quinta-feira, 5 de março de 2009

A INCOMPARÁVEL PACIÊNCIA DE PROCURAR O ALTO - O LUGAR DO JOVEM NA IGREJA CATÓLICA E NA SOCIEDADE CIVIL - II

3. A juventude A imagem que se tem da juventude é de um grupo que se impõe pelo incumprimento e pelo desrespeito. Os jovens são aqueles que vão contra o imposto, muitas vezes, segundo a opinião dos mais velhos, passando por cima de valores que até então pareciam tidos como certos. Certo é que a juventude é uma fase curta (em termos cronológicos) das nossas vidas e que por isso deve ser valorizada e é sempre significativa. Nesta fase as experiências devem ser marcantes e construtoras de sentido. Actualmente: seremos, de facto, um grupo que perdeu os valores e que se deixa guiar como alguém que não tem rumo? Perdemos os valores que vinham dos nossos antepassados? Vivemos a angústia de não saber para onde caminhamos e como o fazemos? Perante este cenário onde se encaixam os jovens católicos? Qual a atitude: lutar, empenhar-se ou resignar-se? 4. O lugar do jovem na Igreja Católica 4.1. Situação actual; desafios e anseios Deus é a nossa mulher-a-dias que nos dá prendas que deitamos fora como a fé porque achamos que é pirosa
Adília Lopes
Globalmente, julgo que podemos afirmar que os jovens sabem que têm lugar na Igreja, uma vez que todos são recebidos nela e há lugar para eles. Também sabemos que, actualmente, muitos não querem a Igreja. A questão que se levanta é porque não a querem? Ser religioso e mais ser católico é algo que não está na moda, que não dá gozo imediato. O religioso é, portanto, olhado de lado. Para além disto, parece-me que os jovens estão cansados da rotina, da repetição, de saberem (ou julgarem) que sempre virá mais do mesmo (muitos que frequentaram a Igreja deixaram de o fazer, mesmo sendo de famílias católicas). Para além destes aspectos, destacaria a moral sexual como algo que, não sendo cumprido por muitos católicos, continua a ser uma das “bandeiras” pela qual os jovens afirmam afastar-se. Quanto aos jovens católicos, julgo que é preciso não esquecermos que não basta dizer que são amados, é necessário que os jovens sintam esse amor. Os documentos oficiais apontam para a importância dos jovens, mas depois nas dioceses e na vida paroquial, os jovens não são tidos como uma voz importante, ainda que sejam obviamente inexperientes. Na verdade, não podemos de deixar de considerar que o modelo apresentado sofre de algum desgaste. Perante todas as mudanças que sofre o mundo é imperativo que a Igreja seja capaz de fazer uma leitura profética dos tempos e acompanhe este processo. Estão também cansados das “lições moralistas” que saem da catequese e das homilias. A liturgia é, pois, um dos campos a necessitar de maior capacidade de resposta às necessidades actuais. As celebrações são rotineiras, sem capacidade de surpreender, sem provocar emoção. Para além disto, não temos capacidade de fazer uma releitura diferente dos textos bíblicos e o cântico é pobre e distante da linguagem juvenil. Depois, há a questão do acompanhamento dos jovens. Continuamos, como Igreja, a valorizar quase só a catequese de iniciação e de adolescência, o que leva a que após o Crisma (diploma da catequese?), os jovens (salvo dignas excepções) sejam deixados sem acompanhamento. A formação dos jovens termina e passam de adolescentes a adultos na fé (seres autónomos e sem necessidade de acompanhamento). Parece-me necessário que exista um acompanhamento efectivo dos jovens, seja ao nível dos secretariados diocesanos da juventude seja a nível paroquial, dando uma formação séria e coerente aos jovens interessados. Não podemos continuar a ter uma fé de “hipermercado”. Temos de promover nos jovens uma fé intelectualmente honesta (e não uma fé cega), que promova uma adesão de coração. No meio de tudo isto será possível pedir a colaboração dos jovens se só se lhes pede adaptação ao que já existe sem procurar receber o que trazem de bom, sem aproveitar a sua alegria, a sua esperança e o seu dinamismo? É, neste momento portanto, imperativo que haja na Igreja abertura de mentalidade. E esta abertura tem de ser de todos: desde os bispos, aos padres, aos leigos e, claro, aos próprios jovens. Não podemos esquecer que a Igreja não é a hierarquia (bispos e padres), mas também são os leigos e, portanto, os jovens. Não se trata, no entanto, de inventar um novo modelo. A Tradição não pode, obviamente, ser esquecida ou julgada incompetente. Há, antes, a necessidade de renovar, bebendo continuamente na fonte (não esquecendo que a fonte primeira são os Evangelhos e a Sagrada Escritura). Aos jovens pede-se, desde logo, que tragam à Igreja o dinamismo que lhes é inerente. Sem os jovens a sociedade e, consequentemente, a Igreja seriam muito pacíficas, mas esta paz estaria marcada pela morte, já que não haveria também o crescimento e as mudanças necessárias. A igreja e o mundo precisa que os jovens clamem a sua fé, mas os jovens precisam que os cristãos mais velhos os apoiem, confortem, ensinem e incentivem. É urgente desde logo que a Igreja busque, de facto, novas linguagens. Mas não basta afirmá-lo, é necessário, fazê-lo efectivamente. De facto, notámos que houve investimento desde há algum tempo em actividades de intensidade emocional, porque estas se tornam significativas para os jovens e são este tipo de actividades que marcam e os acompanham ao longo da vida de forma especial. São exemplos disto que afirmo, as Jornadas da Juventude e as peregrinações a Taizé. Outro aspecto que considero relevante é o dever de promovermos um maior diálogo com as artes. A Igreja não pode continuar arredada da proximidade com as artes. Não pode continuar a ter desconfiança em relação à arte e aos artistas, que são os grandes produtores de ideias. Não podemos continuar a ter igrejas e esculturas que não primam pela beleza. Porque repetimos as imagens até ao limite e não procuramos novas formas de comunicar? Há ainda a acrescentar a relação de proximidade que os jovens têm com a arte. A música, o teatro, a pintura, a literatura têm com muitos jovens uma relação muito contígua. A arte não é inútil, transporta-nos para outra dimensão, coloca-nos perante o escândalo, a provação e o abismo. A arte, um pouco como os místicos, leva a um arrebatamento. A experiencia estética torna-se uma experiência-limite, e a beleza entra pelos sentidos. Em relação à arte gostaria de referir um caso actual: Tiago Guillul, que é músico e também pastor baptista na Igreja de São Domingos de Benfica (religião e panque roque é o lema do seu blogue). Na verdade, editou um álbum que não deixa de ser de índole religiosa e que obteve ecos em muita comunicação social e em muitos artistas. A música pode ser uma das artes a explorar mais como forma de comunicação com os jovens e como forma de evangelização. Há ainda outros campos onde o papel dos jovens pode e deve ser valorizado. Enumero alguns deles: o voluntariado, os grupos de jovens, os grupos católicos universitários, entre outros.