sexta-feira, 23 de março de 2007

AUSÊNCIA QUE NOS UNE

«Parece começar finalmente esse ballet de Primavera.
Os dias acordam de um pulo.
As flores já se advinham nas árvores molhadas

e quase consigo ver os frutos que se vão
Pintando de sol.
De Ti sabemos pouco.
És o silêncio, o sem rosto, a não evidência,
a “ausência que nos une”.
Mas és também Tu nas quedas do Outono
e nas mortes dos Invernos.
És Tu a quem procuramos nos gestos claros
e públicos e naqueles que tecemos apenas na intimidade.
É por Ti a eternidade, Senhor.
Procuramos-te como a semente que na terra
escura empurra o seu rebanho para o pôr-do-sol.
E sei que também as coisas gritam por Ti.
(As vezes consigo ouvi-las.)
Assim, entrelaçamos todos uns nos outros como
raízes de uma arvore intemporal,
procuramos-Te no erguer largo dos troncos do esforço
de cada dia e respiramos-te nas brisas verdes desta imensa floresta.
Que nunca morram, Senhor, nem de pé
morram, as nossas árvores, que nunca se apaguem em nós
esta consciência de floresta Humana por Ti amorosamente tecida.»