REFEITÓRIO
Imagine que anda emparedado todo o ano. Imagine que anda com fome de vento de luz e de verdade. Imagine que tudo é higiénico à sua volta, nas cantinas e refeitórios que frequenta. Imagino que sim.
Certamente não lhe será difícil desejar comer num refeitório composto por umas mesas toscas, cobertas por lindas toalhas – isso sim! Se passar um ano a comer em casas e de janelas sempre fechadas vai apetecer-lhe fugir, comer debaixo duma vinha com uvas a amadurecer!
Isso também é Vcampaki. (Mas, claro, quando a chuva é um risco o pessoal fecha-se em casa, no chamado com algum desprezo Refeitório Velho!) Mas comer assim ao luar, em comunhão com o frio da manhã, ao sol que nos chega filtrado pelas folhas e os cachos, é uma delícia. É único! É impagável! É bíblico! É numa leirinha que parece feita propositadamente para isso. Até nisso somos impagavelmente sortudos: um refeitório ao ar livre numa leirinha. Claro que tem pó, mas o pó também se abate e se aprende a evitar.
O ritual é solene. Não começamos sem rezar, cantando e estendendo o braço pedindo que Jesus abençoe tudo. (Ao fim do primeiro dia a Matilde e a Carolina não querem outra coisa nem doutra maneira!) Se há convidados as honras vão para eles. Se não há a refeição é mais distendida. Há uma coisa garantida: não fica nada no prato, nem na panela! E, ó magia, é que não ficava mesmo. Porque comer cá fora dá-te uma fome!