“Que cegueira esta que eu tenho trazido!”
de Santa Teresa de Jesus (1615 – 1682): Livro da Vida 40:11
Sexta-feira – 02/03
Eis que o grupo se começava a formar por volta das 19h30 no Convento de N. Sra. do Carmo, de Viana do Castelo. Aí começaram já as boas surpresas acompanhadas de sorrisos sinceros de alegria. O reencontro com os amigos do grupo do Crisma, o reencontro de ex-colegas de escola, os novos conhecimentos… toda esta ebulição ali mesmo, onde as bagagens iam sendo devidamente acondicionadas no meio de transporte.
Ia escurecendo… Mas os corações e os olhos de todos brilhavam;
Ficou o grupo completo e iniciamos a nossa viagem rumo a Avessadas.
Pela viagem íamos tentando descobrir o que se iria passar… pois estávamos completamente às escuras… nós do grupo do Crisma, pois tratou-se de uma experiência nova. E às cegas lá continuamos… Mas entretanto uma brincadeira aqui… Um sorriso acolá… Uma gargalhada vibrante… Um partilhar de música… Um gritar efusivo: “GOLO!!!!!!!!!!!!!!!” (quando o FCP marcava ao SLB… J) – Eis se não quando estamos a parar em frente a um portão, onde se vislumbravam, em forma de recepção, lindas camélias em flor.
Toca-se à campainha… Somos chegados!
Abrem-se as portas e uns metros mais à frente estávamos diante da casa onde iríamos permanecer em retiro durante o fim-de-semana. Na escuridão da noite não nos apercebemos muito bem da dimensão, nem da beleza que nos rodeava.
Na azáfama de descarregar a carrinha, a pegar nas bagagens, fomos convidados a entrar naquela casa misteriosa tão acolhedora.
Depois dos quartos distribuídos, das mochilas já arrumadas, das trocas e baldrocas entre o beliche superior e o inferior, voltamos ao rés-do-chão, para ajudar no que fosse preciso… e qual o espanto quando encontramos mais pessoas que nos iriam acompanhar durante o Kerit. Apresentações feitas iniciámos a preparação para a Oração da Noite. A Cruz, o Cajado, as faixas coloridas devidamente alinhadas formando a palavra “coração”, os cetins coloridos, as cadeiras dispostas em torno da sala, a distribuição de Guiões… Uma viola…
Depois de todos sentados, cada um foi convidado a apresentar-se. Todos distintos, mas todos com a mesma vontade e alegria no coração. Todos unidos para o encontro com Jesus, nosso irmão. Todos centelhas de Deus.
Foram distribuídas faixas do Carmo Jovem… que Orgulho receber o acolhimento neste Grupo Carmelita, de homens e mulheres, rapazes e raparigas que desejam viver o compromisso do baptismo construindo a fraternidade proposta por Jesus Cristo.
E assim foi decorrendo a primeira cerimónia do retiro. O Hino, a Leitura do Livro da Vida De Santa Teresa de Jesus. E eis que fomos confrontados com o primeiro desafio, que nos iria fazer perceber o quão cego somos… De olhos bem vendados, fomos colocados frente a frente a um alguém, aleatoriamente escolhido, e que teríamos de tentar identificar pelo tacto. Eis-nos perante o primeiro contacto com a nossa cegueira, o desafio da invasão do nosso perímetro de segurança, de tocar e ser tocado… e depois de tudo isto, não identificarmos, na grande maioria, a pessoa que nos foi colocada à nossa frente…
O exercício foi relatado por todos, tendo sido expressas as dificuldades e as ilações que cada um retirou do desafio.
Retomamos o guião, fizemos um breve silêncio de reflexão, rezamos o Pai Nosso de mãos dadas, foi feita a oração final, onde pedimos a Jesus que nos fizesse participantes da Sua Vida, da Sua Intimidade, da Sua Luz e da Sua Liberdade… E antes de recolher:
“Boa noite, boa noite Maria,
Boa noite, minha Mãe!
O dia foi lindo p’ra mim
Foi lindo p’ra Ti: Harmonia.
Vivemos na mesma Cuz
Juntos com Jesus: na Alegria.”
Sábado – 03/03
Pelas 08:30 da manhã reunidos a tomar o pequeno-almoço, fomos contando as peripécias da noite num espírito de alegria e confraternização. E foi neste ambiente que nos fomos preparando para a oração da manhã.
“Que o vosso Amor seja sincero. Detestai o Mal e Apegai-vos ao Bem. Sede afectuosos uns para com os outros no Amor fraterno; Adiantai-vos uns aos outros na estima mútua. Não sejais preguiçosos na vossa dedicação; Deixai-vos insuflar pelo Espírito. Preocupai-vos em andar de acordo uns com os outros. Tanto quanto for possível e de vós dependa, vivei em Paz com todos.” (Carta aos Romanos 12:9 e ss)
Abri, Senhor, os meus olhos para Ti!! – Esta foi a nossa prece matinal.
E pedimos ao Senhor, em comunhão:
“Abre, Senhor, nesta manhã, os nossos olhos, para vermos a nossa vida em profundidade; Que o nosso olhar seja como o teu quando olharmos os outros. Faz-nos descobrir e lutar contra todas as nossas contrariedades. Faz-nos valorizar todo o bem que podemos fazer. Dá-nos a força do teu Espírito. Transforma-nos em colaboradores da tua acção no mundo. Faz-nos teus, capazes de dar paz e liberdade. Dá-nos palavras que semeiem luz, dá-nos a tua presença para podermos seguir os teus caminhos.”
No final da Oração matinal fomos confrontados com um novo desafio. Foram distribuídos textos ao acaso que cada um deveria ler e meditar sobre a mensagem neles contida. Caso não gostássemos do texto ou este não fosse de encontro a cada um, este deveria ser devolvido à precedência e posteriormente redistribuído.
E assim cada um se espalhou pelos arredores da casa, tomando consciência à luz do dia, que apesar de cinzento escuro e chuvoso, estávamos rodeados de uma beleza natural que acalmava o nosso interior e nos ajudava a meditar e a compreender as mensagens que nos estavam a ser passadas. E ali estávamos nós, de texto na mão, compenetrados, perplexos pela mensagem que nos havia tocado, envolvidos pelo canto dos pássaros, o cheiro da terra molhada e por aqueles tons de verde que preenchiam os montes.
Retomamos a casa, e curiosamente apenas um texto foi devolvido. Todos os outros continham a mensagem certa e enquadravam-se com cada um de nós. Diante deste facto, mais um desafio nos foi proposto. A par, desta vez não escolhidos de forma aleatória, deveríamos ler o texto e expor a mensagem que se enquadrava connosco. E desses textos deveriam ser retiradas duas ou três frases vinculativas à mensagem para serem expostas ao grupo.
E a conversa alongou-se, pois cada um acabou por falar das suas experiências… vivências… vida… E com este exercício o grupo tornou-se ainda mais coeso, solidário e amigo. Os laços estreitaram-se depois da partilha do que ecoou no coração de cada um.
Quando é que despertaremos de estar acordados? Quando é que passará este drama sem teatro, ou este teatro sem drama e recolheremos a casa? Casa com vida é aquela que a gente arruma para ficar com a cara da gente. Arrumemos a nossa casa todos os dias, mas arrumemos de jeito a que sobre tempo de viver nela!! E a reconhecer nela o nosso lugar!
Após o almoço, preparamo-nos para passar a tarde com Jesus.
A oração da tarde foi feita de modo muito compenetrado e feita com fervor e fé: Quero estar sempre contigo Jesus, porque tu me amas e eu quero amar-Te. Quero trazer-Te sempre no meu coração para ter a Tua força e consegui ser-Te fiel em tudo. Falar-Te-ei agora de pessoas que muito estimo, para que Tu as abençoes e lhe dês aquilo de que necessitam. Jesus, tu sabes melhor do que eu, aquilo que hoje e agora mais convém a cada um. Dir-Te-ei os seus nomes:…; Lembro-Te também os doentes:…”.
E da parte da tarde pela primeira vez entramos no convento/Santuário do Menino Jesus de Praga.
Reunimo-nos numa sala, onde nos foi explicado o encontro com Jesus que iríamos ter. E nesse encontro, “dum magnum silentium tenernt omnia” (enquanto tudo estava mergulhado num grande silencio), fizemos as nossas preces, e encontramo-nos com Deus, Jesus e o Espírito Santo e sentimos o amor e a alegria pairar nos nossos corações. Conseguimos falar-lhe das nossas faltas, falhas, distracções e omissões, conseguimos pedir perdão… meditar…orar… ler para Ele, e ouvir dentro de nós aquela voz que nos fala… E tudo isto aconteceu num perfeito silêncio… mergulhados em nós juntos/junto de Jesus. Tentando perceber como podemos crescer agachando-nos. E foi assim que encontramos Deus no silêncio.
A tarde foi passando e em comunhão fraterna terminamos a cerimónia do encontro com Jesus.
O jantar decorreu nas instalações do Convento e todos estávamos tão felizes no decorrer do jantar e mal adivinhávamos a surpresa que nos aguardava para a oração da noite!!
Após o jantar dirigimo-nos a uma outra casa dentro da propriedade do Convento.
E eis que as surpresas começam a surgir!! Casa típica… Fogueira… Cadeiras em torno da fogueira… Um grupo de amigos do Carmo Jovem vem visitar-nos e juntam-se a nós em oração e diversão… no meio de risos e cantigas e um garrafão a passar de mão em mão… até que… (isso mesmo… quem lá estava sabe a continuação da história que permanecerá carinhosamente nas nossas memórias).
E assim decorreu mais um momento de partilha antes de recolhermos ao nosso descanso.
“Ao terminarmos este dia de oração, Senhor, as nossas palavras e pensamentos vão para Ti…
Ilumina a nossa vida, fortalece as nossas fraquezas. Dá-lhes conhecimento e em cada amanhecer, aumenta as nossas forças. Aumenta o nosso ser jovem na Igreja, para que possamos cantar suavemente a tua infinita bondade.
Ampara-nos no nosso caminho tão falho de luz, a fim de que possamos servir a Tua causa.
Tu és o Deus poderoso e a todos proteges.
Por este dia em que nos encontramos contigo digamos: “Seja Louvado Nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado e Sua mãe Maria Santíssima!”
Domingo – 04/03
E novamente às 08:30 da manhã todos nos reunimos para o pequeno-almoço… sentia-se já no ar alguma nostalgia do termino do retiro… de termos de regressar às Vidas atribuladas… Mas estávamos longe de imaginar o que ainda iríamos viver nesse dia!
Após a oração matinal, iniciaram-se os preparativos para a Eucaristia do II Domingo da Quaresma.
O Grupo de Crisma estava compenetrado a ensaiar a encenação de “A cura do Cego de Jericó” (a partir da narração de Marcos 10:46-52), que iria ser representada no decorrer da Eucaristia.
Outros atarefados com os preparativos da Eucaristia propriamente dita e outros já a preparar as malas e bagagens para o regresso a casa…
E a cada um de nós individualmente foi incumbida a tarefa de fazermos uma prece para leitura na Missa.
Trabalho em verdadeiro Espírito de Grupo.
Inicia-se então a celebração da Eucaristia… e mais um desafio… de olhos vendados… pedir ao Senhor perdão por algo que tenhamos feito de errado e que atormentasse o nosso espírito… só após o pedido de perdão a venda nos seria retirada. E assim foi… ao ritmo de cada um… e no decorrer da Eucaristia… o pedido de perdão foi efectuado e a venda retirada… E foi uma Eucaristia muito especial…
Da oração, brotaram outros momentos de confraternização e amizade. Por um mero acaso descobrimos que uma AMIGA “fazia” anos (por tal razão preparou uma sobremesa deliciosa) e foi o centro das atenções e de mimos após a hora do almoço. Tendo sido brindada com um grupo de coral muito especial que também estava presente no convento. Assim foi a junção de dois grupos, a confraternização e a boa disposição e carinho de todos para todos.
Mas o relógio ditava as horas do regresso… E lá nos despedimos… E fizemos a viagem de regresso… E a partir daí…
…Entramos no verdadeiro retiro…
À Comunidade do Santuário do Menino Jesus e à família Mendes Correia (Célia, Lilo e João Manuel) ficamos carinhosamente gratos pela refeição que nos prepararam para o almoço de sábado, à Fátima, mãe do Diogo, a fantástica bola e deliciosa tarte. Que a Senhora do Carmo os abençoe!
Até já nos apetece ir de novo para o retiro. Pudera!