sábado, 24 de maio de 2008

Carta ao Papa

«O Espírito Santo inunda o Carmo (Jovem)» Foi o lema que nos lançou a carminharmos em Braga, hoje, dia 24 de Maio. Nesta Carminhada foram lidas e saudadas com palmas as palavras de alento, e entusiasmo do Santo Padre para o Movimento Carmo Jovem.
Na Carminhada de Alhadas e Maiorca em Fevereiro tínhamos prometido saudar o Santo Padre, e assim fizemos. E Ele, gentil, respondeu-nos. Agora publicamos a nossa carta. Depois a resposta. Queremos que todos os jovens Carmelitas sintam próximo de si a pessoa e a voz do Papa.

JM † JT

Viana do Castelo, 16 de Fevereiro de 2008

Santo Padre,
pedimos-lhe a vossa bênção e confiamos-lhe a nossa oração na força do Espírito Santo!

Hoje, dia 16 de Fevereiro de 2008, fomos 150 Jovens Carmelitas caminhando convosco por terras da Figueira da Foz, Portugal. Animados pelo Espírito Santo subimos ao Monte Tabor e também nós, no fim, ousámos dizer as palavras do Apóstolo Pedro: «Senhor, como é bom estarmos aqui»!
Os jovens do Movimento do Carmo Jovem continuam a ouvir as vossas palavras, a trazer consigo o vosso convite para nos pormos a caminho como testemunhas de Jesus com a audácia a que o Espírito nos convida. No nosso caminhar de fé queremos ser Igreja com a Igreja, fermento que fermenta, pés que andam e corações que amam. É assim que queremos seguir Jesus.
Neste nosso Encontro que realizamos na sequência de outros, o Santo Padre esteve especialmente presente nas nossas orações, pois vos amamos como a B. Jacinta, pastorinha de Fátima.
Queremos agradecer-vos as palavras que nos dirigistes na Mensagem para a XXIII JMJ. O convite que fazeis aos jovens de todo o mundo cala em nós, e com o ânimo do Espírito Santo, fonte de vida, sentimo-nos impulsionados a renovar a nossa esperança. Aceitamos o convite, e fazemo-nos ao caminho, fazendo dele uma escola de oração segundo os nossos pais S. João da Cruz e S. Teresa de Jesus.
Aceite e guarde esta pequena gota que somos. O nosso Movimento é uma pequenina gota no imenso oceano da Igreja a quem amamos e por quem rezamos. Nós, Jovens Carmelitas portugueses, aceitamos continuar a ser desafiados a caminhar com Jesus, a manifestar apreço pela sua palavra que nos convoca para a ternura de Deus e o serviço dos irmãos.
Queremos continuar a crescer na intimidade com Deus, a beber da «Fonte que mana e corre», a olhar para a Espiritualidade e a História da Ordem do Carmo com amor e vontade de a imitar!
Porque o Espírito Santo nos anima não podemos ficar parados, seremos testemunhas da «Chama de amor viva» que arde dentro do coração de cada um de nós e dos nossos grupos.
Santo Padre, nós, jovens do Carmo Jovem, agradecemos com carinho a maneira como abraça e acolhe o mundo. Não nos é indiferente a vossa acção missionária. Por isso seguiremos rezando pelo vosso serviço à Igreja. E procuraremos imitar-vos e seguir-vos. Rezamos ao Espírito de Jesus para que anime o nosso Pastor, o abençoe e santifique. Que a Virgem Mãe, Rainha e formosura do Carmelo, caminhe sempre convosco.
Todos os jovens carmelitas vos saúdam com afecto e alegria.


VERÓNICA RAQUEL GUIMARÃES PARENTE
(Coordenadora Nacional do Movimento do Carmo Jovem)


-------------------------------------------------------------------------------------
No Carmo Jovem somos rapazes e raparigas que desejamos viver o nosso compromisso de baptizados, construindo a fraternidade proposta por Jesus Cristo, em continua presença de Deus, como a Virgem Maria; ao serviço da Igreja e segundo o projecto de vida proposto por João da Cruz e Teresa de Jesus.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

[Que bem sei eu a fonte]


SOLENIDADE SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO


«Que bem sei eu a fonte que mana e corre
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida,
mas eu bem sei onde tem sua guarida,
mesmo de noite.

Sua origem não a sei, pois não a tem,
mas sei que toda a origem dela vem,
mesmo de noite.

Sei que não pode haver coisa tão bela,
e que os céus e a terra bebem dela,
mesmo de noite

Eu sei que nela o fundo não se pode achar,
e que ninguém pode nela a vau passar,
mesmo de noite.

Sua claridade nunca é obscurecida,
e sei que toda a luz dela é nascida,
mesmo de noite

Sei que tão caudalosas são suas correntes,
que céus e infernos regam, e as gentes,
mesmo de noite.

A corrente que desta fonte vem
é forte e poderosa, eu sei-o bem,
mesmo de noite.

A corrente que destas duas procede,
sei que nenhuma delas a precede,
mesmo de noite.

Aquela eterna fonte está escondida
neste pão vivo para dar-nos vida
mesmo de noite.

De lá está chamando as criaturas,
que nela se saciam às escuras,
porque é de noite.

Aquela viva fonte que desejo,
neste pão de vida já a vejo,
mesmo de noite»
[S. João da Cruz]

«O cálice de bênção, que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora muitos, SOMOS UM só corpo, porque todos participamos desse único pão». [1ª Carta aos Coríntios 10,16-17]

Eucaristia é um mistério de infinito Amor para o Mundo, só poderá ser aceite pela fé e onde a razão do Homem continuará a fazer a experiência das suas limitações. Que a experiência deste Deus Amor se cale em nossos corações!...

terça-feira, 20 de maio de 2008

OBRIGADO será a palavra que encerra tudo!

Olá! Conhecemo-nos em Caíde de Rei. Na altura, pensei que seria mais um passeio, mais uma "excursão" em que alguém teria de tomar conta dos mais novos (e eu que já sou quase "cota" nestas coisas), aceitei esse papel! Mal sabia eu que eram os mais novos que me guiavam e me ensinavam o caminho! Obrigado para eles também, principalmente para a Filipa! Obrigado a vocês, Carmo Jovem! OBRIGADO será a palavra que encerra tudo quanto poderia dizer-vos!Obrigado por existirem, por me incomodarem, por me fazerem sentir de novo tão pequenina!! Diante de Deus e de todos os homens! Há uns tempos a esta parte sigo o Caminho doutra maneira. É um respirar, e ver o filme do lado de fora! É bom ser espectador! Mas os jovens da minha terra pediram-me que os acompanhasse até vós e claro que não consegui recusar! E ainda bem! O vosso espírito mexeu comigo ou o Espírito Santo, não sei! Deus quis balançar-me outra vez e foi bom!
Reencontrei-vos nas Alhadas, na vossa passagem a caminho de Fátima (para o ano quero ir convosco) e foi bom novamente!! Sinto que Deus está sempre a chamar-me, não sei ainda muito bem para quê, mas se for para ir convosco, gosto da ideia!! Não sei se terei coragem de recomeçar as catequeses, sei que quero e preciso de me Dar mais, estou muito pobre desde há uns tempos! Talvez com a vossa ajuda e a de Nosso Senhor eu me descubra outra vez! Obrigado por me contagiarem com o vosso vírus! CÉLIA OLIVEIRA, Moinhos da Gândara (Figueira da Foz)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Testemunho VI - II Peregrinação a Pé a Fátima

Alguém disse um dia,
“I have a dream!”

Pois, bem, eu tinha um desejo já há muitos anos:
Ir a Fátima a pé.

Este desejo nunca teve data ou hora marcada. Mas, quisera Deus e a Nossa Senhora do Carmo que fosse este ano e com um grupo de Jovens Carmelitas, o Grupo JOVENS LEIGOS EM MOVIMENTO.

Mas o que procurei nesta peregrinação?
Agradecer a Deus tudo quanto me dá.
À partida, pensar em caminhar durante 4 longos dias, ou mais exactamente 140 Km (desde o Carmo de Aveiro até o Santuário de Fátima) parece um desafio impossível. Não pensei nunca na dificuldade, ou na totalidade do percurso. Mas, optei por me sentir feliz por cada passo que dava e por cada etapa superada.

Podem não acreditar. Mas, agora que já passou, a sensação é que tudo foi estupidamente fácil. Ainda não descobri porquê. Mas, houve muita coisa a ajudar. Em primeiro lugar a organização. Toda a peregrinação foi racional e meticulosamente pensada para que cada elemento do Grupo atingisse o seu objectivo, chegar a Fátima a pé. Como nos foi dito no dia de acolhimento, “Haverá um (mais precisamente três) carro-vassoura para transporte de mochilas e dos mais cansados, mas a maior honra dos condutores é chegar sem passageiros”.
Em segundo lugar a reflexão espiritual que nos era proposta em cada dia e que dava sentido a cada dia e em terceiro lugar, mas tão importante como o primeiro, o carinho e o apoio do grupo, especialmente dos mais novos, que estão habituados a fazer carminhadas e para quem o percurso não demonstrou qualquer dificuldade.

O que me impressionou?
Um grupo de JOVENS com valores e que sentem o apelo de Deus, que se sacrificam por um objectivo.

Mais uma vez tenho que agradecer, pela fé que demonstram. Se não fossem eles, não teria desfrutado deste desafio que deixou marcas. Em termo físicos foi poupada. Pois não tive uma única bolha nos pés e as pernas também se portaram bem. Mas em termos psicológicos, irão ser sempre recordados com muito carinho. Passei a tratá-los por “Meu coração” que é a forma carinhosa com que trato os meus amigos do peito.

Se me permitem o atrevimento,
Saudações carmelitas,
Um beijinho muito grande de OBRIGADA,
E até,
Talvez, para o ano,

CARMEN MARQUES (CAMI), 42 anos, Aveiro

domingo, 18 de maio de 2008

Festejamos a Santíssima Trindade.

«A graça do senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós» [2 Cor 13,13] Não podemos calar experiências que são como vírus: quanto mais estamos inseridos mais queremos repetir e permanecer. Foi o que aconteceu no Sábado dia 17 de Maio, no Convento do Carmo em Viana do Castelo, os peregrinos da II Peregrinação a Pé a Fátima do Carmo Jovem, reuniram-se para celebrar um dos mais importantes dias do ano litúrgico, comemorar a Santíssima Trindade. Juntos em família e comunidade celebramos o dogma da fé e do Amor num único Deus, em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo! Nestas vivências de amor entramos um pouco mais na intimidade com Deus e com os irmãos, dilatámo-nos no conhecimento deste Deus e no grande mistério que nos tem para ofertar. A eucaristia foi e será um manancial de acção de graças pelos dons com que Deus Pai, Filho e Espírito Santo dotou cada um. Não podemos viver sem ela. Benevolência filial dimanada nos nossos corações nos quais jorra a alegria pela compreensão de sermos Filhos de Deus, herdeiros da glória. A presença do grupo peregrino por terras do minho, continuou após a eucaristia em convívio amigo e familiar. Foram revistos momentos da II Peregrinação onde cantamos, rezamos, ouvimos, choramos e rimos... Recordando, eternamente viveremos! Recordaremos muitas vezes o que vimos e ouvimos. Em cada foto vista, um momento da nossa história pessoal se encontra. Encontramos e encontraremos tesouros num caminho sempre diferente, sempre novo. Caminho que nos centra a viver de uma forma digna a nossa fé. Somos Peregrinos!
Como peregrinos que somos soubemos esperar pelas 24h para juntos, terminarmos o dia cantando os parabéns, felicitando a Delfina no dia do seu aniversário. Que ela continue a fazer da sua vida um eterno Dom de Deus. Como Jovens Leigos Carmelitas, em cada nó de união, confraternização e entrega, vamos desenterrando tudo aquilo que Deus precisa que cresçamos, sentimos cada vez mais uma ânsia de maior apostolado e de sermos continuamente Jovens Carmelitas em Movimento, de caminharmos em serviço, onde quer que estejamos e para onde quer que os desígnios deste Deus Amor nos leve... Neste Mês de Maio, peçamos a Maria nossa Mãe e Mãe da Humanidade, que nos ajude a caminhar com alegria e cheios de Esperança. Que a Rainha e Formosura do Carmelo nos oriente na descoberta do que Deus quer que sejamos capazes de fazer e o que devemos fazer. Que nos continuemos a comprometer.
Glorifiquemos a Santíssima Trindade, como manifestação da celebração e de vida. Que não percamos a melhor forma de o fazer. Continuemos a viver a unidade do Filho na máxima: «Que todos Sejam um» [Jo 17,21] «Somos um. Somos um… eu e Tu somos um»…

Elevação à Santíssima Trindade


«Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente, para me fixar em Vós, imóvel e pacífica como se a minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundidade do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei nela o vosso céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que aí permaneça com todo o meu ser, bem desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à Vossa Acção criadora.

Ó meu Cristo amado, crucificado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-Vos de glória, quereria amar-Vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha impotência e peço-Vos para me “revestir de Vós mesmo”, para identificar a minha alma com todos os movimentos da Vossa alma, para me submergir, invadindo-me, e substituindo-Vos a mim, para que a minha vida não seja senão uma irradiação da Vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, e como Salvador.


Ó Verbo Eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos, quero tornar-me inteiramente dócil, para tudo aprender de Vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero fixar-Vos sempre e permanecer sob a vossa grande luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que eu não possa jamais sair da vossa irradiação.

Ó Fogo consumador, Espírito de amor, “descei sobre mim”, para que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, debruçai-vos sobre a vossa pequena criatura, “cobri-a com a vossa sombra”, não vendo nela senão o “Bem-Amado” no qual pusestes todas as vossas complacências.

Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-Vos em mim para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas».

[Meditação da Elevação à Santíssima Trindade - Isabel da Trindade, NI 15]

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Testemunho V - II Peregrinação a Pé a Fátima

Percorrer os caminhos até Fátima para mim não era novidade pois anteriormente já tinha percorrido o mesmo caminho ao encontro de Maria.
Nestes últimos dois anos em que o Movimento Carmo jovem organizou a Peregrinação a Fátima ofereci-me sempre como voluntária para a equipa de apoio. Eu já conhecia as dificuldades que se sentem ao percorrer tantos quilómetros a pé e quis dar todo o meu apoio a todos os peregrinos.
Este ano fi-lo “In Obsequio Iesu Christi” … fi-lo para acompanhar o meu marido que fez todo o caminho a pé … fi-lo para dar forças aos elementos que percorreram o caminho a pé não desanimassem e que o caminho torna-se mais agradável … fi-lo para também dar apoio à Verónica e ao meu Pai, António Branco, que conduziam as outras duas viaturas de apoio.
Percorrer o caminho numa viatura, sozinhos agarrados ao volante também não é fácil, pois não sofremos das dores mas, por vezes, o desânimo também nos toca. Mas dada à experiência tida anteriormente pensei que o meu maior contributo nesta Peregrinação seria dar apoio a quem caminha, sabendo que entretanto também ia peregrinando a par com eles.
E assim se fez a Sua Vontade.
Naturalmente, o caminho foi longo e doloroso, principalmente para quem não está habituado a percorrer tantos quilómetros a pé e não tem noção das distâncias, nem das dificuldades que se encontram, mas também o é para quem já conhecia o caminho e o repetia, sendo também para quem tem de levar uma viatura … No entanto lá ia dando ânimo a quem percorria os caminhos “In Obsequio Iesu Christi”.
E a cada quilómetro percorrido, quer a pé quer de carro, as dificuldades eram vencidas e Jesus Cristo estava mais próximo de nós! E há medida que todos iam atingindo a “meta” diária ficava contente por ter ajudado o meu amigo a ultrapassar uma dificuldade e esse amigo ter-me também ajudado…
A vida é também feita de dificuldades. Ninguém nos disse que o caminho é leve. A cada novo dia as forças redobravam. Estávamos em família, e com Jesus ao nosso lado percorríamos os largos quilómetros de cânticos e de palavras…

SUSANA BRANCO, 32 anos, Gafanha da Nazaré

Testemunho IV - II Peregrinação a Pé a Fátima

Olá, jovens peregrinos.
Fiz a Peregrinação a Fátima como todos vós com muita alegria.
Agradeço a Maria, esta oportunidade de continuar a caminhar com Ela e por Ela até Jesus.
Foi muito bom, apesar das dores, do cansaço, é reconfortante chegar ao fim do dia todos juntos e felizes, porque conseguimos vencer mais uma etapa do nosso caminho.
Este foi particularmente muito especial, fazer a experiência dos discípulos de Emaús ficará para sempre gravada no meu coração e espero que no vosso também… tantas vezes ELE caminha a nosso lado e os nossos olhos e ouvidos continuam fechados (é tanto o ruído na nossa vida).
Precisamos Senhor, que a tua Palavra aqueça o nosso coração e ilumine a nossa inteligência, que o teu Pão alimente a nossa fome e nos dê forças para amar…
Quero pedir-te Senhor que caminhes sempre connosco, principalmente quando a tristeza e o desânimo entram no nosso caminhar. E que eu saiba reconhecer-Te sempre naqueles que caminham a meu lado e precisam da minha ajuda ao longo do caminho.
Tu sabes como sou «pequenina», mas aceita Senhor o pouco que sou, para que possa ser um bocadinho do Teu tudo para os meus irmãos…
A todos agradeço a alegria e a amizade com que vivemos mais esta caminhada.

Obrigado pelo vosso carinho e pelos vossos miminhos.

DELFINA RIBEIRO, 38 anos, Caíde de Rei

terça-feira, 13 de maio de 2008

Belíssima oportunidade para nos (re)encontrarmos

Uma belíssima oportunidade para nos (re)encontrarmos não só com Ele, mas com os outros.
No passado sábado, dia 10 de Maio a comunidade de padres e leigos do Carmo de Aveiro homenagearam o Frei João Costa pelos 2 triénios de serviço à comunidade. Um grupo significativo de peregrinos a pé a Fátima do Carmo Jovem, reuniu-se em Aveiro para juntos continuarmos a ser testemunhas do Amor de Deus.
Tornámo-nos mais irmãos e mais cristãos «In obsequio Iesu Christi» dando corpo à expressão que caracterizou os primeiros cristãos «Olhai como eles se amam».
Deste amor queremos continuar a falar, neste amor, construiremos pontes e cresceremos nos carminhos que o Mestre nos manda seguir.
Dos rios que correm para o mar, nos falou Frei João Costa na homilia desta tarde. Também nós jovens em Movimento queremos continuar a por os olhos n´Ele e em todos os que, com Ele, são capazes de navegar no mar encapelado da vida, segurando as redes com ardor, convictos que neste mar encontraremos a mão segura do Mestre.
Que Nossa Senhora do Carmo, Nossa Mãe e Senhora do Sim, o acolha sob o seu manto, o ilumine e o proteja para que continue a ser presença deste Deus que é Pai.
Em Viana do Castelo, na Igreja Nossa Senhora do Carmo, com Teresa de Jesus e S. João da Cruz permaneça testemunha do amor de Deus, anunciador da Boa nova e a viver «In obsequio Iesu Christi».
Conte connosco, continuaremos a contar consigo!

“Porque Te Amo, oh Maria”


«Oh! Quisera cantar, Maria, por que te amo
Porque é que o teu nome tão doce me faz vibrar o coração
E porque o pensamento da tua grandeza suprema
Não poderia inspirar à minha alma o sentimento do temor.
Se eu te contemplasse na tua sublime glória
E mais brilhante do que todos os bem-aventurados,
Não poderia acreditar que sou tua filha
Ó Maria, diante de ti, eu baixava os olhos!...

Já que o Rei dos Céus quis que a sua Mãe
Mergulhasse na noite, na angustia do coração,
Maria, é então um bem sofrer na terra?
Sim, sofrer amando, é a felicidade mais pura!...
Tudo o que Ele me deu Jesus pode tomá-lo
Diz-lhe que nunca se constranja comigo…
Ele pode esconder-se, eu consinto em esperá-l´O
Até ao dia sem acaso em que se extinguirá a minha fé…

Amas-nos, Maria, como Jesus nos ama
E consentes por nós em afastar-te d´Ele.
Amar é tudo dar e dar-se a si mesmo
Quisestes demonstrá-lo ficando connosco.
O Salvador conhecia a tua ternura imensa
Sabia os segredos do teu coração maternal
Refugio dos pecadores, é a ti que Ele nos deixa
Quando abandona a Cruz para nos esperar no Céu”.»
[Santa Teresa do Menino Jesus (Estrofes 1, 16, 22)]



Maria, hoje aproximamo-nos de Ti para que com o teu exemplo e com a Tua força possamos servir melhor a Deus com aquilo que somos e com o que temos. Em Ti veremos brilhar eternamente a maturidade humana e a elegância espiritual. Oh! Mãe admirável do silêncio, envolve-nos no Teu manto, fortalece-nos com a Tua fé e fecunda-nos com o Teu Amor. Dá-nos a Tua mão de Mãe para que acertemos sempre no carminho! Dá-nos a Tua bênção para que como Jovens Carmelitas no meio do mundo sejamos sinal da Tua Graça!

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Carminhada - Braga - 24 de Maio

O ESPÍRITO SANTO INUNDA
O CARMO (JOVEM)!

Inunda o meu ser,
Inunda o meu ser.
Espírito, inunda o meu ser.
Em ondas de amor, ó vem sobre mim
Espirito, inunda o meu ser


Aspectos a ter em atenção:

- As Carminhadas são abertas a todos os jovens;
- Acolhimento às 9h00, na Igreja do Carmo (Braga);
- A Carminhada tem 11 km, e termina após a Eucaristia;
- Eucaristia às 17h00 no Seminário/Igreja do Carmo;
- O almoço será partilhado, devendo cada participante trazer de casa.
- Procura levar calçado confortável e já usado; roupa conveniente (um impermeável…);
- Haverá um carro-vassoura para transporte de mochilas e dos mais cansados, mas a maior honra dos condutores é chegar sem passageiros;
- Carminha ligeiro de equipagem: Nem tudo é necessário para carminhar!
- Quem já participou noutras Carminhadas tem a faixa “JOVENS LEIGOS CARMELITAS”. Devem levá-la.


CONFIRMAÇÃO
Agradecemos que envies a confirmação da tua participação na Carminhada deverá ser enviada até ao dia 17 de Maio para:
Grupo Apocalipse grupo_apocalipse@sapo.pt
Marta Pinto 917 010 781

CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA (V)

Dia 4 - 4 de Maio
Reconheceram-n’O ao partir do Pão!

Este ano ninguém me engana, pensei. E se bem pensei, melhor o fiz. Deitei o meu saco cama longe da sala dos motores, motorizadas e trotinetes dos meus companheiros. Fui dormir para um recanto do corredor. O que eu não contava era com a Ronca da Barra. Como se sabe a Ronca da Barra está lá para avisar os navios que devem fugir dos baixios e dos escolhos da beira-mar. Eu devia saber, mas tirei a prova bem tirada quando mesmo longe eu continuava sem querer navegar, mas a ter de aturar a Ronca que roncou para a esquerda quando virada para a esquerda e roncou para a direita quando virada para a direita. Ó que noite feliz teve a Ronca da Barra!
Também isto é peregrinação.
Por fim o dia raiou. (Ou quase raiou, porque nos voltaram a acordar às 05h00!) A maioria dormiu bem, porque Deus tinha-nos dado um chão tão fofo (ou um sono assaz pesado) para descansarmos, que todos nos levantamos frescos como alfaces.
O programa mandava celebrar Missa às 05h30. E só isso me levantou, que de contrário não me levantaria nem que me chamassem doze vezes (Andaria ainda por ali a Ronca?) Tinham-nos dito que a Missa seria de peregrino e não de beduíno. Ninguém descortinou o que isso fosse ou quisesse dizer, mas também o certo é que aquelas não são horas para muito pensar, mas para muito amar. Por essa razão, estando ainda muitos corpos a reclamar pela cama já os pés caminhavam. Nada havia a fazer. Ou melhor haver havia, caminhar. E Ele vai connosco! Pronto a dar-se a conhecer.
Pela frente estão outras seis horas de caminho, outros 30 quilómetros a fazer. Ou talvez mais porque subir a encosta de Santa Catarina da Serra não é pêra doce, é pereira amarga.
Lá fomos ligeiros, serenos e audazes que é ao que aquele vale prévio imenso convida.
Vencida a serra chegamos a Fátima. Ninguém desistiu, porque quando falharam as forças não falhou o coração. Se não foi o próprio foi o dos companheiros: há sempre um coração grande para nos animar, rezar, acompanhar, empurrar, puxar, eu sei lá, há sempre um coração que nos leva a Fátima… A espera na Rotunda Norte foi assaz breve, pouco mais duma quinzena de minutos. Quase nada custou juntar os quase trinta peregrinos a pedantes. Dali para o Santuário foi um salto. Ali entramos de forma organizada que dava gosto ver. Depois cada um ficou sereno e calmo, sem pressas nem pressões, diante do olhar de Deus e junto do coração da Mãe. Chegada a hora deixámos a Nossa Senhora a pedra de cada um (aquilo foi é que foi um monte grande de pedras pequenas. Não dá para uma construção, mas dá para ajudar!) e, mais leves, cumprimos a última etapa: alcançámos a Domus Carmeli, jovial e garbosa, que nos acolheu de braços abertos. Cumprido o preceito de aconchegar o estômago, passamos ainda pela Capela. Ali, no chão, brilhavam as flores que as carmelitas do Carmelo de São José nos ofereceram para oferecermos às nossas mães. A oração ali rezada rezava a nossa acção de graças pela meta alcançada, e pelo caminho caminhado na presença santa e bondosa do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Presidiu amavelmente à oração o Padre Provincial, Frei Pedro Ferreira, que nos disse palavras boas e outras esperançadoras como estas: «Se ninguém mais vo-lo disser, digo-vo-lo eu: a vossa peregrinação, as vossas dores e os vossos sofrimentos foram aceites no Céu! Estai certos disso! Estai certos de que ninguém, nem vós!, podereis retirar de lá o que lá acabais de lançar!» Ou porque o tempo urgisse ou porque muito tivéssemos rezado, não custou nada entrar nos carros (coisa rara!). Talvez fosse por ser dia da mãe. Talvez fosse por ainda faltar uma larga jornada até ao colo materno. Talvez fosse, não sei. Sei que depois de entrar no carro adormeci. Tinham-me perguntado se estava feliz, mas adormeci. Julgo que não respondi. Pelo menos com a boca. Mas se um homem adormece como um menino, que outra resposta se pode esperar à pergunta se está feliz?
Quando despertei estava em Aveiro. Parámos diante do olhar de São João da Cruz. Ali ficámos uns, e outros seguiram. Não houve choros nem lágrimas. Algumas saudades, apenas. Dia 24 já nos veremos novamente. Como se tivéssemos andado a roubar, rapidamente nos separámos e cada um foi à sua vida. Eu sei que não foi assim, mas diz-se assim para dizer todo o cofre cheio de desejos de chegar ainda hoje a casa com tempo e com luz para receber beijos, muitos beijos das mães e dar-lhes os beijos que elas merecem e que a Mãe do Céu mandou dar-lhe.
(E como são diferentes os beijos depois duma peregrinação!)
E acaba aqui a crónica. Mas não acaba aqui a peregrinação, porque como dizia o último SMS «O regresso a casa é a etapa mais difícil da Peregrinação». Se é, seja. O ano que vem o dirá. Que até lá Deus nos abençoe.
Que até lá, sobre todos os jovens carmelitas, que em peregrinação a pé a Fátima celebraram os 800 anos da Regra do Carmo:
Se abra a estrada à sua frente.Sopre levemente o vento nas suas costas.Brilhe cálido e suave o sol sobre a sua cara.Caia de mansinho a chuva nos seus campos. E até que de novo nos encontremos, Deus os guarde na palma de suas mãos...

CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA (IV)

Dia 3 - 3 de Maio
In obsequio Iesu Christi
O segundo dia de carminhada foi longo. O de hoje parece ser mais. O dia de hoje vai ser mais. Mais longo. Mais caminho. Mais quilómetros. Mais cânticos. Mais natureza. Mais sol. Mais peregrinos. Mais amizade. Mais searas. Mais passarinhos. Mais, simplesmente mais. Hoje é o dia mais.
O segundo dia foi longo. Tão longo que a sua longinquidade tornará curta a noite. Ao despertar não haverá tun-tuns, mas sininhos e música de anjos. No carmelo das maravilhas da Alice é assim! Sininhos, miminhos, música e demais (sim demais e demasiadas) carícias que fazem as delícias dos peregrinos e os deixam com ânsias de voltar ao lar. No Centro o despertar foi mais prosaico: a Verónica estava à porta para nos levar, e nós estávamos em Vale de Sacos de Cama. Mas rapidamente nos recompomos como se nada nos doesse, nem o caminho por andar nem o caminho já andado. E num santiámen já nos vemos estrada acima, estrada abaixo. À procura da outra parte dos peregrinos. Passámos pelo Carmelo onde tudo está pronto, formámos a caravana e eis-nos, enquanto tudo dorme, a caminho da Gala. Paramos na Gala para rezar e iniciar a nossa jornada In Obsequio Iesu Christi. E aquilo é que foi rezar! Escolhemos o mesmo local do ano passado. E passou-se um caso: passou-se que ou já não nos lembrávamos ou se deu um agravamento das condições. À medida que íamos rezando um enxame de melgas pairou sobre nós e foi mordiscando caras e braços, pés e pernas fazendo um inferno tal que só no Inferno pode haver. Nós aguentamos firmes, não sem distribuir alguns estalos caridosos nos companheiros e companheiras procurando eliminar as terríveis feras. Mas sem sucesso. Foram mais os estalos em vão (Perdoai-nos, Senhor! Misericórdia, Senhor! Miserere nobis, Domine! Kyrie eleison!) que bestas abatidas. Mas aguentámos firmes e rezámos. Quando foi possível fugimos, antes que fôssemos sugados para o ventre de tão mesquinhos bichos!
Fomos tomar um café para espairecer do terrível ataque e despertar os neurónios. E já os mais lentos tinham avançado alguns passos quando, à vista das feras, nos reunimos de novo para as Pistas, que, hoje, são muito simples: seguindo uma tradição antiga e popular, hoje, dia 3 de Maio, antigo dia da Santa Cruz, diremos mil vezes o nome de Jesus! E lá partimos em silêncio, de terço na mão e o Santo Nome de Jesus nos lábios.
1,2,3,4,5,6…
A manhã ainda é bebé quando nos afoitamos ao caminho suave. É sábado e todo o mundo dorme, estradas e caminhos inclusive. O caminho é manso e suave, os carros e os camiões dão-nos tréguas. O sol vai despontando timidamente. O perfume dos pinheiros invade os pulmões e refrescam-nos. A natureza canta e grita de alegria à nossa passagem. Há pinheiros e campos, roseirais e casas semi-adormecidas, cebolais e trigais que nos saúdam e animam. Damos um passo e mais um passo, e lá vamos dizendo, Jesus, Jesus, Jesus, Jesus.
222,223,224,225,226,227…. O caminho começa a subir e os bofes a sair. Alguém que se cruza comigo dá-me os bons dias e em troca escuta: - Jesus, Jesus! Foi sem querer, mas foi a resposta mais bonita que se poderia dar. É que dizer Jesus é dizer Salvador, salvação, alegria, fé e festa! A senhora há-de ter compreendido certamente! E talvez até agradecido.
500,501,502,503,504,505,506,507,508…
O caminho está este ano mais complicado. Ao lado da EN 109 nasceu a A17. Sempre que a A17 desagua na EN109 nasceram rotundas imensas.
667,668,669…
E o aparecimento de rotundas significa o aumento de complicações para quem caminha a pé. Porém, apesar de mais este contratempo lá avançamos generosos e com ânsias de que a coisa termine. Não é que seja coisa ruim ou má, mas antes o desejo de alcançar o proposto, vencer os obstáculos, encurtar as distâncias, saciarmo-nos da paz do Santuário, subir para Deus, entrar para o seu coração, adormecer no seu peito, confidenciar-lhe o que não pode ser dito no recôndito dos quartos nem nas veredas dos caminhos.
888,889,890,891,892,893,894…
E lá continuámos. Uns ligeiros, os veteranos. Outros mais cansados, os principiantes. Mas em todos há vontade e garra de avançar. E vamos avançando durante grande parte da manhã em silêncio.
921,922,923,924,925…
Avançamos, avançamos, avançamos sem medo. Sem medo avançamos, porque Jesus vai connosco.
999,1000. Mil vezes! Mil vezes! Mil vezes Jesus!

Mil vezes, Jesus!
Sempre Jesus!
Mil vezes mil, Jesus!
Sempre Jesus!
Sempre Jesus nos lábios!
Sempre Jesus no coração!
Sempre Jesus nas lágrimas!
Sempre Jesus nas preces!
Sempre Jesus nas saudades!
Sempre Jesus nas palavras!
Sempre Jesus nos pensamentos!
Sempre, Jesus sempre!
Sempre Jesus nos sentimentos!
Sempre Jesus nos passos!
Sempre, sempre Jesus!
Sempre, sempre o seu Santo Nome!
Sempre connosco!
Sempre em toda a parte!
Sempre por dentro como um afago!
Sempre por fora como um agasalho!
Sempre Jesus como uma armadura!
Sempre Jesus! Mil vezes Jesus!
Mil vezes sempre mil vezes vezes mil, Jesus sempre!

Quando chega a hora do reforço esticámo-nos no chão. Esticámo-nos, não! Há quem prefira continuar e evitar a tortura do levantar e do pôr em andamento a carcaça, essa velha máquina a vapor tão lenta, mas tão fiel e sólida. A carcaça, a máquina a vapor, o corpo ou o irmão burro (como lhe chamava S. Francisco) é tudo o mesmo!
Durante a manhã caminhamos seis horas. Há quem diga que a média são 5 quilómetros por hora. Mas talvez seja mais. Hoje é o dia mais. O céu pejado de nuvens ameaça chuva. Chegamos por fim à Ilha e a um cafezito simpático que no ano passado nos livrara do frio. Abancámos aí. O café está mais acolhedor, mercê dum corta-vento cuja ausência no ano passado tanto lamentámos. Comemos os pães que a prioresa do carmelo de Alhadas nos deu. E comemos também uns frangos de churrasco. E até comíamos mais. Mas nem as sandes eram mais, nem a inexperiência nos fez comprar mais churrasco. Mas ficámos bem, graças a Deus.
Depois da refeição esticámos as pernas e demais ossos do esqueleto. Há quem durma a sesta e quem alongue as pernas pelas paredes acima. Cada um arranja a estratégia que lhe traga mais conforto.
Custou deveras voltar ao caminho. Mas uma vez ali nada nos deteve. Nem as flores nem as feras.
O percurso da tarde é tão belo quanto o da manhã, mas com mais peregrinos. Vão muitos peregrinos connosco. Uns rezam, outros cantam, outros riem. E todos sofremos. Alguns, que ultrapassámos, já os conhecemos de jornadas anteriores. São breves reencontros, porque logo os passamos e seguimos em frente. Depois do terço vêm os cânticos e depois dos cânticos as histórias e depois destas as confidências. E no fim de tudo o amor. E sempre o amor. Ámen, Jesus. Que aquilo que aqui fazemos não é mais que obsequio Iesu Christi, serviço e seguimento do Mestre.
Foi talvez a jornada em que durante mais tempo caminhámos em grupo. Os pés já não temem a estrada nem o corpo as dores. Por isso vamos. Há concerteza gente em dificuldades, mas como estamos cada vez mais perto ninguém desanima ou se poupa.
Há quem caminhe só, em silêncio, buscando, ao que dizem, respostas a perguntas que só o tempo e a solidão trazem à alma. Há quem caminhe lado a lado, como os de Emaús, mas sempre mantendo o preceito de ouvir o que Ele diz, e «dizer o que Ele diz, mas só o que Ele diz que é para dizer».
Chegamos por fim ao Barracão, fim da nossa terceira jornada. O Barracão foi mais uma vez para nós um zénit e um bom augúrio: quem chega ali chega ao fim.
Rapidamente as carrinhas nos devolvem à Ilha, ao Centro Social e Paroquial. Mais uma vez somos ali bem recebidos pelo pessoal da Casa que nos recebe em nome do Reverendo Pe Nogueira. Ali houve tempo para tudo, até para um dos nossos actores amadores vender sardinha numa canasta sem sardinha. O azar dele foi que o povo tem dinheiro e fome de sardinha, mas como ele não tinha sardinha teve de ter lata para sair airosamente da situação.
Depois de refrescados rezámos Vésperas calmamente e calmamente meditámos mais um trecho da nossa Regra. Após a oração comemos uma sopa opípera, que até aqueles que não gostam de sopa comeram. É certo que não havia mais nada, mas nem era preciso. Sopa gostosa como aquela já não comíamos há um ano, quando ali ficáramos alojados.
Seguiu-se nova sessão de bolhas, a segunda do dia. E ainda haveria uma terceira que só terminaria depois da uma da manhã. Pelo bem-estar dos peregrinos nada se poupa, nem o sono.
A noite só terminou com um longa celebração de partilha e perdão, como manda a Regra, que recomenda que quando necessário se partilhe a vida comunitária e se corrijam as faltas com caridade. Foi um momento cálido, belo e fraterno que uniu muitíssimo o grupo. Como ali se falaram e se choraram as coisas passadas e sofridas no grupo o narrador lança aqui um véu para que apenas se entreveja sem ver o que ali se passou e celebrou. Seguiu-se depois, como já se disse, a terceira sessão de fura bolhas. À nossa espera estava de novo o chão duro, mas quem pode achar duro o chão se nem tempo tem para pensar, porque se se põe a pensar longo chega a hora de despertar?
Vamos dormir, pois. Fomos, pois, dormir. In Obsequio Iesu Christi. Ámen.

Testemunho III - II Peregrinação a Pé a Fátima

AS PEGADAS QUE ENCONTREI
Há muito que me procuro e não sei por onde ando. Há bem pouco tempo, umas pegadas apareceram no meu caminho e despertaram um pouco a minha atenção. Não sei de onde vêm nem que rumos vão tomar mas decidi tentar segui-las ou pelo menos prestar-lhe mais atenção.
O desafio foi feito, era só mais um. A decisão … a decisão difícil de tomar, pois o caminho não era novidade, era conhecido, muito longo e doloroso, - Pensava eu! Já tinha realizado esta caminhada outras vezes, mas esta foi diferente eu senti-a especial. Era o grupo? A sua dinâmica ou companheirismo? Não sei!... Era uma presença, um conforto, um colo,…uma mão a segurar na minha e a levar-me ao encontro da Mãe.
Cada passo percorrido foi uma descoberta, cada palavra recitada um reencontro, cada um do grupo uma bênção e na chegada uma grande realização de amor e um encontro comigo mesma.
Obrigado a todos, por estes dois dias magníficos!
Recordáreis-vos sempre!

TERESA ROMEIRO, 35 anos, Alhadas

quarta-feira, 7 de maio de 2008

CRÓNICA DUMA PEREGRINAÇÃO ANUNCIADA (III)

Dia 2 - 2 de Maio
Permanecei em mim e eu permanecerei em vós.

São cinco horas da madrugada. É negro lá fora. Não é negro cá dentro. Ouvem-se tun-tuns suaves correndo todas as portas das celas. (Agora já se pode falar de celas, porque os peregrinos já sabem que as celas não são celas.) Os corpos resistem a erguer-se, mas acabam de pé. O meu erguer do esqueleto é um não sei como é: inventei para mim um trejeito de saltimbanco que faria rir o pinheiro mais sisudo. Porém, a coisa resulta: dá para sair da cama, tirar o pijama, lavar a cara, vestir-me e ir até ao refeitório, pondo um pé à frente do outro. É tudo feito quase num só gesto enrolado, feito mais de adivinhas que de saberes. Tudo se queixa no meu corpo. Mas não haverá queixa que impeça o andar com Maria para Jesus. Foi isso que nos propusemos.
Estou a re-aprender a andar. As bolhas supõem uma alteração na equação do equilíbrio e do andar, mas o mais importante é que no fim caminhamos e o caminho lá vai sendo feito. O pequeno-almoço é frugal mas mais que suficiente para o caminho. Dali vamos rezar os Bons Dias ao Senhor e depois caminhar, primeiro em carrinhas que nos devolvem à EN 109 e finalmente a pé. É noite. É chumbo. É frio. Os camiões também peregrinam, furiosos, e ao contrário. Trazem vento e nevoeiro que atiram para cima de nós. É tão frio que a única solução é andar em fila indiana. Aqueles gigantes de ferro e pneus atiram-nos tamanhas golfadas de vento frio para cima de nós, que não há outra forma de caminhar senão, como diz a Regra, com uma armadura de pensamentos santos no peito.
Entretanto, já bailam dentro de nós as Pistas. Somos convidados a permanecer ao longo do dia. A fazer um acto de presença do Senhor. A estar atentos ao que possa ser sinal da Sua presença: um sorriso, uma mão amiga, uma palavra de incentivo, uma ajuda, um conselho, uma flor que se partilha, um versículo da Bíblia, um raio de sol, uma gota de chuva (houve pelo menos uma!), o passeio que se alarga, o canto ou voo dos passarinhos, os ribeiros, os campos, as pessoas, a manhã fresca ou a tarde quente, um pensamento santo, um voto… Existem tantas coisas que nos falam de Deus! Há tanta maneira de Lhe dizer Eu sei que estás comigo e Tu sabes que quero estar contigo!
Foi óptimo caminhar com a cela do coração desperta para a Presença maior que acordou o dia para nós e animou os nossos passos a caminhar!
Amanhã alonga-se e o caminho também. Aloooooooooonga-se muito, muito, muito mesmo. Mas a verdade é que as rectas da Tocha as comemos como quem come carapauzinhos de escabeche, que, como se sabe, depois de comidos não ficam nem espinhas! Num caminho assim tão longo que parece que atrai a solidão são importantes os carros de apoio, que são três. O sr. Branco repete a função e vai sempre a chamar-nos fraquinhos, «sois uns fraquinhos, vamos lá andar!». Também distribui água e bolachas. A Susana repete também a função. Quando está fora do carro, anda sempre aos saltinhos ou a recolher casacos e camisolas ou a dar água e a mimar. (Também nos ofereceu umas pedras grandes para caminhar, mas acabou a fugir de ter de as carregar ela!) Não me admira que dê saltinhos, o António Pedro, o marido, também caminha a pé. E claro, ela anda mais nervosa, porque a melhor parte dela (Deus me perdoe!) anda a ajudar o Pedro a caminhar! Por fim, também a Verónica nos ajuda. Vai ao volante duma grande carrinha. Não faz o trabalho que mais gosta, mas faz com gosto e com sentido de caridade o trabalho que faz. Não é esta a maneira que mais gosta de peregrinar (prefere caminhar) mas foi ali que Deus pediu que fosse e ela vai! (Embora tenha andado muito pensativa) Faz de tudo um pouco: fala, anima, encoraja, lê, põe música, recolhe informações, sugere alterações, cuida dos mais pequenos, cuida dos grandes, organiza os carros de apoio. E no fim, com gosto e a fazer caretas que assustam as bolhas, faz de fura-bolhas. Ainda hoje nos meus sonhos a vejo vestida de D. Quixote Fura Bolhas com a lança em riste! É a melhor fura-bolhas que conheço: vê uma e zás!, vê outra e zás, zás-pás-trás!, atravessa-as com a agulha dum ao outro lado. Quando nós guinchamos já ela furou a quarta e a quinta. A furar bolhas bate mais recordes que D. Quixote a combater moinhos! (E este é um trabalho que ninguém gosta de fazer. A coisa é de tal modo que quando vimos uma bolha botámos logo a fugir! Somos uns mariquinhas porque sabemos que elas nos podem perseguir! E porque o podem nem armados de agulha e linha as conseguimos encarar! Mas a Verónica, não! Zás, zás, zás, zás e zás! Quando damos conta já ela atou com a mesma linha 15 pés de 12 pessoas diferentes, depois de ter furado 144 bolhas!)
Chegamos por fim a Ervedal com uma hora de avanço. O Restaurante está no mesmo sítio e promete a mesma carne grelhada de há um ano! Comeremos com a mesma sadia vontade que temos quando comemos caminhos.
As Alhadas estão ali a dez ou doze quilómetros, mas ninguém quer lá chegar desfalecido. Por isso, abençoamos a refeição e comemos. E repousamos.
Estávamos postos em ledo post-prandium quando o sorriso da Alice Montargil nos surpreende e assalta. Vem passar revista às tropas, ela que é quem mais tempo leva de jovem carmelita! Vem também para partilhar connosco um café e o que falta do caminho. Já conhece muitos dos peregrinos e muitos outros não. Mas ficará a conhecer. Entretanto, o sol descobriu-se e está muito calor. O que vale é que haverá muitos pinheiros pelas veredas e a sombra promete ser caridosa connosco. Além disso vamos rezar o Terço, que será sempre a parte melhor do caminho. Mais uma vez será.
Na placa de S. Amaro da Amoreira não resistimos e tiramos uma foto. Aquele nome traz-nos boas recordações. É a partir dali que rezaremos o terço. Mas não sem antes as pessoas nos chamarem tolinhos três ou quatro vezes, porque «Fátima não é para aí!». E não será mesmo, mas nós sabemos que há «para aí» uma casa da Mãe, chame-se ela Fátima, Carmo, Clara, Maria da Luz, Teresa ou Alice. E foi mesmo por ali que fomos a rezar o Terço.
Chega por fim a Capela de S. Amaro. A porta está aberta e é ali que concluímos a nossa oração, cantámos e recebemos a bênção. O povo acorre, junta-se, quer-nos seduzir com água fresquinha (que aceitámos), mas não parámos porque os peregrinos foram feitos para andar. A meta ainda não foi alcançada e temos de partir mesmo. Pessoalmente apetece-me parar, mas a pior parte de mim diz-me que devemos andar porque depois custa imenso a pôr a máquina a vapor a andar. Apetece ficar ali com o povo, mas talvez seja melhor ir com Deus. Enfim!
Chegados às Alhadas homenageamos as padeiras (deve haver algures uma foto como prova). Depois fomos para a igreja paroquial. Ao perguntar onde fica a Igreja, as pessoas respondem: - Qual?, e têm razão, porque são duas, a Católica e a Protestante. Quando respondemos: - A de São Pedro!; dizem-nos: - Vão por ali. E fomos.
As portas da Igreja de S. Pedro das Alhadas estão fechadas e ainda não foi desta que fomos conhecer o Padroeiro. Subimos, pois, mais um pouco e parámos junto ás portas do Centro Social Água Viva. Está ali um magote de velhinhos que não sabe se rir se chorar. É que vamos chegando às pinguinhas, umas pinguinhas renitentes, cansadas e suadas, que não dá gosto nem ver. Os trejeitos dão para rir, as dores que se vêm dão para chorar. Mas julgo ler nas suas caras um desejo de amanhã partir connosco, nem que seja de cadeira de rodas.
Quando alcançamos juntar a tropa as meninas vão para o carmelo da Alice Montargil e os rapazes ficam-se pelo Centro. Havemos de nos reunir mais tarde para nova sessão de fura bolhas, para o jantar sempre sereno, alegre e familiar com os nossos amigos de Alhadas, para celebrarmos a Eucaristia e para o debate final sobre as presenças diversas de Deus no caminho.
Tragamos o jantar num piscar de olhos e logo nos vimos a celebrar a Eucaristia. Havia ali amigos e amigas de comunidades várias, que já nos conhecem doutras carminhadas. Conheceram-nos aqui e além e acham que somos um vírus. Não dizem se benigno, mas ao que parece a coisa não está para passar. Gostam de nos ver, de cantar e rezar connosco. O vírus pegou e tardará em sair. Reclamam que vamos mais além, que rompamos fronteiras. Reclamam e a ver o que se verá.
Na Eucaristia estão quatro jovens peregrinos de Alhadas que carminharão connosco amanhã e no decorrer da mesma chegarão três outros jovens peregrinos. Estes trazem com eles uma história engraçada: vêm a caminhar há largas horas, com o sistema de GPS ligado. Ao chegar a Alhadas resolvem seguir a intuição e não o GPS. Assim, quando ele recomenda virar à direita seguirão em frente. Ou ao contrário. Chegarão, sãos e salvos, à Eucaristia, depois de percorrer as tortuosas ruas da povoação. E em jeito de confidência dirão: «O GPS estava errado, por isso decidimos seguir a Estrela!» Seguiram? Parece que sim. O certo é que chegaram a tempo de receber a pedra com que amanhã terão de carregar no bolso ou na mochila. Entretanto a Eucaristia decorre e porque é dia de S. Atanásio, o presidente da celebração recorda a frontalidade e a resistência pela verdade de que este santo bispo foi perfeito modelo. E socorrendo-se ainda do número dezasseis da nossa Regra, recordou-nos insistentemente que a nossa vida de fé é um duríssimo combate que não devemos evitar, porque no fim lá está Quem melhor pode pagar. Terminada a Eucaristia e terminado o debate no Centro, regressaremos todos para dentro dos sacos cama. Urge descansar, porque o dia de amanhã avizinha-se longo, duro e cansativo.