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onde estás, Deus libertador .
que nos perguntam por ti e não te vemos?
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Deus escondido, onde estás?. Devemos procurar-te entre os destroços,
. a cinza e as mãos cortadas como canas verdes,
. ou à frente das batalhas,
. entre os que caminham como o vento
. e as folhas das plantas, sensíveis à luz,
. entre os que vão de cabeça alta e regressam
. da servidão do saco e do tijolo
. os que acordados vêm,
. os pés recentemente desatados,
. a língua solta?
. Deus escondido, onde moras?
. devemos procurar-te entre as que fizeram o êxodo
. e começaram a amar,
. os que morrendo a si já ressuscitam
. os que rompem as muralhas da pele e pedem água?
. devemos procurar-te naqueles que sobem à montanha
. para molhar as mãos de luz e transfigurar-se?
. na solidão dos montes apalparei a tua face?
. na limpidez dos rios e a palavra
. com que fizeste o mundo verei a tua mão correndo?
. onde devemos esperar-te, Deus da surpresa
. e como nós trânsfuga?
. Deus dos que não têm voz nem barcos
. para na albufeira olhar a alma
. a crescer como a sombra dos pinheiros
. anoitece a alma e o rio,
. Deus gratuito, onde estás?
. devemos procurar-te na poesia e no canto,
. no amor e na beleza,
. na barraca e no lixo?
. onde apareces, Deus amigo dos pobres,
. onde te acharemos, Deus libertador?
. [José Augusto Mourão - In O Nome e a Forma, ed. Pedra Angular] .