Passada uma semana, trago na memória bons momentos que vivi, e trago no coração a gotinha do Carmo e todos os meus amigos AAcampáki’s.
Aperta forte o peito sempre que penso nessa semana e na garganta persiste o nó que ficou desde a despedida. Se fecho os olhos consigo ver mais vivamente a face de cada membro da família com quem partilhei sorrisos incessantes, olhares penetrantes, doces palavras, gestos de conforto e de companheirismo, silêncios portadores de uma paz impossível de explicar. Consigo ouvir as palavras do mestre, e o vento que serenamente embala as folhas das árvores que se abraçam no topo do nosso santuário. Essa música de fundo é a marca da presença de Deus connosco. Ele coube na nossa tenda! Naquele momento, só Ele importa.
Na escuridão da noite, Ele é a luz que quer penetrar nos nossos coraçõezinhos intimidados.
Foi o meu primeiro ano no Acampáki. Tinha ouvido os testemunhos do ano anterior. Soube que era uma experiência maravilhosa, em que todos os segundos eram especiais e onde a fé se tornava mais forte. Mais do que tudo isso, descobri que foi mágico. Senti-me fascinada com tudo o que me rodeava. Esse fascínio invadiu os meus sentidos e a minha alma.
Foram as diferentes emoções que tive ao longo dos dias que deram vida à saudade que me tenta vencer, porém, sei que a saudade é como uma garantia para o regresso. Deste modo, espero poder voltar novamente para o próximo ano. Já fui convocada pelo nosso amigo Noddy.
Cresci e aprendi com os excelentes formadores que tão bem descreveram o seu tema, deixando um rasto de luz, com um cheirinho das suas experiências de vida e ideais para uma plena estabilidade, no nosso relacionamento, baseados no amor que o nosso Pai manifesta por nós.
Adorei mergulhar depois dos saltos para a piscina, mesmo os menos esperados. Até ajudar a Nandinha na cozinha e a rotineira limpeza dos balneários foi tarefa fácil, até porque tínhamos a nossa mascote Elmano, sempre disposto a ajudar. Os saraus foram impecáveis, e o Aka?
Bem, foi o culpado pelas gargalhadas descontroladas, difíceis de conter. O Karaoke foi uma bela comédia. After hours… Pura diversão!
Mas os horários não podiam ser esquecidos. Tínhamos que cumprir as ordens do Sr. Lei que, com razão, sugeriu que nos deitássemos, é que no dia seguinte tínhamos connosco o provincial Frei Pedro. Ele adorou a nossa boa disposição. Somos estranhos, men!
Como disse, tudo o que vivi está bem marcado no meu ser, recordar-me-ei de cada pormenor. Contudo, o que mais me marcou foi a clarminhada. É, no meu entender, o ponto mais alto deste AAcampáki.
Ali, ninguém caminhava sozinho! Havia um elo de ligação que nos unia num só. Quando o cansaço tomou conta do meu corpo, a minha alma fraquejou e fiquei com medo que o elo se rompesse. A dado momento houve uma terceira mão que me amparou e que me guiou. Esse calor amigo sarou as feridas que o cansaço provocara, e fez-me acreditar que sem a força de um, não podemos continuar a caminhada. Coragem! Consegui avançar. Senti que me pegaram ao colo, agora eram outros pés que pisavam o solo. Pai, és Tu que caminhas connosco? Eu sabia que eras Tu. Agora as estrelas estavam cada vez mais perto de nós. Rezemos. Com o cajado nas mãos e com o Santo Escapulário ao peito, vi o Santuário da Mãe do Minho. Consegui! Estávamos a, sensivelmente, 800m de altitude, e tão cansados! Deitamo-nos e aconchegamo-nos nos saco-cama a contemplar o lindo céu estrelado que nos envolvia. As estrelas acompanharam-nos durante toda a longa clarminhada. Conseguimos!
Noutra noite, depois de construirmos as nossas cruzes, iniciamos a Via Lucis. Rezamos e interiorizamos textos reconfortantes e rezamos o terço, enquanto caminhávamos. Entre mistérios fazia-se sentir um perfeito silêncio, ideal para rezarmos pala ordem do Carmo, pelas nossas famílias, pelos pobres e excluídos, pelas vocações, pelos defuntos, pelos jovens e pela Igreja. Sentia-me em maior harmonia com Deus, visto que, na parte da tarde celebramos a festa do perdão.
Se estamos bem o tempo passa a correr. Foi o caso. Por momentos, enquanto arrumava as minhas coisas, desejei ficar mais uma semana.
Viver novamente junto dos amigos e sentir a mão calorosa da ursa Teresa que sempre nos deu o maior carinho. Mas agora percebo que se assim fosse, ia ser mais dolorosa a adaptação ao "mundo exterior".
Aqui fica o meu testemunho, muito mais podia ser dito, mas há certas emoções que não se explicam, apenas descobrimo-las depois de as vivermos.
Obrigada meu Deus pela felicidade que tenho vivido como jovem carmelita. Obrigada caracóis, pela forte amizade e união. "Somos UM"
Ana Lúcia, 17 anos
Aldeia de S. João da Cruz (Caíde de Rei)