quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Crónica do Vcampaki com cheiro a cebola e a doce de tomate





Estávamos a meados de julho, e o convite chegou (obrigada afilhada!), fino e suave como a chuva que preencheu esses dias. O Vcampaki já se desenhava na sombra destes dias de julho. E faltava um elemento: alguém que cozinhasse. E do inesperado surge o nosso sim, meu e do Bruno, sim iremos ao Vcampaki e cozinharemos para este grupo carmelita, que se reúne para se encontrar com Teresa e outros carmelitas.
E depressa chegou a primeira semana de agosto, também primeira semana de férias para mim. Tal como os frades faziam no passado, antes de chegarmos a Deão passamos por umas tantas portas, para recolher alguns legumes que generosamente os amigos decidiram partilhar. Obrigada a todos. Chegamos a Deão no Domingo de tarde, um dia quente e de sol feito. Depois das necessárias compras, ordenaram-se os géneros, a ementa, as receitas, as vontades. E depressa concluímos que este era o ano do tomate. Quilos e quilos deste fruto inundaram a cozinha de Deão.
O Vcampaki, sob os desígnios de um espírito Kelb (=cão), desenhou-se desde o primeiro dia, com a promessa de muitas actividades, momentos, espaços, amigos e vontades. Dos cozinheiros esperavam uma comidinha boa, saudável, que alimentasse o corpo, para que a alma pudesse crescer. Apareceu a ameaça da sopa em todas as refeições, muitas saladas (de tomate claro), temperadas com o carinho que é próprio dos amigos.
Posso dizer-vos que esta foi uma experiência única (nunca tínhamos cozinhado para 20 pessoas), mas mais do que isso. Muito mais do que isso. Cozinhar é um verbo que rima com amar. E amar bem podia ser o verbo deste Vcampaki. E cozinhar para amigos fortes de Deus não deixa de ser uma manifestação de amor, de entrega, de dar-se. Não imaginais como foi reparadora esta semana em Deão. Como a alma se eleva, e o coração se enche, entre os aromas das especiarias, das laranjas maduras e sobretudo da canela que inundou o nosso doce de tomate.
A Quinta do Menino Jesus de Praga é um lugar especial. Sabeis que detém o record de estrelas cadentes avistadas a olho nu? O Carmo Jovem é um lugar ainda mais especial. Mais adentro. Um lugar de amar e aprender a amar Aquele que nos guia no Carminho. O Vcampaki é um lugar de amizade. Que seriamos nós sem os Amigos? A cozinha do Vcampaki foi um lugar de partilha. Muito visitada e estimada. Muito obrigada a todos, a todos, pela ajuda, pela preocupação, pela alegria que trouxeram a esta cozinha. Sem vocês todos não teria corrido bem. Estes jovens e imaturos aspirantes a cozinheiros não avaliaram bem a exigência da tarefa. E no mar revolto dos tachos, vocês, todos, foram farol, foram bússola, foram mãos para remar a barca dos tachos. Porque também aqui Deus nos agita. Lá dizia Sta. Teresa, que os tachos, também os tachos, são matéria de Deus. E aí O encontrei, em cada Kelb que participou neste Vcampaki e que generosamente passou também pela cozinha. Obrigada! E obrigada!
Não vou referir em particular ninguém, porque todos, todos, do seu jeito, maneira e vontade se cruzaram comigo e com o Bruno nesta cozinha partilhada do Vcampaki. Não imaginais a alegria daquela azáfama diária, da sopa para a salada, da salada para o prato principal, do prato principal para a sobremesa, e depois o levantar a mesa, o lavar a louça, e orientar as sobras, e lavar as panelas tamanho xl, esfumadas de negro. Uma equipa de trabalho coordenada, que cantou, que riu, entre as bolas de sabão e os esfregões.
Recordo em especial a longa noite branca, atarefada para uma noite que se quer de descanso. Uma noite que misturou o cheiro da canela com a frescura dos legumes, geometricamente descascados e cortados. Uma madrugada aquecida pelas grandes panelas, onde o nosso doce de tomate foi gerado e apurado. Pelas mãos e braços generosos que se foram revezando a mexer este doce. Porque todas as obras requerem o seu tempo. Das nozes carinhosamente descascadas. E o dia nasceu, aquecido ao som de uma chávena de leite com café, e da manteiga derretida no pão. Era o jantar daquela manhã, ou melhor, o pequeno-almoço.
Recordo ainda as refeições do fim-de-semana. A família cresceu. Que bom! Mas a chuva invejosa veio também. A logística teve de se adaptar. E não há vontade que não dê frutos. A chuva passou, e veio o cheirinho da chouriça assada, o arroz Acampaki, as sobremesas e os grelhados de Domingo. E um lanche magnifico mesmo ao cair do pano. Um lanche partilhado. As refeições, como a vida, deveriam ser sempre assim, resultado da partilha e da doação de todos, temperada com o carinho e os sorrisos próprios dos amigos.
Foi tão bom! Tão saboroso! Cozinhar para vocês e convosco. O nosso obrigada. Obrigada ainda pelo aventais Kelb, pelo espanta espírito com alma de elefante e pela lindíssima orquídea. Todos vivem agora na nossa casa. A adornar os dias e as noites do depois do Vcampaki. Sabeis do poder deste espírito Kelb que inundou as nossas vidas? Como disse o nosso amigo João na homília de Domingo, todos vimos melhores depois do Acampaki. Todos vimos mais Dele e com Ele. Eu assino por baixo.
Uma nota final para as duas aspirantes a cozinheiras: a Matilde e a Carolina. A vossa energia foi a pitada final, o remate de todos os pratos e refeições. Sois lindas! Obrigada às princesas!
Um abraço colectivo a todos. Cheio de carinho, temperado q.b. de força, coragem e esperança. Lembrai-vos sempre do poder dos abraços! E que sejais o sal (ou seja, o tempero) da vida uns dos outros.
Até já!
Jana (e Bruno – sabeis como este cozinheiro gosta da sombra, mas gosta também de cada um de vós e gostou muito desta experiência).
Nota: o Bruno diz: ‘Sabem que para se ser feliz temos de querer sê-lo, e no Vcampaki vi tanta vontade de o querer ser! Continuemos assim’.