domingo, 5 de abril de 2009

Notas finais - XI Carminhada - Moinhos da Gândara - 4ABR'09

Não há Quaresma sem deserto, diziam-me. E eis que ele chegou já perto do fim, porque Deus é oportuno e cuidadoso para com todos os seus filhos e nos ofereceu a nós, Carmo Jovem, a possibilidade de irmos ao deserto. Bastou querer, estar desperto e atento. Também poderíamos dizer que não há Quaresma sem Deus, nem comunidade sem irmãos. E tudo isto e mais haveremos de alcançar hoje em poucas horas. A XI Carminhada estava agendada para Moinhos da Gândara, Figueira da Foz, ali para os lados do mar que não chegaremos a ver. Dum lado estava a ânsia de nos receber, do outro lado o desejo de ir, pelo meio andava Deus, e em todos os jovens carmelitas, havia fome de caminhos e de verde, de poeira e novidade, de amigos e Amigo, de comunhão com a natureza e o céu. Fomos. Estavam. Não sendo a minha primeira carminhada, foi, contudo, aquela que me fez partir de mais longe, dum ambiente mais contrastante com aquele por onde carminharíamos. Os amigos não são problema e são sempre bons em qualquer lugar; a dificuldade mesmo, que convém que sempre as haja, será o terreno arenoso e movediço debaixo dos pés. Saímos cedo e com sono. O tempo das sete da manhã, fusco e incerto, tinha uma cara pior que a nossa. A nossa sorte é que a XI Carminhada seria bem para sul, longe das nuvens e da chuva que parecia ter chovido durante a noite. As notícias que se vão cruzando no ar dão contas que os exércitos estão em marcha, acometendo os Moinhos. E outras confortam-nos por demais, porque os moleiros — deixem que o carinho os chame assim — são os únicos que parecem confiantes no bom tempo. Ah! valentes! Por ora marchámos estrada fora, desconfiados. Ainda por cima, vamos quase sem plano B! Isto é que é confiar na Providência. Chegámos a horas, cumprindo o horário, porque isto de andar com Deus tudo são horas. Os da casa estavam a postos, quais Martas que Marias, dando voltas e reviravoltas a mais um pormenor que alguém alcançava arranjar melhor, ou quem sabe, dar um pouco mais de brilho. E havia brilho e gosto do bom e de bem receber, e em nós de nos deixarmos abraçar e acolher. Os acertos que sempre os há foram rápidos e entrámos. Uma vez dentro da Igreja de Nossa Senhora da Saúde dos Moinhos da Gândara fomos acolhidos pelo grupo coral que nos saudava cantando Somos Um. Sim, somos um. Um só povo em torno dum só Rei, um só corpo em Cristo, uma só igreja reunida no baptismo, uma só comunidade reunida na fé, na esperança e na caridade. Não contámos quantos os da casa e quantos os de fora, porque, no fim de contas, todos somos da casa, todos somos de fora, todos somos dos caminhos. Porque todos em qualquer lugar Somos Um. Ámen. É isso que seremos ao longo do dia. E para além do dia e dos dias e das noites que sobrevirão. Somos um, uma bela saudação. Muito obrigado. Uma vez dentro, vamos ainda mais adentro e rezámos no interior. Depois a Célia Oliveira, serena e calma — sem denunciar o temor e o tremor que lhe vai dentro —, com voz pausada, foi dando conselhos e instruções de segurança, dizendo-nos com verdade que a manhã seria dura e mais longa, caminhando sobre areia e levantando pó; que haveria surpresas no carminho que valeriam as dificuldades; que a tarde seria mais levadeira e calma; que, oxalá, nos haveríamos de cansar fisicamente, mas chegaríamos de novo à casa da Senhora da Saúde, a casa da Igreja, renovados e reconfigurados espiritualmente. Esse era o desejo bem posto. Depois falou o Rev. Pároco, Padre Pedro Hoka, que saudou cordialmente a todos e re-situou as carminhadas no longo contexto cristão das peregrinações ao encontro dum santuário ou lugar santo. Somos, afinal, o que sempre fomos: povo de peregrinos. Mas, talvez, nem tanto. Talvez apenas aprendizes. A marca porém que há em nós é essa: carminheiros, peregrinos. A Filipa recebeu da Sté o cajado e lá fomos. (Em fundo o coro recordava novamente: Somos Um!) Sê-lo-emos. Além do cajado, que é pesado, a Filipa, que é franzina, recebeu na outra mão a prima Mariana que, quando lhe pergunto, me assinala quatro dedos para me dizer que tem cinco anos. A regra não será infringida: ninguém chegará a ultrapassar o cajado, a Filipa andará sempre ao ritmo desejado pela boa organização e a Mariana nunca largará a mão da prima, o que quer dizer que, pequenita, fará, sem birras, o percurso dos graúdos.

Como gente grande. E assim se confirma que é imprudente e pouco sensato medir as mulheres aos palmos. A organização, gente adulta e atenta, parece ter ou muita experiência ou muito cuidado e muito gosto, ou tudo junto e mais. Pois sempre que nos fazemos à estrada alguma cabeça madura se adianta e corta o trânsito lá bem ao longe para que nenhum motor nos incomode com o seu rancor. Entrámos na floresta. Os pinheiros são alinhados «à linha, como quem planta uma vinha». O caminho é de areia muito fina, que, depois de calcorreada por mais de duzentos e oitenta pés — É fazer as contas! É fazer as contas, como dizia o outro Primeiro! — levanta uma nuvem de pó. Caminhamos a bom caminhar, mas de repente, vê-se que o pessoal escolhe caminhar pelo monte, que é um pouco mais duro. Quase só a Filipa e a Mariana vão pelo caminho. Os outros vão pelas bermas, que hão-de ser dificultuosas, em algum lugar até com urtigas! Por fim, o inesperado: uma lagoa grande, vinda do nada aparece-nos ali plantada! Depois de tanto pó apetece mesmo um banho. Apetece mesmo o banho, não o silêncio e a oração. Por fim lá se consegue. Rezámos ali um belo salmo de confiança, lemos um trecho da Carta aos Romanos. E ala! Ala não, que há uma surpresa. Depois da fotografia de grupo somos presenteamos com broinhas de pão doce e água fresca. A manhã já vai adiantada, o caminho ainda não vai a meio e o pão e a água vêm mesmo a calhar. Ó que boa ideia! Como mandam as boas regras só tirei uma broinha, mas oxalá tirara doze, que doze comeria de tão boas que eram.

E lá vamos nós ao pó. Andámos pelo monte como as cabras e pelos caminhos como gente, e se alguma estrada nos cortava o passo podem ter a certeza que a organização ia cortar o trânsito com a autoridade de General da Guarda Nacional Republicana: e os poucos condutores obedeciam cordatamente! (E não éramos tão poucos e tão lestos assim a atravessar!) E as valas? As valas se havia que atravessá-las a Junta de Freguesia mandara limpar-lhes os acessos e reforçar os passadiços. (Sei do que falo, porque bem vi que algumas tábuas eram novas e os pregos também!)

E que belos campos por ali há, cheios de verde e de vida. E valas como veias que os regam e lhes alimentam a vida! A carminhada foi tão diversa que não houve variedade ou diferença que não víssemos, como quem em dia de colheita tudo recolhe para o celeiro. E se a orientação se fazia difícil logo víamos São Paulo numas placas preparadas a preceito indicando o caminho. E não foram tão poucas assim, que alguém se deu ao trabalho de começar a coleccionar os cromos. Até que se cansou! Não sei o que mais me impactou pela manhã. Mas não me estranharia que tivesse sido a visita ao moinho que uma associação cultural local recuperou. Tudo está ali bem: bem recuperado, bem documentado, bem apresentado. Éramos 130? Éramos. Ou mais. E entrámos todos dentro do moinho, que outrora fora engenho e lar do moleiro, que ali tanto trabalhou e adormeceu tecendo as freimas e os seus sonhos ao ritmo do rom-rom da mó e das pás do moinho.

Belo! Ali rezámos como propusera o grupo Somos Um. Ali ouvimos por calmos momentos a mó a moer. Ali rezámos ainda em silêncio, por aquelas e aqueles a quem o inesperado da vida planta uma mó na cabeça que vai moendo, moendo, moendo. Rodando, moendo.

Vimos ainda um outro moinho, este a vento. A foto não podia escapar e bem andou quem dela se lembrou.

Saímos dum, a água, e subimos o morrozinho do outro, a vento. E, ó surpresa!, ao chegarmos sai-nos uma lebre correndo por entre as pernas da moçarada, julgando que a quereríamos para almoço. Não queríamos, embora a barriga o reclamasse. Subimos um pouco mais e nova surpresa: o moinho tem rodas. Sim, rodas! Estará o leitor a pensar: a hora vai adiantada e o escriba ou teve um ataque de ilusão, semelhante ao do cavaleiro da Triste Figura, ou, por causa da fome, julga ver rodas o que são mós, ou vê um carro e julga ver um moinho! Mas não, protesto eu! É mesmo um moinho, um moinho de vento e com rodas! E a coisa passa-se assim: Como não haveria jeito de o descer dali, para que servirão (ainda hoje servem!) as rodas? Servem obviamente para rodar o moinho sobre um eixo em busca do melhor vento que mova as velas! Imagine-se! Quero ainda declarar que vi este moinho moer. É dos poucos, nós visitámos ou visitaremos três. Mas a terra teve imensos, porque era uma terra farta de grão, de veias generosas e bom vento que fizessem girar pás e velas. Pelo que, penso eu, quando este povo jovem nos trata tão bem, como já ficou dito e mais à frente ainda melhor se dirá, mais não fazem que repartir fartura e bem fazer como bem repartiram os seus antepassados e eles aprenderam, porque em casa farta uma mancheia de farinha que se reparte com os pobres nunca faz falta. É o relato bíblico da viúva de Sarepta que o diz. E quero ainda declarar que vi o que jamais vira: o moleiro vestir as velas ao moinho. Assim como uma mãe, pela manhã, veste o filho pequenito e lhe vai ronronando para que erga os braços afim de vestir a camisa, depois a camisola e por fim o casaco, assim, o moleiro: por debaixo do braço caça a vela, e com as mãos vai rodando os braços à roda, e uma a uma lhe veste todas as velas. Podem discordar e dizer que nada há ali de belo, mas eu raramente vi cuidar dum engenho como quem aconchega um filho! Como quem faz a manhã longa encurta a tarde, parámos algures, num lugar que a Filipa sabia, ou que se não sabia sabia pelo menos ler São Paulo nas tabuletas.

Era um parque de merendas espaçoso, com água, WC, mais água, sabão líquido, toalhas limpas, baloiços, escorregas, flores, sombras, convívio e um bom convite para descansar. Só luxos. Eram tantos os luxos que dei comigo a pensar qual dentre nós seria o rei, pois, pelo tratamento, éramos a comitiva! Mas havia que comer e depois de comer, tínhamos de caminhar embora nos apetecesse dormir. Mas para que caminhássemos sem sono, antes de partir, ali um pouco ao lado e à sombra, brotou uma máquina de café que não se cansou enquanto não fomos todos servidos. Vocês ouviram bem: ali um pouco ao lado e à sombra brotou uma máquina de café que não se cansou e foi debitando saboroso café, enquanto não fomos todos saciados! Ó maravilha! Façam muitas dessas que não nos custa nada regressarmos e mais cedo do que julgam! (E depois de calmamente abandonarmos o parque, ficou uma equipa duma rapariga só, que recolheu a máquina, as toalhas, o lixo que sempre fica, e desligou as luzes. Fantabulástico!) Estamos agora no início da tarde, percorrendo a rua mais movimentada da localidade. Avisam-nos. Mas porque é sábado talvez não haja trânsito. Claro que há. Mas não tanto assim. Cruzam-se dois camiões enormes, um é da terra e o outro do estrangeiro. Não sei se o local está informado, sei que pára e fica respeitosamente a apreciar a longa e ordeira fila de gente jovem.

E quando o último de nós passa, ele liga o motor e arranca. E lá vai à vida. E nós à nossa. Parámos agora numa encruzilhada de verde e de sombra.

Dum e doutro lado e dos outros dois também há verde e mais verde e mais dois verdes, e nenhum igual: é trigo afoito. Parámos para rezar em mais um momento bem conduzido pelo Somos Um. Depois arrancámos. Mais uma viragem de estrada e outra mais além, e já vamos de novo areia fora, pinhal adentro. Dizem-me baixinho que vamos para o Moinho do Sr. José Augusto Rodrigues. É um moinho-casa. Pode ver-se agora o que de manhã não fora possível, visto a reconstrução ter sido quase de raiz. Destes moinhos já eu vira uma vez e fiquei deveras impressionado. A porta está aberta e o dono não responde. Saberemos depois que como não estamos a horas fora à nossa procura. Chegáramos entretanto por outro caminho. Por isso, entrámos. O espanto maior é dos novos. Dei, no que se podia dar, a volta à casa. Pelo lado norte chega uma levada forte que não precisa de bater à porta porque logo ali morre e descai para as pás do moinho que fazem girar a mó. A casa é baixa e de planta rectangular. Tem duas portas, se bem me recordo, frente a frente. Do lado da levada tem um cruz vermelha e do lado da frente duas. Entrando pela frente chega-se uma sala ampla que ocupa um quarto do espaço. Deve ser a arrecadação da semente e até talvez da farinha. Do lado direito duas portas denunciam os quartos ou um quarto e uma cozinha que não chegámos a visitar. Do lado esquerdo, num pequeno quartinho, como se fora um membro mais da família, gira docemente uma mó.

Estão por ali alguns apetrechos indispensáveis à vida e à lida do moleiro e há depois ainda outra porta que não chega a abrir-se. E a mim dá-me inveja só de pensar ser ali um quarto onde se possa dormir ouvindo a água a cair embalando canções à mó e ao moleiro! Quando chego ao terreiro apresentam-me o livro de honra. Leio a acta onde se declara o júbilo do dia e a alegria de estarmos ali vendo a vida a girar. Já assinaram todos os representantes dos grupos, uns onze ou doze, e por fim, assino eu. Eis senão quando nos aparece, sorridente, o Dono da casa, o Sr. José.

Somos mais de cem e ele é um só. Mas os tempos são de paz e homem vem alegre, nunca tivera tantas visitas em casa duma vez só! É ele quem apõe a sua assinatura em último lugar como que validando um dia que valeu a pena. Paramento-me segundo as normas litúrgicas do dia. E, surpresa, mais uma!, dum cabeço vem descendo por um carreiro a Dona Maria da Luz com um macho pela mão, rapaz novo e forte, que ainda trabalha. Mais afeito à carroça que a ser levado pela arreata.

Ele que é burro mas sabe contar, vai, em deixando a dona, rodando a cabeça e sacudindo as orelhas com ligeiros puxões. Não, moscas ali não há. Mas há gente como moscas e eu estou seguro que nos vai contando um a um. Por cima do lombo deitam-lhe uma manta e para que fique parecido connosco, deitam-lhe também uma faixa do Carmo Jovem.

Assim sim! Somos todos criaturas de Deus, valha a verdade! Junto do burro postam-se dois moçoilos fortes com palmas nas mãos. O cenário compõe-se. Chega por fim uma cruz enorme de madeira, que, erguida, ganha presença e domina o terreiro. Seguram-na outros dois fortalhaços, mas para ser levada terão de levá-la, julgo eu, com o amparo de mais dois. Mas depois se verá. Começa a bênção dos ramos com um silêncio profundo para propiciar o melhor ambiente. Segue-se a bênção e a leitura do Santo Evangelho da entrada triunfante de Jesus em Jerusalém. Podemos caminhar em paz, diz o presidente da celebração e lá vamos. Primeiro a cruz, depois os jovens quatro a quatro, depois os ministros, por fim o Frei João que presidiu e ao lado a Dona Maria da Luz e o macho. Ele garboso, ela com pena. Ele garboso porque um seu antepassado teve a sorte de alombar com o Príncipe da Paz na sua entrada triunfante em Jerusalém; ela com pena, «porque toda a gente gosta de assistir à Missinha» e hoje não poderá fazer porque terá de devolver o macho em segurança a casa. (Mas descanse, Dona Maria da Luz, porque a organização já lhe conhece as penas e por isso providenciou segurança para o bicho e a si a possibilidade descansada para «ver a Missinha»!) Enquanto líamos o Santo Evangelho chegou uma carrinha branca Kangoo.

Abriram-se as portas e lá dentro brilham sacos grandes. Abrem o primeiro e a carrinha arranca lentamente e quatro mulheres espalham verdes por onde há-de passar a procissão! A carrinha ganha-nos avanço, a cruz arranca, a procissão organiza-se e estende-se, tudo se põe em marcha e até o macho pouco habituado a estas andanças colabora. Foram mais de dois quilómetros, primeiro a cantar e em júbilo, depois em silêncio e respeito. Os trolhas páram de trabalhar e descobrem a cabeça, o trânsito pára, as mulheres levam bebés nos carrinhos, os cafés desligam as televisões, e nas traseiras seguem bicicletas e silenciosas motorizadas levadas à mão. Belo. Belo e respeitoso. Ao chegarmos à Casa da Mãe, a Igreja de Nossa Senhora da Saúde, iniciámos a Eucaristia, uma bela Eucaristia que terminará duas horas depois. Preside o Frei João. Canta o grupo coral. Os representantes dos grupos sustentam palmas, os leitores são variados.

É a Eucaristia no Dia Mundial da Juventude, e também do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, dia contraditório e paradoxal, por ser dia da memória jubilosa da entrada festiva de Jesus em Jerusalém, mas também memória da sua paixão e seu martírio, às mãos iníquas dum discípulo traidor que se aliou às temerosas forças do poder para O assassinar! E logo Ele que era o melhor de nós!

Na homilia lembrámos os que sofrem, em cujo corpo campeia a dor e o sofrimento. Rezámos por eles e elas para que unidos à dor de Jesus sejam fortes e valentes no combate, tantas vezes horrível e desigual, que o sofrimento lhes propõe. Recordámos ainda a vida do jovem mártir zairense B. Isidoro Bakanja — amigo de Nossa Senhora, crente no Evangelho e discípulo de Jesus — que, porque jamais se envergonhou do Evangelho, morreu mártir perdoando a quem tão extemporaneamente lhe arrancara a vida, como quem arranca a cana de trigo antes da espiga crescer e amadurecer. E recordámos o discípulo que na noite da prisão de Jesus o acompanha embrulhado num lençol, mas que vendo-se denunciado e reconhecido abandona o lençol antes que lhe deitem mãos e foge nu! Não assim nós! Não queremos ser como este, Senhor! Não nós. E por fim a Eucaristia acabou com mil abraços e mil palmas e mil agradecimentos para quem se deslocou àquelas terras tão belas e não menos agradecimentos nem palmas nem abraços para quem tão bem soube acolher. A fé não se faz só. E se é certo que no fim do dia estávamos cansados, certo era também que mais amigos, mais irmãos, mais renovados, mais fortalecidos. Havia que regressar? Havia. Não era fácil, mas havia. Nos sacos havia ainda restos de comida para comer e partilhar. Porque o regresso era longo para alguns, logo ali se alimentou o corpo porque a alma já estava. Termine-se com a exclamação do salmista: Ó como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia! Em Moinhos da Gândara houve comunhão: a farinha que nos deram recordar-nos-á sempre os grãos imperfeitos que ainda somos, que só seremos completamente belos quando moídos na mó do moinho para que, juntos, reunidos e em enfarinhada comunhão, nos dermos como alimento uns aos outros! Termina cansada a crónica, porque foi isso que a Célita pediu. Mas o espírito, como ela bem sabe, estava renovado e retemperado. A carminhada de Moinhos da Gândara foi diferente, e ainda bem. Nada é igual a nada, e o que conta é o amor a Jesus e à Mãe. Sim o que fazemos é por amor a Jesus. É por amor a ti, Jesus! Fizemo-nos de novo à estrada, para o regresso, porque lá como aqui, alguns tinham uma noite de trabalho pela frente. E se queremos que a devoção não complique a obrigação é preciso fazer tudo certinho. Enquanto a carrinha comia quilómetros, o Dinis entretinha as hostes e eu dormitei. Comecei a aforrar sono para a próxima carminhada que se fará de noite, em Aveiro no dia 22 de Maio. E que por ser de noite se chamará clarminhada. Para ela virão aqueles que não se assustam nem com o susto nem com a noite. Até lá, abreijos! Páscoa feliz para os grupos de Alhadas, Esperança, Ferreira-a-Nova, Maiorca e Moinhos da Gândara (Figueira da Foz); Avessadas (Marco de Canaveses); Aveiro; Caíde de Rei (Lousada); Coimbra; Gafanha da Nazaré (Ílhavo); Matosinhos e Viana do Castelo!