O AAcampáki foi interessante. Foi bom, até. Atrevo-me a dizer que foi muito bom. Houve muita chuva e frio, mas apesar destes dois amigos dispensáveis os planos não se molharam nem se arrefeceram as expectativas.
Tínhamos acordado entre nós que o despertar seria feito pelas aldeias: à sua maneira, uma despertaria à vez todas as outras. Mas não chegou a ser necessário. Chegada a alvorada, poucos foram os que dormiam até às 8:30 da manhã. Seguia-se o pequeno almoço e o tempo de formação. E se o tempo deixasse ou convidasse longo viria uma horita de piscina.
Na Segunda-feira o formador foi o Frei Joaquim Teixeira. Veio elucidar-nos sobre a Regra do Carmo e de como apesar dos seus 800 anos pode ainda ser um bastão para a nossa carminhada jovem no século XXI. Foi interessante lê-la e verificar que na sua simplicidade e evangelicidade ela permanece sempre actual e com respostas sustentáveis para cada época. Também a nossa.
Algures há-de aparecer uma síntese feita pelo amanuense do dia.
Logo depois do almoço o tempo livre foi ocupado em preparar o sarau nocturno. A cada aldeia fora proposto que se apresentasse e que apresentasse o seu patrono; ou melhor, que representasse uma sua estória ou florinha. Quando chegar a noite será bem interessante verificar que apesar do pouco tempo e dos poucos recursos as estórias são sagazmente bem apresentadas. E nem todas eram fáceis de representar.
A meio da tarde chegou a temida hora de silêncio — um longo deserto com uma só companhia: um livro biográfico de S. Teresa de Jesus, da autoria do Carmelita Frei Jaime Gil Diez. A leitura recomenda-se, talvez porque seja de fácil acesso e compreensão de todo o público. As Edições Carmelo estão de parabéns pela re-edição desta obra. O elogio é sincero e vai muito mais além do agradecimento devido ao seu Director.
O Jorge Fernando introduziu bem esta actividade, com palavras que animaram os jovens leitores. Cada hora de silêncio foi sempre precedida por um breve debate que ajudava a relançar a leitura dos capítulos subsequentes. Chegados aqui, o escriba garante que houve quem concluísse a leitura do livro e não dúvida que muitos dos restantes a terminarão em casa.
Na hora da piscina entraram na água cinco marinheiros, mas deve ter sido por naufrágio: quero dizer, deve ter sido por sentido de dever! Saíram logo que puderam, pois estava frio.
O sarau foi sob o luar frio e com sucesso. Os actores actuaram e a plateia ficava dentro dos sacos-cama, quais longos chouriços. Logo que pudemos fugir fugimos do nevoeiro mas sem poupar nas palmas. Palmas mesmo mereceu a Betinha que faz o lugar e a função de apresentadora com distinção. Só ela é meio sarau. Não canta, mas encanta. Embora se deva reclamar que cante. No AAAcampáki tem de cantar pelo menos uma canção em cada sarau!
Para a Oração da Noite não chegámos a subir o monte e evitamos entrar no Santuário porque o chão estava molhado e o chão é onde abancamos. Rezamos ali, sem luar. Por fim, quando o Ricardo dá o tiro de partida todos correm para as tendas e poucos minutos depois já tudo dorme.
Estranho, men!
Terça acordou sincera: o frio continua. A manhã é fria e a tarde aquece mas permanece muito irmã da manhã. No AAcampáki não há acesso a notícias, mas ninguém precisa delas para concluir que o tempo encoberto é gémeo do do Outono.
Às 10:00 recebemos a Prof. Márcia Santos, de Aveiro, jovem mulher de 32 anos, casada e mãe da Maria de dois anos. A Márcia é uma recém-chegada ao Carmo Jovem, esta trupe tão estranha. Fala a medo da sua experiência de jovem esposa e mãe cristã, mas como somos alunos aplicados logo ela arranca e nos alarga horizontes sobre a graça da vida matrimonial e a grandeza da maternidade que ela deseja viver com fidelidade e fecundidade. Como não é modelo para ninguém — acha ela! — as suas palavras soam a verdadeiro e são ainda mais eficazes. A Márcia é uma mulher grande, mas sentada no chão isso não se nota. Vê-se que caminha apoiada em Jesus, que ama a Igreja, que defende a vida, que respira porque respira a filha. E respirará melhor o amor de Deus quantos mais filhos tiver. Algures há-de aparecer uma síntese feita pelo amanuense do dia.
Definitivamente, a Márcia é também uma grande mulher! O tempo abriu um pouco com a chegada da Márcia. Não foi preciso ter muita audácia para ir à piscina, mas ainda assim não fomos todos. A Márcia foi. Depois, partilhou connosco a mesa e da nossa alegria de comermos juntos. Como era ali a única mãe, foi lindo vê-la presidir à mesa de tantos filhos!
A tarde tornou-se amena. E serena. Era tarde livre, mas logo ficou condicionada. A noite será dura, pelo que a tarde prognosticou-se leve. Não o será. Um horroroso aaaiiiiiiiiiii gelará o AAcampáki e acordará alguns da sesta. Que sucedera? A Márcia inclinara-se para molhar a mão direita na piscina e a clavícula desceu. É a última descida duma longa série nos últimos tempos. Ao vê-la anichada vejo-a amparada pela Verónica e pelo Tiago que reza com um guarda sol nas mãos. Não há muito a fazer, senão esperar que a ambulância chegue. Sairá acompanhada pelo Ricardo e pela Betinha, dois filhos muito chegados. Mais tarde visitarei no Hospital o marido Miguel. Parece conformado, mas ninguém lhe tira a dor de saber que a mulher sofre lá dentro e ninguém lhe diz nada nem como nem quando. Regressamos a casa quando a Providência nos manda um anjo para cobrir com as suas asas o Miguel e a Márcia.
Chegámos a tempo de nos refazermos. Connosco já está a Nandinha — ou Dª Fernanda, como ela não gosta que se lhe chame. É também uma jovem mulher, conhecedora destas andanças que dispensou alguns dias das suas curtas férias para nos fazer a comida. Será uma comida maravilhosa: sem sal! Sorte a dos hipertensos! Mas como não os há, azar de todos e prevenção futura.
Recomposta a família ceámos em paz. Lá ao fundo vai fugindo a luz e mais vai recortando o Monte da Senhora do Minho que dentro de horas será por nós calcorreado.