VIII. Abra-se aqui um parágrafo. Para dizer que se é verdade que as tarefas de mulher- a-dias nos pertencem durante o Acampaki, também é verdade que as fazemos com gosto e reconhecimento. E aqui fica o nosso reconhecimento a quem fez tudo por nós. Sim, há gente que provavelmente não conhecemos que fez tudo por nós. Tudo todos os dias por todos nós:
- Porta aberta: quando chegámos a porta da Casa do Menino Jesus está aberta. Mas quem a abrirá? Quem a decora com a tarja das boas vindas? Que trabalhos isso dá?
- Decoração: quando descemos o pequeno monte tudo está montado, decorado com tarjas e pequenos e austeros sinais de bom gosto. Quem o fará? Como inventa? Quem estende cordas? Que dias ou que tempo demorou a fazer?
- Ordenamento do território: Mal saímos dos carros percebemos que há aldeias demarcadas e com nomes. As cordas que darão apoio às toalhas estão esticadas. E estão demarcadas a Universidade e o Santuário. Quem pensa nisso? Quem o faz com tanto enlevo? Quem pensa naqueles pormenores? Quem estendeu aquela gambiarra – sim, é mesmo uma longuíssima gambiarra! – por entre as árvores e por cima das nossas tendas. Reparem: não sei ainda a que horas nos deitaremos, mas certamente que será de noite. E não será ao escuro ou à luz do foco. Espectacular: até nisso pensaram!
- Limpeza: Tudo está limpo. A casa, o balneário, a leira de cima, a relva, a piscina, os caminhos. Tudo está limpo. Quem o limpou? Quem pôs tanta ordem? Quem pôs as mãos a dar ao pedal? Quem cortou a relva e a apresenta assim viçosa? Porque está a água tão deliciosa, a piscina tão apetitosa?
- Mobiliário: o refeitório da vinha está a postos, a cozinha alinhada, o balneário certinho. Quem desceu as mesas? Quem preparou? Quem lavou? Quem cuidou de tudo isto?
- Cozinha: abre-se a porta e estão quatro olhos e outras tantas mãos atentas, maternais, cuidadosas, à nossa espera. A Céu é impagável, a Salomé, atentíssima, é do mesmo valor. Quanto lhes pagarão? Chegarão amizade e boas palavras? (Lá terá de chegar, lá terá de chegar – falo agora, eu!)
- Papinha: chegada a hora os pratos da mesa estão vazios, mas não tardará muito até que chegue um panelão mágico, aliás dois panelões, que nos encherão de sopa e papinha que todos gostámos. Mas quem foi ao supermercado buscar tudo isso? Terá filhos, ocupações, preocupações? Ainda terá tempo grátis para isto? Meu Deus, que é isto? Tanta graça e doçura. Quem pagará?
- Guião: nem um Guião nos falta! Tem algumas orações, temas, esquemas, biografias, cânticos.
- Pequenos cuidados: Há um jornal de parede de acesso livre, sinalética bem pensada, fios que nos levam a electricidade até ao Santuário. Quando fôr noite lá subimos nós para rezar. E na clareira daquele bosque far-se-á luz. Quem pensou tudo isto? Quem preparou tudo isto? Que tempo levou a pôr em prática?
- Grandes sinais: chegada a calma e no dia certo vem um Professor e a sua mulher para nos falar do tema «Nós e a net». Haverá também uma Caça ao Tesouro bem pensada. E uma carminhada bem estruturada. Mais uma vez: quem pensou tudo isto? Quem o estruturou? Serão os mesmos das outras tarefas? E não se cansarão? E ficará aqui tudo dito? Quais são os seus nomes? Porque fazem tudo isto?
- Som. Uma sineta, temos uma sineta! E uma rádio com música que adoro, outra que desconheço, alguma pimba e outra que me chateia. O sonoro é interessante, aquece o lugar, enche a alma, guia os nossos passos, dá os bons dias. Enfim, até nisto pensaram?! Mas faltou-nos alguma coisa? Mas somos jovens ou paxás? Todas estas preocupações são meritórias, revelam amor, sabedoria, cuidado, estima por nós. Que fantabulástico!
- Plano B e imponderáveis. O tempo não está muito seguro. É Agosto mas está frio. É um Agosto invernio. E se chove? Como será o Acampaki se chover como parece que choverá? Iremos para casa dos papás ou ficámos por aqui? Haverá plano B? Como se responde aos imponderáveis? Enfim, a Equipa Secreta, quem quer que ela seja, deve ter pensado nisso. Posso descansar, afinal estou no Acampaki, e alguém parece ter pensado em tudo.)