sábado, 12 de junho de 2010

CRONICAZ de uma Perigri, letra A

CRÓNICAZ,
QUER DIZER, de A a Z


ÁGUA
Como é boa a irmã água! Como bom é Deus que a criou! Sem ela não chegaríamos ao fim de cada etapa. Cada peregrino bebe muita água. E nem todos suam tanto quanto eu. Também a vemos por fora, pois passamos por rios, ribeiros, ribeirinhos e fontes. Também há poluição, mas ou o cansaço ou a noite quase a não deixa ver.
Como é bela a criação! E a água a correr! Também a água corre para um fim. E o correr da água é uma inspiração para o peregrino. O peregrino não tem de correr, mas como a água corre, corre, corre para o fim. Não pode não correr, corre sempre. E mesmo quando regressa a casa a peregrinação continua, a corrida é sem parar. Até chegar ao Fim, o Ómega, que é o princípio, o Alfa.
Como é boa a água que corre!

ANTES

A peregrinação começa antes de começar. Há a peregrinação do caminho e a do desejo. Esta começa quando começa. Nuns o desejo desperta quando terminam a anterior, noutros pouco antes de se fazerem ao caminho.
Existe uma longa série de conselhos para quem vai peregrinar. São quase todos físicos, dizem quase todos respeito à roupa, cremes, calçado, mochilas, óculos, meias. Pouco se fala do espiritual. Mas também há quem ligue. E cada vez mais nos vamos preparando melhor espiritualmente. Há ganhos nisso, ninguém duvide. O antes é tão importante como os dias de caminho.

ÂNIMO

Andar sem ânimo é como viver sem alma. Uma peregrinação sem ânimo é como um corpo sem alma. Caminha-se mas não se anda, não se cresce. Em muitos quilómetros o ânimo passa por muitas fazes: a vontade de sair, correr, caminhar e ir sempre em frente, a euforia do que se vai conquistando, a ânsia de continuar, a fraqueza e vontade de desistir, a dúvida e o desânimo.
O peregrino passa por muitos estados de ânimo: pela secura do deserto e pela doçura da planície, pelo vento forte e pela carícia da brisa suave, pela montanha íngreme e quase impossível e pela descida aos precipícios infernais, pelo calor tórrido, o tempo seco, o frio da manhã, a ausência dos pios dos passarinhos e o ladrar dos cães que assustam, pelo combate com os monstros de ferro, com milhares de monstros de ferro que são os camiões tir! Aqui falta uma palavra de apoio, ali é um companheiro que não se cala, aqui dá vontade de rezar, ali tudo é dor e tortura.
Ânimo e desânimo. Caminhar, parar. Porque vim? Porque continuo a sofrer? Porque não páro? Para tudo, e para uma peregrinação também, é preciso uma determinada determinação. Sem ela não se chega lá.

«A PROVA DA SANTIDADE É CARMINHAR SEMPRE.»

É a frase de despedida da IV Peregri. É do P. Eugénio Maria. É para nos recordar que a peregrinação não acaba. Que se não caminhamos para algum santuário — o emprego a tanto obriga! —, podemos sempre, essa é a verdade, peregrinar ao santuário interior onde só mora A beleza e santidade de Deus. Podemos carminhar sempre, que a carminhada ao interior está sempre a começar, sempre de bem em melhor.
A santidade não é uma conquista como quem ergue uma taça e bebe um gole d’água. Mas carminhar sem desistir. Há sempre caminho para quem quer subir à perfeição.