O Papa Bento XVI não é um jovem português. Não veste springfield nem usa sapatos de vela; não navega no twitter nem faz surf na Ericeira; não é do CDUP nem vibra com o Benfica; não é vegetariano nem forcado nas touradas; não liga nada á política nem tem um trauma com a matemática; não canta fado como a Carminho nem é alternativo como os “Flor Caveira”; não resiste a uma mini nem tem automóvel antes de ganhar dinheiro; não abriu um bar na Foz do Porto nem organiza despedidas de solteiros; não abandona a Igreja depois do Crisma nem se oferece para ir a Fátima com os avós; não é fan dos “Gato Fedorento” nem perdeu a pachorra para os “Morangos”; não se mete no “Andanças” nem é fan do “Rock in rio”; não andou nas “Belas artes” nem passa a vida na Gulbenkian; não fez Erasmus em Itália nem sonha com um MBA em Tóquio; não viveu nenhuma “queima das fitas” nem fez uma viagem de finalistas a Cuba, não foi voluntário em S. Tomé nem foi passar nenhuma Páscoa a Taizé; não fez nenhum empréstimo para pagar a primeira prestação da casa nem atrasou o casamento por falta de emprego estável.
O Papa Bento XVI não usa havaianas nem os jovens portugueses falam latim, embora ambos não prescindam das novas tecnologias e gostem de rezar com ipod. Que podem os jovens portugueses esperar do Papa não sendo ele um “papa jovem”? O Papa Bento XVI conhece as expectativas, ousadias e esperanças dos jovens portugueses? Que dirá o Papa aos jovens que querem construir a sua felicidade a partir de Cristo? Responderá o Papa ao desencanto da fé e á desilusão do mundo que tantos jovens experimentam? Que caminhos proporá Bento XVI aos que esperam por respostas mais discernidas e abrangentes para os dilemas das suas próprias existências? Que dirá o Papa aos jovens que, por alguma razão, quase sempre emocional, deixaram de confiar na Igreja e se afastaram da prática da fé? Que dirá o Papa a todos os que se fecharam ao dialogo e consideram a igreja católica uma instituição dispensável?
No programa da visita do Papa Bento XVI a Portugal não existe um momento de encontro específico com a Juventude portuguesa. No entanto, milhares e milhares de jovens estarão presentes em todos os momentos e celebrações da sua visita. O programa www.eu-acredito.net, impulsionado por jovens ligados a Schoenstatt, às Equipas de Jovens de N. Senhora, aos Jesuítas (Cupav) e ao Patriarcado de Lisboa é revelador da expectativa e do empenho de uma ampla e variadíssima conjugação de jovens de inúmeras sensibilidades eclesiais que enriquecem e fazem a Igreja. E todos sabemos, de muitas outras iniciativas juvenis que acompanharão a visita do santo padre como passeios de bicicleta, debates e conferências, peregrinações a pé, até á grande vigília nocturna dos aliados no Porto coordenada pelos universitários do Creu-il, para além da presença nos encontros do santo padre com o mundo da cultura e compromisso social.
Que dirá o Papa aos portugueses? Rever-se-ão os mais jovens nas suas palavras e propostas? O que dirá o Papa, obviamente, não sei. Mas sei que o que disser foi muito rezado, discernido e será proposto como um caminho positivo que nos fará ousar viver a verdade a partir da caridade. É exactamente neste caminho de esperança que o Papa e os jovens portugueses coincidem. O Papa, com a sua belíssima idade e grande sabedoria converge com a juventude portuguesa que anseia por um novo fascínio por Deus e pela Sua liberdade. O nosso querido Papa Bento XVI não é um homem desiludido com a vida e desenquadrado do nosso tempo. Não é um vendedor de sonhos fáceis mas um promotor de vidas agradavelmente exigentes que buscam no discernimento mais caminhos do que soluções. Não é um homem fechado ao diálogo, nem ao progresso. Não é um castrador de novos pensamentos ou visões mas um sábio construtor de mundos com raízes. Não é um profeta da desgraça mas um construtor de pontes e um denunciador das injustiças. É um homem que tem os pés na terra, que conhece como ninguém a grandeza e os dramas da juventude do nosso tempo, a falência das respostas fáceis, assim como as aspirações mais puras e profundas das gerações que querem dar um novo rumo ao futuro. O Papa não tem medo de viver no tempo da nossa post-modernidade líquida, global, fragmentária. Não espanta, portanto, que as aspirações do Papa coincidam com muitos dos sonhos dos jovens portugueses que encontram na matriz cristã da sua cultura as linhas por onde desejam traçar a sua própria identidade e o seu futuro.
É justo esperar que, longe das etiquetas de “conservador” ou “progressista”, o santo padre confirme na inteligência da sua fé e na força seu magistério aquilo que, na perspectiva cristã é inegociável, da defesa da vida, da paz entre os povos, da sustentabilidade do planeta até á condenação do lucro fácil, dos relativismos éticos e sociais, das egolatrias e esquecimento dos mais frágeis.
Haverá lugar para surpresas? Estou convencido que sim. O actual papa é um homem de profundas convicções alicerçadas na sua profundidade intelectual. Mas Bento XVI tem-se revelado um visionário esperançado que sabe ler positivamente os sinais do tempo presente oferecendo propostas, inclusive institucionais, sem romper com a coerência do evangelho. As suas palavras, dirigidas a todos mas acolhidas como “pão para a boca” pela juventude portuguesa poderão, quais “pedras no charco” agitar as nossas elites artísticas, universitárias e culturais, os nossos políticos e todos os agentes sociais. É neste enquadramento que se poderá, inclusive, sonhar e estruturar uma pastoral da juventude alicerçada na erudição dos conteúdos cristãos mantendo a sua vivacidade e frescura.
Que podemos esperar? Acredito que o santo padre não dirá aos portugueses apenas o que já disse noutras ocasiões, a saber, que “o cristianismo não é um conjunto de proibições, uma religião de “nãos”; que “é justa a aspiração á liberdade e felicidade de cada jovem ainda que misturada de inquietude”; que “é importante perder os medos e dar tudo a Cristo porque Ele não tira nada a ninguém mas dá tudo”; que “é preciso recuperar a experiencia vibrante do diálogo com Deus, de lhe abrir o coração, de confiar, de criar laços eternos de amizade”; que “somos chamados á santidade” e que o podemos ser em todas as vocações laicais, religiosas e sacerdotais; que “a vida não se joga fora porque Deus tem um projecto para cada um”; que “discernir a verdade e centrar a vida em si mesmo é uma armadilha total”; que é fatal cairmos nos abismos da droga, do sexo descartável, da obsessão do dinheiro ou do prestígio; Que a família é o matrimónio são “património da humanidade”; que temos que aliar a fé á cultura e á justiça; que Deus tem sentido de humor, etc.
O Papa não desiludirá a juventude portuguesa. Ele vem para suscitar sonhos em nós. Ele sabe que só o amor é digno de fé e conhece os caminhos da verdade que podem conduzir a juventude, na valentia das decisões definitivas á pratica da caridade. O Papa não entende o serviço da Igreja à juventude como uma experiencia emocional, generosa, desenraizada da erudição, da beleza e da inteligência, das exigências e da criatividade da fé. Seria tão bom que o Papa pedisse á juventude portuguesa e aos jovens cristãos em particular, a ousadia de ser capaz de falar ao coração da humanidade, suscitar esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do compromisso humano. A juventude portuguesa agradece ao Santo Padre por tamanha coincidência nas perspectivas e nos desejos.
P. Carlos Carneiro, sj