Celebramos hoje a memória de S. André Corsini, bispo carmelita italiano do século XIV. É contemporâneo de São Pedro Tomás.
Nasceu nobre da nobre família dos Corsini, Peregrina e Nicolás, de Florença. Da sua família saíram cardeais e papas para o serviço da Igreja (Clemente XII, por exemplo). O que seus pais tinham de nobre linhagem igualmente tinham em bondade e piedade. Não assim o filho. Dizem que quem com lobos anda com eles aprende a uivar. Assim foi com André, que depois de lobo selvagem e iracundo houve de fazer-se manso cordeiro.
Mercê das lágrimas da mãe a sua mudança foi espectacular.
Dos seus lábios jovens facilmente se soltavam versos de amor, como em nenhum outro do seu tempo. Foi contemporâneo de Petrarca e da mesma cidade. Mas enquanto o primeiro seguiu a carreira das letras, André percorri os caminhos da caça, do jogo, da poesia e do amor. Enfim, o programa dos jovens ricos do seu tempo. Por sua vez, a sua mãe chorava, chorava e rezava na Igreja do Carmo. Ali passara largos anos implorando ao Céu um filho, e, por fim, quando lhe nascera revelara-se lobo mau. Eram tantas as horas de oração, lágrimas e jejum que a sua vida esteve em perigo.
Um dia o jovem dissipado ouviu da desiludida mãe este desabafo: «Na véspera do teu nascimento vi-te em sonhos como um lobo feroz, entrando num templo e convertendo-te em cordeiro diante da imagem de Nossa Senhora. Oh! Quanto rezei a Deus e a Nossa Senhora para que a segunda parte do sonho se tornasse verdadeira. Lobo já o foste, e pior do que nós alguma vez pensámos. Porém confio que a Mãe de Deus te converterá num manso cordeiro que não ofenda o Senhor! Consagrei-te a Deus e a Nossa Senhora no dia do teu nascimento. Eu e teu pai jamais deixamos de rezar, um só dia que fosse, para que te convertas e mudes o teu comportamento.»
Estas palavras impressionaram tanto o jovem André, que, envergonhado e arrependido, saiu da casa paterna e caminhou perdido e desorientado pela ideia de mudança e pelos apelos da vida boa e bela que vivera. Sem saber como viu-se na Igreja de Nossa do Carmo e ali prometeu mudar completamente de vida. Ficou ali tanto tempo que um religioso, vendo-o com tanta piedade, se abeirou e lhe perguntou se precisava de algo. Que sim, precisava de falar com o Prior. Levado à sua presença caiu de joelhos e pediu para entrar na Ordem. Mas a sua vida de jovem aventureiro e perdulário era bem conhecida de toda a cidade, até dos frades. Por isso o Prior recomendou tempo para reflectir e ponderar. Mas o jovem insistiu tanto que foi aceite naquele dia, mas apenas temporariamente. Consultada a família ouviu-se esta resposta da mãe: «Sempre será louco, mas eu prefiro esta nova loucura».
Trocou por fim a espada e a capa de seda pelo áspero e remendado hábito castanho. Não faltaram os espantos e os escândalos na cidade e os companheiros e tios a chamá-lo para a vida anterior. Ofereceram-lhe um elegante casamento, e obtiveram como resposta: «E de que me serve tudo isso se não tiver paz na minha alma?»
Em vão. Muito se comentou em Florença tal mudança de vida, até porque Frei André, vestido agora dum pobre e remendado hábito castanho, passou a frequentar como pedinte as mesmas ruas onde antes exibia os seus luxos e dotes de herdeiro rico. Aquele que nascera rico era agora educado na pobreza.
Ao ser ordenado sacerdote a família preparou umas festas sumptuosas para toda a cidade, mas Frei André, saindo por outra porta, foi-se para uma igrejinha afastada e solitária e ali celebrou a sua primeira missa.
Pouco depois da sua ordenação sacerdotal enviou-lhe Deus muitos sofrimentos e por eles o dom de alcançar milagres. Profetizava o que ia suceder e as suas profecias cumpriam-se. Abençoava os doentes e estes curavam-se. Destacava-se sobretudo na conversão dos pecadores, onde sobressai o seu tio João Corsini que antes se opusera à sua.
Entretanto, a Igreja de Fiésole, tendo a sede vacante, escolheu-o para seu bispo. Mas Frei André saiu do seu convento sem ser visto e escondeu-se num outro muito afastado, pois se considerava indigno.
Buscaram-no tão intensa e inutilmente que já se preparavam para escolher outro bispo. Então, um menino anunciou que o Padre André se encontrava no convento dos cartuxos. Para ali se dirigiu todo o povo de Fiésole resgatando-o, trazendo-o para a cidade e convencendo-o a aceitar o cargo. Aceitou e foi bispo durante 24 anos, tendo exercido com mansidão de cordeiro.
Vivia no paço episcopal como um penitente, dedicado a servir e a ajudar, cuidando dos pobres e dos pecadores. Vivia como um monge no deserto e dormia no solo sobre um esteira.
Chamavam-lhe bom e santo, mas isso mais o entristecia pois se julgava pecador e miserável.
Tinha especial cuidado e atenção para com os pobres que outrora tinham sido ricos, cujos nomes trazia escritos num caderno.
Tinha o dom de pacificar os que se guerreavam. Em certa altura foi enviado pelo Papa à cidade de Bolonha que se havia dividido em dois partidos e se guerreava. Para ali foi, disposto a tudo suportar. E suportou humilhações e a prisão, mas por fim venceu a paz.
Morreu no dia 6 de Janeiro de 1373, aos 71 anos de idade. Imediatamente à sua morte o povo glorificou-o exigindo que na missa do funeral não se rezasse pela alma do seu Bispo, mas que fosse invocado como santo.
A sua fama de jovem violento foi tal que, mesmo depois de morto, testemunhas houve que afirmam tê-lo visto cavalgando na batalha de Anghiari, depois celebremente pintada por Leonardo Da Vinci e Miguel Ângelo.
É chamado Pai dos pobres e Construtor da paz.