quarta-feira, 7 de maio de 2008
CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA (II)
Dia 1 - 1 de Maio
Que palavras são essas que trocais entre vós?
À hora em ponto uns suaves tun-tuns nas portas dos quartos recordavam-nos que estávamos na hora certa para erguer o esqueleto. Os mais ansiosos levantaram-se logo, os mais acomodados deram ainda volta e meia no saco-cama. Mas não havia nada a fazer. Começara a marcha! Já nada a podia deter! Observado o tempo com olho de áugure logo deu para entender que nem o tempo nos deteria.
Arrumamos os quartos, enfiamos os sacos, limpamos as migalhas do pequeno-almoço. E reunimo-nos de novo na Sala dos Claustros para a Oração de bênção do Peregrino. Logo depois com a voz embargada e com os pés decididos fomos para a estrada.
Alguns amigos despediram-se de nós.
Saímos mais cedo uma hora que no ano passado. E ainda assim encontrámos alguns conhecidos que, despertos, nos saudaram:
- Aonde vão?
- Vamos para Fátima!
– Então, que Deus vos acompanhe.
E seguimos. E parámos. Tínhamos criado para esta peregrinação uma actividade nova. Chamava-se Pistas. As Pistas são um despertar para algum pormenor do caminho ou do dia. São uma tentativa de sublinhar algum aspecto a ter em conta. São uma catequese, uma formação ou oração. Enfim, um plus daquele dia. As Pistas do primeiro dia tinham a ver com o tema desse dia: «Que palavras são essas que trocais entre vós?». Ou seja, urgia trocar palavras entre nós. Sobretudo com os menos conhecidos de nós. Dizer e compartilhar as palavras e sentimentos que nos aqueciam (ou arrefeciam) o coração. Palavras que Ele, caminhante connosco, pudesse escutar, acalentar, reforçar. Ouve, assim, ao longo de toda a manhã e de quase toda a tarde um longo momento de parlapiê cheio de alegria e de diálogo.
Em Vagos voltamos a parar no mesmo jardim da mesma capela fechada. Aterrámos nos bancos do jardim, bebemos água e uma maçã ou doce, ou ambos, e levantámos o esqueleto. Levantámos, quer dizer, queríamos levantar. Que terrível é levantar o esqueleto quando ele se espalmarra daquela maneira. E o mais difícil é pensar ou aceitar que os poucos quilómetros andados são pouco mais que o aquecimento, pouco mais que o início da peregrinação! E cai-nos no coração um pensamento em forma de pingo de chumbo negro: será que vai ser sempre assim? Será que terei de sofrer tudo isto outra vez?
E por cima de nós paira um ameaço negro de chuva portentosa.
Continuamos o caminho. Não há tempo a perder. Não há tempo para ter medo da chuva. Continuamos no parlapiê, agora com outros amigos porque o reajuntamento permitiu, entretanto, trocar de parceiros de caminho.
Ao fim da manhã chegamos a Santo André de Vagos, ao mesmo restaurante que nos recebera na primeira peregrinação. Já ali somos conhecidos. E, parece até, esperados. A senhora, bastante jovem, atende-nos com respeito e prontidão.
Quando por fim nos despedimos é ela quem nos dá a gorjeta para deixarmos no Santuário em velas a arder. Ora aqui vai mais uma intenção na nossa peregrinação: um coração de mãe e outro de filha bebé por quem rezar!
Começámos refeitos e ligeiros a segunda etapa do dia. Há já algumas queixas, mas muito bom humor. Percorremos algum tempo a palrar até que chegam as rectas de Calvão. Ali formamos para rezar o Terço. É o melhor momento do dia. Caminha-se a rezar, em conjunto, calmamente, com Jesus e Maria. (A meio da recitação do Terço dá-se uma aparição: A Nininha, que é filha da Nina, aparece-lhe e o coração da mãe derrete-se. O corpo, ou melhor, tudo, o corpo, a alma e o espírito maternos dão um salto, saltam ave-marias e padre nossos e as linhas da estrada, e os braços estreitam a filha no peito. A mãe chora. A filha chora. Mas nenhuma sabe porque chora. Porque afinal, Fátima é já ali!)
Quando termina o Terço algum dos caloiros quer rezar mais, por que é bom caminhar assim. Mas não dá. Não haja dúvida que é bom, mas a prudência recomenda que se acelere o passo. E aceleramos o passo. Pelo menos os que podem aceleram o passo. Havemos de chegar todos ao fim da etapa do primeiro dia. Um dos peregrinos chega de carro à meta com palavras de choro, angústia e desilusão. «O sistema bloqueou!», diz. Quer desistir, porque não consegue dar um passo. Acaba aceitando passar pelo hospital, em Aveiro, onde o aguarda uma equipa de retaguarda. Demora-se pouco tempo no hospital. Os médicos vêm o sistema e encontram tudo bem. Devolvem-no à procedência recomendando prudência mas não impedindo a caminhada a pé.
Entretanto, fomos muito bem recebidos na Casa da Sagrada Família da Nazaré. Há uma festa à porta, porque na região o primeiro de Maio é celebrado no campo: o povo quer o cheiro a erva fresca e a flores, o cantar dos passarinhos e do vento.
Tomámos banho, refrescámo-nos e a Delfina fura-nos as bolhas. Há uma caloira que promete um filme por cada bolha furada. A primeira deu um filme cómico único. Quem viu viu, quem não viu visse! Infelizmente não furará mais bolhas. Preferirá caminhar três dias em cima das bolhas que furá-las. É assim mesmo heroína!
O jantar foi regalado e o cúmulo foram as natas do céu que a D. Orquídea nos veio trazer. Ninguém resistiu. Todos comeram e enquanto comeram ninguém se queixou de dores, nem nos dentes nem nos pés! O remédio está encontrado: um doce por cada dor!
Um regalo foi também o recreio com canções de todos os tops. A Nina fez de disc-jokey e começou todos os hits. Não escapou um! Ainda deu para dançar a dança do pé-coxinho, que é mais sugerida pelas dores das bolhas furadas e pelos músculos doridos que pelo jeito para a dança.
Terminamos o dia com a oração da noite, mas não sem antes nos dizermos compartilhando longamente as palavras que trocámos entre nós, que nos animaram, que não nos deixaram desistir. E surgiram ali tantas palavras belas, tantas palavras doces e animosas, palavras que são mais Deus que dos homens!
Por fim era já tarde e os corpos reclamavam descanso. Tínhamos cinco horas de descanso pela frente. Havia que aproveitar a presença dos Anjos que nos convidavam a dormir.
E fomos dormir.
Que palavras são essas que trocais entre vós?
À hora em ponto uns suaves tun-tuns nas portas dos quartos recordavam-nos que estávamos na hora certa para erguer o esqueleto. Os mais ansiosos levantaram-se logo, os mais acomodados deram ainda volta e meia no saco-cama. Mas não havia nada a fazer. Começara a marcha! Já nada a podia deter! Observado o tempo com olho de áugure logo deu para entender que nem o tempo nos deteria.
Arrumamos os quartos, enfiamos os sacos, limpamos as migalhas do pequeno-almoço. E reunimo-nos de novo na Sala dos Claustros para a Oração de bênção do Peregrino. Logo depois com a voz embargada e com os pés decididos fomos para a estrada.
Alguns amigos despediram-se de nós.
Saímos mais cedo uma hora que no ano passado. E ainda assim encontrámos alguns conhecidos que, despertos, nos saudaram:
- Aonde vão?
- Vamos para Fátima!
– Então, que Deus vos acompanhe.
E seguimos. E parámos. Tínhamos criado para esta peregrinação uma actividade nova. Chamava-se Pistas. As Pistas são um despertar para algum pormenor do caminho ou do dia. São uma tentativa de sublinhar algum aspecto a ter em conta. São uma catequese, uma formação ou oração. Enfim, um plus daquele dia. As Pistas do primeiro dia tinham a ver com o tema desse dia: «Que palavras são essas que trocais entre vós?». Ou seja, urgia trocar palavras entre nós. Sobretudo com os menos conhecidos de nós. Dizer e compartilhar as palavras e sentimentos que nos aqueciam (ou arrefeciam) o coração. Palavras que Ele, caminhante connosco, pudesse escutar, acalentar, reforçar. Ouve, assim, ao longo de toda a manhã e de quase toda a tarde um longo momento de parlapiê cheio de alegria e de diálogo.
Continuamos o caminho. Não há tempo a perder. Não há tempo para ter medo da chuva. Continuamos no parlapiê, agora com outros amigos porque o reajuntamento permitiu, entretanto, trocar de parceiros de caminho.
Ao fim da manhã chegamos a Santo André de Vagos, ao mesmo restaurante que nos recebera na primeira peregrinação. Já ali somos conhecidos. E, parece até, esperados. A senhora, bastante jovem, atende-nos com respeito e prontidão.
Começámos refeitos e ligeiros a segunda etapa do dia. Há já algumas queixas, mas muito bom humor. Percorremos algum tempo a palrar até que chegam as rectas de Calvão. Ali formamos para rezar o Terço. É o melhor momento do dia. Caminha-se a rezar, em conjunto, calmamente, com Jesus e Maria. (A meio da recitação do Terço dá-se uma aparição: A Nininha, que é filha da Nina, aparece-lhe e o coração da mãe derrete-se. O corpo, ou melhor, tudo, o corpo, a alma e o espírito maternos dão um salto, saltam ave-marias e padre nossos e as linhas da estrada, e os braços estreitam a filha no peito. A mãe chora. A filha chora. Mas nenhuma sabe porque chora. Porque afinal, Fátima é já ali!)
Quando termina o Terço algum dos caloiros quer rezar mais, por que é bom caminhar assim. Mas não dá. Não haja dúvida que é bom, mas a prudência recomenda que se acelere o passo. E aceleramos o passo. Pelo menos os que podem aceleram o passo. Havemos de chegar todos ao fim da etapa do primeiro dia. Um dos peregrinos chega de carro à meta com palavras de choro, angústia e desilusão. «O sistema bloqueou!», diz. Quer desistir, porque não consegue dar um passo. Acaba aceitando passar pelo hospital, em Aveiro, onde o aguarda uma equipa de retaguarda. Demora-se pouco tempo no hospital. Os médicos vêm o sistema e encontram tudo bem. Devolvem-no à procedência recomendando prudência mas não impedindo a caminhada a pé.
Entretanto, fomos muito bem recebidos na Casa da Sagrada Família da Nazaré. Há uma festa à porta, porque na região o primeiro de Maio é celebrado no campo: o povo quer o cheiro a erva fresca e a flores, o cantar dos passarinhos e do vento.
Tomámos banho, refrescámo-nos e a Delfina fura-nos as bolhas. Há uma caloira que promete um filme por cada bolha furada. A primeira deu um filme cómico único. Quem viu viu, quem não viu visse! Infelizmente não furará mais bolhas. Preferirá caminhar três dias em cima das bolhas que furá-las. É assim mesmo heroína!
Um regalo foi também o recreio com canções de todos os tops. A Nina fez de disc-jokey e começou todos os hits. Não escapou um! Ainda deu para dançar a dança do pé-coxinho, que é mais sugerida pelas dores das bolhas furadas e pelos músculos doridos que pelo jeito para a dança.
Terminamos o dia com a oração da noite, mas não sem antes nos dizermos compartilhando longamente as palavras que trocámos entre nós, que nos animaram, que não nos deixaram desistir. E surgiram ali tantas palavras belas, tantas palavras doces e animosas, palavras que são mais Deus que dos homens!
Por fim era já tarde e os corpos reclamavam descanso. Tínhamos cinco horas de descanso pela frente. Havia que aproveitar a presença dos Anjos que nos convidavam a dormir.
E fomos dormir.
Testemunho II - II Peregrinação a Pé a Fátima
Não poderia, neste momento, deixar de agradecer a todos e a cada um, em particular, por tornarem estes quatro dias inesquecíveis e impossíveis de apagar da memória.
À Anita, pela sua força interior e pela forma de encarar a vida, “cada etapa, uma corrida!”
Ao “Tio António”, por todo o apoio prestado durante o caminho, pelo seu bom humor e pelas palavras e brincadeiras que tornaram o nosso caminho mais fácil de ser feito.
À Betinha, pela ajuda à minha decisão de entrar nesta Carminhada. Pelas palavras de carinho, pelo olhar atento, pela expressão “tas bem?”. Pelas muitas palavras e canções que trocamos, pelo apoio dado ao longo de toda a Peregrinação e, principalmente, pela última etapa em que me segurou com a sua mão.
À Cami, pela sua forma positiva de encarar todas as etapas.
À Delfina, pelas palavras de coragem, pelo carinho partilhado, pelas massagens que tornaram os nossos trilhos mais fáceis de fazer.
Ao Frei João, pela forma simples como partilha o Espírito Carmelita, que nos leva a querer estar sempre presentes. Pelas palavras sábias, que nos fazem entender a religião. Não esquecerei a forma como o “Pastor” guia as suas “ovelhas”. Obrigada.
À Márcia, pela sua enorme força interior que a levou a caminhar connosco, pelos sorrisos e brincadeiras, por ser um exemplo de mulher lutadora.
À Nina, algumas vezes companheira de caminho, pelas palavras doces e pela força incrementada.
À D. Orquídea, pela sua presença alegre e pelas palavras que me ajudaram na recta final.
Ao Pedro Luís e ao Tiago Paes, pela sua presença agradável.
Ao Pedro Pereira, pelas palavras de encorajamento, pelos sorrisos e pelas emoções.
Ao Ricardo, que apesar do ar sério, consegue ser “querido” e que me ajudou a terminar a Carminhada. Obrigada.
À Susana, pela sua presença simpática, pelo acompanhamento insaciável e palavras de carinho.
À Teresa Romeiro, pela coragem.
À Teresa Soares, pelas palavras partilhadas, pelos momentos emotivos.
Ao Tiaguinho, que como já sabe, simplesmente por existir e tornar a Carminhada da minha com sentido.
À Tuxana, presença agradável, obrigada pelas palavras de apoio.
À Verónica, porque um sorriso vale mil palavras e uma abraço, mil beijos. “Onde não há amor, põe amor e encontrarás amor”. Obrigada.
Ao Zé, pelo reportório musical, pela ajuda prestada.
À Mãe e ao Pai do Céu, por me ajudarem a conseguir terminar esta Peregrinação, por me levarem a caminhar com um grupo animado e sempre pronto a ajudar. Não foi fácil, mas foi muito compensador.
A todos o meu muito obrigado! E… até amanhã!
Ao “Tio António”, por todo o apoio prestado durante o caminho, pelo seu bom humor e pelas palavras e brincadeiras que tornaram o nosso caminho mais fácil de ser feito.
À Betinha, pela ajuda à minha decisão de entrar nesta Carminhada. Pelas palavras de carinho, pelo olhar atento, pela expressão “tas bem?”. Pelas muitas palavras e canções que trocamos, pelo apoio dado ao longo de toda a Peregrinação e, principalmente, pela última etapa em que me segurou com a sua mão.
À Cami, pela sua forma positiva de encarar todas as etapas.
À Delfina, pelas palavras de coragem, pelo carinho partilhado, pelas massagens que tornaram os nossos trilhos mais fáceis de fazer.
Ao Frei João, pela forma simples como partilha o Espírito Carmelita, que nos leva a querer estar sempre presentes. Pelas palavras sábias, que nos fazem entender a religião. Não esquecerei a forma como o “Pastor” guia as suas “ovelhas”. Obrigada.
À Márcia, pela sua enorme força interior que a levou a caminhar connosco, pelos sorrisos e brincadeiras, por ser um exemplo de mulher lutadora.
À Nina, algumas vezes companheira de caminho, pelas palavras doces e pela força incrementada.
À D. Orquídea, pela sua presença alegre e pelas palavras que me ajudaram na recta final.
Ao Pedro Luís e ao Tiago Paes, pela sua presença agradável.
Ao Pedro Pereira, pelas palavras de encorajamento, pelos sorrisos e pelas emoções.
Ao Ricardo, que apesar do ar sério, consegue ser “querido” e que me ajudou a terminar a Carminhada. Obrigada.
À Susana, pela sua presença simpática, pelo acompanhamento insaciável e palavras de carinho.
À Teresa Romeiro, pela coragem.
À Teresa Soares, pelas palavras partilhadas, pelos momentos emotivos.
Ao Tiaguinho, que como já sabe, simplesmente por existir e tornar a Carminhada da minha com sentido.
À Tuxana, presença agradável, obrigada pelas palavras de apoio.
À Verónica, porque um sorriso vale mil palavras e uma abraço, mil beijos. “Onde não há amor, põe amor e encontrarás amor”. Obrigada.
Ao Zé, pelo reportório musical, pela ajuda prestada.
À Mãe e ao Pai do Céu, por me ajudarem a conseguir terminar esta Peregrinação, por me levarem a caminhar com um grupo animado e sempre pronto a ajudar. Não foi fácil, mas foi muito compensador.
A todos o meu muito obrigado! E… até amanhã!
Braga, segunda-feira 5 de Maio de 2008
ISABEL GONÇALVES, 25 anos, Braga
CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA(I)
800 anos, 26 peregrinos e 4 dias
Estando já os caminhos ardendo em ânsias e os pés resfolgando pelo assalto, reunimo-nos na Sala dos Claustros do Convento do Carmo de Aveiro na noite do dia 30 de Abril. Eram as 22h00. Não estávamos todos, mas a maior parte do todo. Alguns dos peregrinos incorporar-se-iam no decurso da peregrinação. Aliás, estávamos nós a entrar na sala e algum a entrar no carro, em Espanha, para se achegar a nós. Haveríamos de nos encontrar. O caminho haveria de nos reunir.
Estando reunidos a maior parte dos peregrinos e depois dos abraços e beijos – que sem eles não se consegue fazer caminho algum! – foi dado o tiro de partida, apresentado o guião e acolhidos e introduzidos os mais desconhecidos.
Assim, se as contas não falharam éramos naquela noite vinte peregrinos, mais que o ano passado! No total chegaremos a ser vinte e seis! Éramos menos homens que mulheres e uma média etária mais alta. Onze repetíamos a jornada, seja no caminho seja no apoio.
A peregrinação seria In obsequio Iesu Christi, isto é no seguimento e no serviço ao Senhor Jesus Cristo. Foi esta maneira achada pelos jovens carmelitas portugueses para celebrar os 800 anos da Regra do Carmo. Celebramo-los a caminho, meditando dia e noite aquelas palavras que ao longo dos séculos aqueceram gerações várias de carmelitas.
Depois das saudações e das orações, o Sr. António Branco, peregrino afoito e afeito para o apoio aos carminheiros, pediu para falar. Juntamente com a mulher, a Dª Orquídia, tinha trazido numa bela moldura a faixa do Movimento que os jovens o haviam presenteado na peregrinação anterior. Trouxe-a, confidenciou ele, todo ano, no seu carro de trabalho. Era muito significativa para si, porque representava a chave e a senha de reentrada na Igreja. Nos momentos álgidos fora para o banco de trás do carro e agarrara-se a ela, apertava-a nas mãos e depois lá ia tomar ou acertar decisões.
Agora devolvia-a aos jovens. Devolvia-a alegre. E nós recebemo-la, não sem antes lhe oferecermos outra, para que tenha sempre a que se agarrar. E para que sempre se recorde dos amigos que nunca o esquecem na oração, no diálogo amoroso com o Senhor.
Terminamos com a bênção do Frei João e fomos descansar. Nas mãos ia o guião e uma recomendação ler um breve texto de Bento XVI, a saudação do Padre Provincial e a do Responsável pela Pastoral Juvenil da Ordem. Os casados, que os havia entre nós, teriam de ler em conjunto, quer fossem ambos ou não em peregrinação. E assim fizeram como depois nos certificamos!
A noite já ia bem alta quando nos deitamos! A alvorada será às 06h30 e ainda ninguém sabe como será. Só sabemos que será.
Sabemos que durante quatro dias seremos vinte e seis peregrinos a celebrar oitocentos anos da entrega da Regra do Carmo aos irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo por Santo Alberto, bispo de Jerusalém.
Amanhã começamos a caminhar.
Estando já os caminhos ardendo em ânsias e os pés resfolgando pelo assalto, reunimo-nos na Sala dos Claustros do Convento do Carmo de Aveiro na noite do dia 30 de Abril. Eram as 22h00. Não estávamos todos, mas a maior parte do todo. Alguns dos peregrinos incorporar-se-iam no decurso da peregrinação. Aliás, estávamos nós a entrar na sala e algum a entrar no carro, em Espanha, para se achegar a nós. Haveríamos de nos encontrar. O caminho haveria de nos reunir.
Assim, se as contas não falharam éramos naquela noite vinte peregrinos, mais que o ano passado! No total chegaremos a ser vinte e seis! Éramos menos homens que mulheres e uma média etária mais alta. Onze repetíamos a jornada, seja no caminho seja no apoio.
A peregrinação seria In obsequio Iesu Christi, isto é no seguimento e no serviço ao Senhor Jesus Cristo. Foi esta maneira achada pelos jovens carmelitas portugueses para celebrar os 800 anos da Regra do Carmo. Celebramo-los a caminho, meditando dia e noite aquelas palavras que ao longo dos séculos aqueceram gerações várias de carmelitas.
Terminamos com a bênção do Frei João e fomos descansar. Nas mãos ia o guião e uma recomendação ler um breve texto de Bento XVI, a saudação do Padre Provincial e a do Responsável pela Pastoral Juvenil da Ordem. Os casados, que os havia entre nós, teriam de ler em conjunto, quer fossem ambos ou não em peregrinação. E assim fizeram como depois nos certificamos!
A noite já ia bem alta quando nos deitamos! A alvorada será às 06h30 e ainda ninguém sabe como será. Só sabemos que será.
Sabemos que durante quatro dias seremos vinte e seis peregrinos a celebrar oitocentos anos da entrega da Regra do Carmo aos irmãos de Nossa Senhora do Monte Carmelo por Santo Alberto, bispo de Jerusalém.
Amanhã começamos a caminhar.
terça-feira, 6 de maio de 2008
CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA
Os pés e os caminhos
Uma peregrinação começa antes de começar.
Os caminhos que havemos de caminhar já lá foram postos há muito, pelos muitos pés que os percorreram antes de nós. E os nossos pés que ainda não chegaram à comunhão com os caminhos vão ficando avidamente no apronto final. Antes da peregrinação tudo está em ordem. Os caminhos estão onde devem estar, os pés por onde devem andar. Mas como não se encontraram não há ainda a peregrinação que deve haver, para a qual todos nos motivamos. Oh! Mas quando os pés se juntam aos caminhos e os trilham há uma felicidade imensa! É uma glória!, porque os pés são para os caminhos e os caminhos são para os pés.
Quem julgar que foi de outra maneira que nos preparamos engana-se, porque foi assim mesmo que nos preparámos. Ansiávamos pelos caminhos, que embora lá, pareciam tardar em aproximar-se dos nossos passos. Ansiávamos por afagá-los com a mesma sentida ternura que uma mãe beija a palma dos pés do seu infante.
Mas no dia certo, o primeiro de Maio, os pés chegaram a tempo e os caminhos não se ausentaram para parte incerta. À saída do convento do Carmo de Aveiro lá estavam os caminhos certos e 15 pares de pés ansiosos por percorrê-los, conhecê-los e beijá-los. Sim, que os caminhos conhecem-se pelos pés que os caminham!
É a caminhar que vimos e é a caminhar que vamos. Isso é bem verdade, porque todos somos herdeiros e portadores de futuro.
Duas perguntas
Não é fácil fazermo-nos a uma peregrinação. É trabalhosa a sua concepção, judiciosa na sua concretização, doloroso o seu decurso. Ainda antes de nos fazermos ao caminho muitas coisas há a preparar, cuidar, pensar, decidir, recusar. Sobretudo se vamos em grupo. Há espinhos que recolher, recantos do coração para agrandar, mãos que amaciar, abraços que estreitar, sorrisos que limpar, beijos que adoçar, canções que afinar. É todo um programa de simplicidades complicadas.
Este ano, porque era a segunda vez que íamos a pé a Fátima, depararam-se-nos duas perguntas: 1) Vale a pena caminhar a pé e sofrer tanto? Será que Deus o quer? Por que não haveremos de fazer coisas mais úteis?; 2) Se já realizámos no ano passado este percurso porquê repeti-lo? Se já sofremos muito percorrendo o trajecto, porquê repetir as mesmas dores?
Perguntas inquietantes com respostas sempre algo insatisfatórias, sempre aquém de convencer. Mas que há que enfrentar para iluminar os passos a dar. Também os nossos.
A primeira resposta deveria ser muito mais elaborada, porém bastará dizer que Ele sofreu e sofreu muito. Muito sofreu porque muito amou. E tudo sofreu porque tudo amou. Sofreu no que caminhou, do princípio ao fim, da manjedoira à cruz. Se Ele sofreu por que não haveremos nós de sofrer? Se Ele ficou com o furo dos cravos nos pés, por que haverão de se ausentar dos nossos as bolhas e as entorses? Se Ele amou por que não haveremos nós de amar? E se todos amarem só duma maneira, só numa variante, só numa cambiante, que beleza e proveito há nisso? Porventura existe só o amor de mãe? E o amor fraterno poderá ser igual à filia? Não. Claramente não. É para que se completem e se conjuguem todas as cores do arco-íris do amor que existem peregrinações a pé a Fátima. Neste caso, a dos jovens Carmelitas.
A segunda resposta ainda que complexa é mais fácil. A resposta descobriu-a a Betinha ao terceiro dia. Ou pelo menos foi ao terceiro dia que a declarou: o caminho não é igual. Os quilómetros são os mesmos, as paragens foram as mesmas, quase tudo era igual, mas nós éramos diferentes. Tínhamos crescido, éramos os mesmos mas mais responsáveis, mais amigos, mais carmelitas. Como poderia o caminho ser igual? Ora se o caminho não é igual e nós não éramos iguais, porque haveriam de ser iguais as dores e os temores? Não seriam. Não foram.
Dizem os antigos muito antigos que a mesma água não passa duas vezes sob a mesma ponte. Nisso têm razão. E também nós temos razão quando repetimos que o caminho não era igual sendo o mesmo. As dores não foram iguais, mas percorremos o mesmo caminho com os mesmos pés. Mas pés mais maduros e mais afoitos. Os pés eram os mesmos e as dores foram diferentes. E o caminho era diferente sendo o mesmo. Porque a diferença está no olhar do coração e na maneira como as dores se incorporam na história de fé de cada um. O caminho serve apenas para subir á Cruz!
Para quem busca sensações e experiências diferentes basta-lhe apenas que tenha pés e vontade de se fazer ao Caminho!
Uma peregrinação começa antes de começar.
Os caminhos que havemos de caminhar já lá foram postos há muito, pelos muitos pés que os percorreram antes de nós. E os nossos pés que ainda não chegaram à comunhão com os caminhos vão ficando avidamente no apronto final. Antes da peregrinação tudo está em ordem. Os caminhos estão onde devem estar, os pés por onde devem andar. Mas como não se encontraram não há ainda a peregrinação que deve haver, para a qual todos nos motivamos. Oh! Mas quando os pés se juntam aos caminhos e os trilham há uma felicidade imensa! É uma glória!, porque os pés são para os caminhos e os caminhos são para os pés.
Mas no dia certo, o primeiro de Maio, os pés chegaram a tempo e os caminhos não se ausentaram para parte incerta. À saída do convento do Carmo de Aveiro lá estavam os caminhos certos e 15 pares de pés ansiosos por percorrê-los, conhecê-los e beijá-los. Sim, que os caminhos conhecem-se pelos pés que os caminham!
É a caminhar que vimos e é a caminhar que vamos. Isso é bem verdade, porque todos somos herdeiros e portadores de futuro.
Duas perguntas
Não é fácil fazermo-nos a uma peregrinação. É trabalhosa a sua concepção, judiciosa na sua concretização, doloroso o seu decurso. Ainda antes de nos fazermos ao caminho muitas coisas há a preparar, cuidar, pensar, decidir, recusar. Sobretudo se vamos em grupo. Há espinhos que recolher, recantos do coração para agrandar, mãos que amaciar, abraços que estreitar, sorrisos que limpar, beijos que adoçar, canções que afinar. É todo um programa de simplicidades complicadas.
Este ano, porque era a segunda vez que íamos a pé a Fátima, depararam-se-nos duas perguntas: 1) Vale a pena caminhar a pé e sofrer tanto? Será que Deus o quer? Por que não haveremos de fazer coisas mais úteis?; 2) Se já realizámos no ano passado este percurso porquê repeti-lo? Se já sofremos muito percorrendo o trajecto, porquê repetir as mesmas dores?
Perguntas inquietantes com respostas sempre algo insatisfatórias, sempre aquém de convencer. Mas que há que enfrentar para iluminar os passos a dar. Também os nossos.
A primeira resposta deveria ser muito mais elaborada, porém bastará dizer que Ele sofreu e sofreu muito. Muito sofreu porque muito amou. E tudo sofreu porque tudo amou. Sofreu no que caminhou, do princípio ao fim, da manjedoira à cruz. Se Ele sofreu por que não haveremos nós de sofrer? Se Ele ficou com o furo dos cravos nos pés, por que haverão de se ausentar dos nossos as bolhas e as entorses? Se Ele amou por que não haveremos nós de amar? E se todos amarem só duma maneira, só numa variante, só numa cambiante, que beleza e proveito há nisso? Porventura existe só o amor de mãe? E o amor fraterno poderá ser igual à filia? Não. Claramente não. É para que se completem e se conjuguem todas as cores do arco-íris do amor que existem peregrinações a pé a Fátima. Neste caso, a dos jovens Carmelitas.
A segunda resposta ainda que complexa é mais fácil. A resposta descobriu-a a Betinha ao terceiro dia. Ou pelo menos foi ao terceiro dia que a declarou: o caminho não é igual. Os quilómetros são os mesmos, as paragens foram as mesmas, quase tudo era igual, mas nós éramos diferentes. Tínhamos crescido, éramos os mesmos mas mais responsáveis, mais amigos, mais carmelitas. Como poderia o caminho ser igual? Ora se o caminho não é igual e nós não éramos iguais, porque haveriam de ser iguais as dores e os temores? Não seriam. Não foram.
Dizem os antigos muito antigos que a mesma água não passa duas vezes sob a mesma ponte. Nisso têm razão. E também nós temos razão quando repetimos que o caminho não era igual sendo o mesmo. As dores não foram iguais, mas percorremos o mesmo caminho com os mesmos pés. Mas pés mais maduros e mais afoitos. Os pés eram os mesmos e as dores foram diferentes. E o caminho era diferente sendo o mesmo. Porque a diferença está no olhar do coração e na maneira como as dores se incorporam na história de fé de cada um. O caminho serve apenas para subir á Cruz!
Para quem busca sensações e experiências diferentes basta-lhe apenas que tenha pés e vontade de se fazer ao Caminho!
Testemunho I - II Peregrinação a Pé a Fátima
Fui e Encontrei
E porque não a pé? – eis a pergunta que outros me faziam e que eu fui deixando aquecer em mim.
No ano passado já o tinha feito de carro a dar apoio. Desde essa altura houve uma pessoa que me desafiou a carminhar a seu lado e entretanto acabei por aceitar. Este ano peregrinei a pé, caminhei e caminhei sempre “In Obsequio Iesu Christi”.
Foram quatro dias, quatro dias de caminho em que me encontrei. Encontrei um eu que não conhecia, respostas a perguntas que dantes me tinham sido feitas e na altura não soube responder, respostas a perguntas que anteriormente eu coloquei a mim e que nunca obtive resposta, a meu lado pessoas espectaculares que já as guardava no coração e que hoje não podem de lá sair.
Longo e duro foi o caminho mas os amigos na altura em que necessitei estavam comigo, com eles pude contar e o mais importante de todos os encontros se deu. Não desisti e encontrei-me com Ele.
Gostei, adorei carminhar convosco e com Ele.
Não se esqueçam de que tudo o que fazemos deve ser “In Obsequio Iesu Christi”.
Obrigado por tudo.
ANTÓNIO PEDRO PEREIRA, 32 anos, Gafanha da Nazaré
No ano passado já o tinha feito de carro a dar apoio. Desde essa altura houve uma pessoa que me desafiou a carminhar a seu lado e entretanto acabei por aceitar. Este ano peregrinei a pé, caminhei e caminhei sempre “In Obsequio Iesu Christi”.
Foram quatro dias, quatro dias de caminho em que me encontrei. Encontrei um eu que não conhecia, respostas a perguntas que dantes me tinham sido feitas e na altura não soube responder, respostas a perguntas que anteriormente eu coloquei a mim e que nunca obtive resposta, a meu lado pessoas espectaculares que já as guardava no coração e que hoje não podem de lá sair.
Longo e duro foi o caminho mas os amigos na altura em que necessitei estavam comigo, com eles pude contar e o mais importante de todos os encontros se deu. Não desisti e encontrei-me com Ele.
Gostei, adorei carminhar convosco e com Ele.
Não se esqueçam de que tudo o que fazemos deve ser “In Obsequio Iesu Christi”.
Obrigado por tudo.
ANTÓNIO PEDRO PEREIRA, 32 anos, Gafanha da Nazaré
segunda-feira, 5 de maio de 2008
«Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto andais?»
Tal como sucedeu com os discípulos de Emaús, também nós jovens Carmelitas nos pusemos a caminho do dia 1 ao dia 4 de Maio, Peregrinação a Pé a Fátima do Carmo jovem.
Neste itinerário espiritual e físico até Fátima conversávamos, sobre tudo o que nos aconteceu, acontece... Nestas conversas deste peregrinar, Ele o Mestre esteve sempre connosco. Ele pôs-Se a caminho com cada um de nós. Muitas vezes e de muitos modos disse-nos: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto andais?» Ele recomendava e recomendará: «Permanecei em mim e eu permanecerei em vós» e esta conversão começava a partir da pergunta do caminho de Emaús.
O escutar nasceu e nascerá do permitir que Deus fosse o emissor que sintonizávamos a cada minuto de caminho traçado. Fosse a voz do nosso débil coração. Na pedagogia do diálogo e da escuta nasceu a transformação «In obsequio Iesu Cristi».
A segurança e a «determinada determinação» da fé não é como o cajado que levávamos na peregrinação. É assumir que jamais poderemos temer ao viver experiências e que tal como os discípulos de Emaús a satisfação de contar aos outros amigos de Jesus o que aconteceu não é deixar nascer a vergonha em nós, mas trazer até eles a importância que Deus assume na nossa trajectória de vida.
À medida que íamos aceitando e peregrinávamos na revelação de Deus, íamos descobrindo que este Deus que é Amor nos fala e revela mistérios. Caminhar com Ele e com os amigos d´Ele reconhecendo-no ao partir do pão foi sairmos dos nossos nadas, perdemo-nos no Tudo.
Este é para mim o caminho de cada Homem. E eis que ao final de um longo itinerário, tal como "eles o reconheceram ao partir do pão", também nós o tivemos muito presente. No nosso caminho, o Ressuscitado fez-se companheiro de viajem, para deixar crescer a chama viva de Amor. Que esta chama que arde em amor se enfune de fé, esperança e caridade…
Desafiemo-nos a entrarmos profundamente neste enraizamento do mistério de Amor!
Obrigada, Pai, pelo Teu amor, que habitou e quer habitar em nós!
Neste itinerário espiritual e físico até Fátima conversávamos, sobre tudo o que nos aconteceu, acontece... Nestas conversas deste peregrinar, Ele o Mestre esteve sempre connosco. Ele pôs-Se a caminho com cada um de nós. Muitas vezes e de muitos modos disse-nos: «Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto andais?» Ele recomendava e recomendará: «Permanecei em mim e eu permanecerei em vós» e esta conversão começava a partir da pergunta do caminho de Emaús.
O escutar nasceu e nascerá do permitir que Deus fosse o emissor que sintonizávamos a cada minuto de caminho traçado. Fosse a voz do nosso débil coração. Na pedagogia do diálogo e da escuta nasceu a transformação «In obsequio Iesu Cristi».
A segurança e a «determinada determinação» da fé não é como o cajado que levávamos na peregrinação. É assumir que jamais poderemos temer ao viver experiências e que tal como os discípulos de Emaús a satisfação de contar aos outros amigos de Jesus o que aconteceu não é deixar nascer a vergonha em nós, mas trazer até eles a importância que Deus assume na nossa trajectória de vida.
À medida que íamos aceitando e peregrinávamos na revelação de Deus, íamos descobrindo que este Deus que é Amor nos fala e revela mistérios. Caminhar com Ele e com os amigos d´Ele reconhecendo-no ao partir do pão foi sairmos dos nossos nadas, perdemo-nos no Tudo.
Este é para mim o caminho de cada Homem. E eis que ao final de um longo itinerário, tal como "eles o reconheceram ao partir do pão", também nós o tivemos muito presente. No nosso caminho, o Ressuscitado fez-se companheiro de viajem, para deixar crescer a chama viva de Amor. Que esta chama que arde em amor se enfune de fé, esperança e caridade…
Desafiemo-nos a entrarmos profundamente neste enraizamento do mistério de Amor!
Obrigada, Pai, pelo Teu amor, que habitou e quer habitar em nós!
quinta-feira, 1 de maio de 2008
A nossa homenagem às mães
[Domingo é Dia da Mãe. Domingo o Carmo Jovem estará quase a terminar a II Peregrinação a pé a Fátima. Domingo estaremos cheios de dores, mas felizes. E felizes, com dores, em oração e louvor homenagearemos as nossas mães junto da Mãe de Jesus. Poderíamos fazer melhor homenagem? Poderíamos honrar melhor os seus sonhos e sofrimentos por nós. Talvez não. Ainda assim aqui fica um belo poema dum filho poeta a sua mãe. É o poema que ele nos empresta para saudarmos as nossas. Obrigado. Obrigado, mãe!]


Poema à Mãe
No mais fundo de ti
No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.
Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.
Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.
Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.
Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!
Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;
Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;
Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.
(Eugénio de Andrade)
(Eugénio de Andrade)
quarta-feira, 30 de abril de 2008
SAUDAÇÃO DO PROVINCIAL DA ORDEM AOS PEREGRINOS
«Muitas vezes e de muitos modos, os Santos Padres estabeleceram como cada um – qualquer que seja o estado de vida a que pertença ou a forma de vida religiosa que tiver escolhido – deve viver em obséquio de Jesus Cristo e servi-l’O fielmente com coração puro e recta consciência» (n. 2).
A vida «em obséquio de Jesus Cristo» é o essencial da vida cristã, ou seja, viver em obediência a Jesus Cristo que Se tornou modelo perfeito de obediência ao Pai.
A obediência ao Pai consiste na resposta aos seus desígnios de amor. Estes desígnios são únicos e irrepetíveis. Cada ser humano tem um valor único, o sangue do Filho de Deus derramado para curar a desobediência da humanidade e realizar a reconciliação com a divindade. A essência do cristianismo é Cristo, ser cristão é ser outro «Cristo» e ser carmelita é uma forma específica de ser cristão.
Os jovens que peregrinam a Fátima na carminhada organizada pelo Carmo Jovem, nos dias 1 a 4 de Maio de 2008, são convidados a conformar a sua vida cristã com a realidade da peregrinação da terra para o céu, do homem para Deus, da Igreja peregrina para a Jerusalém celeste. O Carmelo é uma inumerável multidão de testemunhas e guias desta caminhada de perfeição e subida ao monte. O Pai espera-nos no céu, Jesus Cristo caminha connosco, o Espírito Santo é a força da nossa juventude.
A Senhora do Carmo, a Irmã Lúcia e os Carmelitas da Domus Carmeli intercedem por vós para que sejais generosos na obediência a Jesus Cristo: «fazei tudo o que Ele vos disser». Caminhai em obséquio de Jesus Cristo e oferecei a peregrinação como uma liturgia viva que procede do vosso coração puro em ordem a uma recta consciência.
Em Fátima espero por vós.
P. Pedro Lourenço Ferreira
Provincial OCD
sábado, 26 de abril de 2008
Peregrinar

Ir em peregrinação significa caminhar para uma meta.
Isso confere também ao caminho e à sua fadiga uma beleza própria.
O impulso para a fé cristã, o início da Igreja de Jesus Cristo,
só foi possível porque existiam em Israel
pessoas que não se contentavam como o habitual,
mas que, sobretudo, perscrutavam o horizonte à procura de algo maior.
E porque os seus corações esperavam,
puderam reconhecer em Jesus o Enviado de Deus.
Precisamos dum coração igualmente inquieto e aberto.
Esse é o centro da peregrinação.
Ainda hoje não é suficiente ser e pensar como os demais.
O projecto da nossa vida ultrapassa o quotidiano.
Nós precisamos de Deus,
desse Deus que nos mostrou o seu rosto e nos abriu o coração:
Jesus Cristo.
Na verdade, existem muitas personagens na história
que tiveram belas e comovedoras
experiências de Deus.
Contudo, essas experiências continuam a ser humanas,
com as suas humanas limitações.
Só Jesus é Deus, e por isso só Jesus é a ponte
que põe o ser humano em contacto imediato com Deus.
Isso confere também ao caminho e à sua fadiga uma beleza própria.
O impulso para a fé cristã, o início da Igreja de Jesus Cristo,
só foi possível porque existiam em Israel
pessoas que não se contentavam como o habitual,
mas que, sobretudo, perscrutavam o horizonte à procura de algo maior.
E porque os seus corações esperavam,
puderam reconhecer em Jesus o Enviado de Deus.
Precisamos dum coração igualmente inquieto e aberto.
Esse é o centro da peregrinação.
Ainda hoje não é suficiente ser e pensar como os demais.
O projecto da nossa vida ultrapassa o quotidiano.
Nós precisamos de Deus,
desse Deus que nos mostrou o seu rosto e nos abriu o coração:
Jesus Cristo.
Na verdade, existem muitas personagens na história
que tiveram belas e comovedoras
experiências de Deus.
Contudo, essas experiências continuam a ser humanas,
com as suas humanas limitações.
Só Jesus é Deus, e por isso só Jesus é a ponte
que põe o ser humano em contacto imediato com Deus.
Papa Bento XVI,
no Santuário Mariano de Mariazel, Áustria, no dia 8 de Setembro de 2007
no Santuário Mariano de Mariazel, Áustria, no dia 8 de Setembro de 2007
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Testemunhos VII - Peregrinação a Fátima- 2007
O igual não nos serve. Pelo menos eu preciso do diferente. Fui à peregrinação a pé de 2007 em busca de algo diferente, para jovens diferentes. Precisamos de propostas diferentes, de gratuidade. Caminhar em peregrinação é nos tempos que correm uma perda de tempo. Há tantas coisas para fazer! Andar com Deus sem olhar ao relógio; andar com os amigos, ajudá-los e ser ajudado para não desanimar.
Fui também em memória da Irmã Lúcia e porque me sinto muito próximo dela. É bom sentir o seu apelo a aprofundar o Evangelho e a seguir Jesus.
Fui ainda porque quis chegar como peregrino à Domus Carmeli que por aqueles dias começava a ficar funcional. Poderia entrar ali de fato e cheirando a água de colónia. Mas pareceu-me que gostava de a saudar com o pó dos caminhos, o cansaço dos quilómetros e o suor do corpo.
Fui também em memória da Irmã Lúcia e porque me sinto muito próximo dela. É bom sentir o seu apelo a aprofundar o Evangelho e a seguir Jesus.
Fui ainda porque quis chegar como peregrino à Domus Carmeli que por aqueles dias começava a ficar funcional. Poderia entrar ali de fato e cheirando a água de colónia. Mas pareceu-me que gostava de a saudar com o pó dos caminhos, o cansaço dos quilómetros e o suor do corpo.
RICARDO LUÍS - 29 anos - Caíde de Rei Lousada
domingo, 20 de abril de 2008
Crónica do encontro de (in)formação

Dias 12 e 13 de Abril: dias memoráveis pela realização do Encontro de (In)formação do Movimento Carmo Jovem.
Embora com um nome ligeiramente alterado (anterior Encontro de Formação de Líderes) mantém o carisma e sempre a inovação de (In)formar todos os que ligados à nossa Gotinha pretendam descobrir algum tema pertinente e interessante sobre a grande família do Carmo. Este ano: “Regra: 800 anos de carminhos pelo mundo”.
Sob o olhar sereno da paisagem de Viana do Castelo fomos acolhidos pelo Convento do Carmo que habita naquela cidade. Sem demoras iniciamos o encontro com a oração da manhã tendo como premissa de reflexão a passagem bíblica “Não fostes vós que me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi”.
À semelhança de todos os encontros em que já participei, as horas tornam-se mais curtas, o tempo é escasso para aproveitar e beber de todo o ambiente que preenche o ar destes nossos encontros, assim, sem demora e sem pressa, ouvimos o ensinamento. Este ano realizado pelo Frei João Costa sobre a Regra “Primitiva” da Ordem da Bem Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, que Santo Alberto, patriarca de Jerusalém outorgou aos carmelitas, e confirmada por Inocêncio IV.
Esta regra constituía, o regulamento que orientava os monges que há 800 anos deixaram as ordens que lutavam pela segurança dos peregrinos à terra Santa e habitaram o Monte Carmelo.
Na actualidade constitui o regulamento mais antigo e básico da Ordem do Carmo, onde muitos homens e mulheres alcançam a santidade vivendo com exactidão o amor que gera amor.
Ouvimos, lemos e reflectimos sobre o conteúdo actual deste documento. Uns momentos em grupo, outros individualmente, separados pelo alegre convívio do almoço.
Durante a tarde, o tema que imperou o encontro foi enriquecido com as palavras do Padre Fernando Reis, Conselheiro para a Pastoral Juvenil e cada um de nós recebeu a “Regra Jovem do Carmo inspirada na regra que S. Alberto de Jerusalém outorgou aos Carmelitas”.
Após o lanche, apesar do vento e das ameaças de chuva, passeamos pelo centro da cidade e no final da tarde rezamos o Terço Vocacional numa das capelas do Convento. Seguiu-se o jantar sempre acompanhado e servido com convívio.
O serão foi preenchido com um momento de oração, a vigília “Onde não há amor, põe amor e encontrarás Amor” (S. João da Cruz). A presença de Jesus, a força da oração e a partilha permitiram de um modo ou outro, uma participação activa e entusiasta de todos.
O fim-de-semana passou rápido, como todos os momentos bons. O Domingo de manhã foi tempo de oração e de reunião de coordenação em que todos participamos. Foram discutidas e propostas as futuras actividades do movimento e foi marcante o entusiasmo com ideias e projectos para dinamizar os próximos encontros do Carmo Jovem que se estenderam pelo almoço.
A história deste fim-de-semana completa-se com o reparo ao acolhimento da comunidade que tão bem nos recebeu. Resta dizer que nas despedidas todos foram embora satisfeitos e com certeza mais enriquecidos e cheios de força…porque sem dúvida, cada encontro nos faz crescer mais um bocadinho.
Andreia Eiras – Guarda
sábado, 19 de abril de 2008
Testemunhos VI - Peregrinação a Fátima 2007
O caminho faz-se ao andar. Anda. Não seja a vida esse imenso deserto em que não se colhem palavras.
Já não sei onde fui buscar esta sentença… acho que é de algum pensador daqueles iluminados, mas lembro-me de ter “tropeçado” nela pouco depois de ter voltado da peregrinação a Fátima a pé e de a ter guardado. Guardei porque a mensagem é importante. É daquelas que dá para dizer – É isso mesmo!
O caminho faz-se ao andar, como nós andamos pelas estradas até Fátima. É preciso andar, sair, ir, avançar, para nos encontrarmos e encontrarmos os outros que caminham connosco e que nos podem ajudar a percorrer aquele outro caminho que não é de terra, mas espiritual!
A peregrinação a Fátima foi uma experiência marcante em diversos sentidos. Mas para além do óbvio desafio físico, que facilmente se recupera, fica a noção que a persistência, a entreajuda e o espírito de caminhada para um objectivo nos podem fazer ultrapassar muitos obstáculos na vida. Andamos muito, sofremos com dores, descansamos pouco mas chegamos! Mais importante ainda, tentamos, saímos, fomos, buscamos caminhos… vivemos!
De tudo o que guardo no coração da peregrinação, o que quero transmitir é a coragem de ir e depois a fé em chegar…
ELSA PINTO - 26 Anos - Avessadas
O caminho faz-se ao andar, como nós andamos pelas estradas até Fátima. É preciso andar, sair, ir, avançar, para nos encontrarmos e encontrarmos os outros que caminham connosco e que nos podem ajudar a percorrer aquele outro caminho que não é de terra, mas espiritual!
A peregrinação a Fátima foi uma experiência marcante em diversos sentidos. Mas para além do óbvio desafio físico, que facilmente se recupera, fica a noção que a persistência, a entreajuda e o espírito de caminhada para um objectivo nos podem fazer ultrapassar muitos obstáculos na vida. Andamos muito, sofremos com dores, descansamos pouco mas chegamos! Mais importante ainda, tentamos, saímos, fomos, buscamos caminhos… vivemos!
De tudo o que guardo no coração da peregrinação, o que quero transmitir é a coragem de ir e depois a fé em chegar…
ELSA PINTO - 26 Anos - Avessadas
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