sexta-feira, 1 de abril de 2011

O Livro de Eli, sobre o qual concordamos em discordar

(O V Entrefitas do Carmo Jovem ocorreu em Moinhos da Gândara, Figueira da Foz, no dia 19 de Março de 2011.)


A noite começou normal, exceptuando o pequeno atraso da praxe, que não foi grande, e apenas serviu para aumentar o suspense em relação ao filme que iríamos ver. Feitas as apresentações, cumprimentos e toda a vasta gama de salamaleques, cada um tomou o lugar que lhe era devido, havendo quem levasse ainda um pufe, para potenciar o conforto. Ainda antes do começo do filme, o grupo de jovens Somos Um presenteou o Carmo Jovem com um quadro que é difícil descrever por escrito, pela simbologia carregada de cada elemento, mas que apresentava a gota característica dos jovens carmelitas, envolta pelos pés característicos do logótipo do grupo de jovens anfitrião.


O filme, carregado de acção, suspense, violência e uma mensagem convoluta, suscitou um bom e acalorado debate no final, em que várias faixas etárias/culturais explicitaram os seus pontos de vista. No início, nada iria indicar as opiniões que iriam ser tão antitéticas. De um lado, os elementos mais jovens do grupo, que tentaram “espremer” um significado bom e inocente de um filme que, segundo outros, de inocente nada tinha. Como cada hipótese foi fundamentada com os devidos argumentos, chegou-se a uma conclusão de que se poderia tirar uma mensagem de esperança, de que a Palavra de Deus poderia dar significado a uma vida num mundo horrível; que poderia ser tão poderosa que homens lutariam para a obter. No entanto, o facto de o filme englobar essa mensagem numa manta comercial de violência, e o facto de na história o objecto ser uma bíblia e não um conjunto de todos os livros de todas as religiões, levou a que alguns elementos do grupo vissem a mensagem como uma acusação à fé cristã. De novo, uma hipótese extremamente bem fundamentada, que seria quase impossível de reproduzir aqui sem que esta perdesse o impacto que teve na altura. Houve elementos que salientaram que o filme enquanto arte tem o direito a apresentar uma mensagem algo ambígua; sendo essa opinião rebatida por outros que acreditam que a arte como tal tem de ter beleza, bondade e verdade. Depois de uma breve discussão artístico-filosófica, nenhuma das partes tomou o partido da outra. Ambas compreenderam o que a outra explicitava, mas discordando, concordaram em discordar e procrastinaram uma discussão mais aprofundada para um futuro próximo.

Como todos sabem, discutir matérias que requeiram pensamento suscita alguma necessidade de ingerir nutrientes, vulgo larica. Felizmente, os anfitriões tinham preparado uma mesa com bolos, sumos para os que queriam, chá e café para os que não bebiam sumo, e água para quem estava do contra. Enquanto falavam e trocavam impressões entre si, foram distribuídas pequenas lembranças em forma de bíblia, com ditos individualizados, a cada elemento do grupo. No final, antes de se arrumar a sala, todos assinaram uma faixa que será entregue à Irmã Raquel Maria de São João da Cruz, do Carmelo de S. Teresa em Coimbra, que nesse esmo dia, pela manhã, ali iniciara o Noviciado de Carmelita Descalça. Desde frases originais, a citações, a simples assinaturas, todos acharam dentro de si algo para dedicar a essa nossa heroína/amiga.

Feitas as despedidas, todos apresentavam o mesmo sorriso de noite bem passada, aliada a alguma saudade e expectativa pelo Entrefitas seguinte, que peca de tardio no coração de todos.

Jorge Graça
Grupo Somos Um