sexta-feira, 14 de outubro de 2011

NOTAS FINAIS DO XVIII HOREB



Mais um bocadinho, mais um bocadinho, mais um bocadinho

Eu quero construir um castelo para estar mais perto de Ti!

No cume de uma montanha, o meu castelo não terá nem praça de armas nem torre de menagem. As muralhas não terminam com ameias e matacães e nas portas não estão soldados.

O meu castelo é um lar de amor. A amizade é a bandeira da torre. Na praça encontramos a entreajuda, a solidariedade e o companheirismo. Nas muralhas estão os amigos fortes de Deus. E quando alguém se aproxima, as trombetas tocam hinos de alegria.

Neste castelo da amizade preparamos planos de batalha pelo amor e pela paz. À frente deste rochedo da alegria está o Carmo Jovem, porque quem traz o Carmo no coração só consegue viver de uma forma radical! Têm dúvidas? Não tenham!


Era Sexta-feira, dia 30 de Setembro, véspera de um fim-de-semana que, segundo o boletim meteorológico seria de sol, e a praia estava convidativa, mas viemos todos ao XVIII Horeb do Carmo Jovem no convento do Carmo em Viana do Castelo. Algo maior nos inquietava e não seria a praia a acalmar o nosso coração. Como amigos fortes de Deus, queríamos (e queremos) amá-Lo mais, entregar-lhe as nossas dúvidas e medos, as nossas alegrias e tristezas e perceber, ou pelo menos tentar encontrar uma resposta para o Que quereis fazer de mim?

Santa Teresa de Jesus nos recebeu, contou-nos a sua história, abriu-nos o coração e ensinou-nos, pois ela é a mestra indispensável para quem “quer (aprender a) tratar de amizade com Aquele que nos ama”.

Estávamos todos. Sim porque quem não estava fisicamente, tinha o coração cheio de Carmo Jovem e estava no nosso também. Por isso, repito, estávamos todos! O Frei João, a João e o Zé, a Ana e o Pedro, a Maria e a Mariana, o Diogo e o Bruno, a Joana Rocha e a Joana Costa, o Ricardo e o Tiago, a Fiúza, a Raquel e a Manu.

Eram vinte e duas horas, mais coisa menos coisa, e a Maria João abriu as hostilidades nada hostis mas muito agradáveis. A Sala dos Terceiros estava meticulosamente decorada para nos receber. Assim se faz quando a nossa família alargada vem à nossa casa. Tudo aprumadinho, arrumadinho, confortável e bonito, não só esta sala como todos os espaços do convento. A Comunidade Carmelita de Viana abriu-nos as portas para nos receber, pedindo tão pouco e oferecendo tão muito. Nós só podemos estar-lhes agradecidos por semelhante generosidade! Felicitámo-los pelas suas vidas, pela sua dedicação e pelo trabalho realizado, nomeadamente, com os jovens. De resto, só esta boa vontade permitiu que pudéssemos realizar semelhante fim-de-semana. O nosso muito obrigado. Voltando ao momento do acolhimento, dizia, a Cruz e o Cajado ladeados e envolvidos com pedrinhas da praia do moinho, colhidas num dia de frio mas de calor quentinho que nasce entre os amigos. Também lá estavam as faixas coloridas do Movimento qual porta-estandarte de uma histórica batalha. As cadeiras em semicírculo voltadas para um lago improvisado com muitos peixes sendo que um deles tinha uma mensagem especial da Santa Madre. Afinal, nos dezoito anos do Horeb, nada melhor que aprofundarmos o nosso conhecimento pela história de vida da mulher mais radical que o século XVI teve, quiçá todos os séculos.

 A Coordenação convidava-nos a ir à pesca! A Ana deu o mote das apresentações, iniciando-se o primeiro momento deste maravilhoso Horeb. No seu pormenor de abertura, a Caramuja lançou-nos a questão: Quem sois? O que trazeis em vós para este encontro? Que quererá Ele de vós?

 Todos fomos respondendo e todos fomos pescando neste lago imaginário. A animação era grande, havia alegria nos nossos olhos, havia borbulhar de esperança, havia emoção. Era o Horeb a começar a fervilhar. Uns pescaram umas solhas, outros uns caranguejos, outros ainda umas douradas, até que o Pedro pescou um exemplar único que trazia uma mensagem. Nada mais nada menos que as palavras da Santa Madre e da sua disponibilidade e entrega total a Deus, o poema Vossa sou, para Vós nasci! Coube ao Caramujo Mor a leitura do mesmo. Estava lançada a grande questão do fim-de-semana “Que quereis fazer de mim?”

 

Iniciava assim o primeiro dia da construção do meu, melhor dizendo nosso (no Carmo o meu é igual a nosso), castelo.

A noite caiu. Serena e tranquila. Sabia que tinha as bases da construção do edifício, era preciso agora edificar. O segundo dia prometia ser de valor.

A alvorada do novo dia, dia 1 de Outubro, trouxe-nos o Tony, a Cris, a Carina e a vovó Ilda, mais a Cláudia, que pertenceu à primeira Equipa de Coordenação do Movimento. O namorado Nuno chegaria mais pela noite dentro. Encontrámo-nos na Stilla Maris, a nossa Capela das Gotinhas. Santa Teresinha do Menino Jesus merecia a nossa atenção. Era o seu dia! Ela que tão pequenina foi tão grande no amor a Deus e na entrega incomensurável da amizade para com Ele. Rezámos, sonolentos, mas com brilho no olhar pois as actividades adivinhavam-se interessantes. A Irmã Raquel foi portadora de uma carta da Santa Madre. Rica, cheia, maravilhosa. Que mulher, Santo Deus!!! Concerteza incomodou uns tantos na sua época em que as mulheres estavam confinadas ao lar e à maternidade. Ela decidiu criar novos lares e ser mãe de muitos filhos e muitas filhas gerando mosteiros e conventos onde as irmãs viviam de forma mais íntima, mais fraterna, mais quente, mais carmelitana.


Se ela fundou mosteiros e conventos nos rigores político-religiosos do século XVI, nós podemos erguer castelos de amizade na frieza do século XXI.

Se ela derrubou barreiras sociais, nós podemos derrubar o isolamento, encurtar as distâncias, diminuir o afastamento da maioria relativamente ao Amigo.

Ela foi radical no século XVI, nós seremos radicais no século XXI.

Mas como? Acreditando, tal como ela, no poder da oração porque “orar não é pensar muito mas amar muito”.

A conversa fluía. O Frei João acicatava sagazmente e da assembleia brotavam pensamentos, todos se sentiam impelidos a dizer mais alguma coisa. E eu registava, no meu coração, o plano arquitectónico do nosso castelo. Afinal, todos os elementos necessários estavam ali: a amizade, a entreajuda, o companheirismo, a alegria, a inteligência, o exemplo daquela que revolucionou a história da Ordem do Carmo.

As actividades seguiram-se nos workshops TVP. Um grupo registou em tela, outro em vídeo, outro ainda em pergaminho as conclusões do primeiro debate do dia, qual Concílio de Trento.

Seguiu-se a Eucaristia em honra de Santa Teresinha do Menino Jesus. Era o seu dia mas também de aniversário dos setenta anos de sacerdócio do Padre Cecílio, das bodas de ouro de profissão religiosa do Padre Manuel Dias, das bodas de prata da profissão religiosa do nosso provincial, Frei Joaquim Teixeira, do Padre Avelino Lopes e do nosso Prior do Carmo de Viana, Frei João Costa. Este último, juntamente com o Frei Silvino, alegravam-se também do filho gerado, o Carmo Jovem. Eles são os nossos pais!!

Se houve Missa que nos tocou o coração foi esta. Estávamos todos! Estavam os pais do Carmo Jovem, mais os filhos e os netos. Era o dia da pequenina Teresinha, num Horeb dedicado à mãe Teresa. A homilia do Frei João fez remoinhos no nosso coração. E no dele também, parece-me… Afirmou a sua alegria pelos dezoito anos deste filho querido e muito amado, assumiu os seus espinhos e pediu perdão pelos mesmos, mostrou-nos que podemos (e devemos) ser rosas perfumadas para Deus. Emocionou-nos! É uma constante, aliás. Mas neste dia foi de valor acrescentado. O nosso castelo de amor crescia vertiginosamente e já se demarcava na paisagem.


Seguiu-se o almoço. Alegre e festivo como numa casa com muitos filhos. Não faltou nada nem ninguém! Ainda tivemos o privilégio de ter a companhia do Padre Carlos, sempre simpático e sorridente, sempre atencioso e preocupado com o nosso bem-estar. Não nos podia acompanhar no desenrolar das actividades mas visitou-nos sempre no momento de reconfortar o físico porque não estava connosco mas tinha-nos no coração. Assim faz um pai quando não pode acompanhar sempre as crias: preocupa-se com elas e certifica-se que andam bem alimentadas!


A tarde trouxe mais amigos fortes de Deus: a Betinha com o seu Luís, a Cami com o seu Zé e as duas pulguinhas Caramujas, a Ana Carolina e a Matilde. A tarde trouxe-nos também o Carmoflash com os registos das actividades do Movimento, principalmente dos Acampakis deste ano. Pelas dezassete horas tínhamos construído a torre de menagem, ponto mais importante do castelo. Tínhamos assumido a amizade como valor fundamental para com todos e para com Aquele que sempre e incondicionalmente nos ama. Tínhamos escolhido a Santa Madre como rainha do nosso castelo. A ela, à sua vida, à sua luta, à sua entrega, dedicar-lhe-íamos a noite da vigília.


A vigília de oração realizou-se no salão de espectáculos do convento. E que espectáculo de sala meticulosamente decorada: a Cruz colocada numa pequena elevação de pedrinhas, as velas em seu redor. A um canto, uma mesinha pequenina servia de apoio aos braços da Santa Madre que ali estava à nossa espera para partilhar connosco a sua vida, para rezar connosco. Era a Joana Rocha que trajava a rigor um belíssimo hábito castanho e se preparava para representar o papel que lhe tinha sido atribuído. E foi… foi… foi… bem não tenho palavras porque não há palavras para explicar o turbilhão de emoções, de sensações que saltaram do nosso coração com as orações, as leituras e os cânticos, a envolvência, a média luz, o quentinho, tudo criava uma atmosfera de paz. Por hora e meia o meu coração viveu no século XVI, e dentro das muralhas de Ávila dos cavaleiros e dos místicos! O meu coração encontrou a paz e eu encontrei mais um elemento para o meu castelo.


Hasteamos a bandeira da amizade, da fraternidade, afirmamo-nos como leigos carmelitas que vivem a intimidade com o Amigo, que bebem da Fonte e que olham a espiritualidade e a história da Ordem com amor.

Içada a bandeira só faltava abrir o castelo para a festa do amor e da alegria e da amizade e da paz e do coração apertadinho à moda do Carmo Jovem.

O dia rematou-se com um chá e mil e um desvarios do Frei João com a Matilde. Não há tio e sobrinha mais irrequietos! A amena cavaqueira prolongou-se noite dentro. Afinal, estes momentos também servem para colocar a conversa da treta em dia.

Chegámos a Domingo. São oito e trinta. Mais uma vez a Stilla Maris nos acolhe como uma mãe acolhe um filho. Um ninho para as Gotinhas. O sol invadia o espaço, iluminava a alma, aquecia o coração. O raiar do dia trouxe-nos mais amigos: o Lilo (segundo Coordenador do Movimento, e primeiro a presidir a uma Equipa de Coordenação!) e a Célia mais o simpático Joãozinho, a Madalena e a Ana Lúcia e, horinhas adiante, o Caló, a Sameiro e a pulguinha Maria, uma gotinha muito, muito ensonada.

Feita a oração da manhã e com a barriguinha cheia passámos às tarefas atempadamente distribuídas, os workshops OLA; nada mais nada menos que preparar o Ofertório, a Liturgia da Palavra e a Acção de Graças da Eucaristia, momento alto do Horeb.

A Coordenação decidiu dividir o grupo em três pequenos grupos de trabalho e fez-nos a proposta de prepararmos a Eucaristia com a alegria contagiante da Santa Madre. Acreditamos que seria uma mulher alta, robusta mas elegante, bela, sorridente, com olhos vivos. Teria bochechas redondas rosadas pelo rigor da vida e também pela intensidade de emoções que vivia na sua luta constante para sobreviver em terras de homens de barba rija. Era alegre, ria com as irmãs, dançava com elas mas também arregaçava as mangas para fazer o que fosse necessário. Palmilhava quilómetros por terras de Espanha para fundar os seus mui queridos pombalitos da Virgem, ao sol e à chuva, lutando contra as adversidades. (Viesse o que viesse e quem viesse, sucedesse o que sucedesse!) Se vivesse nos dias de hoje, acredito que já haveria um mosteiro numa plataforma espacial e seria a primeira mulher a pisar o impensável. Sendo assim, a sua Eucaristia teria de ter música, ritmo, dança, emoção, oração, coração apertadinho e lágrimas e sorrisos, muitos sorrisos. E foi o que teve! Leituras muito bem escolhidas, cânticos de louvor muito carmelita, um ofertório ao som de música e coreografia que terminou com a construção de uma grande gota no chão da capela. E a acção de graças com um grande bailado. A Mafalda Veiga cantou o Restolho, a equipa do Workshop A criou a coreografia simples mas bela, louvando a Deus e à Santa Madre, criando um ambiente de festa e alegria contagiante. Fechando os olhos, estivemos em Ávila e vimos La Santa e as suas irmãs a rodopiar os seus belos hábitos castanhos depois de uma grande jornada. E de valor, de valor foi o facto de este grupo chamar todos os presentes para esta dança da alegria e da amizade. O meu castelo estava concluído! Era dia de festa, os amigos estavam todos lá. Unidos por um conjunto de valores e de princípios, por um objectivo de vida, pelo mesmo amor ao Carmo, a Santa Teresa e a São João da Cruz, nossos pais, a Santa Teresinha, nossa irmã e a Nossa Senhora do Carmo, Mãe de todos que nos olhava enternecida por ver os seus filhos em festa.


À bênção final seguiu-se o almoço reconfortante.

No início da tarde, a Coordenação presenteou-nos com a apresentação dos trabalhos realizados nos workshops TVP. Ainda não tinha acabado este momento e já todos tínhamos saudades. E para marcar ainda mais o momento plantámos duas roseiras nos claustros. São rosas perfumadas para este sítio carmelita que tanto perfume dá à minha vida, à nossa vida. São a prova que o XVIII Horeb aconteceu ali!


Seguiu-se a fotografia de família e depois… bem depois uns foram indo porque o regresso era longínquo, outros foram ficando mais um bocadinho, mais um bocadinho, mais um bocadinho porque é sempre tão difícil sair do Carmo. O meu castelo estava, está, em pleno funcionamento. Os amigos fortes de Deus aguardam ansiosos a chegada de mais amigos.

Afinal, eu já tinha o castelo de amor. O XVIII Horeb ajudou a solidificá-lo.