sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Notas Finais VI – Um grande dia, um grande homem e um grande sarau

O Sábado chegou... avisando a chegada do fim-de-semana e a despedida. Mas este Sábado seria grande. Quando se chega a Sábado é certo e sabido que as estacas das tendas ganharam verdor, raízes e flores como a vara de São José. Que é como quem diz: todos querem ficar mais uma semana. Mas não é possível. A verdade é que estamos todos cansados porque embora o Acampáki seja para descansar, também é verdade que é um acampamento muito exigente, com regras e tarefas, com provas e estímulos que nos obrigam a saltar e a correr, a adivinhar e a cumprir. Tudo isto poderia ser chato mas não é, é vivo, atraente, acelerado, arrebatador nalguns momentos, irrequieto e quieto também. Enfim, cansa e dá saudades de casa. Por isso o Sábado é sempre grande: é o princípio do fim e o fim do princípio da chegada a casa e à vida comum em família. Estamos pois no Sábado.
Depois do acordar (sempre mais cedo que em nossas casas) veio o pequeno-almoço madrugador. Subimos ao Santuário da Senhora do Acampáki e começámos por louvar a Deus e rezar por todas as famílias: as boas e santas, as exitosas e felizes, as sofredoras e perdedoras, as que estão em ruptura e ferimentos profundos, por aquelas onde morreu o amor e a esperança e por aquelas que vivem prostradas e abatidas. Enfim, por todas. Seguiu-se um tempo livre para não andarmos sempre a toque-de-caixa. Esperava-nos o encontro com um novo professor, marcado para as onze horas. Haveria ser algo muito especial, por isso convinha chegar à Sala de Aulas sem stress. Um pouco antes da hora marcada chegou o nosso professor, o Eng.º Bento Amaral que veio acompanhado pela nossa professora, Maria do Carmo, sua esposa. O Bento, como quer que o tratem, é tetraplégico e muito falho de movimentos, por isso se a mulher o tirou do carro e o colocou na cadeira de rodas, nós, os alunos, levámo-lo para a Sala e acomodámo-lo para o ouvirmos. O resumo da aula está noutro lugar (http://carmojovem.blogspot.com/2009/08/pode-chegar-se-sem-coracao-ao-fim-do.html), mas faz muito sentido dizer aqui que não poderíamos achar melhor supedâneo para o Professor: terra atapetada de folhas de eucalipto e austrália, uma enorme rocha ao lado e o Santuário também, árvores altas e pássaros que por ali cantam, e alunos calados, vivos e atentos a seus pés. Foi uma aula inolvidável que dificilmente se repetirá no Acampáki. O sumário não foi registado, pois cada um o fez para si. Mas poderia ser mais ou menos assim: Nasceste para ser feliz e sê-lo-ás se te encontrares como homem ou mulher, ainda que as vicissitudes da história e da tua vida se revoltem contra ti. Porque te haverias de revoltar se tens forças para continuar e procurar mudar em ti o que está ao teu alcance? Se alguém de fora nos visse acharia muito estranho aquele magote de putos sentados num monte no meio das árvores, aos pés dum homem em cadeira de rodas. Pensaria que éramos tolinhos. E se isso o for, então o somos. Ali, porém, aprendíamos uma grande lição de vida e de fé, de amor à Igreja e a Jesus, de esperança e confiança nas forças humanas próprias e alheias, mas sobretudo em Deus e Nossa Senhora. Ali estava um homem quase só cabeça, mas um homem inteiro, que ama e que sofre, que reza e que canta, que pensa reflecte e trabalha, que investiga e sorri, que ouve com muita atenção e responde a tudo, é solidário e voluntário, é desportista olímpico e campeão, professor e provador de vinhos, apóstolo e orante, mestre e sempre aluno, marido, filho e irmão, um cidadão comprometido com o progresso da sua comunidade, apreciador do vinho, batatas fritas, bolo e melão da nossa mesa! Ah!, ali víamos um homem, onde muitos um farrapo! Raramente se está perante um homem inteiro como naquela manhã esteve o Carmo Jovem! (Que privilégio!) Ali estava um homem completo, porque precisa dos outros para quase tudo! O almoço foi ao ar livre, debaixo da ramada. A mesa foi colocada estrategicamente ao comprido para facilitar o acesso aos nossos convidados, Bento e Maria do Carmo... e foi bom estar à mesa assim! Foi um encontro diferente: uma refeição quase eucarística, diga-se! A tarde foi de preparação do Sarau da Noite. (Não se dizia atrás que o Acampáki é exigente?) E cada Aldeia arregaçou as mangas da imaginação e buscou a maior criatividade... no segredo. O levantar da cortina seria só à noite. E como é interessante ver que todos já perceberam a regras do jogo: dar o melhor para chupar até ao tutano o melhor do Acampáki: a alegria, a festa e a amizade vividas em comunidade! E assim foi. Depois do jantar (bom como sempre que nem parece de Acampáki!) preparámos o espaço: o nosso Royal Albert Hall com red carpet e tudo e equipámo-nos com os nossos melhores fatos: os saco-cama, e lá fomos para a plateia (porque nos camarotes estavam desde há muito as estrelas do firmamento!)... A Ana Lúcia de São João da Cruz apresentou o Sarau (a nossa apresentadora oficial tinha outro show agendado, mas não de gala nem em sala tão bela!). Apresentou-o bem, aqueceu o ambiente e animou as tropas. E as Aldeias lá foram apresentando os seus números: uns com originalidade e outros com muita. E no à-vontade igual! Começámos pela aldeia do Casal Martin que apresentou os patronos da sua aldeia e fez, com recurso a um vídeo, uma retrospectiva das actividades do Carmo Jovem. Levou os aaacampákis a recordarem momentos vividos de forma intensa e feliz. Seguiu-se a aldeia de Santa Teresinha que criou um hino do AAAcampáki que alegrou os espectadores. Posteriormente, actuou a aldeia de S. João da Cruz, que nos prendou com a segunda edição da TV ACAMPÁKI. E tivemos Preço Certo em Euros, notícias e muito mais... e fizeram reportagem de todas as cenas mais excêntricas e caricatas deste nosso acampamento. O sarau prosseguiu com a apresentação do Amigo Secreto. Para uns foi a confirmação de quem lhes escreveu, para outros foi a surpresa total. E foi o abraço-secreto e a foto!!!! Voltámos às apresentações dos grupos e seguiu-se a aldeia de Santa Teresa que nos trouxe, juntamente com a Nandinha e a Elsa, um número musical com os seus músicos e belos cantores!!! Faltava a aldeia de Isidoro Bakanja que dramatizou de alguns momentos mais burlescos de alguns dos aaacampákis, nos quais aparecia Isidoro Bakanja a harmonizar os ânimos. Por último, subiram à cena os bosses que nos trouxeram o “Diz que é uma espécie de AAAcampáki”. E os quatro gatos (na verdade, duas eram gatas) dançaram, beberam chá, mostraram vários sketches “gravados”, tesourinhos deprimentes do CJ e cantaram a “Tendinha” dos Xutos & Pontapés. E terminou o Sarau. Terminou tão de noite que já era outro dia. Por isso (confessamos o nosso erro!) fomos para a tenda sem a oração em comum. Amanhã que já é hoje promete ser um grande dia e de muita oração também. Ficamos perdoados? Até amanhã.