segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

NOTAS FINAIS... Carminhada - Alhadas - 16FEV'08

Alta madrugada Sábado dia 16
04:27... 04:28... 04:29... 04:30! Plim-plam-plum! Plim-plaaam-pluuuuuum! Shreck-shrack-shruck-shriiiiiiiiiink! Shreck-shraaaack-shruck-shriiiiiuuuiiiiiiiiiink! Foi assim que em Braga, ao som dos despertadores, em três ou quatro bairros diferentes, se iluminaram meia dúzia de quartos adolescentes. Era a hora combinada. Depois, à hora certa juntaram-se todos em frente à porta da Igreja do Carmo, que ainda ficaria fechada por mais um bom par de horas. Finalmente rumaram juntos para a estação dos Caminhos de Ferro. E dali para o Porto. Já ninguém dormiu mais. Era madrugada alta e o Carmo Jovem começava a carminhar, precisamente à hora em que os mais fracos desistem da noite e começam a regressar à cama depois da noitada. Sim, aquela foi a hora do início da nossa carminhada programada para as Alhadas (e Maiorca), na Figueira da Foz. Aquela era também a hora em que muitos ainda dormíamos consolados, mas em breve, acordados, bem dispostos e andadeiros estaríamos juntos a rezar entregando ao Senhor o nosso dia e a nossa carminhada de fé.
Aqui se vai contar como se passou este dia.

Uma alma parva
A chegada às Alhadas foi às pinguinhas. O último troço de caminho, feito na Nacional 109 é muito complicado por causa dos semáforos de 100 em 100 metros. Ou quase. É este pedaço de estrada que nos desanima, ou talvez nos anime mais a lançar os pés ao caminho (porque não há semáforos para quem anda a pé!...).
Os primeiros a chegar foram os da casa. (Mas não todos.) Depois chegaram os de Aveiro, Coimbra, Viana do Castelo, e logo depois o grosso da coluna: Caíde de Rei com Marco de Canaveses e Braga. Éramos mais de 130 e pelo caminho ainda fomos engrossando mais. É verdade que os números não contam, mas só não contam para quem não sabe contar. Porém, contem o que contar, aqui se vai contar a festa carmelitana que ali fizemos durante um dia com o Senhor, o Espírito Santo e o Pai.
À medida que o caudal do grupo carminheiro ia engrossando, uma Carmelita Secular exclamava: «A minha alma está parva! Ó meu Deus, a minha alma está verdadeiramente parva!», o que traduzindo quer dizer: «A minha alma está pequenina; pequenina é a minha alma, Deus seja louvado!, pois quem é tão grande como o Senhor?». Não seria certamente a única, mas era a única que conseguia expressá-lo.
Estávamos finalmente nas Alhadas, freguesia da Figueira da Foz. Não era nem de longe uma alhada, mas a verdade é que o caminho que o Papa nos aponta não é o mais fácil. E isso já é uma alhada, uma pequena dificuldade. Porém, éramos tantos e com tal vontade que parece não haver vontade de não carminhar o caminho de Jesus juntamente com ele.
O lema da carminhada era: Mete-te numa alhada, vamos caminhar com o Papa. Foi isso que aconteceu ao longo de todo o dia. Por sugestão do Papa caminhamos com ele, animados pelo Espírito Santo. Lemos e meditamos muitos textos do Papa e da Sagrada Escritura sobre o Espírito Santo. Rezámos e cantámos-Lhe hinos acertados e bem preparados.

Boas-vindas
As boas-vindas foram dadas pelo Ricardo Luis, Verónica Parente e pela Alice Montargil, Carmelita Secular. Logo depois, com cerca de uma hora de atraso, abandonámos o Complexo Paroquial de São Pedro das Alhadas e lá fomos subindo e descendo, testando a nossa qualidade física de discípulos de Jesus e de “testemunhas a caminho, animados pelo Espírito Santo”. Íamos para Maiorca, a freguesia mais antiga da Figueira.
Caminhávamos juntos, mas diferentes: juntos como um povo que caminha com sentido de povo; diferentes, porque de diferentes proveniências e experiências, mas convictos de juntos sermos Igreja jovem com selo carmelita que ama caminhar e subir em busca da solidão.
Durante a manhã, caminhamos uns 5 km com o horizonte tecido por ribeirinhos, arrozais, ladeiras, caminho suaves, tempo ameno e pequenas colinas. Aqui e além surpreendiam-nos pedaços vários de história de fé, a Capela de São Simão e a do Senhor da Paciência. Parámos, rezámos e descansámos na primeira. A segunda, porque fechada, embora bem mais antiga e simbólica, não nos seduziu. Impacientes e desapercebidos seguimos em frente.
O que se faz enquanto se carminha? Conversa-se. Há quem vá a rezar; a maioria a falar. Poucos vão calados. Muitos revisitam velhas amizades. A mim contaram-me a história daquelas terras seculares, enquanto outro alguém recordou que caminhávamos com o Papa e o amávamos como a Jacinta, pastorinha de Fátima. É verdade.
Uma fila de quase 150 pessoas é uma fila grande. Quem disso se apercebeu foram os cães! Eram tantos os cães daquelas terras! Não deveria haver um que fosse que estivesse engripado ou de fim de semana, pois foram tantos os que nos ladraram, ladraram, ladraram!
Não foi difícil caminhar esta carminhada. O terreno era convidativo, suave e deliciosamente ameno. E depois, duas raparigas decidiram levar a viola e a flauta e isso puxou os cânticos, animou os corpos, estimulou os espíritos, aqueceu as almas, marcou os ritmos.
Chegámos bem dispostos a Maiorca que tem uma igreja linda e grande como um catedral. Está dedicada a São Salvador e tem no retábulo uma pintura da Transfiguração. Estava tudo acertado, era tudo apropriado. Numa parede lateral existe uma enorme e bela pintura de Nossa Senhora do Carmo: a Mãe, contente, tinha vindo receber-nos! Santa Teresinha também gostou de nos ver lá...
Descansámos, bebemos água, atendemos a Imprensa que nos aguardava curiosa e preparámos a Eucaristia. A sacristia é enorme e foi ali que se deram os últimos retoques aos preparativos.
Seguiu-se a Missa.

Uma carta inesperada
Iniciamos a Missa com uma linda procissão, integrando elementos de todos os grupos e um belo, atento e cuidadoso grupo de acólitos. Logo depois o Frei João apresentou-nos um amigo, ainda que ausente: O Definidor Geral Pe Luigi Gaetani, e na sequência a Verónica leu uma pequena carta sua dirigida a todos os Jovens Carmelitas, animando-nos a caminhar com Jesus. Depois de lida a Carta, que era breve, saudámo-la com uma salva de palmas.
Houve depois outra salva de palmas, uma enorme salva de palmas, para o Senhor que nos recebia na sua tão bela casa, no dia em que no Tabor Ele se nos mostrava divino e majestoso, e nos convidava a não desistir diante das dificuldades dos caminhos e a sempre anunciarmos a sua Palavra e servirmos os irmãos.

Uma bela (e longa!) Missa
A Missa continuou longa, distendida e amena. Na homilia o Frei João saudou-nos mais uma vez e animou-nos a não desistirmos de carminhar, como Abraão. Para recebermos as bênçãos destinadas a quem peregrina. E é bem verdade, quantas graças e bênçãos já teríamos perdido se não tivéssemos iniciado (ou tivéssemos desistido) das carminhadas? Há bênçãos muito belas para quem se põe a carminho. O Movimento do Carmo Jovem é disso testemunha. Como temos sido tão belamente saudados, acolhidos, animados, abraçados e encorajados nos lugares que temos cruzado!
Depois, ainda na sua homilia, pediu que se erguessem os Catequistas e os Animadores presentes, e eram vários. Depois saudou-os com outra bela salva de palmas, porque, disse, ainda hoje, unidos aos Apóstolos, os Catequistas e os Animadores sofrem pelo Evangelho. Que seria da Igreja sem eles e elas? Que seria do anúncio do Evangelho sem os Catequistas e Animadores? Se eles desaparecerem quem nos apresentará Jesus e nos animará a carminhar com Ele? E todos nós lhes agradecemos o ardor da sua fé, a fortaleza da sua esperança, e a disponibilidade amorosa!
(Ainda guardo na retina o pequeno e animado Sidónio de nove ou dez anos, carregando a sua mochila. Tínhamos feito cerca de meio caminho da manhã e eu vi uma Catequista que não era a sua nem era da sua freguesia pegar-lhe nela para o aliviar! Como Deus tem sempre um coração de mãe para nos atender!)
E ao terminar a homilia pediu-nos que não fôssemos nem cabeças nem corações duros, onde o Espírito Santo teima em entrar e nós não deixamos. Por fim renovamos as Promessas do nosso Baptismo e recebemos sobre as nossas cabeças a água benta, a fim de que a nossa vida se deixe amaciar e moldar pelo suave aguaceiro do Espírito Santo.
A terminar saímos em procissão e sete Catequistas libertaram à porta da igreja outras tantas pombas que, perdendo-se nos ares, se encaminharam ligeiras para sua casa. Tiramos ali uma foto: olhando bem os rostos (e os corações, sobretudo os corações!) vê-se que somos uma nova família, uma família a nascer e a crescer!
Da Missa para a mesa. A tarde tinha começado já há muito tempo quando num espaçoso parque verde estendemos as mantas, repartimos merendeiros (como eram bons os bolinhos de bacalhau das Carmelitas Seculares!), matámos a fome, cantámos, rimos, saltámos á corda e dançámos.
Recomeçámos a carminhada. Agora era a subir mais que a descer. Era porém um subir tão suave como suave e harmoniosa é a escala musical. De facto os cânticos e a música da flauta e das violas impeliam-nos de novo a andar. Ó que maravilha carminhar assim!
Para que não nos cansássemos muito parámos de novo, à sombra da Capela de Nossa Senhora de Guadalupe. Não estava previsto entrar, mas o povo sabia da nossa estadia e dos nossos passos. Vai daí estenderam verdes e flores pelo chão e fizeram questão que os nossos pés peregrinos os pisassem e nós os pisamos agradecidos, pois é sempre mais agradável pisar flores e sentir-lhes o perfume que tropeçar nas pedras e buracos dos caminhos. Entrámos. Calámos. Rezámos calmamente. Escutámos uma vez mais o Papa. Depois abandonámos a Capela, dividimo-nos em grupos e respondemos a um questionário que pretendia ajudar a aprofundar o nosso conhecimento e relação com o Espírito Santo.
O tempo não foi muito, mas dentro de nós ardia qualquer coisa e houve respostas e testemunhos dignos de registo, pelo que supõem de verdade e amizade com o senhor Espírito Santo:
• O Espírito Santo enriquece os seus fiéis, é elo de ligação nos caminhos da fé.
• O ES é água viva que nos ensina a viver e nos sacia a sede de vida.
• O ES recorda-nos a dignidade de Filhos de Deus a que fomos chamados.
• O ES é força de Deus que nos continua a dar força para amar.
• A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade gera a relação Pai e filho.
• O ES revelou-se e continua a revelar-se em muitos momentos da história.
• O ES aparece de muitas formas em momentos especiais da vida de Jesus.
• O Espírito Santo é força e coragem.
• A Igreja do III milénio precisa desta força de vida.
• O ES habita o coração de cada um de nós, é força, vida, liberdade, orvalho suave.

Já com os pés mais leves, o corpo refeito e os espíritos ainda mais animado voltamos ao caminho. Ainda faltava subir um bom bocado. Havia que chegar de novo ao Complexo Paroquial de São Pedro das Alhadas.
Esperava-nos ali o Rev. Pároco, já nosso conhecido, Pe. Pedro Hoka. Também ele quis falar aos jovens, e disse-nos: «É com enorme alegria que vos recebemos em Alhadas, a vós Jovens Carmelitas de muitos lugares! Queremos voltar a ter-vos cá com esta mesma alegria! Queremos continuar a ter-vos por cá para que nos continueis a animar e a animar os jovens cristãos de Alhadas; quem sabe se algum dia os jovens de Alhadas ou Maiorca vos acompanharão pelos caminhos que percorreis? A semente foi lançada à terra, só desejo que cresça, floresça e dê fruto. Assim seja.»
O dia estava quase terminado. Os nossos anfitriões repartiram entre todos um sugestivo símbolo: uns saquinhos com sementes (razão tinha o Pároco!) e uma legenda: «Lança a semente, e ela brotará no teu coração!». Repartimos também entre nós uns pequenos seixos que nos lembram que longe de Deus somos secura; porém Ele sabe aproveitar o melhor de cada um de nós e fazer de nós templo de pedras vidas, onde o Espírito Santo goste de se resguardar.
Depois fez-se a passagem do testemunho, digo, do cajado. Os jovens de Alhadas entregaram-no aos de Caíde de Rei. É ali que carminharemos juntos a próxima etapa, bem perto da Páscoa, no dia 15 de Março, Dia Mundial da Juventude.
Agradecidos, rezámos o Pai Nosso com as mochilas às costas e em união com toda a Igreja e todas as gerações de Cristãos. Lá fora era escuro, mas não nos nossos corações. Os autocarros tinham os motores a trabalhar e já nos preparávamos para entrar quando os de Alhadas nos impediram. Havia uma mesa, com sumos e iguarias para comer. Tinham medo que com tantos quilómetros pela frente que desfalecêssemos e não chegássemos a casa. Não entrámos nos autocarros, fomos comer. A mesa era grande e farta, mas nós éramos mais de 150 jovens (para comer aparece sempre mais gente!)! Porém, a comida ter-se-á multiplicado porque nós comíamos, comíamos e ela não desaparecia da mesa. Nós saciávamos o apetite e refrescávamos as gargantas, e os nossos amigos convidavam-nos a comer mais. Aparecia sempre mais. Havia sempre mais que o suficiente. Por fim terminámos, porque nem tantos estômagos de tantos pequenos lobos famintos comem tanta bondade e liberalidade!
(Como é bom o Senhor para os que andam na sua presença!)
E tudo terminou. Mas não era ainda o fim. A Alice Montargil e a Teresa disseram-nos as últimas palavras: amizade e bênção. Já podíamos partir. O Ricardo deu a sentença: «Vamos lá pessoal, temos de ir!» E fomos. Fizemo-nos à estrada, pois faltava chegar a casa, tomar banho e dormir. Esta noite ninguém haverá de querer sair, porque há muito que arrumar nas gavetas da memória. Foi tanto e tão intenso tudo quanto vimos e ouvimos no Tabor das Alhadas e Maiorca! Foi tão bom que apetecia ficar por lá acampados em três tendas.