terça-feira, 22 de julho de 2008

Decifrar os jovens


Viajar meio mundo para enfrentar centenas de milhares de jovens não é um desafio fácil, mesmo para quem aparentemente a ele esteja habituado. Bento XVI, aos 81 anos, aparece aos nossos olhos como o completo oposto de uma estrela de rock ou uma vedeta do desporto, mas a viagem à Austrália, para a Jornada Mundial da Juventude, provou à saciedade que não é a sua natural timidez que o impede de ser uma presença marcante no meio da festa das novas gerações católicas. O Papa parece ter a capacidade de se fazer ouvir, mesmo por entre o burburinho habitual destas grandes manifestações, e, sobretudo, surge com a capacidade de decifrar os principais anseios dos jovens, muitas vezes perdidos na corrente de centenas de propostas e princípios de vida que se multiplicam a cada instante, nos mais variados cantos do mundo globalizado e, cada vez mais, mediatizado. Falar de conceitos como verdade, bem, salvação ou mesmo certo e errado é, de certa forma, o discurso mais improvável para quem quer cativar a geração Ipod, mergulhada quase sempre em si mesma, na indiferença de um tempo em que tudo vale. Improvável seria também que, no Conclave de 2005, alguém apostasse em Joseph Ratzinger como o homem de que a Igreja precisa para falar aos seus jovens, no início do século XXI. Admita-se que ele próprio precisa, por vezes, de ser decifrado e, em boa verdade, o mais seguro é confiar no que se ouve e evitar interpretações/traduções alheias, que na maior parte dos casos destacam o periférico, o secundário, o espectáculo em detrimento da substância. Os jovens vão aprendendo que é mais importante ouvir do que ver este Papa. Bento XVI tem a coragem de não abdicar dos princípios que defendeu toda a vida e fala com clareza – mesmo quando o seu inglês atrapalha mais do que ajuda. Talvez por isso, talvez pela própria posição que ocupa e que goza de um prestígio inerente, tem sabido impor-se como uma referência para os que procuram sentidos e significados que muitas vezes são ofuscados pelo efémero, pelo frenesim, pela necessidade e a urgência do imediato. A Igreja continua, com as suas várias propostas, neste esforço de decifrar as novas gerações. A onda imparável do voluntariado missionário, que se destaca nesta edição, mostra como novas oportunidades se abrem a cada esquina para dar a experimentar dimensões fundamentais do ser católico, seja numa festa como a de Sidney, seja nos recantos dos países mais desfavorecidos do mundo.

in Ecclesia