A fadista Carminho considera que a fé «é um tesouro que não
se esgota», e associa-a a um copo que transborda»: «Quanto mais água der, mais
vou receber. Vou dando tudo o que sobra».
«É uma imagem muito bonita, de que gosto muito e que me
orienta em certos momentos. Estar neste mundo não é nada fácil... O mundo em
si, todo o mundo... Há muita dispersão que nos afasta daquilo que somos, da
nossa essência», diz ao semanário "Expresso".
Carminho está convicta de que «a partir do momento em que se
descobre quem se é, o que se tem de fazer, e se sente uma estrada pela frente,
com planos e objetivos, pode ser-se melhor para os outros, ter um mundo
melhor».
Em entrevista publicada na edição de 18 de outubro, a
cantora, que está a lançar o seu terceiro disco, "Canto", assume-se
«católica» e recusa a influência oriental na sua religiosidade.
«Em primeiro lugar está Jesus Cristo, a pessoa em cujo
exemplo acredito. Acredito também que todas as religiões monoteístas têm o
mesmo Deus, e as outras apenas separam a divindade em elementos que, para mim,
são todos um», declara.
Para Carminho, «toda a gente tem uma vocação», embora por
vezes seja «difícil procurá-la e encontrá-la»: «Às vezes as pessoas não dão
valor aos pequenos tesouros. Se os trabalhassem seriam autênticas ferramentas
para o mundo».
«Dei-me conta de que é na sinceridade e na confiança que
atinjo os meus melhores resultados, transmitindo mais alegria, fazendo melhor
aos outros; não só na arte como na vida», afirma.
Referindo-se ao seu último disco, a fadista fala da
descoberta de um canto onde se sente «confortável», após todas as viagens que
fez com vontade de se «superar e dar o máximo», e em que recolheu influências e
deu a conhecer o fado.
«O fado não me prende, o fado liberta-me. E o fado levou-me
ao mundo. Continuo a sentir um legado muito grande e a vontade de defender a
identidade do fado», assinala.
«Quanto mais viajo mais percebo que a identidade que carrego
é um tesouro. Temos um país muito pequeno em termos geográficos, e que pode ser
desconhecido para muitos, mas nele existem monumentos vivos e patrimónios
únicos que fazem dele um lugar especial e forte», aponta, antes de sublinhar:
«O nosso país precisa de ter a autoestima em cima». (Fonte: www.snpcultura.org)