segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Sempre jovem, Carmo jovem!

1. Caros Jovens Carmelitas,
saúdo-vos por esta vossa actividade e como esta iniciativa é uma iniciativa proposta pela Ordem, senti-me na obrigação de responder ao vosso convite. Nós como Ordem Carmelita não temos uma tradição muito forte ao nível do laicado; ou seja, nós historicamente não temos investido muito nos leigos, praticamente têm sido os leigos que se aproximam de nós e à sua maneira tem apanhado o trilho para si. Seguem a nossa espiritualidade e à sua maneira tem procurado viver a sua vida cristã com o espírito carmelita. Isto sem ignorarmos a existência da Ordem, ou a extensão da Ordem ao mundo laical, chamada Ordem Terceira.

2. De facto, o Carmo começou por ser uma Ordem de varões — os primeiros eremitas do Monte Carmelo; depois juntaram-se mais tarde as mulheres — e temos a Segunda Ordem, as Carmelitas de Clausura; mais tarde ainda vieram os leigos. Esta é a ordem natural das coisas e praticamente todas as Ordens Religiosas tiveram este processo, porque um carisma é um dom de Deus dado ao Homem, homem e mulher. Quando esse dom começa por ser dado a um homem, logo se comunica naturalmente a uma mulher e no nosso caso é curioso que a Reforma começou numa mulher, Santa Teresa de Jesus. Foi ela que iniciou a reforma da Ordem que deu origem a outra Ordem, porque a primitiva era a Ordem do Carmo, depois surgiu a Ordem do Carmo Descalço. Neste caso, a fundadora foi uma mulher que considerou que sem a reforma dos padres seria difícil que aquela sua iniciativa fosse avante e logo se preocupou em agregar a si São João da Cruz. Ele foi o primeiro que ela encontrou e daí nasceu a reforma dos frades. Esta reforma naturalmente estendeu-se aos leigos e hoje temos leigos da ordem do Carmo antiga, aquela do Beato Nuno — São Nuno daqui a algum tempo; e também o laicado da Ordem do Carmo Descalço.

3. Portanto, nós terminamos por ter uma relação forte no mundo laical, embora nós, os frades e as freiras, não tenhamos uma tradição de caminhar com os leigos como têm outras famílias religiosas.

4. Nos últimos anos, até pela escassez das vocações de consagração religiosa — mas não é só por isso; e pela consciência que temos da nossa missão na Igreja, abrimo-nos a esta colaboração com os leigos e criamos iniciativas para vós. O Acampáki é uma actividade que de vai respondendo a esta necessidade de nos abrirmos aos jovens leigos, para lhes oferecermos a nossa espiritualidade, afim de que eles se enriqueçam com aquilo que é a nossa herança. Bom, isto, diria, é a minha introdução. Vamos ao assunto.

5. O assunto é a nossa preocupação. É que o Acampáki é uma actividade nossa, e se o Acampáki não resultar — e pode não resultar —, por dois factores: ou porque nós não a sabemos apresentar e portanto ela não tem interesse junto dos leigos, e pode terminar por aí; ou ela pode ter interesse: pode ser uma árvore muito bonita, faz-se uma festa para plantar a árvore, mas depois a árvore não é regada, não é cuidada e termina por morrer. E então quem fez aquela festa da plantação da árvore, ao ver a árvore morta não tem coragem para plantar outra árvore e fazer outra festa, com o medo de ser mais uma árvore morta.

6. Bom, perceberam o que nós… a minha ideia. Estas actividades do Carmo Jovem são uma responsabilidade para nós, daí a atenção que eu dediquei em vir aqui… Este tempo faz-me falta para outras coisas e prejudicou outras actividades, mas considero o Acampáki como prioridade, por conseguinte vim cá. Mas também do vosso ponto de vista isto deve ser uma responsabilidade porque se esta actividade que para todos os efeitos é uma plantazinha, é a vossa vida, se isto não for acarinhado, se esta experiência que fizestes não for levada para a vossa vida, ela pode morrer. E todas as mortes são dolorosas no coração. Daí o apelo que vos deixo a que acarinheis esta actividade que fizestes, para não pensardes nela ou não a terdes como uma coisa que passou, um acontecimento sem sentido, como tantas coisas que acontecem na nossa vida, mas como um acontecimento importante que projectou luz na nossa existência, deu rumo, encontrámos amigos. E os amigos são um tesouro na nossa vida, nunca são demais, e quanto mais variadas, quanto mais distantes geograficamente, quanto mais diferentes culturalmente, ideologicamente as amizades se situam muito mais valor acrescentam à nossa vida.

7. Eu convidava-vos a serdes responsáveis com estas actividades a acarinhá-las, promovê-las, a agarrá-las e a manterdes isto pela vida fora. O que é que acontece? Com tristeza nós verificamos que as actividades que nós temos vindo a fazer com os leigos, com os jovens, de há alguns anos para cá, essas actividades têm vindo a morrer. E o Carmo Jovem tem já uma experiência histórica negativa, porque tem vindo a morrer e a ressuscitar; quer dizer, morre e ressuscita, acabam uns jovens e vêm outros e depois vão indo e vão vindo e não tem havido uma continuidade e isto é mal. A falta de continuidade não ajuda. Ou seja, os jovens são Carmo Jovem, mas depois há uma idade em que os jovens já não são tão jovens: casam-se, têm filhos, crescem e eu pergunto: onde se encontram esses jovens? Alguns já têm agora 40 anos, daqui a pouco 50: Mas onde estão, por onde andam? Ainda serão Carmo, como agora são Carmo Jovem? Esta falta de continuidade é mal. É mal porque desanimamos: afinal temos trabalho em começar grupos de jovens e depois eles vão à sua vida! É como na família casam-se e desaparecem, quer dizer… então os pais, não contam, não se conhecem? E depois é ainda mal para as próprias pessoas porque cria um certo desencanto: afinal não vale a pena investir nos grupos porque eles desfazem-se e não se investe no grupo. E é importante investir no grupo, até porque hoje a sociedade vive de grupos e quanto mais forte for o grupo maior é a capacidade de êxito do próprio grupo.

8. Há dias o Padre Carlo, italiano, que trata do nosso site da Ordem e que também trabalha no Vaticano, veio a Fátima com um casal. Foi um fim de semana interessante. Que casal era aquele? Ele já tem netos, devem ter 60 e tal anos. Já têm netos crescidos. Quando eles eram namorados quem os animou para o casamento foi um Carmelita e digamos em atenção a esse Carmelita que os incentivou a casar, eles deram-lhe o primeiro nome do filho: António! E depois em atenção a uma santa carmelita baptizaram uma filha com o seu nome. Eles têm meia dúzia de filhos e todos os filhos têm nomes relacionado com o Carmelo. São Carmelitas para tudo. E eu perguntei: na sua paróquia há Carmelitas? Eles disseram que não, que eram os únicos Carmelitas na paróquia. Assumiram responsabilidades pastorais, mas como um lar com identidade carmelita: são filhos de escola carmelita… São uma família autenticamente carmelita, conotada com o Carmelo. O senhor estava em nossa casa e dizia: «sinto-me em minha casa!».

9. Isto é bonito de ouvir. Mas esta identidade não se constrói de um dia para o outro: é uma vida! Vidas assim são um estímulo muito grande para nós, porque o Carmelo é das ordens religiosas mais ricas espiritualmente, é a que tem mais doutores da modernidade e outros estão a caminho! Eles são uma rica espiritualidade cristã para o mundo de hoje, pela exploração que fazem — por exemplo, São João da Cruz é o especialista da noite, da noite do espírito, que hoje é um grande drama da Humanidade, porque nós estamos a atravessar uma longa noite, noite escura e vem aí uma noite tremenda que é a noite da fé, da descrença. Hoje está-se a banir da sociedade a crença. Há toda uma estratégia maçónica ou não sei bem como interessada em banir a fé e as manifestações de fé da sociedade, se estivermos atentos escutamos denúncias nesse sentido. Tudo o que é fé, tudo o que é crença, deve ser ocultado. A sociedade está como que zelosa por ser ela própria sem Deus. Isto é uma noite tremenda, uma noite muito escura! E essa noite escura é iluminada pela espiritualidade de São João da Cruz e pela espiritualidade de Edith Stein, que esta aí à porta como Doutora da Igreja. Num tempo em que os Judeus, eram todos eliminados e ela esteve nessa lista e também foi eliminada, ela tem uma doutrina preciosa para a Humanidade do nosso tempo.

10. A espiritualidade carmelita tem grande interesse para o presente e para o futuro na orientação da Humanidade no prisma da perspectiva da orientação, da luz que vem de Deus, aquela luz que os Magos viram e os demais não viram nada porque não sabiam ler as estrelas. Os Magos sabiam ler as estrelas e nós temos que saber ler os acontecimentos.

11. E nós não estamos aqui a dizer aos leigos que vivem no mundo: vão para freira ou para frades! Não! Dizemos: sejam cristãos, sejam casais, sejam solteiros, o que a vossa consciência vos ditar, se quiserem ir para religiosas podem ir, se quiserem ir para frades podem ir! Sejam muito felizes, mas onde estiverdes que sejais cristãos, porque o cristão é o sal que dá sabor, o cristão é a luz que ilumina e esse sabor e essa luz vêm do Evangelho e o Carmelo é uma vinha onde isto tudo se cultiva. Eu fazia votos para que nunca deixassem murchar esta plantazinha do Carmo Jovem, que esse caracolzinho cresça, que vá devagarinho, mas vá sempre atento. Muito bem.

12. (Palmas, segundos de silêncio e continua…)


13. É… vocês não parem, não parem nisto, de facto é uma pena, já existe aí alguma coisa do antigo Carmo jovem, tentativa de… mas há poucos… era necessário relacionar a parte teórica da espiritualidade, do pensamento, aterrar estas ideias para que elas cresçam e produzam fruto, isto pode acontecer; este produzir fruto pode ser na vida paroquial, numa fábrica, onde estiverdes aí deveríeis fazer crescer e provocar, ou seja: deveriam olhar para vós e perguntar: este indivíduo que procede assim porque é que procede assim? Nós devemos ser provocadores. Nós também perguntamos, o que é que esta comida tem para que esteja tão saborosa? Porque é que esta pessoa procede assim? E a resposta não tem porque ser imediata, nós até podemos esconder, os antigos cristãos tinham o arcano, um segredo, e não diziam imediatamente o que eram, por que isso é uma provocação às pessoas, as pessoas têm que aprofundar. Provocar as pessoas pela nossa forma de viver, de modo a que elas se interroguem e investiguem, porque assim investigam mais. Porque é que as pessoas têm este comportamento e este brio profissional?, por que tem esta caridade, esta amizade?, por que têm esta atenção: visitar os doentes, os pobres, atender as pessoas, não pensar só em si?

14. Para proceder assim é necessário uma riqueza espiritual muito grande. E o Carmelo permite essa experiência de união com Deus que leva à procura dos irmãos e quando nós vamos à procura dos irmãos aí é que provocamos! Por que vem esta pessoa à procura dos irmãos? Por que se interessa pelos demais: é porque é cristã? Mas os cristãos são assim? É por que é Carmelita? Aqui está a ponte! O Carmelo é o lugar onde as pessoas se encontram com Deus, é o lugar onde se se enriquece e donde se é enviado. O Carmelo é o lugar à volta do qual nós vivemos mas onde não se deve parar! Tu deves ter a preocupação por alargar o Carmelo por onde andares.

15. Gostaria que vocês aproveitassem toda a riqueza do Carmelo. Que nunca parassem com o Carmo Jovem seja qual for a vossa profissão futura! De facto esse é o eco que nós temos das pessoas que procuram na espiritualidade do Carmelo o alimento espiritual para durante o ano. E é curioso que quanto maior é o nível cultural maior é o interesse pela espiritualidade carmelita. A espiritualidade carmelita é quase uma espiritualidade de élites, é quase… Corre o risco de não ser entendida pelas pessoas simples, talvez porque não leiam. A nossa espiritualidade tem outra vertente: a da devoção mariana, a devoção popular do Escapulário; mas digamos, como arte de viver são mais as classes médias e superiores que se encontram no Carmelo. Gostaria que para o próximo ano estas caras se mantivessem por aqui, que os casais crescessem em número. Era muito bom sinal, era sinal que se mantinham nisto, porque cada um que se casa trás o outro. Faço votos para que de futuro este número que hoje aqui se encontra duplique. Eles tragam elas e elas tragam eles, depois em vez de um Acampáki faz-se uma dúzia de Acampalás…. Muito bem…

16. (Entrega das lembranças ao Padre Provincial juntamente com o Guião do Acampáki.)

17. Por acaso eu aprecio muito estes livrinhos, porque dizem da seriedade com que estas coisas são feitas. Eu não sou indiferente a isto. Não é pelo livro, porque nós livros temos muitos: é porque há muitas actividades improvisadas e as actividades que o Carmo Jovem promove são actividades preparadas. Isto é muito importante, porque sem isto vocês andavam um pouco às aranhas. Eu sou apologista dos guiões, etc., porque são instrumentos de trabalho.

18. Os meus parabéns! Vocês são pessoas que sabem trabalhar. Eu sei o que isso custa… e este está muito bem feito. Vocês são especialistas nestas coisas!

19. Acampákis! Sempre jovem, Carmo jovem!

P. Pedro L. Ferreira,
Provincial ocd