terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Paulo, o revolucionário (I)

Entrevista com Romano Penna, docente de Novo Testamento na Lateranense Por Renzo Allegri

ROMA, segunda-feira, 1º de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- Desde 29 de junho de 2008 se celebra o Ano Paulino, com manifestações, conferências, congressos e celebrações litúrgicas que se sucedem em todas as Igrejas do mundo para recordar os dois mil anos do nascimento do apóstolo Paulo, o maior missionário de todos os tempos.

Em Roma, encontramos Dom Romano Penna, considerado um dos maiores especialistas na vida e nas obras de Paulo de Tarso. Dedicou sua vida de pesquisador e professor universitário ao apóstolo dos povos, publicando vários livros que se distinguem por seu rigor científico e exposição apaixonada, apresentada com uma linguagem cativante e moderna. São fundamentais suas exegeses das diversas cartas do apóstolo, em especial os três consistentes volumes sobre a Carta aos Romanos e seu belíssimo ensaio «O DNA do cristianismo». Por ocasião de seus 70 anos, os mais renomados biblistas do mundo colaboraram na redação de um volume de 500 páginas titulado «Novo Testamento: teologias em diálogo cultural. Escritos em honra de Romano Penna em seu 70º aniversário».

– Comecemos com uma pergunta ligada a estes dois mil anos. Sabe-se qual é o ano exato do nascimento de São Paulo? – Penna: Não. O Ano Paulino que celebramos se fundamenta em uma hipótese tradicional, segundo a qual Paulo teria nascido em torno do ano 8 d.C. Mas são só hipóteses. Além do mais, não se conhece com precisão nem sequer o nascimento de Cristo. Em minha opinião, Paulo era contemporâneo de Jesus.

– Onde ele nasceu? – Penna: Em Tarso, capital da Cilícia, de pais judeus de observância farisaica. Os Atos dos Apóstolos o consideram cidadão romano e ele diz que o era por nascimento. Por isto, junto ao nome judaico de Saulo, tinha também o nome romano de Paulo.

– Ele pertencia a uma família rica? – Em uma carta sua, diz que ganhava a vida fabricando tendas. Em geral, naquele tempo, os filhos aprendiam o ofício do pai e se supõe que o pai de Paulo desempenhava este trabalho. Era um ofício normal, do povo, que permitia viver e manter a família, nada mais.

– Que tipo de educação recebeu em sua família? – Penna: Os pais de Paulo eram judeus da diáspora, ou seja, judeus que, obrigados pelas perseguições e por outras razões, migraram longe de sua terra, mas se mantinham fiéis às suas tradições. Paulo estava circundado, foi educado e instruído na observância da lei mosaica. Mas sendo Tarso uma cidade cosmopolita, quando saía de casa, o jovem respirava uma atmosfera helênica e aberta a diversas culturas. Em sua família, falava hebraico e aramaico, mas fora de casa, grego. Cresceu, portanto, com uma mentalidade aberta. Pelo menos até os 12 ou 13 anos.

– E depois? – Penna: A essa idade se mudou para Jerusalém para dedicar-se totalmente ao estudo da Torá, sob a guia do rabino Gamaliel o Velho, conhecidíssimo mestre. Desde então, seu interesse intelectual se dirigiu só e exclusivamente à lei judaica e à cultura israelense.