Irmã Lúcia de Jesus, ocd
A Pastorinha mensageira de Fátima
Lúcia de Jesus é a mais nova dos sete filhos de António Santos e Maria Rosa Ferreira. Eram um casal que vivia em perfeita harmonia, com os normais espinhos de qualquer família. Ele, alegre e conciliador; ela, mulher forte e atenta às necessidades do próximo. Entendiam-se bem e consultavam-se mutuamente, atitude que não seria comum na época. Acolhiam os pobres e eram exemplares com os vizinhos. Eram honestos, pobres, trabalhadores, piedosos e generosos.
A família vivia unida no trabalho e na oração, dirigida normalmente pelo pai, que também alegrava a intimidade do lar cantando com a sua bela voz e ensinando a catequese aos filhos enquanto se esperava pela ceia.
O pai António era paciente e confiante. Nunca duvidou sobre a veracidade das Aparições, ao contrário da esposa e outras pessoas da família. Era de bom humor e sabia por água na fervura, quando via a esposa mais preocupada com os problemas, que muito aumentaram a partir de 13 de Maio de 1917.
Vivem no lugar de Aljustrel, freguesia de Fátima, uma aldeia perdida na solidão da Serra d’Aire.
Lúcia nasceu no dia 28 de Março de 1907. Era Quinta-feira Santa. Recebeu o Baptismo dois dias depois, em Sábado Santo. O nome Lúcia foi escolha e imposição do pai. Lúcia quer dizer «aquela que luz» e, de facto, coube-lhe difundir no mundo a Mensagem de Fátima. Lúcia crescerá neste ambiente de serranias secas e agrestes e também cheio de poesia. Em casa, por exemplo, os pais dizem-lhe que tinha vindo do céu, entre rosas e flores, num pequeno açafate que havia lá em casa. Era de rosto moreno e arredondado e de boca larga; nariz achatado, testa curta e dois olhos negros defendidos por duas espessas sobrancelhas. Era decidida e séria. Gostava de se arranjar bem, sobretudo nas festas. A família gostava muito dela por ser inteligente e meiga. Gostava de crianças e entretinha-as com facilidade. Gostava de jogar ao esconde-esconde e ao botão, às pedrinhas e às prendas. Tinha muito jeito para contar histórias, cantar e bailar.
Teve também de limar arestas, pois como qualquer mortal teve limitações e defeitos. Em criança foi caprichosa e birrenta, mas encontrou na mãe uma educadora austera e pouco dada a caprichos.
Num tempo em que os actos de culto chegaram a estar proibidos nos templos, sempre a sua casa foi piedosa. O terço em Maio era rezado em família e de joelhos diante dum crucifixo. Lúcia fez a Primeira Comunhão aos seis anos (e não aos sete, como era costume) graças à intervenção do Servo de Deus Padre Francisco Cruz. Preparou-se para este grande acontecimento com a seriedade que lhe permitiam tão tenros anos.
Aprendeu a ler, apesar de viver num tempo em que as meninas não iam à escola. Vendido o rebanho familiar que lhe tocava guardar, ficou liberta para se matricular, mas sem descurar a aprendizagem de outras artes que fazem falta a uma boa dona de casa.
O dia 13 de Maio de 1917 foi um dia inesquecível. Depois da Missa das Almas, às 6h00, os três Pastorinhos regressaram a casa comeram um tijela de caldo quente ou de arroz, puseram a tiracolo a saquita da merenda (pão, azeitonas, bacalhau ou uma sardinha, queijo e fruta), juntaram os rebanhos das duas famílias e lá foram com o rumo algo incerto, até que Lúcia decidiu: «Vamos para a Cova da Iria!». Foi ali, que, inesperadamente, estando o firmamento limpo e azul, se ouve um forte relâmpago, depois outro e um terceiro. Viram, então, sobre uma carrasqueira, uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o Sol.
Segue-se o medo e a surpresa das crianças. Segue-se o enlevo e tornam-se confidentes de Nossa Senhora.
Depois das Aparições sobreveio a morte do Francisco e da Jacinta, morreu também o pai, saiu o Pároco, continuam os interrogatórios e a agressividade das pessoas para com Lúcia, uma adolescente ainda. Não tinha vida fácil. O Prior do Olival decide-se a tirá-la dali. Teve-a em sua casa, esteve em Lisboa e Santarém, mas sempre provisoriamente porque a ausência de Fátima causava inquietação nas gentes. Regressou. Havia, porém, que retirá-la e providenciar o seu enriquecimento humano, intelectual e espiritual. Intervei-o o Bispo de Leiria e com o consentimento familiar e da própria é internada no Porto, no Colégio das Irmãs Doroteias. É ali uma desconhecida: tratam-na por Maria das Dores. Nascem-lhe os primeiros desejos de se consagrar na Vida Religiosa. Deseja o Carmelo e decide-se pelo Instituto das Irmãs Doroteias. Professa a 3 de Outubro de 1928; e no mesmo dia de 1934 emite os votos perpétuos. Como jovem doroteia destacava-se talvez pela sua atitude na oração, pela pontual observância da Regra e pelo seu amor a Nossa Senhora.
Permanece em Espanha até 1946. O Papa Pio XII concede-lhe permissão para entrar no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra, o que sucede no dia 25 de Março de 1948.
Ali viveu por Jesus, fazendo da terra um caminho para o céu. Passou aí cinquenta e sete anos vivendo como qualquer outra Carmelita, mas sempre com um ardente desejo de que a Mensagem que recebeu de Nossa Senhora fosse conhecida e cumprida... Algum tempo antes da sua morte confidenciou às suas Irmãs: Se eu morresse agora, morreria feliz, porque a Mensagem de Nossa Senhora já chegou a todas as partes do mundo.
Numa vida de entrega a Deus, a exemplo de Maria, a Irmã Lúcia tinha presente na sua oração diária todas as necessidades do mundo e de modo particular daqueles com quem contactava e que lhe escreviam.
Aos 97 anos, no dia 13 de Fevereiro de 2005, Nossa Senhora cumpriu o que lhe prometera e terminando o «mais algum tempo» aqui na terra, tomou-a em seus braços para a levar finalmente a contemplar o rosto da Trindade Santíssima.