quinta-feira, 1 de maio de 2008

A nossa homenagem às mães

[Domingo é Dia da Mãe. Domingo o Carmo Jovem estará quase a terminar a II Peregrinação a pé a Fátima. Domingo estaremos cheios de dores, mas felizes. E felizes, com dores, em oração e louvor homenagearemos as nossas mães junto da Mãe de Jesus. Poderíamos fazer melhor homenagem? Poderíamos honrar melhor os seus sonhos e sofrimentos por nós. Talvez não. Ainda assim aqui fica um belo poema dum filho poeta a sua mãe. É o poema que ele nos empresta para saudarmos as nossas. Obrigado. Obrigado, mãe!]

Poema à Mãe
No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.
Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.
Mas tu esqueceste muita coisa;

Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

(Eugénio de Andrade)