Estávamos no dia 13 de Fevereiro, era a data ideal para a 13ª Carminhada.
Ao chegar a Cantanhede fomos todos recebidos pelo já esperado frio e pelo calor de outros carminhantes. Estava tudo pronto para começar uma nova carminhada, desta vez na companhia de Frei Francisco Palau.
Foi entre saudações, risos e sorrisos que demos início à nossa carminhada com uma oração, que emoldurava na perfeição aquela maravilhosa paisagem (na qual a transparência das águas do lago se conjugava com o verde das plantas que o envolviam).
Enquanto carminhavamos, observávamos os pormenores do ambiente que nos rodeava. Alegria, surpresa e admiração. Estava assim na altura de fazer a segunda paragem deste nosso percurso.
Encontrávamo-nos no “Templo da mãe Natureza”, o nosso chão era terra enfeitada por folhas e ramos deixados cair acidentalmente pelas nossas paredes (as árvores), tomamos como tecto algo que nos sugere reflexão, paz e sossego (o céu). O objectivo era não só fazer silêncio no nosso exterior mas também “fazer silêncio no nosso interior” de modo a ouvir a brisa do vento que embalava carinhosamente os ramos das árvores sob as nossas cabeças.
Após este momento de silêncio recomeçamos o nosso percurso tentando contemplar toda a paisagem que nos rodeava sem esquecer as brincadeiras habituais. Já com as pernas a dar sinais de abrandamento avistamos a nossa terceira paragem, a Capela das Almas.
Foi envolta desta capela caiada, que formamos duas filas (rodas em forma de abraço) e meditamos um pouco sobre aqueles que já deixaram de carminhar neste mundo, recordando momentos, expressões ou acções que valorizem a ou as pessoas em causa. E a nós também. Já a fome nos visitava quando voltamos ao nosso carminho, sempre alegres e bem-dispostos. Foi então que encontramos a tão esperada igreja que teimava em acolher-nos na sua sombra. Foi nos pátios na Igreja de São José que fizemos a nossa terceira oração, reflectindo um pouco sobre o “Carminho da Cruz” e tudo aquilo que este significa para nós, Jovens Carmelitas. Foi também neste local que o nosso querido e sempre bem-disposto Frei João informou que à nossa espera estaria uma refeição que englobava três leitões. Esta informação deixou os mais esfomeados bastante sobressaltados.
Deu-se assim início ao tão esperado almoço. Estava na hora de recarregar as energias e, com toda a comida preparada pelos anfitriões — A Comunidade de São José de Tarelhos, Cantanhede —, esta tarefa não seria difícil de concretizar principalmente por parte dos mais comilões. A carminhar com as energias recarregadas, dirigimo-nos ao Moinho do Ti Fernando Claro onde, fomos convidados pelo Frei João não a simplesmente ouvir mas sim a escutar o som da mó a moer os grãos de milho. Após a oração foi dada a oportunidade aos curiosos de ver a mó mais de perto. Desta paragem no moinho ficou-nos marcado algo que o Frei João disse e que nos deixou a todos a meditar: “Os Homens que cultivam a terra e sabem fazer o melhor pão estão a desaparecer”. (Dos 15 moinhos que existiam na aldeia agora só há um!)
Após uma brevíssima pausa, voltamos à estrada e só paramos de caminhar quando chegamos a uma Capela muito bem situada, com uma vista característica da região onde estávamos (campos cultivados). Após a chegada de todos, dirigimo-nos para dentro da capela e curiosamente, em todas as carminhadas e nesta sem excepção, por muito pequeno que seja o local onde paramos e oramos, nunca nenhum carminhante fica sem um pequeno espaço para si. Já todos dentro da capela, fomos informados que estávamos na Capela de Nossa Senhora da Misericórdia, uma capela-túmulo de D. Jorge de Meneses com uma história muito antiga (1530) e onde se pensa, que Pedro e Inês tenham estado juntos, feito a sua promessa de amor eterno e unido os seus laços. Pelos vistos, esta informação não estava totalmente certa, pois a única certeza é que Pedro e Inês realmente estiveram juntos na zona onde nos encontrávamos, mas a construção da Capela só aconteceu após a sua presença em Cantanhede. Entretanto, depois da lição de história voltamos a rezar, desta vez pelos casais e famílias: Havia entre nós 6 casais: dois com filhos e a carminhar com dois carrinhos de bebé, e os bebés, claro!, um grávida!, e dois pares de namorados! Seguidamente às orações que realizamos na Capela, fizemos uma pausa para lanchar e só depois prosseguimos a marcha de volta à Igreja de São José, onde decorreram todos os preparativos para darmos início à celebração de encerramento da XIII Carminhada. Como não podia deixar de ser, a celebração foi muito animada pois com o Frei João a presidir a mesma, aborrecida não poderia ser. Na homilia, falou-nos de São Pedro, Apóstolo, e contou-nos uma história acerca da sua morte e “crucificação de cabeça para baixo”. Diria que o ponto alto da celebração foi no momento do ofertório quando todos ficamos a saber que uma amiga carminhante, a Elisabete, também conhecida por Betinha, vai para Cabo Verde dar aulas voluntariamente durante 3 meses; e a pedido do Frei João, o valor do ofertório seria para material escolar que a Elisabete iria comprar e entregar em nosso nome. Como recordação desta carminhada foi entregue a cada um de nós uma pequena cruz de vime que, segundo o Frei João, deveríamos colocar onde melhor entendêssemos, mas de “cabeça para baixo” à semelhança do pedido de Pedro que foi crucificado ao contrário de Jesus. No final da celebração foi o já acostumado e demorado momento da despedida e da partida em que, como tem sido hábito, todos os carminhantes fazem promessas de participarem na carminhada seguinte, de tal que é a vontade de carminhar com a família sempre em expansão do Carmo Jovem.
Obrigado Carmo Jovem.
[Maria Babo Martins e Francisco Babo Martins - Caíde de Rei ]