Voltemos às carminhadas. O nosso estilo é carminhar. Nós somos o Carmo Jovem. Voltou a Primavera, e, como famintos de pão e de ar livre, voltámos aos caminhos e aos carreiros, que, noutros tempos, mas ainda não muito longe, eram de lavradores e caseiros, de rebanhos e bois que levavam sementes para campos e vessadas, donde depois se tirava pão e cevada, trigo e centeio, batatas e abóboras, milho e feijão, vinho e pêras.
Voltámos às carminhadas num ano novo, num tempo novo, com actores novos, com o mesmo jeito e gosto de carminhar.
Bem, os autores não são exactamente novos. O Jorge é o novo Coordenador, mas antigo no Carmo Jovem; o Ricardo é antigo no Carmo Jovem, mas novo no estatuto e nos galões; a Verónica é antiga, mas novo novo nela é o jeito de estar muito calada; a Vera, a Fatinha, o Filipe, a Zaira, o Adão é tudo gente velha, mas nova neste jeito sempre novo e empenhado de carminhar, de fazer e nos ajudar a carminhar.
Havia mais gente velha, mas a crónica não pode dizer tudo. Basta dizer que o novo e o velho, a experiência e a novidade carminharam juntos lado a lado de mãos dadas. Há concerteza gente nova, gente com futuro que faz prever um futuro com gente. Gente com jeito para amar e carminhar. Está garantido. Palavra de quem viu. E carminhou. Lado a lado.
E tínhamos o Pe. Agostinho Leal e o Pe. Vasco Nuno, velhos lobos do mar habituados a estes carminhos, para quem as tormentas mais duras já não supõem surpresa. Homens de fé que sabem ler as estrelas e traçar rotas por cima das bravias ondas de tojos e silvas. Homens feitos para o carminho, que não faltam quando é preciso, mesmo que seja à mesa. A do almoço ou a do altar.
A X Carminhada prometia ser diferente. Foi diferente. Com pés fortes, corações animosos, e muita gente jovem e corajosa.
O dia começou cedo, quando todos saímos de nossas casas para nos encontrarmos com os elementos dos nossos grupos, a fim de rumarmos ao Santuário do Menino Jesus de Praga, em Avessadas, Marco de Canaveses. Começar cedo é uma maneira de falar. Começar, começou cedo para uns. Outros outrora mais afoitos ficaram na cama. Não é, A. Pedro?
Estava um dia bonito de sol. Um dia bonito para rezar com os pés, com a cabeça, com a alma, com o corpo todo. E alguns ainda na cama. E alguns a correr pelas estradas ao nosso encontro. Um dia de sol que nos convidaria ao encontro com os amigos, ao encontro com «Aquele que sabemos que nos ama» e nos faz reunir em seu Nome, como jovens carmelitas que somos!Pelas nove horas da manhã já estavam no Santuário os grupos da casa (Avessadas e Rosém) para fazer o acolhimento. Logo depois, foram chegando os grupos de Alhadas (Figueira da Foz), Braga, Caíde de Rei (Lousada), de Moinhos da Gândara (Figueira da Foz), de Viana do Castelo. Éramos muitos nas escadarias do Santuário, 120 jovens a olhar para os montes de Avessadas e com uma enorme vontade de colocarmos os pés ao carminho! Como jovens carmelitas que somos fizemos a nossa oração da manhã, com a alegria de nos revermos e de estarmos junto ao Menino Jesus. Cânticos, palmas, orações… Escutámos as palavras do anfitrião, Pe. Vasco Nuno, dando “tom” para a carminhada e ouvimos as indicações práticas por parte da Vera Lúcia. E avançámos para o terreno!
E entretanto, chegou o casal da Gafanha da Nazaré, a Susana e o A. Pedro, que logo começou a carminhar connosco, mas primeiro rezou e consagrou-se ao Menino Jesus. Claro que estavam desculpados, mas que não volte a acontecer!
À frente, com o cajado indicando o caminho, foi sempre a menina da casa, a Stéphani ou Sté, a estrela que nos orientou. E todos a seguimos... Também é conhecida por Ferrugem, mas se a tem não mostrou porque manteve sempre vivo e pautado o ritmo da carminhada. É verdade que ainda estámos a começar, mas não é por ela que ficaremos no caminho.
Os caminhos foram bonitos. Uns eram bravios, outros bíblicos. Outros faziam lembrar o Paraíso, outros só eram carminhos porque a mão humana os rasgou para que passássemos. Caminhámos por carreiros junto a ribeiros, por meio de montes com lama a sujar as sapatilhas de pano e a fazer com que os pés das damas mais desprevenidas ficassem molhados. Oh, que pena! Os caminhos fizeram-se para quem sabe carminhar, para quem tem alma de carminheiro. E a conta da lavandaria vai para casa do Menino Jesus, em Nazaré, Palestina.
De quando em vez, ouviam-se os habitantes da aldeia a gozar connosco, julgando que éramos betinhos da cidade, “muito bem, sintam este ar puro pois não é igual ao da vossa terra!” Descemos toda a Quinta da Moria, chegamos à ponte de pedra. Este não é de todo um empreendimento maior, mas é eficaz. Leva-nos para a outra margem como convém. A partir daqui atingimos o ponto de não retorno: o caminho é mesmo sempre em frente.
Ao longo do carminho fomos fazendo as pausas necessárias quer para reunirmos as tropas, quer para rezarmos juntos, deixando-nos guiar pelo tema da carminhada «Pela graça de Deus sou o que sou.» (1Cor 15,10). Ao passarmos a ponte de Canaveses, pudemos fazer memória das tropas de Napoleão, que por ali passaram antes de nós. E também nós a passámos. Chegamos à Igreja de Sobretâmega, onde fizemos um breve momento de oração. Depois almoçámos no parque junto ao rio Tâmega (melhor paisagem não poderíamos ter!), a que se seguiram momentos de diálogo ameno e daquele convívio que faz crescer a amizade. Ao almoço juntaram-se a nós o Pe. Leal, o Gualter e o Pe. Vasco. Ahhhh, grandes carminheiros, assim sim!
A foto de grupo não podia faltar com tão belas sapatilhas por ali!
Por volta das catorze horas iniciámos o regresso. O tempo apesar de bom urgia. Agora esperavam-nos as terríveis subidas até Avessadas. Obviamente que o que antes descera, agora subia. Onde antes voámos, agora trepávamos a gosto, com língua de fora, o corpo a doer, os braços pesados, os pés de chumbo. Mas lá fomos, com calma e... acompanhados, que a companhia fortalece as pernas e quando no caminho nos deixamos acompanhar ele torna-se mais suave. Nem parece que sobe. E se foi subir! Mas não é a subir que nos ensina S. João da Cruz? Parámos ainda no adro da Igreja do Divino Salvador de Tuías, onde tivemos outro momento de oração. Uma oração ágil e animada porque dali víamos o Menino Jesus muito perto de nós. E dali partimos, já com o Santuário a olhar para nós...
Foi dura esta carminhada, talvez a mais dura e, por isso, diferente... mas bela... como os espaços envolventes do Convento até agora desconhecidos para nós! Foi uma carminhada cheia de riachos e subidas, rios e ribeiras, tojos e mato, urzes e mimosas já em flor, e montes e vales que nos convidaram a «entrar mais adentro na espessura»... Chegados ao Santuário do Menino Jesus, ultimámos os pormenores que faltavam para que tudo corresse bem na Eucaristia e fizemos a procissão de entrada (como tão bem nos ensinou e gosta o Frei João!!!). Por falar nisso, Frei João por onde é que anda? Agora já não vem à Carminhada? Julga que já carminhou tudo? A Eucaristia foi presidida pelo Pe. Agostinho Leal, superior da Comunidade Carmelita e concelebrada pelo Pe. Vasco Nuno e por todos nós e, ainda por um grupo de senhoras que não perdeu a oportunidade de carminhar connosco a recta final da nossa X Carminhada. Na homília o Pe. Leal referiu a importância dos jovens carmelitas decidirem fazer carminho em conjunto e não apenas a sós; de fazer um caminho de interioridade acompanhado pelos amigos e pela presença de Deus. Felicitou os membros da Coordenação do Movimento e todos aqueles que responderam sim à chamada. E questionou os jovens: «-O que vos move?». E respondeu ele mesmo: “O que vos move já se encontra dentro de vós. Não busqueis fora Quem dentro mora. O que move verdadeiramente cada jovem carmelita é aquilo que nele de mais puro existe: a sua fé, a sua identidade de jovens leigos carmelitas e a necessidade que têm de partilhar juntos o amor que vivemos.” Disse-nos também que não deveríamos parar jamais de carminhar e que cada carminho fosse fortalecido pela força da oração. E acrescentou, «O que vos adianta a vós, jovens, ter pernas para andar se não sabeis para onde haveis de ir? Que os passos que derdes vos comprometam para a vida, pautados pela mensagem que Jesus nos deixou no Evangelho. Jovem carmelita, levanta-te e vai carminhar, pois são precisos anjos na terra porque se não existirem na terra também não os encontrareis no céu.»
Ao finalizar a sua homília sinalizou o Ricardo Luís e pediu-nos a todos que não nos esquecêssemos dele nas nossas orações, pois muito caminhou ao nosso lado e agora iniciou outro caminho. Assim faremos.
Na Eucaristia contámos ainda com a presença dos grupos de catequese de Avessadas do 9.º e 10.º anos (que belas e melodiosas vozes!), que asseguraram o coro acompanhados à viola pelo Pe. Vasco Nuno e pelo Jorge Teixeira!
Depois da acção de graças, o Coordenador do Movimento Carmo Jovem, Prof. Jorge Teixeira, com a simplicidade que lhe reconhecemos, e como grande carmelita que é, agradeceu o acolhimento que a Comunidade dispensou aos jovens, e sublinhou ainda a presença amiga de todos os carminheiros. Depois, informou as próximas actividades do Movimento e convidou-nos a participar nelas, “porque o carminho não termina aqui”. Antes de nos separarmos, os jovens de Avessadas distribuíram as lembranças a todos os participantes: o Director das Edições Carmelo, Pe. Alpoim Portugal, ofereceu um livro da Coroinha do Menino Jesus e o Reitor do Santuário, Pe. Agostinho Leal, ofereceu o último número de Mensageiro do Menino Jesus Praga.
Da Eucaristia recordaremos ainda o cântico final – Se queres que Jesus cresça – que todos cantaram com alegria, fazendo todos os gestos que o Pe. Leal nos ensinou (que lindos macaquinhos de imitação!). E até a Maria, de 2 anos, (filha da Márcia e do Miguel, outro casal de Aveiro que veio para rezar connosco) bateu palminhas ao Menino Jesus! Era a hora do regresso! Mas as despedidas são sempre demoradas, todos querem ficar... nem que seja só mais um bocadinho. E depois de um lanche improvisado, dos abraços e dos beijos de despedida regressámos a nossas casas com a certeza profunda de que é muito bom sabermos que não carminhamos sós... Até ao dia 4 de Abril em Moinhos da Gândara, na Figueira da Foz. Estamos todos convidados.
(Este texto foi escrito a oito mãos e por não menos corações.)