Primeiro dia de caminho
Sexta-feira, 01 de Maio de 2009
«A alma que caminha no amor não cansa nem se cansa.»
Ainda a luz do dia não chegara a Coimbra, já soava o sininho nas delicadas mãos da Alice Montargil pelas salas onde dormitávamos, no interior da Casa de Noviciado das Irmãs Doroteias, despertando os últimos ensonados. Após o célere pequeno-almoço e com tudo acomodado dentro dos carros de apoio, dirigimo-nos a passos largos para o Carmelo de Santa Teresa, onde, ainda bem cedo, celebraríamos a Eucaristia presidida pelo Rev. Cónego Aníbal Pimentel Castelhano, Capelão do Carmelo de S. Teresa de Coimbra, e solenizado pelas melodiosas vozes das nossas Irmãs Carmelitas, que do Coro fizeram ecoar por toda a igreja e em nós próprios os seus cânticos angelicais, introduzindo desta forma tão especial a peregrinação que iramos realizar. Porém, o mais intenso estava para vir! Após a Eucaristia, peregrinos, familiares e amigos convergiram no locutório onde nos foram entregues pelas Irmãs as novas faixas do Movimento Carmo Jovem com o lema: «Levamos o Carmo (Jovem) no coração», bem como, um Menino Jesus em barro ofertado a cada um dos jovens peregrinos pela Maria Cristina Lima, da Fraternidade de Santa Teresinha do Menino Jesus, do Carmelo Secular de Coimbra. No locutório, rezámos, cantámos, assinámos o Guião da Peregrinação que oferecemos às Irmãs, falámos do Movimento Jovem, da Ordem Carmelita Descalça em Portugal e pedimos que através da oração Leigos, jovens Leigos, Irmãs e Irmãos Carmelitas acompanhassem esta pequena gota em peregrinação. No final, esperamos pelos chocolates com que as Irmãs, a pedido do Frei João nos mimosearam, depois distribuímos agradecimentos às Irmãs e ao Carmelo Secular, pela forma fraterna e amiga com que nos receberam; tivemos ainda tempo para a fotografia de família e partimos na certeza de que não íamos sós… muitos amigos nos acompanhariam nesta III Peregrifáti.
Saímos do Carmelo de Coimbra e juntamo-nos no jardim do Penedo da Saudade, para os últimos abraços e fotos antes de colocarmos pés a caminho.
A pedido do Apóstolo S. Paulo — «Andai sempre alegres» —, saímos alegres para uma nova etapa… abandonámos Coimbra cruzando a ponte Pedro e Inês, que sobre as águas doces do Mondego se eleva transportando-nos para a outra margem. A torre da universidade começava a desaparecer nas nossas costas quando vieram as vias rápidas, a estrada nacional 1 / IC2 e o ruído dos carros, que acompanhar-nos-iam durante todo este dia, quebrando as palavras que trocávamos entre nós. Pouco a pouco os sorrisos iam-se conquistando e conhecendo ainda mais aqueles que connosco caminhavam. Parámos para almoçar em Condeixa, as pernas pediam descanso e o corpo necessitava de protector solar, pois o sol começava a incidir sobre nós com toda a sua força.
Almoçámos.
O caminho esperava novamente por nós e quão agradável é começar este caminhar com Maria, nossa Mãe. O sol da tarde atormenta o ritmo de cada passo… O caminhar inicia-se lento e com vontade de desfalecer, mas se unidos em oração o tempo custa menos a passar. Fizemo-nos à estrada lado a lado, recitando o Terço. Cantávamos em cada mistério o Ave Carmelita e quebrávamos o ruído com o silêncio e a oração. O primeiro dia finalizaria junto à Igreja Paroquial de Tapéus, Soure, onde nos esperava um acolhimento muito familiar oferecido por amigos que ainda não conhecíamos. Depois, choviam mensagens de ânimo e de incentivo para este III peregrinar, mensagens via telemóvel e via e-mail dos amigos que partilhavam caminho de outra forma, da família carmelita deixada na manhã desse dia. E líamos e partilhávamos uns com os outros o quão reconfortante é sentirmo-nos amigos fortes nos caminhos do Pai. As portas estavam abertas tal como os corações que nos receberam. [Bem-hajam, muito obrigado a quem tão bem nos acolheu… Deus Pai não vos esquecerá. Ele jamais pode esquecer estes pequenos grandes gesto de amor em favor dos seus peregrinos…] Banho frio, comida quente e apetitosa, pequeno-almoço, e a Igreja Paroquial para que no final do dia, nos juntássemos em família para agradecer e louvar. Dar graças pelo dia, dar graças pelas pessoas que sem nos conhecerem de lado algum nos abriram as portas, estenderam as mãos e trabalharam para nós.
As luzes apagaram-se, o corpo pedia descanso para uma nova etapa. O despertar seria dali a minutos ao apagar das luzes, pois «a alma que caminha no amor não cansa.»