Neste dia bastante chuvoso tivemos uma visita bastante interessante. Trata-se da D. Teresa Olazabal e da sua amiga, Mónica Claro. O tema da conferência é: “Porto by night” devido ao trabalho desenvolvido pela nossa convidada na noite do Porto. Teresa Olazabal formou um grupo que presta auxílio das mais variadas formas aos sem abrigos da noite do Porto. Com eles reza, ama e distribui mantimentos num saquinho o qual denominou “saco de ternura” uma vez que é conseguido com a boa vontade de muita gente.
Começamos por fazer um breve resumo da sua vida e de como começou o seu trabalho.
Teresa é uma pessoa que cresceu num meio acomodado, que vivia no seio de uma religião acomodada. Gostava muito de pintar mas seu pai proibiu-a de seguir Belas- artes, começando então a trabalhar. Teve, até determinada altura, uma vida com as suas futilidades, algo ordinário nos dias que correm. Não fazia mal a ninguém mas será que esse não fazer mal é significado de fazer o bem?
Aos 47 anos foi confrontada com a possibilidade de padecer de um cancro. Teriam que proceder a uma cirurgia, a ocorrer no dia 13 de Maio, dia que, embora sendo religiosa, não tinha um significado especial para si. Começou então a questionar-se acerca de até que ponto ela tinha capacidade para conduzir a sua vida. Conclui-se, após a operação que a sua saúde estava boa. Nessa hora, em Fátima, rezava-se a missa dos doentes. Foi então que Deus mudou a sua vida. No ano seguinte fez. Pela primeira vez, a peregrinação a Fátima, algo que fez sempre a partir daí. A sua primeira peregrinação foi: “6 dias de caminhada, 6 dias de choro”. Após abandonar Fátima decidiu que tinha que conhecer aquele homem tão bom que se chama Jesus Cristo.
Percebeu então que Deus a pôs no mundo para servir e não para se dedicar ás futilidades próprias da sociedade. Optou por deixar de trabalhar e começou a dedicar-se à prestação de cuidados a doentes em fase terminal. Um dos episódios marcantes da sua vida foi o tempo que conviveu com um doente terminal, abandonado pelos pais, que lhe “abriu os olhos” para a dinâmica complexa do amor. Após assistir à sua morte percebeu que Deus é o Senhor da vida e da morte.
O seu trabalho nas ruas do Porto começou quando, uma tarde, aconchegada de sua casa, viu na televisão que a temperatura, essa noite, iria descer muito até aos -2. C. Recolheu então alguns mantimentos, pegou nuns cobertores, dos que se tem a mais em casa e começou assim a prestar auxilio aos necessitados. Não foi fácil deparar-se com uma realidade cruel de pessoas que se encontravam na rua com histórias surpreendentes e simultaneamente arrepiantes para contar.
Há 5 anos atrás fez então um voto de pobreza, algo que começou a pôr em prática numa peregrinação a Fátima.
Disse-nos que muitas vezes julgamos as pessoas sem conhecer a sua história algo que tem uma enorme quota de verdade. De facto, quantas não são as vezes que julgamos, as atitudes das pessoas sem perceber ou conhecer o porque daquela atitude?
Após a exposição da sua “biografia” resumida chegou a altura de colocar questões próprias de Acampaki’s. Dessas questões podemos perceber que o trabalho que faz é feito em grupo, não se tratando de uma associação pois, como disse Teresa, o amor não tem estatuto. Os donativos são conseguidos através da sensibilização de pessoas que lhe são conhecidas, próximas, amigos, para a sua causa. Constitui-se assim um fundo de maneio que lhes permite realizar o seu trabalho.
Retirar alguém da rua não é tarefa fácil. Teresa bem o sabe. Em 1.º Lugar tenta-se recuperar a pessoa enquanto pessoa, por assim dizer… falar com ela, dar-lhe atenção, amá-la, mostrar-lhe alternativas… passa um pouco por aí. Não é fácil conseguir retirar alguém da rua e colocá-la a trabalhar, ao contrário do que muitos possam pensar. As pessoas que moram na rua estão tanto fisicamente como psicologicamente abaladas pelo que, para retomar a sua vida, é necessário conseguir primeiro alguns cuidados médicos.
Foi questionado o facto da separação entre o seu trabalho na rua e a sua família. Teresa disse-nos que a família é a sua primeira missão e as vicissitudes da vida já a levaram a abdicar dum pouco da sua caridade em prol da sua família. Considera que no início não foi fácil ajustar as duas realidades mas algo que se resolveu com uma boa gestão do tempo. Aliás, considera que a família também beneficia com as suas obras de caridade pois, este seu trabalho leva-a a abrir o seu coração, começando a dedicar-se à família com mais amor.
Além dos já referidos “sacos de ternura”, Teresa e o seu grupo rezam com as pessoas da rua, amam-nos criando um ciclo de partilha de vida, amor e comida. O seu percurso nunca é o mesmo de forma a conseguir servir o maior número de pessoas.
Um ponto que ainda falta referir e que é uma realidade cada vez mais presente é o caso de pessoas pobres, necessitadas, que não têm coragem ou, melhor dizendo, têm vergonha de pedir ajuda. Face a isto, Teresa criou o grupo PE [Pobreza Envergonhada]. A essas pessoas, o PE oferece mantimentos e ajuda nas despesas da casa, normalmente por intermédio de um familiar tendo em conta o tipo de pessoas que são.
Ao longo deste trabalho surgem pessoas que rejeitam a ajuda, casos de retrocesso (embora não tenha presenciado nenhum Teresa teme que venham a acontecer) algo que a leve por vezes a desanimar; no entanto, há sempre a força de Deus que impele para que Teresa prossiga considerando-se ela uma pessoa que raramente desiste.
Algo que provavelmente é da curiosidade de todos nós, jovens carmelitas, é se Teresa conta com o apoio de gente jovem. A resposta é sim. È uma verdade. Teresa conta com a ajuda de gente jovem que actua essencialmente no campo psicológico espiritual prestando-se a conversar com os sem-abrigo.
Foi assim a nossa formação que penso ter tocado nos corações de todos e quem sabe, despertou em alguns de nós para uma realidade que considerava inexistente. Quem sabe um dia, alguns Acampaki's não farão companhia a Teresa e ao seu grupo na prestação de cuidados e na entrega de amor a quem mais precisa.