8 de Fevereiro
21:00 Igreja do Carmo de Aveiro
VIGÍLIA PENITENCIAL JOVEM
Quem vive na opulência e não reflecte
é semelhante aos animais que são abatidos.
(Salmo 49:21)
Na primeira volta da segunda escada
voltei-me e vi lá em baixo
o mesmo vulto enrodilhado no corrimão
sob os miasmas que no fétido ar boiavam
combatendo o demónio das escadas, oculto
em dúbia face de esperança e desespero.
Na segunda volta da segunda escada
deixei-os entrançados, rodopiando lá em baixo;
nenhuma face mais na escada em trevas,
carcomida e húmida, como a boca
imprestável e babugenta de um ancião,
ou a goela serrilhada de um velho tubarão.
Na primeira volta da terceira escada
uma túmida ventana se rompia como um figo
e além do espinheiro em flor e da cena pastoril
a silhueta espadaúda de verde e azul vestida
encantava maio com uma flauta antiga.
Doce é o cabelo em desalinho, os fios castanhos
tangidos por um sopro sobre os lábios,
cabelos castanhos e lilases;
frémito, música de flauta, pausas e passos
do espírito a subir pela terceira escada,
esmorecendo, esmorecendo; esforço
para além da esperança e do desespero
galgando a terça escala.
Senhor, eu não sou digno
Senhor, eu não sou digno
mas dizei somente uma palavra.
T. S. Eliot (1888-1965)
Tradução de Ivan Junqueira