Domingo, dia 1º de Junho de 2008, na Catedral de Nápoles, o Sr. Cardeal S. Excia. Crescenzio Sepe, Arcebispo metropolitano de Nápoles, proclamará Beata a Venerável Irmã Maria Josefina de Jesus Crucificado (1894-1948 – no século Josefina Catanea), monja da Ordem dos Carmelitas Descalços, que viveu no Mosteiro de Ponti Rossi, Nápolis.Como traçar, brevemente, a existência teologal desta nossa irmã no Espírito? O que evidenciar do seu percurso humano e espiritual que a levou a configurar-se plenamente ao mistério pascal de Jesus Cristo? Em que termos considerar seu profundo e radical amor pelos sofrimentos do povo? Tentaremos percorrendo a sua vida.Uma adolescência serena e uma vida bela.A adolescência de Josefina se passa serena a Nápoles, na intimidade familiar, sustentada pela doçura da mãe Concetta e da discreta presença do pai Francisco, da amizade das irmãs Antonietta e Maria, do testemunho cristão da avó materna, Antonietta Grimaldi.Josefina, “Pinella” como a chamavam em família, testemunha uma vida bela, iluminada pela transparência do seu coração de menina e de adolescente, por aquela bondade celeste e que colore de beleza a terra. Os traços desta beleza emergem considerando a bondade da sua vida quotidiana em casa e na escola, analisando os tantos gestos de caridade a favor dos pobres e anciãos, na sua experiência de oração feita de confiança e abandono em Deus.Uma busca vocacional inquieta.A busca vocacional de Josefina é estreitamente ligada à da sua irmã Antonietta, ainda que se revelam traços completamente originais e personalíssimos. Quando, em 1908, Antonietta tenta a vida do Carmelo Teresiano, junto às Carmelitas Descalças do Arco Mirelli, Nápolis, Josefina tem 14 anos. A tentativa da irmã fale, parece por causa da frágil saúde, e retorna à sua casa. Em Agosto de 1910, porém, sob a guia do Frei Romualdo de Santo Antônio, Carmelita Descalço, Antonietta dá início, sobre a colina de Santa Maria ai Monti, junto aos Ponti Rossi, a uma experiência de vida que se inspira no Carmelo Teresiano. O início se dá como leiga terciária e a vida é marcada pela pobreza, pelo trabalho e a oração.Josefina vive intensamente a experiência da irmã, deixa-se interpelar por tudo o que lhe acontece em torno e dentro de si, experimenta quanto “Deus é um Deus ciumento” (Dt.6,15). Assim vive uma luta interior entre as exigências do amor divino, que sentia crescer em si, e os reclames do amor familiar, sobretudo daquele materno, até que, em Março de 1918, aparentemente sem uma opção definitiva, vai ao Carmelo para uma breve estadia. Esta permanência no Carmelo durou por toda a vida!Os primeiros anos no Carmelo e a doença.Os primeiros anos no Carmelo dos Ponti Rossi não foram fáceis. Josefina os vive provada por diversas doenças, até adoecer de bronco-pleurite. Fica gravemente enferma, lhe é administrada a unção dos enfermos. Não morre, mas também não se cura por cinco longos anos. Sempre doente, pregada em um leito de dor.Em Junho de 1922 passa mal com uma forma de tuberculose na espinha dorsal. Fica irreconhecível, totalmente contraída pela dor, quase imóvel. As curas médicas não produzem algum efeito sobre ela. Josefina é no limite da suportação humana, mas a Jesus pede para “dar-lhe algo da sua Paixão, mas de modo escondido, só a Ele conhecido”. Via tudo dentro e transforma os seus sofrimentos, unida ao Mistério de Cristo, em oferta de amor pelo Pai e pelos homens, seus irmãos”.A cura e a ministerialidade da escuta e do discernimento.O tempo da sua doença termina no dia 26 de Junho de 1923 quando Josefina cura-se instantaneamente só pelo contacto com a relíquia de São Francisco Xavier. Josefina, logo depois da cura, diante do tabernáculo, repete: “a via que tu novamente me doastes, Senhor, a gastarei para morrer a tudo o que é terreno, para viver verdadeiramente em Ti... Quero que seja para a tua glória, toda a minha vida. Não quero nada para mim nesta terra, a não ser o teu amor. Dai-me almas. Ofereço-me como vítima (de amor) pelos teus sacerdotes”.Deste dia em diante não só Josefina tem clara a sua vocação mas, nesta história de relação entre ela e o seu amado Senhor, é envolvida a mesma comunidade, o mesmo espaço físico onde vivem. De fato, sobre a estrada dos Ponti Rossi, a partir daquele dia, encontra-se sempre alguém que sobe ao Carmelo. Tem quem sobe à procura de uma palavra de conforto, quem por uma oração; outros vão em busca do sentido da sua vida, ou para reencontrar o eus perdido.Frei Romualdo, como o Cardeal Ascalesi, solicitam a Josefina de desenvolver este apostolado de acolhida e de escuta na “porta da tenda”, entre as exigências da vida contemplativa e apostólica. Um ministério que a torna capaz de fazer companhia à humanidade sofrida, de ler no íntimo do coração, até à conversão e à pacificação.“Divido as penas de cada coração, apresento a Deus todos os suspiros, todas as lágrimas que irrigam esta terra”. Em uma outra circunstância anota: “São confiadas às minas orações um grande número de pessoas. Tive a impressão que todos estivessem no meu sangue, todos irmãos, todos meus filhos”. Neste levar os outros, todos os outros, na sua existência, Josefina amadurece as experiências místicas mais profundas. Como dirá o Vaticano II, Josefina sente que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo, e nada existe de genuinamente humano que não encontre eco no seu coração” (Vat. II, Gaudium et spes, Proemio). Foi um apostolado extremo o seu, vivido com vivo sentido de obediência ao Pastor da Igreja local, o Cardeal Ascalesi, e o seu director espiritual, Frei Romualdo; foi uma experiência de ardente e terníssima maternidade espiritual sobre cada limbo de humanidade. Esta maternidade a vive como chama viva que tudo acende, como empatia que tudo assimila e transforma, como busca do seu amado Jesus.A dimensão contemplativa da vida.No meio de tanto apostolado, Josefina tem os olhos fixos em Jesus, vive com Ele em uma intimidade profunda. Escreve: “Como é doce viver com Deus, conversar com Ele, doar-se a Ele, escutá-lo, amá-lo e não ter nada sobre a terra que nos distraia dele”. Palavras, estas, que carregam uma profunda carga vital, que trás à luz a capacidade de Josefina de viver totalmente unificada, compacta, profundamente reconciliada, sem nenhuma dicotomia entre vida activa e contemplativa. Escreve com extrema lucidez: “A missão no mundo não impede a vida e vida em um mosteiro, porque o verdadeiro mosteiro não está na solidão do corpo, mas no desnudamento do coração de toda vanidade” (cf. S. João da Cruz, C. B, III, 3).Este é o segredo da sua relação com Cristo. Este é o segredo da sua alegria, enquanto se doa aos irmãos. A sua actividade não é evasão, distracção, gosto pessoal, mas participação na obra do Reino dos céus, configuração a Cristo nu, transparência do coração.