No terceiro dia de 4campáki (dia 3 de Agosto), pelas 10 horas da manhã, deu-se início à segunda aula da semana que, como de costume, teve lugar na nossa Universidade (onde tomamos como bancos as mantas, como paredes as árvores e com tecto o céu).
Para surpresa de todos a professora desse dia seria a nossa amiga Ana Lúcia, que prometia transformar uma conversa entre amigos num momento rico de partilha de vivências e experiências.
A Ana Lúcia falou-nos deste último ano mais profundamente, pois afirma que durante o mesmo “visitou lugares que desconhecia” nela mesma e nos outros, salientando um exercício que já havia sido feito numa oração da noite, que consistia em entrar, passear e meditar num jardim interior que poderia ser habitado ou não e no qual poderíamos recriar memórias ou simplesmente procurar a nossa voz interior e assim encontrar a paz.
A Ana estabeleceu assim uma ligação entre a sua aprendizagem espiritual através do teatro e a sua aprendizagem espiritual como jovem carmelita. Relatou-nos um pouco da sua jornada no Carmo Jovem iniciada há 5 anos, participando no Acampáki apenas há 3, mas afirma convicta que já nem põe em causa participar ou não nesta actividade pois precisa de se afastar dos ruídos do mundo para poder ouvir o que é interior e o exterior.
Iniciámos assim uma viagem às acções, aos momentos e pensamentos que conduziram a nossa professora ao lugar interior e exterior em que se encontra hoje. Falou-nos da importância dos seus pais (que considera como melhores amigos), no seu crescimento como pessoa, desde o momento em que interpretava a personagem de Carochinha na sua primeira peça nos tempos de Infantário, passando pela escolha da área a seguir no 10º ano (no qual, ainda que com receio do mundo incerto das artes, escolheu Humanidades), até ao fim do 12º ano em que, com a ajuda de uma encenadora residente em Lousada, despertou a paixão pelas artes (canto, escrita e teatro).
Continuando a nossa visita, entrámos nas recordações (bastante vivas) do 1º ano de Licenciatura em Teatro, no qual a professora, afirma, teve de assimilar muita informação em diferentes disciplinas teóricas e práticas regendo-se por palavras-chave. Embora assuma que todas as disciplinas foram muito importantes, a que mais fascínio lhe despertou foi o Clown (uma disciplina opcional, cujo significado é “palhaço”).
Ao longo da aula fomos percebendo que o grande objectivo da disciplina era encontrar dentro dos alunos tudo o que acham ridículo neles mesmos, de modo a transmitir esse ridículo para a plateia e desencantar o riso. A Ana Lúcia confessou-nos que no início sentiu-se frustrada por não conseguir encontrar o que tanto procurava mas, com a sua dedicação e força de vontade, transformou-se em “Bianca, a acrobata das emoções”. Para lá das dificuldades em encontrar o seu Clown, a nossa professora aprendeu como interagir com o público, estabelecendo mais uma vez uma ligação com a Igreja (pois sendo o padre a figura central da eucaristia este também deve estabelecer contacto com a assembleia de modo a transmitir-lhe a sua mensagem).
A professora Ana Lúcia falou-nos ainda da necessidade de improvisar em palco, pois quando o público não reage à acção do Clown é necessário parar e recorrer à simplicidade (porque do vazio sai sempre alguma coisa, ainda que não sejam as reacções naturais do corpo). Havíamos assim concluído que no Teatro não podem existir preconceitos ou protecções, baseando-se na disponibilidade física e mental, na espiritualidade e na transparência.
Quando a conversa parecia dar-se por terminada surgiu uma pergunta: “Como lidar com algo superior (como a nossa religião ou a nossa personalidade) no teatro?” Foi então que a Ana Lúcia nos revelou que grande parte dos seus colegas ou são ateus ou acreditam em algo mas não sabem o que é, por essa razão sempre que tentava explicar-lhes o porquê de acreditar era criticada ou, simplesmente, não era entendida. Esta confissão comprovou que a mentalidade em relação ao Cristianismo no nosso país mudou e que a religião pode ser desvantajosa (em termos de emprego) como actriz. Assim sendo, se nos imaginarmos como uma luz que tenta transmitir a paz num meio de escuridão é certo que essa luz vai incomodar a quem não está habituado a ela.
A aula parecia estar a chegar ao fim quando a nossa professora nos propôs um exercício que todos aceitaram de bom grado. Este exercício consistia em deitarmo-nos nas mantas na posição de Alexander (pernas flectidas e distanciadas à largura das ancas e os braços estendidos ao lado do corpo), fechar os olhos e fazer silêncio no interior para ouvir o exterior (o vento que fazia os ramos dançar, as folhas a cair no chão). Após algum tempo em silêncio a Ana Lúcia fez-nos algumas perguntas cuja resposta devia ser interior (“consigo ouvir os batimentos do meu coração?”, O meu pensamento tem voz própria?”). Depois de analisarmos todos os detalhes no nosso corpo foi-nos contada uma história repartida em pequenas frases de modo a que pudéssemos recriá-la no nosso pensamento.
Durante aquele pedaço de tempo em que ali estivemos quase como desligados do nosso corpo, perdemos a noção de tempo e espaço, mas quando a voz da Ana Lúcia pediu que abríssemos os olhos e nos focássemos na primeira coisa que víssemos, o nosso corpo voltou a unir-se ao cérebro. Como não podia deixar de ser, o Frei João teve a brilhante ideia de que todos juntos criássemos uma história, cada um contribuiu com uma frase que completaria um conto cujo final tomou caminhos bastante caricatos!
Foi então que voltamos a nós próprios e entendemos que agora estávamos mais ricos, não em bens materiais mas em sabedoria, pois agora todos nós levávamos um pouco da Ana Lúcia nos nossos corações e, embora a aula já estivesse acabada, era hora de encontrar o Clown que há dentro de cada um de nós.
Para surpresa de todos a professora desse dia seria a nossa amiga Ana Lúcia, que prometia transformar uma conversa entre amigos num momento rico de partilha de vivências e experiências.
A Ana Lúcia falou-nos deste último ano mais profundamente, pois afirma que durante o mesmo “visitou lugares que desconhecia” nela mesma e nos outros, salientando um exercício que já havia sido feito numa oração da noite, que consistia em entrar, passear e meditar num jardim interior que poderia ser habitado ou não e no qual poderíamos recriar memórias ou simplesmente procurar a nossa voz interior e assim encontrar a paz.
A Ana estabeleceu assim uma ligação entre a sua aprendizagem espiritual através do teatro e a sua aprendizagem espiritual como jovem carmelita. Relatou-nos um pouco da sua jornada no Carmo Jovem iniciada há 5 anos, participando no Acampáki apenas há 3, mas afirma convicta que já nem põe em causa participar ou não nesta actividade pois precisa de se afastar dos ruídos do mundo para poder ouvir o que é interior e o exterior.
Iniciámos assim uma viagem às acções, aos momentos e pensamentos que conduziram a nossa professora ao lugar interior e exterior em que se encontra hoje. Falou-nos da importância dos seus pais (que considera como melhores amigos), no seu crescimento como pessoa, desde o momento em que interpretava a personagem de Carochinha na sua primeira peça nos tempos de Infantário, passando pela escolha da área a seguir no 10º ano (no qual, ainda que com receio do mundo incerto das artes, escolheu Humanidades), até ao fim do 12º ano em que, com a ajuda de uma encenadora residente em Lousada, despertou a paixão pelas artes (canto, escrita e teatro).
Continuando a nossa visita, entrámos nas recordações (bastante vivas) do 1º ano de Licenciatura em Teatro, no qual a professora, afirma, teve de assimilar muita informação em diferentes disciplinas teóricas e práticas regendo-se por palavras-chave. Embora assuma que todas as disciplinas foram muito importantes, a que mais fascínio lhe despertou foi o Clown (uma disciplina opcional, cujo significado é “palhaço”).
Ao longo da aula fomos percebendo que o grande objectivo da disciplina era encontrar dentro dos alunos tudo o que acham ridículo neles mesmos, de modo a transmitir esse ridículo para a plateia e desencantar o riso. A Ana Lúcia confessou-nos que no início sentiu-se frustrada por não conseguir encontrar o que tanto procurava mas, com a sua dedicação e força de vontade, transformou-se em “Bianca, a acrobata das emoções”. Para lá das dificuldades em encontrar o seu Clown, a nossa professora aprendeu como interagir com o público, estabelecendo mais uma vez uma ligação com a Igreja (pois sendo o padre a figura central da eucaristia este também deve estabelecer contacto com a assembleia de modo a transmitir-lhe a sua mensagem).
A professora Ana Lúcia falou-nos ainda da necessidade de improvisar em palco, pois quando o público não reage à acção do Clown é necessário parar e recorrer à simplicidade (porque do vazio sai sempre alguma coisa, ainda que não sejam as reacções naturais do corpo). Havíamos assim concluído que no Teatro não podem existir preconceitos ou protecções, baseando-se na disponibilidade física e mental, na espiritualidade e na transparência.
Quando a conversa parecia dar-se por terminada surgiu uma pergunta: “Como lidar com algo superior (como a nossa religião ou a nossa personalidade) no teatro?” Foi então que a Ana Lúcia nos revelou que grande parte dos seus colegas ou são ateus ou acreditam em algo mas não sabem o que é, por essa razão sempre que tentava explicar-lhes o porquê de acreditar era criticada ou, simplesmente, não era entendida. Esta confissão comprovou que a mentalidade em relação ao Cristianismo no nosso país mudou e que a religião pode ser desvantajosa (em termos de emprego) como actriz. Assim sendo, se nos imaginarmos como uma luz que tenta transmitir a paz num meio de escuridão é certo que essa luz vai incomodar a quem não está habituado a ela.
A aula parecia estar a chegar ao fim quando a nossa professora nos propôs um exercício que todos aceitaram de bom grado. Este exercício consistia em deitarmo-nos nas mantas na posição de Alexander (pernas flectidas e distanciadas à largura das ancas e os braços estendidos ao lado do corpo), fechar os olhos e fazer silêncio no interior para ouvir o exterior (o vento que fazia os ramos dançar, as folhas a cair no chão). Após algum tempo em silêncio a Ana Lúcia fez-nos algumas perguntas cuja resposta devia ser interior (“consigo ouvir os batimentos do meu coração?”, O meu pensamento tem voz própria?”). Depois de analisarmos todos os detalhes no nosso corpo foi-nos contada uma história repartida em pequenas frases de modo a que pudéssemos recriá-la no nosso pensamento.
Durante aquele pedaço de tempo em que ali estivemos quase como desligados do nosso corpo, perdemos a noção de tempo e espaço, mas quando a voz da Ana Lúcia pediu que abríssemos os olhos e nos focássemos na primeira coisa que víssemos, o nosso corpo voltou a unir-se ao cérebro. Como não podia deixar de ser, o Frei João teve a brilhante ideia de que todos juntos criássemos uma história, cada um contribuiu com uma frase que completaria um conto cujo final tomou caminhos bastante caricatos!
Foi então que voltamos a nós próprios e entendemos que agora estávamos mais ricos, não em bens materiais mas em sabedoria, pois agora todos nós levávamos um pouco da Ana Lúcia nos nossos corações e, embora a aula já estivesse acabada, era hora de encontrar o Clown que há dentro de cada um de nós.
Maria Babo, Caíde de Rei
Aldeia de Santa Teresa de Jesus
Aldeia de Santa Teresa de Jesus