quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Notas Finais IV - Uma conferência estranha

A Quarta terminou de forma inovadora. Rebobinando um pouco o dia até é bom recordar que o sempre prestável Elmano ao levantar-se às sete da tarde (Caminhamos até às 5:00 da manhã, como se lembram!) foi pôr a mesa para o pequeno almoço! — Pequeno almoço, Elmano, às oito da noite? Sim, é verdade, mas quem pode garantir que o dia não foi todo ele um pouco estranho? Terminamos o dia como todos os outros: com a Oração da Noite. (Mais uma vez fora do Santuário). Mas entre o jantar e a oração tivemos cinema ao ar livre. Foi bom ver e ouvir, isto é, ouver o filme Cars (Carros). Dispenso-me de dizer a ficha técnica, mas a escolha não foi inocente. Trata-se dum excelente mensagem para o mundo excessivamente competitivo, como é o dos nossos jovens. Um jovem e orgulhoso carro de competições acaba num retiro forçado entre duas competições e leva um oportuno banho de humildade. O banho cai fundo e tocar-lhe-á a alma ao ponto de na volta final, da folgada vitória, travar a fundo no pedal do orgulho para engrenar a lenta velocidade da solidariedade. E mais não se diz, mas recomenda-se este gracioso filme. Assim não se lhe tira a piada. A Quinta madrugou prometedora. Não será um verdadeiro dia de Verão, longe disso. Mas traz promessas de Verão. Às 10:30, recompostos e finos, recebemos no refeitório (a Sala de Aulas continua molhada) a Dª Teresa Olazábal e a Mónica, ambas vindas do Porto. A Mónica veio como dama de companhia, a Teresa para falar. O Frei João faz as apresentações, mas como nem a idade das senhoras sabe dizer limita-se a ler um interessantíssimo texto que revela as cambiantes da alma da formadora deste dia. Nós ficámos a conhecê-la pelo texto e mais nas suas palavras pausadas e sentidas que se seguirão. Falou duas horas. Mas não pareceu. Pelo meio fomos cantando para que descansasse. E bebericasse. De quando em vez a voz embargava e morria um pouco no fundo da alma, mas logo recomeçava com ânimo redobrado e chegava ao fim da história de vida em apreço. De que nos falou? Falou-nos da sua vida sossegada e do seu cristianismo d’ouro vivido entre o calor da lareira e dos escritórios silenciosos e confortáveis. Falou-nos da sua conversão. Da sua actual vida de mulher pobre pelo Evangelho. Da sua dedicação aos outros, aos doentes terminais, aos pobres, aos sem abrigo do Porto. Falou-nos da sua oração, da sua família e dos seus seguidores. Falou-nos do Porto by night, um Porto estranho, um Porto diferente, um Porto que não vem nos cartazes turísticos ou da moda, um Porto que quase só se vê à noite com óculos de amor, uma cidade de dejectos humanos que ela abraça com amor e conhece nome a nome; do escândalo que foi a sua conversão e mais ainda a sua dedicação aos que ninguém quer. Falou das dores e das dúvidas. E confirmou as falas com lágrimas e embargos na voz e silêncios em que talvez perguntasse a Alguém: — Posso contar mais esta história! Por fim recebeu duas prendas muito singelas mas devem-lhe ter sabido a beijos de bocas com dentes estragados e a Pai-nossos de mãos dadas a mãos sujíssimas, pois agradeceu com um sorriso de criança alegre o que tão modestamente lhe oferecemos. Foi ainda com um sorriso lindíssimo como um pôr de sol na praia que recebeu a nossa promessa de rezarmos todos os dias por ela. Com pena nossa não almoçou connosco, pois tem o marido doente. E lá abalou, porque a caridade começa em casa. Isto está estranho, men! A tarde foi de desporto. No Aacampáki só se conhece um: o futebol. Há também heroínas do ténis, pelo menos uma mas como férias são férias não trouxera as raquetes. Depois que os capitães de equipa botaram os pés coube ao David escolher primeiro e sairam-lhe em sorte duas raparigas na equipa. Elas jamais se encolheram no jogo, mas rezam as crónicas que sabiam mais de ténis. O resultado final foi achado por recurso a grandes penalidades, como nos grandes jogos internacionais. E venceu a equipa dos Chichiuawas, porque sagazmente deslocaram o Dumbo para a baliza que ficou obliterada em mais de três quartos do espaço e depois, quando necessário, ele voou para ir buscar as bolas mais impossíveis. O dia teve desporto e teve silêncio e leitura, porque uma coisa não impede a outra e até se favorecem mutuamente. A noite terminou com oração no Santuário depois duma bela e sentida sessão de karaoke. Finalmente rezamos novamente no Santuário, men! Este Verão está mesmo estranho!