quarta-feira, 19 de outubro de 2011

XVIII Horeb - Homilia da Missa da Festa de Santa Teresinha



Homilia do Frei João Costa na Festa de Santa Teresinha do Menino Jesus, data em que celebrámos os 18 anos de vida do Movimento Carmo Jovem e os 25 anos da sua consagração como Carmelita Descalço.

1. Quero antes de tudo, caros amigos e amigas, agradecer ao Frei Ricardo a sua reflexão e ao Padre Provincial a sua mensagem e a sua saudação ao Movimento, neste dia em que celebra a sua maioridade!

2. Quero também dizer-vos que as datas não me dizem muito. Esqueço-me frequentemente delas! Não me esqueço da data em que nasci, isso não! Mas por exemplo, tenho muita dificuldade em saber o ano da minha ordenação! Frequentemente também esqueço as dos meus amigos! Ouçam: não vejo isto como negativo, mas como uma maneira de ser; como quem vive um ano como se fosse um dia e como quem vive um dia como se vivesse 25 anos.
De facto, as datas são convenções e marcos nas vidas das pessoas e comunidades. Dezoito anos do Carmo Jovem são 18 anos, são muitos dias e anos. Os meus 25 anos também são muitos dias; os 70 de vida sacerdotal do Padre Cecílio, igualmente!; e os 50 de Carmelita do Frei Manuel Dias, também! Graças a Deus!
As datas são marcos que nos assinalam os grandes motivos para louvarmos o Senhor. Na minha vida sou quase absolutamente neutro a esses marcos: para mim o grande valor das datas está em viver os dias como um dia, a vida como um dia só.
Celebrar as datas dá-me aquele gozo de quem vive o dia.

3. Estava aqui há pouco a olhar para vós. Reparei que metade de vós não era nascida quando me consagrei; e de todos os que aqui estamos só conhecia o Frei Silvino. E, silenciosamente, no murmurar do coração, dava graças ao Senhor porque há vinte e cinco anos eu era menino, e entretanto o dia passou muito depressa! Cresci e os anos passaram tão rápido e conheci tanta gente, tantos amigos, tantos irmãos, tantos pais, tantos filhos, que só posso dizer o que dizia a Primeira Leitura desta festa: «E a mão do Senhor estava com ele!»
Sim, a mão do Senhor estava com o seu povo e esteve comigo! Posso testemunhar-vos isso! E é isso que quero agradecer neste dia em que celebramos os vinte e cinco anos da minha consagração e a maioridade do Movimento. Sim, ao longo destes dezoito anos e ao longo destes vinte e cinco anos eu sinto que a mão do Senhor esteve comigo neste dia!

4. Devo também dizer-vos que sempre tive muita dificuldade – se não notaram –, em que me chamassem chefe. É certo que gosto muito de levar projectos avante, de fazer chegar alguma coisa à frente. (Algumas vezes até enganando-me e a tropeçar, mas é sina de quem tem de levar a candeia!)
Sim, sempre tive dificuldade em que me chamassem chefe. Nunca gostei muito nem de ser prior nem ser chefe, nem estar a frente do Carmo Jovem nem fosse do que fosse. Estou porque não há quem queira ser prior do Convento e porque ninguém quer vir para o Carmo Jovem. E estar à vossa frente! Acreditem!
Confidencio-vos isto para vos dizer como resolvi a minha dificuldade ao assumir essas responsabilidades. Embora não o tenha feito sempre, tenho tido o cuidado de por esse lema à frente dos meus olhos e do meu coração: procuro pôr-me no papel do discípulo, aquele que aprende, aquele que fica aos pés do mestre. Esse é o meu lugar enquanto prior e enquanto responsável do Carmo Jovem! E, de facto, ao longo destes anos eu aprendi mais do que ensinei. No Carmo Jovem, nas comunidades com quem estive e à frente de quem estive eu aprendi mais do que ensinei!
Cada vez me convenço mais que aprendi mais que ensinei!
Foi dentro dessa dimensão de discípulo que eu sosseguei e vou resolvendo esta minha dificuldade de me pôr a frente de quem quer que seja, para ensinar o que quer que seja.

5. Nestes 25 anos de Carmelita aprendi mais do que ensinei. Aprendi sobretudo a descalçar-me!
6. Por que estamos na Festa de Santa Teresinha, quero ainda dizer-vos – e pegando na rosa, que é a metáfora que simboliza o amor –que ainda não passo de um espinho. E se tiver de ter uma palavra que resuma este dia que passou é perdão, porque magoei muita gente e feri muita gente. Claro que não há rosa sem espinhos, mas eu nem a botão chego, e quanto muito sou um pau com espinhos!
7. Dou muitas graças a Deus pela minha vida. E peço perdão pelo meu espinho muito aguçado. Sim, eu acho que nós, todos nós, fazemos muito bem. Mas sobretudo entendo que nós devemos deixar que Deus faça muito bem através de nós. E que o melhor bem e maior bem que podemos fazer é que a nossa vida deixe Deus amar o mundo, a Igreja, as suas comunidades, o Movimento, as vossas vidas, os vossos grupos, as vossas famílias. O maior bem que está ao nosso alcance é deixar bem acontecer o amor de Deus nas vidas de tantas e tantos que se cruzam connosco. É muito frequente – pelo menos na minha pessoa – termos a mania de crermos que nós fazemos bem e ajudamos muito bem. Mas, ou somos bons condutores do bem de Deus e do amor de Deus – e de facto, esse bem manifesta-se na vida das pessoas; ou, então, com mais frequência, somos maus condutores, melhor dito, somos interruptores do bem que devia chegar e não chega.
8. Eu penitencio-me diante de vós – como se fosse diante de todos – por ter sido interruptor e mau condutor do bem de Deus e da sua graça. Neste tempo-dia da minha consagração ao Senhor tantas vezes fui mau condutor! Se voltasse atrás faria muita coisa diferente, melhor. Mas, voltava, concerteza, a consagra-me ao Senhor! Eu voltava a consagrar-me com a mesma energia. Aliás, eu consagro-me hoje, de novo, diante de vós, com mais energia, com mais gosto, ao Senhor, como Carmelita Descalço.
Por mim estou sempre a começar.
Dou graças a Deus por este dia de vinte e cinco anos! E peço perdão por ter sido espinho, interruptor e mau condutor.

9. A concluir direi que me dá muita alegria a presença do Frei Silvino, meu mestre, nesta celebração. Agradeço ao Senhor a sua vida, como agradeço a de outros que muito me inspiraram. Que Deus lhes pague, e às suas famílias.
Quero dizer-vos – se não o sabem, que fique dito – que fizemos um filho na praia! Na minha juventude eu costumava passar pelo Carmo de Aveiro em férias. E um dia, dissemos: – E por que não juntamos os jovens que não se conhecem e que ouvem falar do Carmo aqui e ali e além? A ideia foi germinando, passou de uns para outros e o Carmo Jovem nasceu ao fim de um tempo.

10. Estou muito contente com este filho! Eu olho e vejo que tenho muitos filhos e filhas e até já tenho netos e netas! Dou graças a Deus. Sinto-me muito fecundo!
Às vezes os pais têm muita dificuldade em lidar com os filhos, em aceitar que os filhos sigam propostas e caminhos diferentes, que ousem e sonhem diferente. Eu se algo me custa no Carmo Jovem é que não ouse mais!

11. O Carmo e a Igreja existem para fazer santos!
Não para fazer anões ou minhocas! Santos! Santos! Ou se quiserem, amigos fortes de Deus!
O carvão que alimenta a minha caldeira é que entre nós vá crescendo com muita força o desejo de sermos amigos fortes de Deus! Qualquer que seja a circunstância, qualquer que seja o lugar.
Naqueles doze aspectos que esta manhã reflectiamos sobre de Santa Teresa de Jesus – porque poderia ela hoje ser bem recebida pelos jovens, ou que roupas deveria vestir para ser bem acolhida numa catequese – há um que não falámos e quero agora considerar: Teresa foi uma mulher apaixonada por Jesus!
Isto é de sempre: os apaixonados por Jesus atraem, seduzem, são luminosos, são cometas brilhantes! Os apóstolos foram super apaixonados por Jesus, e seduziram! Maria, Maria Madalena, João, Bento, Francisco foram santos porque viveram apaixonados por Jesus. Foram inteiramente de Jesus.
Teresa de Jesus mudou radicalmente e fez a obra que fez porque viveu seduzida e apaixonada por Jesus! Ela pode hoje ser apresentada como modelo aos jovens do III milénio, porque  foi toda de Jesus. Toda! Assim como Teresinha, que hoje celebramos!

12. Eis o que transforma o mundo: o fermento que lhe dá força e vitalidade é a paixão por Jesus!
Não quero dizer que não existam outros muitos mestres com discípulos e discípulas, todos dispostos a fazer muito bem ao mundo. Sim, existem. Mas só Jesus é o Salvador.  Ele é que é a luz, a fonte, a vida.
Hoje como há cem anos. Como há quinhentos, no tempo de Teresa. E no tempo de Teresinha, no de São João da Cruz. E muito antes e muito depois: aquilo que realmente marca os discípulos de Jesus e o que dá saúde e luz ao mundo é que os amigos de Jesus sejam mesmo amigos seus amigos!
A nossa marca é sermos amigos de Jesus! Porque se eu for amigo de um amigo e se ele passar alguma coisa má, eu vou correr para a porta dele, a fim de estar perto dele e o ajudar. E quem é amigo de Jesus traz para o hoje da história a força de Jesus, a sua alegria, a sua graça, a sua fidelidade, a sua força transformadora, a sua visão. Quem é amigo de Jesus não desampara um dos seus amigos! Cuida deles com a unção da amizade de Jesus,
E, depois, se se vive apaixonadamente por Jesus atrás das grades dum carmelo como Teresa e como Teresinha, se se vive a palmilhar quilómetros e quilómetros como São João da Cruz, se se é pregador e jornalista como o B. Francisco Palau, ou se se é professor, se te toca viver no sofrimento e na dor, se a cantar ou a fazer caridade como também falávamos de Teresa de Calcutá, o que verdadeiramente interessa é que onde tu estejas tragas para a vida todo a força de Jesus, pela força da amizade que tens com Ele!
A amizade de Jesus é que deixa uma grande marca no mundo!
Eis a pegada da amizade!
Eis a marca do Carmo!

13. Eu dou graças ao Senhor por ser Dele! Por ser do seu coração!
E peço perdão pelas vezes que não fui só Dele.
E dou-Lhe ainda graças por ver que sois sinais Dele. Na vossa vida e na vida dos vossos, e para mim também, vós sois sinais da amizade de Deus! Para mim vós sois sinais da amizade que Deus partilha comigo!
Que alegria é podermos ser amigos!
Muito obrigado.

Convento do Carmo de Viana do Castelo.
Capela da Stilla Maris.
Outubro 1 2011