Ainda as galinhas se enroscavam nos poleiros e os pardais davam os últimos suspiros de sono, já o casal Caramez se apressava para o encontro marcado com os jovens do Carmo. A missiva não deixava margens para dúvidas: 6.15h na porta do Convento!
Quando chegámos, já lá estava a Fiúza (confesso que não sei o nome da moçoila) e a Laura e, aos poucos, foram chegando a Joaninha, a João, o Bruno, o Zé, o Frei Daniel e o Frei João.
Após umas breves apresentações, uma vez que eu e o Pedro somos novos nestas andanças, seguimos viagem rumo a Paços de Gaiolo.
À medida que a viagem prosseguia, o dia ia nascendo. Como seria esta carminhada? Quem participaria? O que iríamos encontrar em Paços de Gaiolo ? Eram as interrogações que nos absorviam os pensamentos. E como já era hora e era necessário revitalizar o corpo, parámos para um revigorante cafezinho.
Esperávamos também pelo autocarro que vinha de Caíde de Rei com mais carminheiros.
Todos reunidos, continuamos viagem. À nossa espera estava um grupo considerável de jovens, rapazes e raparigas, homens e mulheres, que dispuseram do seu Sábado por algo maior, “Um passo da Paixão por dia”.
Nas margens do Douro, na Prainha, reunimo-nos em círculo e iniciámos a nossa viagem sempre inspirados pelas palavras de Teresa e animados pela força de Deus. Foi arrepiante ver tantos jovens unidos pelo mesmo princípio e com o mesmo objectivo. Partimos!
Sol, uma leve brisa e o chilrear da passarada eram a nossa companhia. E lá no alto, ELE inspirava-nos.
Paramos na Cruz Branca, local simultaneamente simples e majestoso.
As dificuldades da travessia do Douro em tempos que já lá vão, motivaram os comerciantes do vinho do Porto que por lá passavam nos barcos rabelos, a construir umas Alminhas nas margens do rio para que estas velassem por quem lá passava. Posteriormente, foi lá colocada uma cruz branca que por instantes me lembrou a cruz branca da Calvário da família Caramez que está na Igreja do Carmo em Viana… (Mas adiante). De branco puro, simples, calmo e tranquilo como aquele lugar. Após reflexão, cânticos e oração, seguimos. O percurso seria agora mais ingrato, mais íngreme, mais duro mas o calor que aquecia o coração ajudava a superar os constrangimentos. Afinal, tudo era feito por ELE que tanto fez por nós!
Foi duro lá chegar (pelo menos para mim!). Por breves momentos, instalou-se na minha alma um desejo de fugir pois jamais chegaria ao fim da jornada. Mas tão depressa este sentimento apareceu como se foi, pois uma mão amiga me deu um sopro de força. Com FÉ prossegui.
No sopé de uma pequena elevação, ali estava o Cruzeiro. Em redor, um conjunto significativo de casas e a Natureza com os seus tons tão verdes, tão amarelos, tão abençoados por Deus.
Seguimos viagem até à antiga Escola Primário Marçal Grilo e um faustoso repasto nos esperava. Faustoso nas iguarias mas sobretudo na Amizade, na partilha e na disponibilidade das gentes de Paços de Gaiolo. Foi marcante esta descoberta: há muita gente boa ao nosso redor.
Em amena cavaqueira lá estivemos todos unidos pelo mesmo Pai.
Barriguinha cheia, partimos para apreciar, valorizar e rezar no que resta da Capela de Fontinhães, uma pequena ermida do período medieval que o progresso da História levou à sua desactivação como Igreja Matriz. As pedras que lá faltam, encontram-se na actual Igreja Paroquial de Paços de Gaiolo. (Registei no meu bloco de apontamentos: local a visitar novamente!)
Enquanto lá estivemos, pensei “Que felizes tempos aqui se viveram, lá longe na História… que sorte tinham os seus fregueses com a possibilidade de orar num local tão imponente, quase quase a tocar os céus”.
Prosseguimos pelos caminhos antigos da povoação. Os habitantes descansavam da labuta árdua no campo e simpaticamente nos davam as boas tardes.
Depois foi sempre a descer a montanha. As pernas tremiam, o calor apertava mas algo maior nos esperava.
Após oração e os preparativos necessários, rumámos em peregrinação, silenciosamente, com os ramos de oliveira nas mãos, para a Igreja onde se realizou a Eucaristia.
Mas não foi uma missa qualquer, foi outra coisa. Foi um encher a alma, foi um aquecer o coração, foi um renovar a FÉ e a ESPERANÇA, foi sentir DEUS mais perto, foi um conjunto considerável de palavras boas que não consigo reproduzir. Porque só estando lá é que se percebe e entende.
Foi a 17ª Carminhada de Paços de Gaiolo.
O dia rematou-se com o lanche, a tradicional bica para aconchegar, não sem antes passar por Tongobriga e recordar os meus tempos de estudante.
E agora, resta-me (resta-nos) agradecer a possibilidade que tive (tivemos) em conhecer gente tão boa, agradecer a simpatia do grupo de Viana que tão pacientemente nos acolheu e ao Frei João, obrigado por ser nosso amigo!