Cumprem-se hoje, dia 24 de Agosto, os 450 anos da fundação do convento de São José de Ávila pela mão de Santa Teresa de Jesus. Assim se passaram as coisas:
Numa tarde de Setembro de 1560, encontravam-se reunidas na cela de Dª Teresa de Cepeda y Ahumada, no convento da Encarnação, duas suas sobrinhas que ali se criavam com ela e dez outras religiosas amigas. Comentavam naquele momento uma carta circular que o Rei Filipe II fizera chegar a todos os conventos do reino e na qual expunha os prejuízos provocados pelos protestantes em França, e pedia orações pela unidade da Igreja. A conversa das intervenientes logo derivou para o bem que faz a oração dos bons religiosos, dos antigos eremitas do Monte Carmelo, de Frei Pedro de Alcântara e das Irmãs Descalças Reais que ele havia reformado, e da beleza que seria viver numa comunidade assim. Logo de seguida a sobrinha Maria de Ocampo assegurou que, caso se evoluísse para uma comunidade assim, ela ofereceria mil ducados do seu dote; e Dª Guiomar de Ulloa, senhora nobre que se havia ajuntado ao grupo, prometeu a sua ajuda. Teresa não estava muito convencida, mas poucos dias depois, ao comungar, sentiu que Cristo «me mandou muito que fundasse, fazendo-me grandes promessas de que não se deixaria de fazer o convento» (Livro da Vida 32,11).
Começaram aqui dois anos de lutas permanentes. Os seus conhecidos dizem que é uma autêntica loucura. Por sua vez, ela requer pareceres autorizados, pelo que escreve aos padres Pedro de Alcântara, Francisco de Borgia e Luis Bertrán – cada um a seu tempo será canonizado! –, que lhe responderão apoiando-a incondicionalmente. O provincial dos Carmelitas, P. Ángel Salazar, também aprova a fundação, e em virtude disso decide-se pedir um Breve Papal para a concretizar. Quando a notícia se conheceu no convento da Encarnação e na cidade de Ávila, a maioria pôs-se contra, pelo que o provincial retirou o seu apoio (Livro da Vida 32,15).
Acusaram-na de iluminada e de endemoninhada, em virtude do qual se decidiu pedir parecer ao teólogo de maior nomeada residente em Ávila – o dominicano P. Pedro Ibáñez. Teresa escreveu uma longa declaração de 40 parágrafos declarando-lhe a situação do seu espírito: esta é a primeira Conta de Consciência que conservamos. Apesar da oposição da cidade e das pressões que recebe, o parecer do padre dominicano foi positivo a que ajuntou uma declaração laudatória escrita em 33 pontos. Reconfortada Teresa decide pedir novo Breve Papal, com o pormenor de colocar o mosteiro sob a obediência do bispo, visto que o anterior permitia a fundação sob a obediência do provincial dos Carmelitas, que agora, como vimos, não está de acordo.
Apesar de crescerem as oposições externas, Teresa chamou de Alba de Tormes a sua irmã Joana e o seu cunhado, a fim de se encarregarem das obras de adaptação de uma casinha situada fora das muralhas de Ávila (Livro da Vida 33,4ss). Entretanto, as obras atrasaram-se porque, inesperadamente, caíram umas paredes, uma das quais sobre um dos sobrinhos de Teresa, que foi dado como morto. Quando a Santa se apercebeu logo correu para a obra e recolheu o corpinho do menino, acariciando-o e abraçando-se a ele. Entretanto, o menino despertou e Teresa entregou-o à mãe: não houve operário que não cantasse o milagre! A resposta de Teresa foi das boas: milagre, disse ela, era como se mantinha de pé um muro tão mal construído que obrigava agora a ser levantado de novo. A obra andou e logo faltou o dinheiro, mas inesperadamente o seu irmão Lourenzo mandou da América um punhado de moedas de ouro que ajudaram a prosseguir os trabalhos (Carta 2,1-2).
Quando tudo ficou em maiores apertos e complicações, Teresa recebeu ordem do provincial para se deslocar a Toledo, ao palácio de Dª Luisa de la Cerda: «esta senhora estava muito aflita e em grave risco de perder o juízo por causa da perda do seu marido (…) muito boa gente a tentara consolar chegando mesmo a trazer-lhe pessoas santas, mas ninguém conseguira nada» (Livro da Vida 34). Teresa permaneceu em Toledo os seis primeiros meses de 1562, o tempo suficiente para ganhar a amizade de Dª Luisa e das gentes da sua casa. Ao mesmo tempo teve a sorte de entrar em contacto com as mais altas individualidades da sociedade civil e eclesiástica de Espanha.
Foi também nesta altura que se encontrou com a Irmã Maria de Yepes, carmelita de Granada e futura Irmã Maria de Jesus na fundação de Alcalá de Henares. Esta religiosa caminhara a pé desde Roma trazendo consigo o Breve que autorizava a fundação de um convento reformado do Carmo onde se vivesse em absoluta pobreza, segundo a Regra primitiva. Teresa desconhecia este ponto da Regra. Decide então, sob conselho de São Pedro de Alcántara e a oposição dos letrados do momento, que as Irmãs que queiram entrar com ela no conventinho vivam do trabalho das suas mãos e de esmolas, sem rendas nem outras seguranças. E foi assim que Teresa decidiu pedir um terceiro Breve Pontifício, que a autorize a fundar nessas condições. O Breve chegará, porém, quando a fundação de São José já se encontrar realizada (Livro da Vida 39,14)
Isto foi uma das coisas que mais a fez sofrer no seu regresso a Ávila. De facto, nos finais de Junho, Teresa regressou a Ávila. Entretanto, frei Pedro de Alcântara, consegue que o bispo D. Álvaro Mendoza, assuma o projecto da fundação sob a sua obediência. Ultrapassam-se assim as últimas dificuldades e no dia 24 de Agosto de 1562 inaugura-se o conventinho de São José (Livro da Vida 36,5). Teresa tinha 47 anos. Começam agora para ela «os cinco anos mais descansados de toda a minha vida (Livro das Fundações 1,1).
Numa tarde de Setembro de 1560, encontravam-se reunidas na cela de Dª Teresa de Cepeda y Ahumada, no convento da Encarnação, duas suas sobrinhas que ali se criavam com ela e dez outras religiosas amigas. Comentavam naquele momento uma carta circular que o Rei Filipe II fizera chegar a todos os conventos do reino e na qual expunha os prejuízos provocados pelos protestantes em França, e pedia orações pela unidade da Igreja. A conversa das intervenientes logo derivou para o bem que faz a oração dos bons religiosos, dos antigos eremitas do Monte Carmelo, de Frei Pedro de Alcântara e das Irmãs Descalças Reais que ele havia reformado, e da beleza que seria viver numa comunidade assim. Logo de seguida a sobrinha Maria de Ocampo assegurou que, caso se evoluísse para uma comunidade assim, ela ofereceria mil ducados do seu dote; e Dª Guiomar de Ulloa, senhora nobre que se havia ajuntado ao grupo, prometeu a sua ajuda. Teresa não estava muito convencida, mas poucos dias depois, ao comungar, sentiu que Cristo «me mandou muito que fundasse, fazendo-me grandes promessas de que não se deixaria de fazer o convento» (Livro da Vida 32,11).
Começaram aqui dois anos de lutas permanentes. Os seus conhecidos dizem que é uma autêntica loucura. Por sua vez, ela requer pareceres autorizados, pelo que escreve aos padres Pedro de Alcântara, Francisco de Borgia e Luis Bertrán – cada um a seu tempo será canonizado! –, que lhe responderão apoiando-a incondicionalmente. O provincial dos Carmelitas, P. Ángel Salazar, também aprova a fundação, e em virtude disso decide-se pedir um Breve Papal para a concretizar. Quando a notícia se conheceu no convento da Encarnação e na cidade de Ávila, a maioria pôs-se contra, pelo que o provincial retirou o seu apoio (Livro da Vida 32,15).
Acusaram-na de iluminada e de endemoninhada, em virtude do qual se decidiu pedir parecer ao teólogo de maior nomeada residente em Ávila – o dominicano P. Pedro Ibáñez. Teresa escreveu uma longa declaração de 40 parágrafos declarando-lhe a situação do seu espírito: esta é a primeira Conta de Consciência que conservamos. Apesar da oposição da cidade e das pressões que recebe, o parecer do padre dominicano foi positivo a que ajuntou uma declaração laudatória escrita em 33 pontos. Reconfortada Teresa decide pedir novo Breve Papal, com o pormenor de colocar o mosteiro sob a obediência do bispo, visto que o anterior permitia a fundação sob a obediência do provincial dos Carmelitas, que agora, como vimos, não está de acordo.
Apesar de crescerem as oposições externas, Teresa chamou de Alba de Tormes a sua irmã Joana e o seu cunhado, a fim de se encarregarem das obras de adaptação de uma casinha situada fora das muralhas de Ávila (Livro da Vida 33,4ss). Entretanto, as obras atrasaram-se porque, inesperadamente, caíram umas paredes, uma das quais sobre um dos sobrinhos de Teresa, que foi dado como morto. Quando a Santa se apercebeu logo correu para a obra e recolheu o corpinho do menino, acariciando-o e abraçando-se a ele. Entretanto, o menino despertou e Teresa entregou-o à mãe: não houve operário que não cantasse o milagre! A resposta de Teresa foi das boas: milagre, disse ela, era como se mantinha de pé um muro tão mal construído que obrigava agora a ser levantado de novo. A obra andou e logo faltou o dinheiro, mas inesperadamente o seu irmão Lourenzo mandou da América um punhado de moedas de ouro que ajudaram a prosseguir os trabalhos (Carta 2,1-2).
Quando tudo ficou em maiores apertos e complicações, Teresa recebeu ordem do provincial para se deslocar a Toledo, ao palácio de Dª Luisa de la Cerda: «esta senhora estava muito aflita e em grave risco de perder o juízo por causa da perda do seu marido (…) muito boa gente a tentara consolar chegando mesmo a trazer-lhe pessoas santas, mas ninguém conseguira nada» (Livro da Vida 34). Teresa permaneceu em Toledo os seis primeiros meses de 1562, o tempo suficiente para ganhar a amizade de Dª Luisa e das gentes da sua casa. Ao mesmo tempo teve a sorte de entrar em contacto com as mais altas individualidades da sociedade civil e eclesiástica de Espanha.
Foi também nesta altura que se encontrou com a Irmã Maria de Yepes, carmelita de Granada e futura Irmã Maria de Jesus na fundação de Alcalá de Henares. Esta religiosa caminhara a pé desde Roma trazendo consigo o Breve que autorizava a fundação de um convento reformado do Carmo onde se vivesse em absoluta pobreza, segundo a Regra primitiva. Teresa desconhecia este ponto da Regra. Decide então, sob conselho de São Pedro de Alcántara e a oposição dos letrados do momento, que as Irmãs que queiram entrar com ela no conventinho vivam do trabalho das suas mãos e de esmolas, sem rendas nem outras seguranças. E foi assim que Teresa decidiu pedir um terceiro Breve Pontifício, que a autorize a fundar nessas condições. O Breve chegará, porém, quando a fundação de São José já se encontrar realizada (Livro da Vida 39,14)
Isto foi uma das coisas que mais a fez sofrer no seu regresso a Ávila. De facto, nos finais de Junho, Teresa regressou a Ávila. Entretanto, frei Pedro de Alcântara, consegue que o bispo D. Álvaro Mendoza, assuma o projecto da fundação sob a sua obediência. Ultrapassam-se assim as últimas dificuldades e no dia 24 de Agosto de 1562 inaugura-se o conventinho de São José (Livro da Vida 36,5). Teresa tinha 47 anos. Começam agora para ela «os cinco anos mais descansados de toda a minha vida (Livro das Fundações 1,1).