Carmo Jovem??! Jovens Leigos Carmelitas?!!
Não fazia a menor ideia do que era. Conhecia a Igreja do Carmo de Aveiro que fica a 800 metros de minha casa e onde apenas fui duas ou três vezes à missa. Mas lembro-me da decoração. Linda. Não havia flores. Apenas uvas, videiras, abóboras, hortaliça… "coisas da terra". Deve ser por causa dos frades – pensava eu. E era somente isto que eu conseguia associar ao nome "Carmo Jovem".
O Miguel (o meu marido) achava-me louca por querer ir com um grupo totalmente desconhecido. Não sei o que é melhor. Se ires sozinha ou com uma "seita" que não conheces de lado nenhum. Tu não bebas nada do que te derem. E telefona-me várias vezes ao dia.
No fundo, sentia-me mais assustada do que ele. Eram quatro dias e três noites. E com quem?!
Mas havia algo que me dizia que não era nenhuma "seita".Algo que me fazia acreditar. Algo como o "Testemunho III da Peregrinação a Fátima 2007" de um tal "José Henriques, 29 anos – Aveiro". Dizia tudo o que eu precisava que me dissessem. Sentiu um dia tudo o que eu estava a sentir. Tudo o que eu poderia vir a sentir se "embarcasse" com aquele grupo. E nada é por acaso. O Zé viria a ser a pessoa de todo o grupo com quem mais me identifiquei e das com quem menos falei. (Talvez porque não fossem precisas grandes palavras.)
Estava decidido! Vou!! (ou melhor, espero que me deixem ir)
" Chamo-me Márcia Santos, tenho 31 anos e moro em Aveiro." (…)
Parece estranho. Parece simples, mas foi assim que me aceitaram.
Aceitaram-me como uma "mais-valia", sabendo eu que não o era, desconfiando vocês de que nunca o seria.
Aceitaram-me porque era da "Geração 76". Obrigada Verónica.
Aceitaram-me porque numa "ditadura" quem manda é o "chefe" e ele já tinha decidido. Obrigada Frei João.
Aceitaram-me… porque existe alguém chamado Ricardo Luís. Obrigada.
Lembro-me do dia em que nos apresentámos.
Lembro-me de olhar para o Ricardo como quem tenta perceber se me meti em alguma alhada (e aquela cara não enganava ninguém), da expressão doce da Tuxana, do sorriso do Frei João quando, ao passar lá longe, me disse pela porta entreaberta: Olá Márcia. Sê bem-vinda. (lembrava-se do meu nome, mesmo sem nunca me ter visto)
Lembro-me de ver a Susana entrar (e o marido e o pai e a mãe e o irmão e a futura cunhada) e pensar: Aquela é a Susanita da Gafanha do Curso do Miguel (a Gafanhoa – como o Miguel carinhosamente lhe chama). Afinal isto não é nenhuma "seita". É a família da Susana. Ah!!, quando o Miguel souber!!...
E soube! E depressa se arrependeu de não poder vir também na dita "seita". (Que já tinha o tinha deixado de ser.)
Lembro-me do "Eu sou a/o ….. e vim a esta peregrinação porque….. e vou com a/o…… ( à nossa direita)."
A minha peregrinação era por agradecimento. Pela Maria (que não se chama simplesmente Maria só porque o nome é bonito ou está na moda), por todos os "milagres" do nosso dia-a-dia, por alguns "milagres" especiais, … pela vida.
Era por isto que peregrinava quando saí de Aveiro. Não foi por isto que peregrinei quando cheguei a Fátima. Tinha muito mais para agradecer.
Quanto à pessoa do meu lado direito, antes de chegar a minha vez de falar, tratei de lhe saber o nome: Delfina. Longe estava eu de imaginar o que seria para mim a Delfina nos 4 dias seguintes.
Sabem que mais… continuo a pedir a Deus que me dê a Fé necessária para acreditar em muitas coisas que todos vocês sabem que me "escapam" (não se escandalize Frei João), mas acredito que, nesse dia, a Delfina não estava sentada à minha direita por acaso.
E lá fui.
Soltei amarras… deixei-me ir.
Parti!
Como o José Henriques testemunhou, "no 1º dia era apenas um peregrino".
Não vou relatar o que me aconteceu nos 4 dias e 3 noites (pequenas noites) senão teríamos uma segunda crónica. Exteriormente, todos viram o que foi (e não foi só o que viram), interiormente… foi bem mais complicado.
O momento de "partilha e perdão" (3ª noite). O nº18 da Regra do Carmo: "No muito falar não falta o pecado". Agora aprendi. Agora até menciono a Regra aos meus alunos quando falam de mais nas aulas (não se escandalize Frei João). Mas também lhes digo que quando tiverem dúvidas devem pôr o dedo no ar e perguntar. Sem medo da pergunta parecer "tola" ou simples demais. Fiquei diferente depois da "partilha". Não consigo transcrever o que senti (ou não quero). Cada um de vós passou a ocupar um lugar ainda maior. O Frei João tem razão: "O sofrimento une".
Num instante, senti o mundo fugir-me debaixo dos pés.
Num instante, deixei de ver as estrelas no céu.
Num instante, deixei de existir como sendo eu mesma;
Passei a algo, uma coisa jogada ao acaso,
Que já não sabe no que há-de acreditar,
Que já não sabe o que sentir!
Depois, o mundo voltou.
Tal como as estrelas.
Mas já não era o mesmo mundo,
Nem as mesmas estrelas.
Também o que sentia já não era o mesmo.
Era mais forte.
Dos dias de peregrinação, mais não vos digo, porque nem tudo é para dizer.
Voltei para casa. O dia seguinte foi estranho. Continuava (ainda continuo) a peregrinar, mas sem sair do lugar. Sentia-vos ali perto de mim, sem o estarem. Dei graças diante da mesa posta, e almocei sozinha. Sabia que nada mais seria como antes. Afinal o Miguel tinha razão. Vocês deram-me mesmo alguma coisa para beber. E bebemos todos da mesma Fonte.
Ninguém fez o caminho que eu fiz, apesar de percorrermos a mesma estrada.
Ouvi-O, ouvi-vos e ouvi-me.
Caminhei In obsequio Iesu Christi.
Regressei por outro caminho. Ou talvez não. Talvez o caminho seja o mesmo. O que mudou foi a minha forma de caminhar.
A minha pedra ficou em Fátima. Está junto das vossas. "Somos UM".
Com ela ficou a minha peregrinação:
Por ti,
Para ti, MARIA.
Até sempre.
MÁRCIA SANTOS, 31 anos, Aveiro
Não fazia a menor ideia do que era. Conhecia a Igreja do Carmo de Aveiro que fica a 800 metros de minha casa e onde apenas fui duas ou três vezes à missa. Mas lembro-me da decoração. Linda. Não havia flores. Apenas uvas, videiras, abóboras, hortaliça… "coisas da terra". Deve ser por causa dos frades – pensava eu. E era somente isto que eu conseguia associar ao nome "Carmo Jovem".
O Miguel (o meu marido) achava-me louca por querer ir com um grupo totalmente desconhecido. Não sei o que é melhor. Se ires sozinha ou com uma "seita" que não conheces de lado nenhum. Tu não bebas nada do que te derem. E telefona-me várias vezes ao dia.
No fundo, sentia-me mais assustada do que ele. Eram quatro dias e três noites. E com quem?!
Mas havia algo que me dizia que não era nenhuma "seita".Algo que me fazia acreditar. Algo como o "Testemunho III da Peregrinação a Fátima 2007" de um tal "José Henriques, 29 anos – Aveiro". Dizia tudo o que eu precisava que me dissessem. Sentiu um dia tudo o que eu estava a sentir. Tudo o que eu poderia vir a sentir se "embarcasse" com aquele grupo. E nada é por acaso. O Zé viria a ser a pessoa de todo o grupo com quem mais me identifiquei e das com quem menos falei. (Talvez porque não fossem precisas grandes palavras.)
Estava decidido! Vou!! (ou melhor, espero que me deixem ir)
" Chamo-me Márcia Santos, tenho 31 anos e moro em Aveiro." (…)
Parece estranho. Parece simples, mas foi assim que me aceitaram.
Aceitaram-me como uma "mais-valia", sabendo eu que não o era, desconfiando vocês de que nunca o seria.
Aceitaram-me porque era da "Geração 76". Obrigada Verónica.
Aceitaram-me porque numa "ditadura" quem manda é o "chefe" e ele já tinha decidido. Obrigada Frei João.
Aceitaram-me… porque existe alguém chamado Ricardo Luís. Obrigada.
Lembro-me do dia em que nos apresentámos.
Lembro-me de olhar para o Ricardo como quem tenta perceber se me meti em alguma alhada (e aquela cara não enganava ninguém), da expressão doce da Tuxana, do sorriso do Frei João quando, ao passar lá longe, me disse pela porta entreaberta: Olá Márcia. Sê bem-vinda. (lembrava-se do meu nome, mesmo sem nunca me ter visto)
Lembro-me de ver a Susana entrar (e o marido e o pai e a mãe e o irmão e a futura cunhada) e pensar: Aquela é a Susanita da Gafanha do Curso do Miguel (a Gafanhoa – como o Miguel carinhosamente lhe chama). Afinal isto não é nenhuma "seita". É a família da Susana. Ah!!, quando o Miguel souber!!...
E soube! E depressa se arrependeu de não poder vir também na dita "seita". (Que já tinha o tinha deixado de ser.)
Lembro-me do "Eu sou a/o ….. e vim a esta peregrinação porque….. e vou com a/o…… ( à nossa direita)."
A minha peregrinação era por agradecimento. Pela Maria (que não se chama simplesmente Maria só porque o nome é bonito ou está na moda), por todos os "milagres" do nosso dia-a-dia, por alguns "milagres" especiais, … pela vida.
Era por isto que peregrinava quando saí de Aveiro. Não foi por isto que peregrinei quando cheguei a Fátima. Tinha muito mais para agradecer.
Quanto à pessoa do meu lado direito, antes de chegar a minha vez de falar, tratei de lhe saber o nome: Delfina. Longe estava eu de imaginar o que seria para mim a Delfina nos 4 dias seguintes.
Sabem que mais… continuo a pedir a Deus que me dê a Fé necessária para acreditar em muitas coisas que todos vocês sabem que me "escapam" (não se escandalize Frei João), mas acredito que, nesse dia, a Delfina não estava sentada à minha direita por acaso.
E lá fui.
Soltei amarras… deixei-me ir.
Parti!
Como o José Henriques testemunhou, "no 1º dia era apenas um peregrino".
Não vou relatar o que me aconteceu nos 4 dias e 3 noites (pequenas noites) senão teríamos uma segunda crónica. Exteriormente, todos viram o que foi (e não foi só o que viram), interiormente… foi bem mais complicado.
O momento de "partilha e perdão" (3ª noite). O nº18 da Regra do Carmo: "No muito falar não falta o pecado". Agora aprendi. Agora até menciono a Regra aos meus alunos quando falam de mais nas aulas (não se escandalize Frei João). Mas também lhes digo que quando tiverem dúvidas devem pôr o dedo no ar e perguntar. Sem medo da pergunta parecer "tola" ou simples demais. Fiquei diferente depois da "partilha". Não consigo transcrever o que senti (ou não quero). Cada um de vós passou a ocupar um lugar ainda maior. O Frei João tem razão: "O sofrimento une".
Num instante, senti o mundo fugir-me debaixo dos pés.
Num instante, deixei de ver as estrelas no céu.
Num instante, deixei de existir como sendo eu mesma;
Passei a algo, uma coisa jogada ao acaso,
Que já não sabe no que há-de acreditar,
Que já não sabe o que sentir!
Depois, o mundo voltou.
Tal como as estrelas.
Mas já não era o mesmo mundo,
Nem as mesmas estrelas.
Também o que sentia já não era o mesmo.
Era mais forte.
Dos dias de peregrinação, mais não vos digo, porque nem tudo é para dizer.
Voltei para casa. O dia seguinte foi estranho. Continuava (ainda continuo) a peregrinar, mas sem sair do lugar. Sentia-vos ali perto de mim, sem o estarem. Dei graças diante da mesa posta, e almocei sozinha. Sabia que nada mais seria como antes. Afinal o Miguel tinha razão. Vocês deram-me mesmo alguma coisa para beber. E bebemos todos da mesma Fonte.
Ninguém fez o caminho que eu fiz, apesar de percorrermos a mesma estrada.
Ouvi-O, ouvi-vos e ouvi-me.
Caminhei In obsequio Iesu Christi.
Regressei por outro caminho. Ou talvez não. Talvez o caminho seja o mesmo. O que mudou foi a minha forma de caminhar.
A minha pedra ficou em Fátima. Está junto das vossas. "Somos UM".
Com ela ficou a minha peregrinação:
Por ti,
Para ti, MARIA.
Até sempre.
MÁRCIA SANTOS, 31 anos, Aveiro