segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Este é um filme falhado

Tem que ser dito que este é um filme falhado, apesar de ter uma história com grande interesse potencial e excelentes actores. De facto, este projecto parece querer demonstrar que com Mimi Leder na direcção - de meios, de actores, de opções - até um actor como Kevin Spacey oscila, até uma história interessante vacila. Com estes ingredientes, dava vontade de sugerir que se tivesse optado pelo melodrama simples e esquecido o esquema em rede — confuso pela sucessão desordenada de eventos — que é, simultaneamente, o maior trunfo em potência e a maior limitação real desta fita, dando-lhe um tom pretensioso onde o poderia catapultar para o triunfo, já que tenta abarcar várias personagens e busca um desadequado sentido metafísico que está presente, aí sim, por exemplo, em "Magnólia". É a última metade do filme que começa a deitar tudo a perder. A personagem de Spacey que começa muito forte, com uma espécie de carisma enigmático, perde-se num ser inseguro, traumatizado e fraco. A história perde credibilidade à medida que os favores vão falhando e finalmente tenta fechar-se num "círculo perfeito", mas o desfecho acaba por ser anedótico, tal é a intenção de comover à força. A sequência final é particularmente penosa, com o belíssimo "Calling all angels" de Jane Siberry (de "Until de End of the world") a servir de pano de fundo a um desfile caricato. Enfim, vale por alguns momentos de Spacey, Helen Hunt (sempre capaz de algumas cenas de classe — veja-se a confissão dorida do seu vício perante o filho quando este tenta fugir) e de Haley Joel Osment que, apesar de ficar para sempre marcado pelo seu papel de quem vê "dead people" em "O Sexto sentido", mostra que é um valor de futuro. Jorge Silva, www.7arte.net