O despertador tocou cedo e num pulo saltei da cama, um friozinho no estômago, como quando partimos para os primeiros passeios da escola. Afinal tratava-se de um (re)encontro com um Amigo, especial, muito especial.
Esperava-me uma pequena viagem de comboio no final da qual me aguardava a minha boleia (da minha mana de coração). Partimos do Porto às 8:30 de sábado, rumo a Avessadas. O dia estava cinzento, alguma chuva que nos atrasou e a conversa que corria em torno dos detalhes deste (re)encontro.
.
9:15 – Avessadas.
Corremos para o refeitório onde os restantes dez amigos do Pai já aqueciam o corpo com uma chávena de leite com café. No refeitório do Convento um cheiro antigo a café de saco, lembrei-me da minha bisavó, do seu café e daquele cheiro. Um bom dia geral, uma chávena de café e um pão com geleia (que delícia) e avançamos para a oração da manhã.
Éramos 12 amigos do Pai mais o nosso guia até ao Pai (Pe. Vasco). Ao longo das orações fomos escutando uma passagem do Livro dos Reis, sobre Elias e a sua experiência do Kerit. Foi tão importante para mim durante este Retiro que acabei por eleger esta leitura como o meu resumo deste Encontro (I RS 17 -1-16).
A seguir à oração da manhã seguiu-se o tema apresentado pelo Pe. Vasco (A graça do Amor e do Perdão). Palavras íntimas, sábias e reflectidas. Catequese e partilha. Um (re)visão de matéria, com detalhes e pistas para a reflexão que se seguiu a sós. Escolhi a mata para me recolher. Há algo de mágico naquele espaço, que me transporta sempre para as minhas memórias, que me ajuda a voltar para dentro, a recolher, a desligar, e partir até Ele. Uns pingos grossos de chuva e um frio que cortava arrastaram-me de novo para debaixo de telha. Recolhi-me na capela a meditar naquelas palavras, na graça do Amor e no que tal supõe e prendi-me à minha experiência de amar e ser amada. Recuei à minha infância e a momentos muito felizes. Mas as palavras do Pe. Vasco desafiavam-me a uma reflexão no presente, a perceber a grandeza e exigência desta graça que é o Amor. Porque amor é dar-se, é servir, é provar o amigo, é perdoar…
Desci para o almoço no refeitório. Eu não sei explicar, mas toda a comida ali tem um sabor tão delicioso, tão bom… Saciamos o estômago, despertamos no calor de um café que o Pe. Alpoim dedicadamente nos serviu e partimos para uma nova reunião entre amigos. Preparamos o que viria a ser o resto da nossa tarde: a exposição e adoração do Santíssimo. Cada um deveria permanecer com Ele durante meia hora, alternadamente, acompanhando-o naquela tarde de silêncio sonoro. Partimos todos para a capela onde Jesus seria exposto para O adorarmos, e rezarmos, e comungarmos. Porque a oração é isso mesmo, uma conversa íntima com o Pai. Alguém soltou esta frase ‘Mira que te mira’. Esta frase ecoou toda a tarde nos meus ouvidos. Ali permanecemos, alternadamente. Optei por me recolher naquela capela, não senti as horas avançarem, dentro de mim uma inundação de sentimentos, de memórias… de Graças. Desliguei os meus sentidos, encolhi-me no meu coração e parti para aquele encontro. Foram horas tão vividas, tão partilhadas, com Aquele que nos Ama. Sem interrupção partimos, já todos reunidos, para a oração de vésperas, com mais um excerto da passagem de Elias e um momento de partilha entre todos.
Sim, porque este retiro é de silêncio mas também de partilha, nem sempre com palavras, mas também com gestos, com risos e abraços. Com troca de experiências, porque como qualquer grupo de amigos, estes 12 falaram de si e das suas experiências.
E assim regressamos ao refeitório, para mais um delicioso jantar. Seguisse mais um momento de oração, aquecidos à lareira das Palavras de Deus e da sua luz. Juntaram-se a nós outros carminhantes de Rosém.
Mas também o corpo queria trato, e veio um chá quentinho, umas bolachas docinhas e um pão de Alhadas, que só de pensar me cresce água na boca. Obrigada, Teresa.
A noite já crescida chamou-nos ao descanso. Coração cheio de Graça, de sentir.
Dormi profundamente.
Novamente o despertador. Saboreei o som da chuva na janela e parti para o banho. O dia começava com a oração de Laudes na capela. Novamente Elias, e divulgação do mistério do Kerit.
Às 9h, novamente aquele cheiro ao café das minhas memórias. Um pequeno-almoço demorado, como nem sempre podemos, a saborear o alimento e a conversa entre amigos. Que delícia na alma.
Houve ainda tempo para uma reflexão / avaliação do encontro. A reflexão em voz alta ou silenciosa de cada um, sobre aquelas últimas horas. E acho que não me engano, cada um de nós foi tocado pelo Pai e deixou-se tocar. Os rostos estavam renovados, alguns refrescados das lágrimas que teimam em aparecer, porque falamos de nós, da vida e de Deus. Remexemos em nós, calamos o exterior e deixamos que no nosso interior rebentem todas as torrentes.
Ensaiamos os cânticos da Eucaristia e aguardamos a chegada do Frei João que presidiu à nossa Eucaristia. Às 11:30 subimos à capela e celebramos a nossa Eucaristia. Confesso que em todos estes anos, este é sempre um momento muito especial, é a ‘cereja no topo do bolo’, o melhor resumo, a melhor comunhão. E foi tão especial. Fomos presenteados com um miminho do Amigo Ricardo, que do deserto ecoou a sua voz nos nossos corações.
Aproximávamo-nos do fim (ou de um recomeço), ainda com tempo para mais um excelente almoço. Ai que saudades daquela comidinha. Obrigada!
No final um café para nos desapertar para o caminho e a já habitual e imprescindível ‘Foto de Família’.
O caminho de regresso ainda era longo e tínhamos de partir. É tão duro, tão difícil regressar. Mas tinha de ser.
Veio a despedida. Muito obrigada a todos e cada um. São pessoas lindas, foram horas tão boas, foi um silêncio tão sonoro em mim, tão rico. Obrigada ao Frei Vasco e ao Frei João.
Carminhemos agora, um pouco mais fortes, mais capazes, mais confiantes…
Um abraço amigo.
Animem-se no caRminho!
.
Joana Rocha I Esmoriz