Dos Escritos de Santa Teresa de Jesus
Todos os que trazemos este hábito sagrado do Carmo somos chamados à oração e contemplação, porque este foi nosso princípio, desta casta, daqueles santos Padres do Monte Carmelo, que buscavam este tesouro, esta preciosa Margarita.
Lembremo-nos dos santos Padres nossos antepassados. Bem sabemos como, por aquele caminho de pobreza e humildade, gozam de Deus.
Oiço algumas vezes dizer que nos princípios das Ordens Religiosas, como eram os alicerces, fazia o Senhor maiores mercês àqueles santos nossos antepassados. E assim é, mas sempre nos havíamos de considerar alicerce dos que vierem depois. Porque, se agora nós que vivemos, não tivéssemos perdido o fervor dos nossos antepassados e se os que viessem após nós fizessem outro tanto, sempre estaria firme o edifício. Que me aproveita a mim que os santos passados tenham sido assim, se depois sou tão ruim que, com meus maus costumes, deixo estragos no edifício? Porque, é claro: os que vão chegando não se recordam tanto dos que há muitos anos morreram como dos que estão vendo. É engraçado que eu atribua o mal ao facto de não ser das primeiras e não veja a diferença que há entre a minha vida e virtude e as daqueles a quem Deus fazia tantas mercês.
Se vir que a sua Ordem em algo vai decaindo, procure ser pedra capaz de tornar a levantar o edifício, que para isso o Senhor dará ajuda. Por amor de Nosso Senhor lhes peço: lembrem-se quão depressa tudo se acaba, e da mercê que nosso Senhor nos fez trazendo-nos a esta Ordem. Mas ponham sempre os olhos na casta de onde vimos, naqueles Santos Profetas. Quantos santos temos no céu que trouxeram este hábito!
Tenhamos a santa presunção, com a ajuda de Deus, de ser como eles. Pouco durará a batalha e o fim será eterno.