em que participava, mas certamente não seria igual ao do ano passado, nem de perto...nem de longe! Agora, após passado este segundo AAcampaki, não sei dizer se foi ou não melhor que o primeiro, mas sei dizer que em ambos fiquei a ganhar! No primeiro umas coisas, no segundo outras coisas, certamente. Ambos foram diferentes. O primeiro, é sempre o primeiro! Mas o segundo, já é o segundo!Naquela semana de AAcampaki, foram vários os pontos que me marcaram, em especial as conferâncias, em que temas bastante interessantes eram abordados por grandes formadores, que por vezes até nos deixavam com a lágrima no canto do olho; os momentos de silêncio, que no nosso dia a dia achamos impossível fazer, mas que lá nos ajudavam muito a pensar e sobretudo a saber mais sobre a vida de uma grande mulher, Santa Teresa; os momentos passados na piscina, que apesar de serem poucos, devido ao tempo não muito agradável, eram sempre os de maior alegria e diversão; os momentos de oração, incluindo a Via Lucis, que eram aqueles que nos ajudam a começar e a acabar bem os nossos dias, eram os momentos de maior proximidade com Ele; a clarminhada, que para mim foi o ponto mais alto deste AAcampaki, foi uma actividade nova, muita receada e temida, que consistia em carminhar pela noite fora, neste caso rumo à Senhora do Minho, bem lá no alto da serra, em que todos juntos conseguimos lá chegar; os trabalhos na cozinha, as refeições, o aka, o karaoke, o cinema, a after hours, foram todos bons momentos, que permanecerão sempre na minha memória e no meu coração.Os pontos sempre mais marcantes são as amizades, que se aprofundam, que se reveêm, mas especialmente aquelas que se fazem e que para sempre permanecerão!Eis algumas palavras que podem, resumidamente, descrever aquela semana:
Amizade
Alegria
Companheirismo
Ajuda
Memorável
Partilha
Abertura
Konhecimento
Interiorização
Uma semana que já mais será esquecida! Como diz o outro, foi uma semana estranha, men! Obrigado a todos que contribuiram para que esta semana assim fosse!!!
Luís Peixoto, 17 anos
Aldeia de S. João da Cruz (Caíde de Rei)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Notas Finais V - Um dia cheio de luz!

Esta Sexta despertou muito estranha e contraditória. Ameaçando sol e calor! E vieram. Pé ante pé foi o sol insinuando-se e logo depois um calor veraniego. Assim, sim. Assim dá gosto. O dia será muito intenso. As Sextas no Acampáki são sempre muito intensas. Ao fecharmos a Quinta ponderámos o que fazer durante a manhã de Sexta, pois os formadores escolhidos para o dia foram vítimas dum percalço de agenda e viram-se obrigados a faltar. Havia duas sugestões: ou dormir mais ou pôr o Frei João a falar dum assunto à sua escolha. Venceu a segunda opção, pelo que, ei-lo a falar de improviso às primeiras horas da manhã. Aquilo não foi bem uma aula, foi um falar descontraído, em família, sobre o Grande Apóstolo São Paulo. Estamos em pleno Ano Paulino que se prolongará até ao dia 28 de Junho de 2009. E foi por aí a conversa: pela sua vida, experiência mística, experiência evangélica de anunciador do Evangelho entre os gentios. O amanuense do dia registou muito interessado a conversa, mas, certamente, não há muito para dizer para além deste Fogo imenso que impeliu o Apóstolo e que em nós arde também tantas vezes de forma murcha! A conversa parou a tempo de irmos à piscina. Fazia calor e estiveramos tão privados da frescura da água, que merecíamos aproveitar. E aproveitámos. Foi uma delícia! Atrasou-se a hora do almoço? Sim, ou poucochinho. Mas que interessa a comida se estamos na piscina a saborear essa gozosa sensação de liberdade de caminhar por cima da água e dentro dela? Valeu a pena. Depois do almoço partilhado com o P. Agostinho Castro, Superior da Comunidade de Braga — obrigado pelos gelados, P. Agostinho! — descansámos um pouco e preparámo-nos para a Festa do Perdão – Confissões a que acorreram todos os acampákis e ainda colaboraram o P. Carlos Gonçalves e o Frei Manuel Dias. As confissões correram muito bem, dentro duma dinâmica parecida à do ano anterior. Mas ainda melhor, sem tempos mortos. Ao silêncio das Confissões seguiu-se a Hora de Silêncio. Claro que houve que despedir os nossos convidados, mas depois respeitou-se certeiramente todo o roteiro. Afinal, o silêncio é uma riqueza e já não custa tanto assim! Agora não há dúvidas: depois do silêncio fomos todos para a piscina — excepto a Dª Fernanda, por que não é piscineira. No Jornal de Parede vão sucedendo-se os lamentos e aproveitos: O AAcampáki está a chegar ao fim. Como se fora preciso recordar! Não é, e ainda bem que está um calor jeitoso. Por isso todos fomos parar à piscina. Não me recordo se merendamos, mas quem quer merendar e engordar quando tem fome de piscina? O jantar sem sal foi à hora certa. Nisso ninguém falha, nem a pequenina mão da cozinheira. Depois preparámos as nossas cruzes e partimos para a Via Lucis. Descemos em festa e cantorias a rua principal de Deão. O objectivo era iniciá-la na Igreja Paroquial, mas ficava lá longe. Por fim apareceram-nos umas Alminhas de Nossa Senhora do Carmo — Oh quantas singelas catedrais tem Ela espalhadas pelos caminhos e corações das gentes! Foi aí que parámos e calámos. O silêncio revelou-nos que aquele edifício era um pavilhão desportivo e que lá dentro se jogava à bola. Eles jogavam, nós rezávamos. Cada pontapé na bola era uma Ave Maria! Ó que bela Via Lucis fomos fazendo no silêncio da noite, lendo textos belos, rezando o Terço e serenando silêncio em nós, assim como a Virgem Maria calava tudo no seu coração! Ao chegarmos a casa não paramos em casa, mas no Santuário onde belamente, sob as estrelas e o murmurar das folhas dos eucaliptos nos deixámos tocar e abençoar pela mão de Deus. Não terá sido uma Transfiguração. Sim, não terá sido. Tão pouco a clarminhada o fora! Mas porquê pedi-la? Deus a dará. A iluminação nem sempre é imediata e quando o é é-o quase sempre por fogachos. O certo é que foi muito belo carminhar mais uma noite à luz das estrelas. Sim no monte vêem-se estrelas e diluem-se as árvores, as casas, os palheiros e as coisas. No monte há menos luz, por isso elevando-nos nos abrimos mais às estrelas e à Luz de Deus! Oh, como brilham as estrelas! Como são tantas as estrelas! Como caem estrelas sobre os montes puxando-nos o olhar para cima e anunciam e predizem desejos de que caiam mais, de que venha mais luz, uma inundação de luz, um lucernário como um fogo santo, inextinguível, insaciável, um banho que queime e que lave! Ficaríamos ali mais tempo, naquela escuridão iluminadora e reveladora do Santuário de Nossa Senhora do AAcampáki. Ficaríamos mais tempo ali, eu sei. Mas a Sexta é tão estranhamente especial e ainda tínhamos um after hours pela frente a que ninguém queria faltar. E ninguém faltou. Nem o Élsio nem a Glória faltaram! E que alegre ajuda foi o Élsio! Quando nos deitámos já era tarde, mas era ainda necessário saudar o Padre Provincial que nos visitaria no dia seguinte. E vai daí cada acampáki caracol enviou-lhe uma SMS surpresa. A caixa das mensagens ficou certamente inundada, mas assim ficou a saber que era bem-vindo e querido de todos e que todos desejávamos a sua presença. Eficaz! Mas, estou certo que se perguntou: — Caracol? Que isso de caracol? É certo que ainda não sabe, porque há coisas que só se sabem se se entrar pelas portas do AAcampáki. E ele amanhã há-de, finalmente, entrar.

Notas Finais IV - Uma conferência estranha

A Quarta terminou de forma inovadora. Rebobinando um pouco o dia até é bom recordar que o sempre prestável Elmano ao levantar-se às sete da tarde (Caminhamos até às 5:00 da manhã, como se lembram!) foi pôr a mesa para o pequeno almoço! — Pequeno almoço, Elmano, às oito da noite? Sim, é verdade, mas quem pode garantir que o dia não foi todo ele um pouco estranho? Terminamos o dia como todos os outros: com a Oração da Noite. (Mais uma vez fora do Santuário). Mas entre o jantar e a oração tivemos cinema ao ar livre. Foi bom ver e ouvir, isto é, ouver o filme Cars (Carros). Dispenso-me de dizer a ficha técnica, mas a escolha não foi inocente. Trata-se dum excelente mensagem para o mundo excessivamente competitivo, como é o dos nossos jovens. Um jovem e orgulhoso carro de competições acaba num retiro forçado entre duas competições e leva um oportuno banho de humildade. O banho cai fundo e tocar-lhe-á a alma ao ponto de na volta final, da folgada vitória, travar a fundo no pedal do orgulho para engrenar a lenta velocidade da solidariedade. E mais não se diz, mas recomenda-se este gracioso filme. Assim não se lhe tira a piada. A Quinta madrugou prometedora. Não será um verdadeiro dia de Verão, longe disso. Mas traz promessas de Verão. Às 10:30, recompostos e finos, recebemos no refeitório (a Sala de Aulas continua molhada) a Dª Teresa Olazábal e a Mónica, ambas vindas do Porto. A Mónica veio como dama de companhia, a Teresa para falar. O Frei João faz as apresentações, mas como nem a idade das senhoras sabe dizer limita-se a ler um interessantíssimo texto que revela as cambiantes da alma da formadora deste dia. Nós ficámos a conhecê-la pelo texto e mais nas suas palavras pausadas e sentidas que se seguirão. Falou duas horas. Mas não pareceu. Pelo meio fomos cantando para que descansasse. E bebericasse. De quando em vez a voz embargava e morria um pouco no fundo da alma, mas logo recomeçava com ânimo redobrado e chegava ao fim da história de vida em apreço. De que nos falou? Falou-nos da sua vida sossegada e do seu cristianismo d’ouro vivido entre o calor da lareira e dos escritórios silenciosos e confortáveis. Falou-nos da sua conversão. Da sua actual vida de mulher pobre pelo Evangelho. Da sua dedicação aos outros, aos doentes terminais, aos pobres, aos sem abrigo do Porto. Falou-nos da sua oração, da sua família e dos seus seguidores. Falou-nos do Porto by night, um Porto estranho, um Porto diferente, um Porto que não vem nos cartazes turísticos ou da moda, um Porto que quase só se vê à noite com óculos de amor, uma cidade de dejectos humanos que ela abraça com amor e conhece nome a nome; do escândalo que foi a sua conversão e mais ainda a sua dedicação aos que ninguém quer. Falou das dores e das dúvidas. E confirmou as falas com lágrimas e embargos na voz e silêncios em que talvez perguntasse a Alguém: — Posso contar mais esta história! Por fim recebeu duas prendas muito singelas mas devem-lhe ter sabido a beijos de bocas com dentes estragados e a Pai-nossos de mãos dadas a mãos sujíssimas, pois agradeceu com um sorriso de criança alegre o que tão modestamente lhe oferecemos. Foi ainda com um sorriso lindíssimo como um pôr de sol na praia que recebeu a nossa promessa de rezarmos todos os dias por ela. Com pena nossa não almoçou connosco, pois tem o marido doente. E lá abalou, porque a caridade começa em casa. Isto está estranho, men! A tarde foi de desporto. No Aacampáki só se conhece um: o futebol. Há também heroínas do ténis, pelo menos uma mas como férias são férias não trouxera as raquetes. Depois que os capitães de equipa botaram os pés coube ao David escolher primeiro e sairam-lhe em sorte duas raparigas na equipa. Elas jamais se encolheram no jogo, mas rezam as crónicas que sabiam mais de ténis. O resultado final foi achado por recurso a grandes penalidades, como nos grandes jogos internacionais. E venceu a equipa dos Chichiuawas, porque sagazmente deslocaram o Dumbo para a baliza que ficou obliterada em mais de três quartos do espaço e depois, quando necessário, ele voou para ir buscar as bolas mais impossíveis. O dia teve desporto e teve silêncio e leitura, porque uma coisa não impede a outra e até se favorecem mutuamente. A noite terminou com oração no Santuário depois duma bela e sentida sessão de karaoke. Finalmente rezamos novamente no Santuário, men! Este Verão está mesmo estranho!

Notas Finais III - Clarminhada

Após a ceia retemperadora de Terça chegaram notícias boas da Márcia. Lavados os pratos e os tachos, com lanternas e agasalhos subimos ao Santuário de Nossa Senhora do Acampáki. Não creio que se possa falar de serenidade. Os mais experientes estavam ansiosos: o Carmo Jovem nunca tinha feito uma clarminhada. Os mais novos não sabiam como haviam de estar, porque o carminhar ainda é muito novo para alguns. Mas o que é uma clarminhada? É uma coisa nova, é uma carminhada na noite feita na esperança clara de vencer o escuro da dúvida e da incerteza. Há tanta noite na vida de cada um (E às vezes é noite por excesso de luz informadora!) que talvez seja necessário fazer passar o breu das nossas noites pela claridade da noite de Deus que se insinua pela fé nas nossas vidas. Foi assim que entramos no Santuário de Nossa Senhora do Acampáki: dispostos a confiar-lhe a vida, dispostos a carminhar na noite com Ela em busca da Luz. Numa pequena oração (ao longo da noite suceder-se-iam outras) confiámo-nos ao seu amor de Mãe e logo mesmo antes de partir recebemos a imposição do Santo Escapulário e outros que ali não o tinham dele se revestiram. Foi assim que partimos: envolvidos pelo amor da Mãe. Não vi medo, mas garra. Não vi perrice, mas alegria. Num instante percorremos a veiga esquerda do Lima. Ao atravessarmos a Ponte de Lanheses cruzamo-nos com o Caló e a Sameiro, jovem casal do Carmo Jovem, que nos vinha visitar mas para quem tivemos pouca paciência por causa do muito que nos faltava subir. Depois da ponte aproximou-se a Márcia e o Miguel: não quiseram regressar a Aveiro sem nos saudar. E saudaram calorosamente com direito a retribuição. E continuamos a clarminhada. Era noite, por companheiros levávamos o latido insistente e surpreendido dos cães, algum suor, conversas serenas e pés para andar. Quase sem darmos conta achámo-nos na escadaria da Igreja Paroquial. Era uma da manhã. Ali nos esperava o João e a Clea com chã quente e chã frio, bolachas e bolachinhas, pão e pãezinhos, sumos e suminhos e muita vontade de nos animar a subir a clarminhada que nos propuséramos. Tragado o bocado que nos estava reservado despedimos em agradecida oração estes bons amigos e prolongamos um pouco mais a nossa, porque o osso duro de roer estava a chegar. De Meixedo a São Lourenço da Montaria o passeio é rápido. Oh que delícia tornear suavemente a montanha adormecida, sentir o cheiro fresco da terra e o perfume das vinhas. E se os sentidos se espantam com o que a terra e o céu nos dispara, não menos os cães se surpreendem ao sentir ao longe a nossa chegada. Em São Lourenço da Montaria a montanha mostra o que é. Há ali uma tão inclinada subida quanto curta. É a montanha a receber-nos e a dizer-nos que o viver da fé não é fácil. Formam-se pequeninos grupos e depois mais pequenos ainda. Ninguém clarminha só. Agora é só montanha, luzes do céu, luzes da terra ao longe, grilos por perto e em breve cavalos selvagens em grupo sonolento e surpreendidos pela presença de animais de duas patas! Subimos. Apagamos as lanternas, porque a luz da noite era suficiente. O caminho era só um. Não havia que enganar. Um pouco mais de meio da montanha vê-se bem uma imensidão de casas agrupadas por localidades e a dormir. Ao longe o mar, o mar de Viana do Castelo e talvez mais além o da Póvoa. E acolá que será, Santo Tirso? Talvez não, mas era longe e alto monte! Parámos. Bebemos água. Contámos os pés e dividimos por dois: estávamos todos! Silêncio. O mundo dorme. Ou pelo menos meio mundo dorme. Ali em baixo concerteza que quase tudo dorme. Mas nós éramos ali vigias na noite. Sentinelas atentas e discretas. E rezamos o Terço pelos que dormem. E há tantas maneiras de dormir! Dali para cima não havia vegetação. E não havia como enganar. Era só subir até ao regaço da Mãe do Minho. Subimos aos pares e em oração. Lá em baixo vem o nevoeiro a subir. Em mim morre a esperança de ver nascer um dia claro, mas jamais morrem a ideia de clarminhar até à Mãe e de descansar sob o seu olhar. Quando cheguei ao Santuário já outros tinham chegado. E outros faltavam chegar. Estava tudo cansado e com frio e o nevoeiro a chegar com um ventre cheio dele. Eram 5:00 horas da matina! Alguns abriram os saco-cama e meteram-se neles. E depois todos. Deitámo-nos sob o pórtico do Santuário recentemente dedicado à Senhora do Minho. Entretanto, aproxima-se uma vaca cuidadosa e alguém tira a cabeça fora do saco-cama e assusta-se com o bicho e o bicho com a cabeça assustada. Depois vem um cavalo (no original, um asno). Disse-lhes que eram poucos para um presépio tão grande. Que fossem à vida. Cá nos arranjaríamos. É certo que as palhas eram de pedra dura, mas os sacos valer-nos-iam. E o calor da Mãe também. Afinal valem mais três horas sob o pórtico frio do Santuário, que mil anos nas tendas aquecidas dos injustos. Às 8:00 começou o regresso. Esperava-nos um banho reconfortante e o chão fofo das tendas do AAcampáki. As restantes horas do dia serão como que uma longa e sonolenta lengalenga.