A Sagrada Família não trabalha só o prodígio da altura. Nestes tempos, como dizia Pierre Bordieu, tão afunilados numa desvitalizante miséria simbólica temos aqui o dinâmico esplendor do símbolo. Gaudí, «o arquiteto de Deus» como lhe chamam, idealizou a “sua” Sagrada Família com base no número 12, o número da Jerusalém terrestre, mas também o da Jerusalém do Alto (leia-se a impressiva descrição feita no capítulo 21 do Apocalipse). Gaudí não partiu de soluções pré-existentes, nem repetiu manuais. A sua arquitetura não tem apenas uma sensibilidade ao espiritual, tem a estrutura de uma visão e a profundidade de uma experiência mística. Gaudí mostra a grande Arte como oração intensíssima. E mostra amplamente aquilo que talvez já tínhamos esquecido: os homens do século XXI sabem ainda construir e amar catedrais. [José Tolentino Mendonça]
Fonte: SNPC