Professora: Marta Carvalho
Secretária: Ana Lúcia Magalhães, 18 anos, Aldeia de São João da Cruz
Os alunos do AAAcampáki receberam de braços abertos a Marta que, acompanhada pela sua irmã, a Ana, nos revelou que caminhar é não desistir de caminhar.
A Marta tem 35 anos e é natural de Lama, Barcelos. É licenciada em Psicologia pela Universidade do Minho, trabalha no GASC (Grupo Acção Social Cristã) e, paralelamente, está a tirar mestrado em Ciências Religiosas na Faculdade de Teologia, em Braga. Aprendeu a tocar violino; hoje estuda Canto Lírico. Esteve sempre ligada a movimentos da Igreja.
Este percurso poderia ser de qualquer pessoa, no entanto, estamos a falar na Marta Carvalho. A Marta tem um problema de visão, que começou a agravar-se a partir dos 18 anos. Agravou-se de tal forma que ficou dependente dos olhos dos outros para a guiarem.
Apesar das dificuldades visuais, ingressou no ensino superior, na Universidade do Minho e lá estudou Psicologia durante cinco anos. Foi quando deixou a música que tinha iniciado com 12 anos. Neste período expôs os seus medos. Foi morar para um lar e a amizade com as colegas que lá habitavam também, ajudou-a bastante.
Após este período, o regresso a Barcelos não foi muito bom. Deixou as amigas em Braga e em Barcelos já não tinha muitos amigos. Em casa, sentia-se só: “Eu não nasci para estar sozinha”. Apesar desta fase menos boa, a Marta nunca desistiu dos seus objectivos. Sempre lutou para chegar a pessoas, lugares… “Parados não pomos a render aquilo que somos”, deixou-nos uma mensagem de força: “Sempre que encontrarem obstáculos, lutem. Não se fechem em casa!”
Encontrou a sua harmonia espiritual num grupo de jovens franciscanos de Barcelos. O convívio, a partilha com as outras pessoas, com os mesmos ideais cristãos foi óptimo para o seu progresso. Falava com Deus e o que mais Lhe pedia era companhia. Queria partilhar a sua pessoa, a sua existência, a sua vida, a sua voz, porque “Não nos bastamos a nós próprios. Não nos podemos deixar estar dentro da nossa concha. Devemos abri-la aos outros, dar um bocadinho de nós e deixarmo-nos de conformismos. Pode ser o caminho mais fácil, mas não é o melhor”. E foi esta necessidade de Deus que a levou a estudar Ciências Religiosas.
Como invisual, a Marta sente algumas dificuldades no seu dia-a-dia. Alertou para a necessidade da criação de etiquetas da roupa com Braille, de rótulos para os produtos alimentares e para os produtos de limpeza. Tudo o que é digital é pior para os cegos, e o que é adaptado para eles, normalmente, é muito dispendioso. Confessou-nos que adora ler e que a sua maior alegria era ter alguém que a acompanhasse a uma livraria e que lhe lesse os títulos dos livros que vê como vultos.
É ‘interneteira’, e foi por essa razão que a Marta, numa das pesquisas sobre Santa Teresa de Jesus, encontrou, a conselho de uma amiga, o blogue do Carmo Jovem. Ficou fascinada com o Movimento e enviou um e-mail a pedir mais informações sobre nós. Disse quem era e revelou a sua frase favorita de Santa Teresa: “Nada te perturbe, nada te espante, só Deus basta”.
Nessa manhã de 7 de Agosto, envolvidos pela frágil melodia do violino onde repousavam suavemente as mãos da Marta, que tudo vêem, ficámos com o testemunho de uma jovem, que apesar do seu problema, viveu com amor e de forma intensa cada episódio da sua vida, porque abriu os olhos do seu coração.