quarta-feira, 16 de junho de 2010

IV PERIGRI - Testemunho II



Olá Carmo Jovem, esta IV Peregri foi para mim a primeira, a primeira Peregri e a primeira peregrinação a pé. E desde já vos posso dizer que quero repetir a experiência, quero voltar a viver em comunidade “religiosa nómada”, porque no fundo foi isso que fizemos durante o tempo de peregrinação.
É certo que nenhum se consagrou devidamente a Deus (excepto os Freis João e Marco), mas o coração, esse sim foi consagrado ao Senhor durante este tempo de peregrinação. Consagrámos o nosso coração a Deus da seguinte forma: a carminhar para Ele, levando-O a tiracolo, deixando que Ele nos carregasse ao colo nos momentos mais difíceis e amando próximo como a nós mesmos.
Fazer uma peregrinação assim não custa, porque quando me sentia mais em baixo, havia sempre um bom cireneu pronto para me ajudar a levar a minha cruz. Por isso posso dizer que agradeço ao Senhor as minhas bolhas e as minhas dores porque assim, no sofrimento, fiz grandes amizades que me irão acompanhar por todo o sempre. Estou certo que Ele me deu essas amizades de bom grado e que não me irá tirá-las, porque as pôs no meu caminho como quem põe almofadas no caminho do amado para que ele não magoe os pés. Com tantos carinhos que Ele me proporcionou, nunca tive a tentação de desistir nesta peregri. Tenho como certo que a Mãe muito intercedeu por mim junto do Senhor.
A espiga, que me foi entregue e da qual fui encarregue de fazer chegar ao santuário de Fátima, para mim foi símbolo daquilo que Deus vai fazendo na vida de cada um de nós, isto é, a minha espiga chegou ao Santuário sem uma parte do caule e com outra quase a soltar-se. Digo que a espiga foi símbolo da obra de Deus em cada um nós porque Ele vai retirando em cada um o que está a mais e vai-nos moldando para que alcancemos o tamanho e a forma certos para entrar no Seu reino. Por outro lado, posso dizer que a espiga era símbolo da cruz que carreguei durante a peregrinação, o cajado é um sinal mais evidente dessa cruz pelo seu peso, mas a espiga que esteve encarregue a mim todo o tempo era mais simbólica desse peso que todos aceitámos carregar ao seguir a Cristo.
A vontade de largar a preocupação da espiga surgiu, tal como na vida nos surge a tentação de largar a cruz, para mim não passou de uma tentação, de facto larguei a minha espiga e coloquei-a durante uma parte do percurso na carrinha, mas depressa me apercebi que era eu quem tinha que levar a cruz e não tornar a cruz do meu próximo ainda mais pesada. O bom cireneu nunca se recusou em socorrer-me e em transportar a cruz por mim.
Por falar em bom cireneu, foi muito bom ver como a cruz de cada um se ia tornando cada vez mais leve à medida que nos íamos conhecendo e entrando em comunhão cada vez mais perfeita. Posso dizer que durante a peregrinação nos fomos tornando uma família bastante unida em que cada um respeitava o seu próximo e sabia quando é que devia ajudá-lo a suportar a sua cruz.
Por vezes, pergunto-me: porque é que será que não olhámos mais para o Evangelho e não tomámos a Cristo por exemplo de imitação obrigatória? A Palavra de Deus é um manual de vida em Amor, como é possível haja tanta gente que ainda não percebeu? O “Frei Bolhas” dizia na homilia da Eucaristia de quinta-feira de Corpo de Deus, que o Pão e o Vinho são um excelente exemplo da verdadeira comunhão, a cada um, como grão ou como uva que era, foi sendo retirado o farelo ou o cangaço, para poder chegar ao Pão e ao Vinho que tanto delicia ao Senhor, ou seja cada um como unidade passa por grandes sofrimentos e transformações para poder chegar ao amor verdadeiro, que se encontra na verdadeira comunhão com Cristo e com todo o povo de Deus. O caminho foi feito de obstáculos que cada um foi transpondo ao seu ritmo, e todos perceberam que a alegria vem depois da cruz, sem o sofrimento nunca conseguiríamos dar valor à verdadeira felicidade. No entanto, posso dizer que fui muito feliz enquanto transportava a minha cruz. Por isso digo que a alegria também está no caminho, basta olhar para ela com olhos de ver.
Na primeira etapa do caminho cada um de nós pode transportar Cristo consigo e falar com Ele, neste tempo muito Lhe pedi e muito Ele me deu, do leque de graças que Ele me concedeu posso dizer que me deu a entender que não era eu que o carregava mas sim Ele que me levava ao colo.
No impulso do agora podemos muito bem deixar-nos tomar pela tristeza, mas não nos esqueçamos que Ele ressuscitou três dias após a morte, morte que ofereceu ao Pai em troca da nossa absolvição, por isso alegremo-nos mesmo que Cristo ainda não tenha ressuscitado na nossa vida, Ele prometeu que iria ressuscitar para salvar o mundo (“descida da cruz”).

João Carlos
Rosém